Porandubas Políticas

Porandubas nº 415

Quem subirá e quem cairá? Faltando 10 dias para as eleições, o colunista mostra a situação dos candidatos.

24/9/2014

Lembram-se de Seu Lunga ? Faz tempo que ele desapareceu desta coluna. Vez ou outra, vem a pergunta : cadê Seu Lunga ? Respondo : está aposentado. Mas, com tanta insistência, abro uma janelinha para os leitores matarem a saudade. Apenas para lembrar a ficha do nosso protagonista : Seu Lunga, pai de 13 filhos, ourives em Juazeiro do Norte, vendedor de sucata.

Tá com defeito ?

Seu Lunga leva o aparelho eletrônico para a manutenção. O técnico pergunta :

- Tá com defeito ?

- Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu o trouxe para passear.

Vai sair nessa chuva ?

Está caindo um toró em Juazeiro do Norte. Seu Lunga não se incomoda e se prepara para sair de casa. A mulher pergunta :

- Vai sair nessa chuva ?

- Não, vou sair na próxima.

Acordou ?

Seu Lunga acaba de levantar. O filho vem com a pergunta idiota :

- Acordou ?

- Não. Sou sonâmbulo !

Onde você está ?

O amigo liga para sua casa e pergunta a Seu Lunga :

- Onde você está ?

E ele : No Pólo Norte ! Um furacão levou a minha casa pra lá !

Tomou banho ?

Seu Lunga acaba de tomar banho e a mulher pergunta :

- Você tomou banho ?

- Não, mergulhei no vaso sanitário !

Quem sobe e quem desce ?

Faltando 10 dias para as eleições, a pergunta mais ouvida em todos os ambientes é esta : quem subirá e quem cairá ? Tentarei dar uma resposta. Mantidas as condições de hoje, a situação deverá permanecer estável até o dia 5 ; mantida a tendência de queda lenta de Marina e recuperação de Aécio para as margens de um mês e meio atrás, ele poderá subir ao patamar de 22% e a ex-senadora descer para o 25º andar do prédio, o que resultaria em um empate técnico com o senador mineiro. Na reta final, a máquina tucana faria um esforço extraordinário para fazer com que o "vento da razão" sopre com mais força do que o "vento da emoção". Quanto à candidata Dilma, é mais provável que mantenha seu índice (entre 35% a 38%).

Haverá tempo ?

No território de Aécio, os assessores lidam com o dilema : haverá tempo para uma recuperação a ponto de fazê-lo desbancar Marina e entrar no segundo turno ? Este consultor acredita que o tempo é muito curto para fazer o cavalo tucano de Aécio disparar na pista. Tivesse a campanha mais duas ou três semanas, as chances de Aécio seriam bem maiores. A propósito, Guilherme Afif teria ganho de Eduardo Suplicy o mandato de senador, em 2006, caso a campanha se estendesse por mais duas ou três semanas. Encostou no Suplicy. Portanto, Aécio enfrenta a questão do tempo. O imponderável pode abrir a porta dele, dando chance ao segundo turno. Esse Imponderável da Silveira teima em fazer das suas....

Marina, a desconstrução

O fato é que as estratégias do PT e do PSDB para desconstruir a imagem de Marina Silva têm dado certo. Passada a fase emotiva, o turbilhão de emoções provocado pela morte trágica de Eduardo Campos, as placas tectônicas do terremoto eleitoral começam a assentar e a colocar cada candidato em seu devido tamanho. Marina até que tentou se vitimizar, enxugando lágrimas e dando a "outra face" para os adversários baterem. Ora, o eleitor quer ver um perfil forte, resistente, capaz de reagir à altura ao embate político. Não quer se identificar com uma pessoa que seja incapaz de lhe defender. Nesse sentido, a estratégia de vitimização não deu certo. Marina deveria ter sido mais dura no ataque.

Mutante ao extremo

Outro fato que tem provocado polêmica, principalmente junto aos estratos mais racionais, é a mudança de posição. Nos últimos tempos, a Marina ambientalista, conservadora ao extremo, vai aliviando suas abordagens, mostrando intensa flexibilidade. Ela percebeu que a real politik - a nossa política e seus agregados - é um espaço de negociação, cooptação, regrado por velhos costumes. Ao mudar, a cada momento, sua imagem é burilada de acordo com as conveniências, passando a impressão de que não é firme, é leniente, cheia de dúvidas. Essa é outra nuance anotada pelos eleitores de classe média.

Sudeste, maré enchente

O Sudeste é a maré enchente de votos para Dilma e Marina. Esta tem maioria em SP, no ES e está em segundo no Rio. Aécio, por sua vez, precisa ganhar em Minas, seu Estado. Em SP, está bem atrás. Já Dilma lidera no Rio, tem uma grande votação no Nordeste e está em segundo lugar em SP. Portanto, a luta maior nessa reta final é aqui no Triângulo das Bermudas.

Deu-se o vice-versa

Dr. Dantinhas, ex-deputado da BA, chefe de poderoso clã político do Estado, neto do barão de Jeremoabo, foi convidado para ser padrinho de casamento da filha de um coronel do interior. No dia de viajar, recebeu um telegrama urgente :

- Compadre, não precisa comparecer. Deu-se o vice-versa. A menina morreu.

Polarização esvaziada

Mesmo que a candidata Dilma seja a vitoriosa no plano Federal e os tucanos ganhem importantes Estados, como SP, PR e GO, o PT e o PSDB sairão menores da eleição. A velha polarização entre petistas e tucanos está desgastada. Essa corrosão, fruto do tempo, pode ser comprovada pela tênue disputa entre os dois partidos nos 27 entes Federativos. Ambos estão em disputa direta somente no MS, com o senador Delcídio Amaral, pelo PT, e Reinaldo Azambuja, do PSDB, o segundo colocado. De oito governadores eleitos em 2010, o PSDB deverá baixar para cinco ou seis. O PT, que elegeu cinco, pode cair para quatro.

Dilma viaja

A situação deve ser boa para as bandas de Dilma. Ela viaja hoje no final da tarde para a abertura da 69ª Assembleia das Nações Unidas. Amanhã, faz palestra na Conferência do Clima. Só deve voltar quinta-feira. Ou seja, perderá três dias de campanha. Deve estar tranquila. Marina, convidada para a Conferência do Clima, decidiu ficar aqui, para tentar segurar seu índice.

O custo do blá blá blá

A propaganda eleitoral gratuita custará, este ano, R$ 839,5 milhões em impostos com as inserções veiculadas entre 19/8 e 24/10. A quantia será descontada do total de tributos pagos pelas empresas de rádio e TV de sinal aberto, obrigadas a veicular a publicidade obrigatória. Prevista no PL Orçamentária Anual, a renúncia fiscal é tratada como gasto tributário.

Cálculos de César Maia

Em seu ex-Blog

"Comparando as pesquisas do Datafolha de 8-9/9 e de 17-18/9 há alguns sinais que devem ser levados em conta.

1. Dilma manteve-se igual no Sudeste 28% e 28%. Manteve-se igual no Sul : 35% e 35%. Cresceu na margem no Nordeste : 47% e 49%. Da mesma forma no Centro-Oeste e no Norte : 30% e 32%, e 48% e 49%

2. Marina caiu no Sudeste : 36% e 32%. Caiu no Sul 28% e 25%. Caiu no Centro Oeste 35% e 31% e no Norte 32% e 28%. No Nordeste manteve-se quase igual : 31% e 32%.

3. Aécio cresceu no Sudeste e no Sul : 18% e 20%, e 20% e 22%. Cresceu de forma mais acentuada no Centro-Oeste : 16% e 23%. No Nordeste ficou igual : 8% e 8% e no Norte caiu um pouco : 10% e 8%. Aécio, com seus 8%, mantém-se muito longe das primeiras no Nordeste e Norte : Marina com média de 30% e Dilma 49%. No Sudeste, Sul e Centro-Oeste Aécio está num patamar de 21% em média.

4. São sinais que nas regiões do agronegócio e finanças (Sul/Sudeste/Centro-Oeste), Aécio tem crescido e trocado com Marina.

5. Reforçando esses sinais, estão as famílias com renda superior a 10 SM, onde Marina tem 32% e Aécio 31%, e com nível superior onde Marina tem 37% e Aécio 27%. No Nível Superior, Aécio cresceu de 22% para 27% e Marina caiu de 42% para 37%, numa troca nítida. Dentro da ideia de que o fator espacial é determinante, diremos que são dois cortes cruzados a favor de Aécio : Sudeste, Sul, Centro-Oeste com Nível Superior".

A conferir essa tendência !

Três estreantes

De 90 candidatos a deputado Federal que despontam no ranking dos bons de voto, apenas três são estreantes. Os 87 restantes são experientes ou têm um sobrenome de família tradicional na política.

Redes sociais na campanha - I

Três em cinco eleitores brasileiros estão nas redes sociais, algo em torno de 84 milhões de votantes. A campanha eleitoral entrou bem nos corredores eletrônicos. De julho até dias atrás, o Facebook registrou 58 milhões de mensagens relacionadas às eleições, propiciando curtidas, compartilhamentos, comentários a favor e contra. O monitoramento tem sido acompanhado pela cientista política norte-americana Katie Harbath, estudiosa do uso das redes em campanhas políticas, em passagem pelo país.

Redes sociais na campanha - II

Ocorreram cerca de nove milhões de interações com conteúdo relativo aos últimos dois debates entre presidenciáveis. Como explica Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA e mentor de planos da CIA, no livro "A Era Tecnotrônica", estamos abrindo as portas de um futuro, onde se enxergam coisas como : a escalada das classes médias, a expansão do setor terciário, o gigantismo dos núcleos universitários, as indústrias de ponta, o incentivo às modernas tecnologias e os trabalhadores bem formados e informados, entre outras. A importância da absorção do ferramental tecnológico pela política, em estágio avançado por aqui - eis que o Brasil está entre os cinco principais consumidores mundiais das redes - reside no fato de que este aparato eletrônico funciona como extensão da liberdade de expressão, um pulmão a oxigenar os fluxos institucionais, ampliando os circuitos da participação social, propiciando o deslocamento do discurso eleitoral para a esfera dos participantes.

Lições de marketing

10 linguagens de campanha

1. A linguagem da afirmação.

2. A linguagem da factibilidade/credibilidade.

3. A linguagem das pequenas coisas.

4. A linguagem da participação - o nós versus o eu.

5. A linguagem da verificação/exemplificação - como fazer.

6. A linguagem da coerência.

7. A linguagem da transparência.

8. A linguagem da simplificação.

9. A linguagem das causas sociais - os mapas cognitivos do eleitorado.

10. A linguagem da tempestividade - proximidade (adaptado do meu livro Tratado de comunicação organizacional e política).

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.