Porandubas Políticas

Porandubas nº 496

Quem acha que a Lava Jato está perdendo as forças, ledo engano.

6/7/2016

Abro a coluna com uma historinha mineira

Conhecendo um poquim de Hélio Garcia, ex-governador mineiro e que faleceu recentemente.

- Doutor Hélio Garcia, o senhor é a última raposa mineira ?

- Isso é ocê que tá falando...

- Mas o senhor concorda ?

- Com o quê ?

- Que o senhor é a última raposa ?

- Uai, depende. O quê que ocê chama de raposa ?

- Aquele político que tem a sabedoria, a esperteza...

- Eu nunca gostei de esperteza.

- E a sabedoria ?

- Olha, ocê sabe : tem o sabido e tem o sábio...

(Enviada por uma amiga mineira)

Lava Jato intocável

A cada semana, a operação Lava Jato vai deixando sua marca no livro de combate à corrupção. Quando se pensa que as ações começam a refluir, eis que novos fatos investigados emergem, em uma cadeia de acontecimentos entrelaçados pelos fios de interesses de grupos. A Lava Jato continua intocável, recebendo o apoio geral da sociedade e sob o receio crescente da esfera política, temerosa que mais quadros entrem na dança.

Lei ? Só depois

Quem pensa em dar um basta às delações premiadas ou, pelo menos, diminuir seu ímpeto, terá de esperar. Há um projeto de lei que impede delações de condenados. Mas esse projeto, que está no Senado, deve esperar o final da atual jornada de investigações. Qualquer gesto no sentido de colocar impedimento às delações, nesse momento, será considerado intervenção indevida e repudiada pela sociedade.

Mercado confiante

O governo começa a receber sinais positivos do mercado. As falas de Henrique Meirelles, com seu didatismo, resgatam a confiança perdida. A segurança emerge, ainda devagar, a partir de acenos de sólidos investimentos de grupos nacionais e estrangeiros. A expressão do mercado é que dinheiro existe. O que falta é segurança para investir.

Ronda setorial

O presidente em exercício, Michel Temer, também recebe sinais positivos na ronda que começa a realizar junto a alguns setores. No Palácio do Planalto, recebeu um grande grupo de empresários do comércio. Que lhe foram apresentar os primeiros sinais de recuperação. Em São Paulo, em um evento do agronegócio, recebeu um documento de apoio de todo o setor. Registram-se, ainda, índices de confiança que cresce nas áreas da indústria e de serviços.

Pergunta : ela pode voltar ?

A pergunta é recorrente a este consultor : a presidente Dilma pode voltar ao Palácio do Planalto como mandatária número 1 ? Sim. Tudo é possível. Como isso poderia ocorrer ? Condições : a) se tivesse boa avaliação por parte da sociedade ; b) se não tivesse cometido crimes de responsabilidade fiscal, conforme demonstraram as investigações, inclusive a perícia do Senado ; c) sob essa condição, poderia ganhar a maioria dos votos dos senadores que compõem a Comissão de Impeachment ; d) se o governo do interino Michel Temer fosse um desastre total, merecendo o repúdio social. Ora, essas não são as molduras que veem na parede.

Logo, a pasta não volta ao tubo

É muito complexa a tarefa de enfiar a pasta no tubo depois que ela deixa o recipiente. É o caso da presidente : não tem condições de voltar nas condições descritas acima. A não ser que o tubo fosse rasgado e, depois, recosturado. Seria um remendão. Ademais, por que voltar se ela pensa em sair... Vejam.

Eleições gerais

Ela, a presidente, diz que promoverá um plebiscito para realizar eleições gerais. Quanta inverdade nessa promessa. Primeiro : essa figura do plebiscito para eleições presidenciais no meio do mandato inexiste ; Segundo : uma PEC não poderá remendar a CF, em se tratando de cláusula pétrea como se configura o tempo de mandato, que poderá ser interrompido por um impeachment ; Terceiro : e se ela quer voltar, porque, a seguir, quer sair ? Se já está fora, que lá fique. Se for para que Lula possa ser o candidato, outro feixe de problemas se apresenta, a partir das investigações no entorno do ex-presidente.

O voto dos senadores

Os senadores votarão o impeachment com um olho na realidade : as condições terríveis do país começam a mudar e uma volta ao estilo do governo anterior seria retrocesso. Claro, a condenação da presidente Dilma por ter cometido crime de responsabilidade fiscal será o fator decisivo, mas o quadro grave em que se encontra o enfermo não permitiria uma volta ao médico que lhe receitou a medicação errada. Por isso, a análise deste consultor é a de que os senadores, tanto os da Comissão quanto os do plenário, darão os votos para afastamento definitivo de Sua Excelência. Trata-se de uma dedução à luz do que se observa.

Cunha fica ou sai ?

Eduardo Cunha tem feito prestidigitação em seu esforço para não perder o mandato de deputado. Urge convir que o mandato de presidente da Câmara está quase perdido, restando a representação popular. Tudo indica que essa decisão entrará pelo mês de agosto, considerado o mês de desgosto. A propósito de agosto, este analista relatará, adiante, fatos ocorridos nessa última semana.

O fatídico mês de agosto

Nas redes sociais, a partir do Twitter, este analista fez uma nota destacando o fato de que agosto é um mês aziago. Muito anotado na história da política. Getúlio suicidou-se em 24 de agosto de 1954 ; Juscelino morreu, tragicamente, em acidente na via Dutra, em agosto de 1976 ; e Jânio renunciou em 25 de agosto de 1961. Como a votação final do impeachment da presidente está prevista para final daquele mês, fiz a observação em relação à Dilma. Coisa que alguns colunistas já haviam feito em seus jornais.

A "morte" de Dilma

Bastou isso para que militantes mercenários (muitas mulheres) investissem contra este consultor, usando palavras do pior baixo calão, inclusive com ameaças à sua vida e a de familiares. As mensagens, todas de caráter ofensivo, expressavam a baboseira de que este analista político pregara a morte da presidente Dilma. Interessante : as versões, todas assemelhadas, deixaram de lado a renúncia de Jânio. Ou mesmo o acidente de Kubitschek. Só lembravam Getúlio, de onde fizeram ilação com a morte da presidente. Fui pesquisar sobre a campanha suja.

Canalhas sabujentos

Os mais de 50 radicais, em sua maior parte mulheres, desfiaram uma torrente de textos mal escritos, chulos, com estruturas idênticas, a denotar um comando central. Anotei os nomes de alguns detratores. Por dois dias, voltaram ao espaço com as mesmas ameaças e impropérios. O comando dava a ordem. Mercenárias e mercenários, alguns de nomes poéticos, recitavam as mesmas coisas. Perfis falsos se revezavam. Ratazanas e ratões procuram não deixar rastros. Interligados, acionam-se mutuamente. A estética dos cabeçalhos é praticamente a mesma. A foto da presidente aparecia em alguns.

Estertores dos esconderijos

O fato é que o modus operandi de uma facção petista é bastante conhecido. A meta é atacar massivamente quem fala dos desmandos do governo do PT. Um comando central aciona a cadeia. Os termos impublicáveis são os mesmos de uma para outra ratazana. (O Facebook não tem controles ?). A troca de nomes é diária. Não se dão ao cuidado de mudar termos e estrutura das acusações. Alguns apagaram seus nomes falsos. Outros continuam. Fazem insultos, agora, sobre outros comentários deste consultor. Em suma, são os últimos estertores de uma máfia mercenária que age no esgoto. Estão sendo investigados.

Bolsa família

O Ministério Público Federal, a partir do cruzamento de dados do antigo Ministério do Desenvolvimento Social, e informações de órgãos como Receita Federal, Tribunais de Contas e Tribunal Superior Eleitoral chegou ao seguinte resultado : há mais de um milhão de casos de fraude em todos os Estados brasileiros. Entre os mais de um milhão de casos, mais da metade são funcionários públicos distribuídos em milhares de prefeituras petistas e de partidos da base aliada dos antigos governos do PT. São 585.000 funcionários públicos que atuavam como cabos eleitorais e se beneficiavam irregularmente dos recursos do Bolsa Família. Todos beneficiários ilegais.

Prioridades

Os 50 dias do novo governo mostram alguns avanços. Entre estes, destacamos as prioridades : a reforma da Previdência está em discussão por um grupo de especialistas do governo, empresários e centrais sindicais ; as contas públicas passam, agora, a obedecer a um teto ; a máquina administrativa passa a ser reduzida ; aprova-se a lei de responsabilidade das estatais ; os Estados ganham a renegociação de suas dívidas ; o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) ganha mais 75 mil vagas para o segundo semestre.

Lula desanimado

Leio em Mônica Bergamo, muito bem informada, que o ex-presidente Lula está carrancudo. Quase não sorri. Deixou de fazer palestras. Este ano, praticamente ficou recolhido. Lula em silêncio diz muita coisa. Expressa preocupação.

Dilma em plenário

O senador Humberto Costa anuncia a desistência da presidente de comparecer à Comissão Processante do Impeachment para fazer sua defesa. Mas adianta que ela manifesta desejo de comparecer ao Plenário, por ocasião da votação final do processo. O que motivaria a presidente ? A vontade de encarar os senadores. Talvez a crença de que sua presença em plenário possa alterar alguns votos. A conferir.

Fecho a coluna com mais mineirice.

Mineirinho Criativo

Um mineiro, lá de Curvelo, tinha 11 filhos, precisava sair da casa onde morava e alugar outra, mas não conseguia por causa do monte de crianças. Quando ele dizia que tinha 11 filhos, ninguém queria alugar porque sabiam que a criançada iria destruir a casa ; ao mesmo tempo não podia dizer que não tinha filhos ; não podia mentir, afinal, os mineiros não podem mentir. Ele estava ficando desesperado, o prazo para se mudar estava se esgotando. Daí teve uma ideia : mandou a mulher ir passear no cemitério com 10 dos filhos. Pegou o filho que sobrou e foi ver casas junto com o agente da imobiliária. Gostou de uma e o agente perguntou quantos filhos ele tinha. Ele respondeu que tinha 11. Daí, o agente perguntou :

- Mas onde estão os outros ?

E ele respondeu, com um ar muito triste :

-Estão no cemitério, junto com a mamãe deles.

E foi assim que ele conseguiu alugar uma casa sem mentir.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.