Abro a coluna com a querida cidade de Mossoró, onde estudei no Seminário Santa Terezinha, porta do Oeste do Rio Grande do Norte. Mossoró foi a única cidade do Nordeste que derrotou Lampião, Rei do Cangaço. Eis o caso. Ao passar por Mossoró, no Rio Grande do Norte, Lampião teve um choque com tropas do exército. Na cidade, ferido, um cabo ficou com seu fuzil. Dias depois, aparece uma onça e começa a comer os bezerros na região. O prefeito foi ao cabo, já recuperado :
– Precisamos de sua ajuda. A onça está fazendo muito estrago nas criações. Só um fuzil para matar.
– Pois não, prefeito. Essa onça morre já, já.
– Ótimo, porque ela já matou dois caçadores que tentaram derrubá-la de espingarda.
O cabo se assustou, pensou, pensou e olhou para cima, enquanto arrematava :
– Bem, seu prefeito. Só tem um problema. Eu sou do exército brasileiro. Sou Federal. Preciso saber primeiro se essa onça é Federal ou estadual. Não quero causar conflito entre os dois governos.
A onça era municipal. E continuou a comer os bezerros da região.
PT faz frente ampla
O PT quer se reinventar. A modelagem que se imagina abriga resgate de velhas bandeiras da esquerda, reagrupamento das bases, reordenação de agendas e posicionamentos mais radicais em escopos temáticos. Uma proposta que será formatada esta semana, por ocasião do 5º Congresso do Partido, em Salvador, é a criação de uma Frente Ampla, que terá como foco a volta de Lula em 2018. É sabido que Lula é esperto nas abordagens que incluem discursos de palanque, criação de rótulos colados aos aríetes oposicionistas, manobras táticas para o PT se livrar do tiroteio midiático. Vejam bem esse nome : Frente Ampla.
A Frente é contra ou a favor ?
Não mais parece um rótulo de oposição ? Pois é, maneira de Lula querer parecer oposicionista sendo governista. Lula em palanque sob uma bandeira da Frente Ampla parecerá, em 2018, um candidato do PT contra o governo de Dilma Rousseff. A conferir.
Quem faz parte
A Frente Ampla de Lula será ancorada nas alas Construindo um Novo Brasil, Novo Rumo, PT de Lutas & Massas, com 429 delegados, ou 53,9% dos delegados, cujos nomes mais expressivos são Lula, Dilma, Mercadante e Rui Falcão. Trata-se da ala majoritária. A seguir, aparece o grupo Mensagem ao Partido, com 164 delegados, ou 20,6%, que abriga Tarso Genro, José Eduardo Cardoso e Paulo Teixeira ; em terceiro lugar, situa-se a ala Partido é para Todos, na luta, com 114 delegados, ou 14,3%, que tem Arlindo Chinaglia e Maria do Rosário ; a seguir, a ala A Esperança é Vermelha, com 42 delegados, ou 5,2% ; depois, a ala É pela esquerda que queremos o Brasil, com 27 delegados, somando 3,9% ; e, por último, a ala Constituinte por terra, trabalho e democracia, com 11 delegados, ou 1,38%.
A favor do contra
A propósito dessa dualidade – favor e contra – há uma historinha do coronel Chico Heraclio, o último dos grandes coronéis nordestinos, que imperava pelas bandas de Limoeiro, em Pernambuco. Perguntavam a ele sobre o eleitor de Recife, que nunca foi as caras da turma apoiada pelo coronel. Do alto de sua sabedoria, tascou :
– O eleitor de Recife é muito a favor do contra.
O marketing das pedaladas
A pergunta tem sido recorrente a este consultor : esse marketing das pedaladas é eficaz, dá resultados ? Claro, a pergunta se refere às pedaladas que a presidente Dilma passou a dar, todos os dias, em sua bicicleta nos arredores do Palácio da Alvorada (não se trata, portanto, das célebres pedaladas fiscais que o governo andou cometendo com as contas do Tesouro). Minha resposta abriga um conjunto de fatores : 1. Ser parecido com uma pessoa comum abre espaço de simpatia e cordialidade ; 2. Quando as pessoas percebem que o passeio de bicicleta é mero instrumento de marketing, anzol para pescar sua atenção, desconfiam e se recolhem ao terreno das críticas ; 3. Quando o bolso do consumidor fica vazio, não há peripécia espetaculosa que dê jeito.
O tom crítico
A nota crítica ao governo continuará a dar o tom. Por isso, as capas dos jornais com as fotos das pedaladas não suavizam a imagem como o marqueteiro João Santana imagina. Ademais, leitores de jornais e revistas são os mais críticos ao PT e ao governo. Os leitores se lembram do cooper diário que o então presidente Fernando Collor fazia na região da Casa da Dinda, onde morava em Brasília ? Todos os dias, lá estava ele devidamente paramentado e puxando uma batelada de jornalistas que, de goela aberta, tentavam acompanhar seus passos. Depois de alguns dias de curiosidade, a extravagante liturgia, que usava até camisetas com refrões estudados (O Tempo é o Senhor da Razão), tornou-se coisa banal. Mais adiante, veio o estouro da boiada, o escândalo da Elba financiada com dinheiro da corrupção, que saía dos dutos de PC Farias. De repente, tudo desabou. E o marketing exacerbado ficou na história do espetáculo político.
PSDB, o que pensa ?
O PSDB continua sendo um partido de caciques. De uma galeria de grandes nomes, onde pontuam Fernando Henrique, José Serra, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Aloysio Nunes Ferreira etc. Num segundo plano, estão governadores como Beto Richa, com imagem rente ao chão ; Marconi Perillo, com imagem um pouco acima do chão e outros perfis sem muita expressão. Há a turma de parlamentares e ex-parlamentares, alguns com boa história no partido, como Álvaro Dias, bom porta-voz ; José Anibal, que circula bem na sigla ; Duarte Nogueira, um quadro expressivo ; o próprio líder na Câmara, Carlos Sampaio ; os membros da família Covas, Zuzinha e Bruno, Alberto Goldman, Arnaldo Madeira e Andrea Matarazzo, para citar apenas alguns. Mas o que pensa o partido ? Qual é sua proposta para o país ? Não se sabe. Sabe-se que, por iniciativa dos tucanos, a reeleição foi aprovada no Congresso nos idos da presidência de Fernando Henrique. E, agora, com votos do PSDB, a ideia foi derrotada.
Para onde vai ?
Qual o destino do PSDB ? Tornar-se um partido médio. A sigla não é popular. Caminha no meio da sociedade, circulando nas cidades grandes e médias. Reúne a nata da política, ou no dizer dos porta-bocas do petismo, a zelite da zelite. Este consultor não consegue distinguir um projeto contendo metas, eixos programáticos, fluxos, modelo de gestão etc. Constata, isso sim, que os tucanos têm entre eles opiniões diferentes sobre os temas em discussão no Congresso Nacional. Afinal, para onde vai a social-democracia no mundo e no Brasil ? Como serão os ajustes entre o território do Estado e o território da iniciativa privada ? Que Estado se faz necessário e que políticas liberais precisam ser expandidas ou encurtadas ?
Minha gravata
Outra historinha do coronel Chico Heraclio. O promotor, novo na cidade, mandou perguntar a ele se devia condenar ou absolver o réu. Resposta :
– Diga ao doutor que procure saber os costumes da terra e as regras do nosso júri, aqui em Limoeiro. Basta ele olhar na minha gravata ; se for verde, é para soltar ; se for vermelha, é para condenar ; e se for amarela, pouco me importa.
Ideários, urgente
A reforma política é um clamor da sociedade. O estado da política é de devastação. Todos os entes partidários estão amalgamados, imbricados, seja nas formas de operação política, seja na produção do discurso. Qual o ideário dos partidos ? Que correntes doutrinárias seguem ? Como os eleitores distinguem suas diferenças ? Onde começa o território de um e termina o território de outro ? Coisas que ninguém sabe.
Transparência
Essa é a palavra-chave que abrirá a porta dos vãos da República nos próximos tempos. Clareza. Abertura das redomas. São os sinais alentadores que vemos nos horizontes.
Projeções
A campanha municipal de 2016 será uma das mais árduas de nossa história : 5.565 municípios ; escassez de recursos financeiros, mesmo que seja aprovado financiamento misto de campanha ; intensa competição entre os atores políticos. PT fará uma bacia pequena de prefeitos, pois não haverá tempo para recuperar antigo prestigio ; PMDB deverá fazer a maior cota ; PSDB terá desempenho médio, com maior baciada em São Paulo ; PSB deverá aumentar sua taxa ; PTB, PP, PRB, PDT e DEM terão participações não tão significativas ; partidos pequenos continuarão medíocres. Moldura dependerá do estágio da economia no segundo semestre do próximo ano. Razão e emoção, escassez e prosperidade estarão circundando os pleitos.
Expectativas no congresso
Há muita expectativa sobre as pautas congressuais. O Executivo deverá aprovar o pacote fiscal, mesmo com ajustes aqui e ali. Mas os presidentes das duas Casas conseguirão imprimir seu ritmo e sua agenda ?
Lava Jato
Digamos que, na régua de 100 cm, a Operação Lava Jato alcance nesse momento o meio, 50%. Está, portanto, na metade do caminho. Tem muito centímetro até chegar ao final.
Para onde vai a esquerda ?
Para onde vão as esquerdas no Brasil ? O escopo, convenhamos, tem perdido charme. Afasta-se do socialismo marxista, inspirado na brilhante análise do velho Karl Marx sobre a formação do capitalismo e a previsão de sua catastrófica evolução. A "violência como parteira da História", dogma apregoado por Engels e que se firmou na segunda metade do século 19, até que tentou fazer escola entre nós, nos idos de 1960, mas foi repelida pela ditadura militar. A redemocratização do país abriu espaço para vastas áreas no canto esquerdo do arco ideológico. A nova argamassa acomodou as estacas do alquebrado socialismo revolucionário e os tijolos do liberalismo político e econômico.
E agora, José ?
Nem Estado mínimo nem Estado máximo, mas um ente de tamanho adequado. A essa composição se agregaram expressões como "capitalismo de face humana" e "socialismo de feição liberal", tentativa de convergir eficiência econômica com bem-estar social. Qual o nome disso ? Socialdemocracia. A formosa dama chegou ao Brasil em fins dos anos 1980, com interpretação do PSDB, cujos ideólogos escreveram um texto, Os desafios do Brasil, sobre as crises da contemporaneidade, a textura da democracia social na Europa, as estratégias de crescimento e as políticas para o nosso desenvolvimento. Por tentativa e erro, nosso arremedo socialdemocrata entrou no terceiro milênio, ganhou o centro do poder e foi acusado pelo PT e satélites de se curvar ao Consenso de Washington. Até que o PT e sua esquerda alcançaram a alforria e adentraram o Palácio do Planalto. Depois, estouraram o mensalão e o petrolão, fazendo soçobrar as últimas pilastras do socialismo clássico por estas bandas. E agora, José ?