Porandubas Políticas

Porandubas nº 411

O debate na TV Bandeirantes foi o primeiro ensaio comparativo entre os perfis dos candidatos.

27/8/2014

Não está inscrito na OAB

Abro com uma historinha dos confins da PB.

Em Antenor Navarro, por ocasião de um júri, o juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa :

- O senhor não tem advogado ?

- Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus.

- Meu caro, esse não serve. Não está inscrito na Ordem.

E complemento com o grande Einstein

Certa vez, Einstein recebeu uma carta da Miss New Orleans, que confessava : "Prof. Einstein, gostaria de ter um filho com o senhor. A minha justificativa se baseia no fato de que eu, como modelo da beleza, teria um filho com o senhor e, certamente, o garoto teria a minha beleza e a sua inteligência". Einstein respondeu na lata : "Querida Miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza".

Sinal de derrota

"O maior sinal de derrota é quando já não se crê na vitória". (Montecuccoli)

Nuvens fixas e móveis

E as interrogações explodem por todas as partes. Marina vencerá o pleito ? Já passou Aécio Neves ? No segundo turno, ganha da presidente Dilma ? O que vai acontecer se vier a ganhar ? Tem condições de governar o país ? Bem, nem a mais fantástica bola de cristal será capaz de prever o futuro. A massa de previsibilidade no campo da política é limitada por uma batelada de fatores : perfil dos atores políticos ; recursos e meios para se alcançar o poder ; condições do país no momento eleitoral ; situação social ; movimentação nas ruas ; saturação das velhas regras ; incorporação de novos modelos pela sociedade ; condições das campanhas, etc. Marina está brilhando nos céus em função de movimentação das nuvens móveis, que vão e vêm. Mas as nuvens fixas flagrarão sua boa performance em finais de setembro ?

Primeiro reflexo

O primeiro reflexo já apareceu : Marina encosta em Dilma segundo a pesquisa Ibope de ontem. Bate na trave com 29%; Dilma caiu para 34%. Aécio ficou em 19%. Significa que resgata seu potencial de 2010 e ainda avança sobre votos da presidente Dilma e até do Aécio. A maior perda é no território da candidata governista. Mas o primeiro reflexo aguenta o tranco de dois contendores com máquinas mais amplas e vigorosas ? A conferir.

Marina e significados

Marina Silva carrega consigo uma densa planilha de significados : é o tostão contra o milhão ; a encarnação do novo contra o velho ; assepsia, moralidade, ética, sinceridade, honestidade, rebeldia da juventude, o sol nascente no horizonte poluído da política. Dito isto, a hipótese parece adequada : é o perfil em condições de levar a melhor no pleito deste ano. Certo ? Em termos. Há que analisar outros fatores. Marina tem potencial, mas tem poder ? Poder é soma de meios, recursos, condições, vetores de força. Na política, agrega, ainda, partidos, cabos eleitorais, estruturas estaduais e municipais da administração pública, políticas sociais em curso, a economia e seus derivados: inflação, emprego, conforto.

Marina frágil

A fragilidade de Marina Silva não se apresenta apenas na estética esquelética ou na fisionomia de uma ex-seringueira atacada por doenças quando jovem. Marina não conta com as estruturas que ainda movimentam o trem da velha política. O Bolsa Família, que agrega cerca de 13 milhões de famílias e mais de 50 milhões de brasileiros, é identificado com os governos Lula/Dilma. O bolso supre o estômago e este é o órgão vital a comandar o processo decisório em eleições. Marina poderá dizer que o Bolsa Família terá continuidade, mas a candidata Dilma ainda leva o troféu de patrocinadora do programa. Marina abomina a velha política. Ora, é sob a bandeira rota da velha política que a campanha se desenvolve.

A onda marineira

Marina Silva certamente é a bola da vez. Ela forma a onda marineira que se espraia em todo o território. Mas este consultor tem dúvida se a ex-senadora será capaz de fazer marolas nessa onda até final de setembro. Não terá os volumes de comunicação de Dilma e Aécio, apesar de contar com o clima das ruas, que lhe será inteiramente favorável nesse primeiro momento. Uma campanha é contenda dura, sangrenta, que carece de muita bala. Marina tem arsenal suficiente ? O cenário de declínio de Marina, mais adiante, também deve ser considerado.

Emoção dá votos, mas...

Emoção produz intenção de voto ? Sem dúvida. Mas a emoção com a morte de Eduardo Campos e a entrada intensamente espetacularizada de Marina no palco eleitoral devem se esvair nas próximas semanas, dando lugar a uma rearrumação das "camadas tectônicas" decorrentes do terremoto político. Este consultor tende a acreditar que a presidente Dilma ainda é a favorita do pleito de outubro, principalmente se não houver traumas na economia. Estamos a um pequeno passo do ponto de quebra da sustentabilidade e confiança da população no governo.

A estrela do PT em queda ?

Se Dilma ainda é a favorita, o mesmo não se pode dizer do PT. A estrela petista mostra certo declínio. Não despenca acelerada no cosmos da política, porque a estrutura formada ainda a sustenta bem, mas o fato é que a estética do partido e a semântica, que o fazia diferente de outras siglas, anos atrás, começam a mostrar esgarçamento. O PT é o partido com maior identificação com a carga negativa da corrupção. E a voz de Lula, nos finais de programas, cedendo seu apoio e conclamando os eleitores a votarem nos candidatos petistas, não tem mais a conotação forte dos velhos tempos.

Em SP

A campanha de SP ainda não entrou na velocidade de cruzeiro. Os candidatos ainda estão vivenciando a decolagem, cada qual procurando seu tom, arrumando sua identidade, costurando sua estética. A pletora de candidatos gera dispersão das linguagens, sobrando, ao final dos debates, a sensação de que os atores patinam no entorno de uma Torre de Babel. A pequena audiência dos debates é também responsável pelo jogo empatado entre as performances individuais. Os três principais candidatos expressam abordagens diferenciadas no marketing televisivo.

Alckmin, jornalismo na TV

Geraldo Alckmin, o candidato tucano, mexe com as pedras no tabuleiro jornalístico. O programa de segurança é cheio de dados de pesquisa, mostra cenários de Nova York, com seus mecanismos tecnológicos de segurança, em clara abordagem jornalística. Alckmin, o narrador, tenta fazer um link entre o que de mais moderno existe em matéria de segurança nas ruas e SP. Mostra dados a seu favor, apesar de se saber que a segurança pública em SP atinge índices altíssimos.

Skaf, publicidade na TV

Já a abordagem de Paulo Skaf é claramente publicitária. O programa sobre estupro foi um exemplo. Cria emoção, impacta. É perceptível a tentativa de chamar a atenção, envolver o telespectador com dobras emotivas. A sequência de "nãos" de pessoas nas ruas, alguns produzidos apenas com acenos de cabeça, expressa uma dose de teatralização, a demonstrar que os depoimentos acabaram sendo embalados por produção e edição publicitária. Skaf é um perfil diferenciado, encarna, sim, inovação, mas aparece ultrapassando a linha argumentativa do bom senso. É o mais teatral dos candidatos. Mas conseguiu sair dos 16% para 20%.

Padilha, emoção e frieza

O candidato Alexandre Padilha trabalha com os signos do velho PT : emoção, mudança, esperança, renovação. Lula, ao final, pedindo votos. O fato é que esse discurso já está batido. Desgastado. Não é mais avançado. É, sim, estancado. Por isso, vê-se um Padilha falando quase automaticamente. De maneira distante, fria.

A falta d'água em SP

Até agora, o pote de Alckmin ainda não mostra sinais de esvaziamento de votos com a falta d'água em SP. Mas, com a água ameaçando faltar nas torneiras, será possível distinguir fontes mais secas de votos no entorno do governador tucano. Mais adiante.

Debate na Band I

Debate na TV Bandeirantes. Marina, saindo de sua postura humilde, foi dura e firme. Atacou e defendeu-se como uma onça amazônica. Não se acanhou. Bateu forte. Aécio teve uma boa expressão, sempre com um ligeiro sorriso. Dilma enfrentou uma bateria de perguntas críticas e respondeu bem, afora a impressão de que, às vezes, faltava expressão ao final das frases.

O debate II

O debate de ontem à noite, na TV Bandeirante, certamente foi o primeiro ensaio comparativo entre os perfis dos candidatos. Foi o melhor dos últimos anos. Principalmente os blocos iniciais, incisivos, diretos, sem firulas. Visto por um grupo mais selecionado de telespectadores, particularmente os habitantes do andar do meio da pirâmide, cuja intenção de voto já está praticamente tomada. As margens é que tendem a mudar o voto, correndo em direção aos perfis emotivos. A pesquisa de hoje, que mostra Marina em situação confortável, é o fogo de artifício que faz brilhar seu nome nos céus do território. Mas brilharão até o final da campanha ?

Os eleitores se interessam ?

O horário, bem tarde, afasta eleitores da telinha. A bateria de lenga-lenga tem funcionado mais como estratégia de alavancagem de marketing das empresas do que efetivo instrumento de avaliação e comparação de propostas de candidatos. Os debates têm oscilado entre índices de 4% a 5%. Pouca audiência . Até mesmo debates como os promovidos pela Rede Globo, de maior audiência, nas proximidades do final de campanha, não geram muito impacto. A saturação do verbo motiva os telespectadores a desligar os aparelhos de TV ou mudar de canal.

Leiam de cima para baixo e de baixo para cima

A desmoralização da classe política propicia uma expressão debochada nos mais diferentes segmentos sociais. Vejam a peça a seguir. Trata-se do discurso da campanha e do pós-campanha. A verve traduz, de certa forma, o pensamento social sobre a política e os candidatos. Leiam do começo ao fim e, na sequência, comecem pelo final.

Na campanha

Nosso partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que
Não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais
para alcançar nossos ideais
Mostraremos que é grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo de nossa ação.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e os negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos nossos propósitos mesmo que
os recursos econômicos do país se esgotem
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.