Lei da gravidade
A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação : a água lá embaixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução no curto prazo, conforme desejavam :
– Mas, doutor – pergunta o líder do prefeito – qual é o problema mesmo ?
– O problema mesmo – responde o engenheiro – está ligado à Lei da Gravidade.
– Isso não é problema – diz o líder – nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD.
O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche, que "o governador Israel nada pode fazer, visto ser a Lei da Gravidade de âmbito Federal". E está encerrada a sessão.
(Historinha contada por José Flávio Abelha, em seu livro A Mineirice).
Tiro fatal ou final
O governo tenta dar o último tiro no impeachment da presidente Dilma. O atirador será, mais uma vez, o advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo. Que entra com um mandado de segurança no STF para pedir anulação do processo de impeachment que tramita no Senado. Alega desvio de finalidade por parte do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, ao aceitar o pedido de impeachment. O Supremo deverá rejeitar o pedido. O tiro final acabará sendo fatal para a presidente Rousseff.
Almagro, não se meta
Luis Almagro, secretário-Geral da OEA, é um penetra nos corredores da democracia brasileira. Diz que vai consultar a Corte Interamericana de Direitos Humanos para saber da legalidade do processo de impeachment da presidente Rousseff. Belisco-me. Será que estou lendo direito ? Esse Almagro deveria tomar um chá de simancol. De maconha uruguaia, não adianta. Almagro, Almagro, não somos uma Republiqueta bananeira.
O desfecho
PT, PSOL, MST, MTST e UNE ganharam algumas horas de respiro no início desta semana. O Waldir do Maranhão, que porta este mesmo sobrenome, atirou no que viu e acertou no que não viu : ele próprio. O despacho apressado por ele assinado, que não recebeu assessoria técnica da Câmara, tinha a intenção de impedir o impeachment e jogá-lo nas vibrantes páginas da história. O tiro voltou-se contra ele. Maranhão recebeu um fuzilaço do presidente do Senado, Renan Calheiros. Lá pela meia noite, Waldir acabou anulando a decisão tomada pela manhã. Temia ser expulso do partido. Entrou na terça-feira com cara de vencido.
Renan sobe
Renan Calheiros estava em rota de descida, pois, nos últimos meses, era encostado aos vãos do Planalto. Mas sua celebrada decisão de dar continuidade ao rito do impeachment o tira da zona de suspeição e o eleva ao patamar de senador-juiz. Sua decisão tem peso histórico. Com o ato em que anulou a decisão de sustar o impeachment, o que sobra a Maranhão ? Vergonha e silêncio.
STF à espera
O STF se preparava para acolher mandado de segurança contra o ato de Waldir Maranhão. Mas a política deu respostas ao imbróglio. Os parlamentares, na grande maioria, temiam que um mandado de segurança pudesse cair nas mãos do ministro Marco Aurélio, sobre quem recaem suspeitas de ser um bastião de defesa do governo Dilma.
Corte de ministérios
O vice-presidente Michel Temer se prepara para governar com um ministério enxuto, racional. Mas a realpolitik acaba impedindo a boa intenção, tão fortes são as pressões e reivindicações de partidos para entrar na estrutura ministerial. Procurou ouvir todos. Mas, ao final do processo de montagem do Ministério, acabou optando por uma máquina mais comprimida. Cortará umas 10 Pastas com a fusão de algumas delas. A opinião pública está de seu lado. E os partidos haverão de compreender que seriam colocados ante a parede caso o novo governo se transformasse no mais do mesmo.
Como será o governo ?
O eventual presidente Michel Temer, pelos valores que adornam seu perfil, procurará fazer um governo mais descentralizado, com os ministros podendo ter autonomia para tomar decisões e implementar medidas em seus respectivos espaços. Se errarem, serão cobrados. Mas a ideia é a de governar com os partidos. Que deverão não apenas ocupar espaços, mas participar da definição de políticas públicas.
O eixo da economia
O novo governo tentará obter sinais positivos da economia, na crença de que a confiança dos protagonistas econômicos será a chave do sucesso. Com o resgate da confiança, será possível a volta dos investimentos. Esta condição será intensamente perseguida pelos eixos que locomoverão a máquina econômica : Henrique Meirelles, na Fazenda ; Romero Jucá, no Planejamento ; José Serra, no Ministério das Relações Exteriores, dentro do qual serão desenvolvidas as atividades na área do comércio exterior ; Moreira Franco, que coordenará uma forte secretaria na área da infraestrutura.
Delcídio joga aberto
O senador Delcídio abriu a boca do trombone : agia sob mando de Lula e Dilma. Denúncia que, a cada dia, ganha peso. Pediu desculpas ao povo, reconhecendo que errou. E deixa no ar uma pergunta para que cada um tire suas conclusões : como pode ser chamado de mentiroso um senador que era líder do governo ? Dilma o brindou com a pecha de mentiroso. Delcídio faz o desafio.
Crueldade
Montesquieu, o famoso autor de O espírito das leis, e sua visão sobre a crueldade humana : "Um turco se encontra com um canibal. 'Sois muito cruéis' disse o maometano. 'Comeis os cativos que fazeis na guerra'. O canibal replicou :'e o que fazei dos vossos'? 'ah, nós os matamos, mas, depois que estão mortos, não os comemos'. E arremata o filósofo, do alto de sua moderação: 'não há povo que não tenha sua crueldade particular'."
Corte internacional ?
O advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, é competente. Professor de Direito, ex-vereador, ex-presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo e ex-deputado Federal. Renunciou ao mandato por discordar da maneira escandalosa de financiamento de campanhas eleitorais. Este escriba até fez um reconhecimento público, em artigo na grande mídia, sobre o ato de civismo de Zé Eduardo. Mas a promessa da AGU de levar o caso do impeachment à Corte Interamericana de Direitos Humanos parece uma coisa fora de propósito. Seria um desrespeito ao nosso próprio sistema Judiciário, um tapa na cara de Suas Excelências, os ministros da Suprema Corte, que aprovaram o rito do impeachment e acompanham, atentamente, o desenrolar dos acontecimentos.
Operação Tabajara
O ministro Gilmar Mendes carimba com frequência e senso de humor episódios da vida política. O ato desastroso de Waldir Maranhão ganhou dele a expressão : Operação Tabajara. Como se recorda, as Organizações Tabajara formam uma empresa fictícia, um "conglomerado monopolista" criado pelo grupo de humor Casseta & Planeta da Rede Globo de Televisão que utiliza o nome da tribo indígena Tabajara na associação a produtos fictícios de cunho pejorativo. A "empresa" fabrica produtos e serviços falsos - para não dizer esdrúxulos e absurdos - com a intenção de fazer rir. Geralmente os produtos possuem nomes que lembram inglês, mas usando o radical em português. São esses o prefixo "personal" e os sufixos "-ation" e "-ator". Exemplos: "Carro Moita Disfarceitor Tabajara" e "Personal Mentirosation Tabajara".
Pimentel sob risco
Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, pode ser afastado a qualquer momento. Foi denunciado pela PGR, acusado de ter solicitado e recebido "vantagens indevidas para conceder benefício tributário" à CAOA. Quando desempenhou as funções de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
PGR pede derrubada de liminar
O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, pediu que o STF derrube a liminar sobre pedido de impeachment do vice-presidente Michel Temer. Como se recorda, a liminar foi acolhida pelo ministro Marco Aurélio. Janot alega que pedido do advogado mineiro Mariel Marra era para suspender andamento do pedido do impeachment da presidente Dilma. Decisão de Marco Aurélio extrapolou pedido feito ao STF.
Passarinho esmagado
Inflamado, o candidato eleva a fala no palanque. Argumentava que o povo livre sabe escolher seus governantes. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso. No momento certo, tirou o pássaro e com ele, na mão direita, tascou : "a liberdade do homem é o sonho, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência. Deus (citar Deus é sempre bom) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade ; quero que todos, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal da liberdade. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir a soltura desse passarinho, que vai ganhar os céus". Ao abrir a mão, viu que esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho foi um anticlímax. Vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. Cuidado, candidatos : controlem a emoção.
Dilma voltaria ?
Esta é a uma das mais recorrentes perguntas que enfrento em minhas palestras. É possível, mas pouco provável. Ela governaria com os "367 golpistas" que aprovaram o impeachment na Câmara ? Com os senadores golpistas que admitiram a ideia do impeachment ? E os contingentes despachados de seus cargos voltariam aos antigos locais de trabalho ? O Brasil seria uma grande bagunça. A volta só seria possível ante um formidável fracasso do novo governo. Essa alternativa é muito tênue.
Lula, alquebrado
Corre à boca pequena que Lula se mostra cansado e desanimado com a situação que abarca o petismo-dilmismo-lulismo. Dilma seria uma grande decepção. Não teria sabido segurar as bases governistas, a partir do PMDB. Lula não estaria tão animado a correr o país em novas caravanas da Cidadania. Como o PT pode renascer das cinzas ? Que novos perfis pode apresentar em palanque ?
Tucanos, um olho aqui, outro lá
Os tucanos continuam com um olho para o norte e outro para o sul. Uma banda quer entrar no governo Temer, outra quer permanecer nas margens. Fez um documento que submeteu ao vice Michel Temer com as condições para apoiar seu governo. Maneira de vacinar-se contra eventual fracasso. Mas o partido deverá emplacar o bom deputado Bruno Araújo em um importante Ministério do novo governo.
A gazela e o leão
A historinha é emblemática. Pinço-a mais uma vez : "Toda manhã, na África, uma gazela desperta. Sabe que deverá correr mais depressa do que o leão para não ser devorada. Toda manhã, na África, um leão desperta. Sabe que deverá correr mais que a gazela para não morrer de fome. Quando o sol surge, não importa se você é um leão ou uma gazela : é melhor que comece a correr". Esse lembrete ainda é exibido em ambientes de trabalho como profissão de fé de executivos e dirigentes empresariais.
Exaltação à barbárie
À primeira vista, parece um bom conselho para quem quer vencer na vida. Trata-se, porém, de uma exaltação à barbárie. Basta intuir que, pelo conselho, "leões humanos" são autorizados a agarrar "gazelas humanas", que, apavoradas, devem se desdobrar para realizar suas tarefas ou a se esconder para fugir das intempéries do trabalho (ou dos ataques dos leões). É evidente a estimulação ao instinto da violência, ao cultivo dos perfis agressivos, às lutas por espaço e poder, às táticas aéticas e aos golpes traiçoeiros, tudo justificado pela necessidade da competitividade.