Porandubas Políticas

Porandubas nº 405

Oficialmente, a campanha está nas ruas. Os candidatos começam a por em prática suas estratégias.

8/7/2014

Abro a coluna com uma historinha do Nordeste.

Quatro freis

Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história.

Lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na PB. Dentro, dois frades : Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto o "padim" Ciço (padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro :

- Esse carro disimbestado não tem frei ?

Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo : disimbestado e frei (em vez de desembestado e freio). Resposta lacônica na ponta da língua :

-Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro : frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião.

Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela.

A campanha começou - I

Oficialmente, a campanha está nas ruas. Os candidatos começam a por em prática suas estratégias. O discurso tende a configurar os territórios. Dilma realçará os feitos da era lulo-dilmista, fazendo o casamento entre ela e seu antecessor. A estratégia tende a esmaecer as críticas ao pequeno crescimento do país, eis que serão realçados alguns espaços, como o campo do emprego, o campo da assistência social com inserção de 30 milhões de brasileiros ao meio da pirâmide, o campo das obras de infraestrutura, sob o clima de "uma copa vitoriosa", mesmo que o Brasil não levante o troféu. Se conseguir, melhor ainda.

A campanha começou - II

O discurso de Aécio vai na direção de reformas, enxugamento da máquina do Estado e redirecionamento da política econômica, a par da preservação de programas sociais, como o Bolsa Família. O neto de Tancredo, com seu lema de mudança, quer se fixar como principal candidato da oposição. Tem obtido bons índices de votos no Sudeste e uma taxa muito baixa no Nordeste, onde a presidente Dilma o supera por mais de 10 milhões de votos de maioria. Aécio quer sair de MG com uma vantagem de quatro milhões. Dilma espera que tal vantagem ali, em seu Estado, não ultrapasse um milhão.

A campanha começou - III

Para Eduardo Campos, a imagem ainda não se fixou no eleitorado. Tem ainda menos de um dígito nas pesquisas de intenção de voto, e seu principal desafio é ser conhecido. Mas contará com menos de dois minutos na TV e rádio, tempo curto para alavancar a visibilidade. Em comparação, Dilma terá mais de 10 minutos. Poderá o ex-governador de PE abrir larga frente no eleitorado jovem, eis que encarna com mais intensidade o conceito de inovação na esteira da vice, Marina Silva, e sua corrente ambientalista. O Nordeste poderá lhe dar fôlego, mas sua luta maior será travada no Sudeste do país.

Lula não é o mesmo

Lula continua a ser o maior cabo eleitoral do país. Mas já não tem a mesma força do Luiz Inácio de 2010. O país foi sacudido por escândalos e denúncias, a partir do mensalão, o PT passou a ser alvo de tiroteios midiáticos, a partidarização da máquina pública ficou patente, os rachas na aliança se escancararam e, nessa paisagem, o líder absoluto do PT perde densidade. É o que se vê. Para resgatar a força, Lula sugere : vamos procurar a nossa turma. Ou, para quem não sabe, sindicatos, organizações não governamentais, movimentos de massa. Ocorre que esses mesmos grupamentos também se impregnam dos ventos dos novos tempos. Não dispõe essa cadeia do poder que construiu no passado.

PMDB revigorado

Quem apostava na fragilização do PMDB poderá ter surpresa. Conta com candidatos a governador bem cotados nos Estados, sendo bastante provável que fique nos primeiros lugares do ranking. O PT, que esperava fazer as maiores bancadas de governador, senadores, deputados Federais e estaduais, se mostra, hoje, reticente. Não tem a força que imaginava. A conferir.

Padilha sem padilhar

Alexandre Padilha confiava tanto em seu rápido crescimento em SP que chegou a se valer do sobrenome para cunhar o verbo "padilhar", no sentido de avançar, mudar, ganhar, etc. Formou uma caravana em SP e correu o interior, visitando municípios, antecipando a campanha. Padilhou ? Não. Não avançou. Que coisa, hein ? E Lula, o grande chefe que sempre consegue tirar coelho da cartola, o que diz ? Está encafifado. Recomenda ao Padilha : "vamos procurar nossa turma". Ao lado do processo, o prefeito Haddad transforma o "padilhar" em "puxar para baixo".

E esse PROS, hein ?

E esse PROS, vai para onde ? Quais suas possibilidades ? Partido meio confuso ou confuso e meio. Poucos sabem quem são seus líderes. Os Gomes do CE, Cid e Ciro, estão eles. Se perderem no CE, o PROS aumentará os contra.

Economia global

No Brasil, diversos indicadores sinalizam um arrefecimento da economia brasileira, dentre os quais desaceleração da demanda por serviços, redução do nível de empregos, aumento de estoques e comércio com resultados abaixo do esperado. O panorama mundial não é muito diferente, uma vez que ainda não houve a recuperação total da economia mundial após a crise de 2008. Nesse contexto, "Economia Global" será tema de debate em painel do 25º Congresso Brasileiro do Aço. O economista Eduardo Giannetti será o conferencista e o painel contará com os debatedores : o economista Delfim Netto ; o conselheiro do Aço Brasil e presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, Jorge Gerdau Johannpeter ; e o economista Maílson da Nóbrega. O evento será realizado nos dias 12 e 13 de agosto, no Complexo WTC, em SP.

Maior campanha

Serão 11 os candidatos à presidência da República. A campanha oficial custará R$ 916,7 milhões, soma dos recursos indicados pelos partidos no TSE. São dados oficiais. Agora, multipliquemos por três esse número para se chegar quase aos R$ 3 bilhões. Como se sabe, o custo informal é três a quatro vezes maior. Imagine-se, agora, a campanha de governador, senador, deputados Federais e estaduais nos 27 entes Federativos. Quem se habilita a dar um número ?

Campanhas nas redes

Os dados são do poeta Cícero, atento analista da cena política e do desempenho de candidatos nas redes sociais. Mostra-me que Barack Obama tem 44 milhões de seguidores, segue cerca de 650 mil pessoas ; Dilma Rousseff tem apenas 2,5 milhões de seguidores e acompanha (pasmem !) apenas 340 pessoas. Mas a presidente e Lula fazem constantes reuniões com blogueiros. Por que ainda não conseguiram alavancar seus blogs nas redes sociais ?

O menu eleitoral

Que condimentos entram no caldeirão eleitoral ? O medo é o primeiro deles. Os efeitos do medo são muito grandes ante situações de fome, sede, doença, depressão e até cansaço, o que explica a eficácia da linguagem da ameaça nas abordagens. Exerce o medo maior influência sobre camadas em precária situação econômica, contingentes esgotados ou amedrontados por diversos motivos. O desconhecido, a surpresa, o isolamento, a tensão agravam o estado de medo. Por isso mesmo, procura-se marcar candidatos com a pecha de contrários a programas assistenciais, como o Bolsa Família. É sabido que os valores econômicos e os interesses materiais, fundamento dos dois instintos de conservação do ser humano (combativo e nutritivo), lideram o rol de "alimentos psíquicos" que entram na panela eleitoral. O bolso, portanto, é a parte mais sensível do eleitor.

Credenda e Miranda

Harold Lasswell, estudioso norte-americano, coloca ainda no caldeirão que começa a ferver duas categorias assim designadas : os Credenda e os Miranda, ou seja, as coisas a serem acreditadas e as coisas a serem admiradas. A primeira comporta o discurso, as propostas, as promessas, repertório, aliás, hoje bastante desprestigiado. Ele parte da lógica que aponta para as prioridades das famílias, ou seja, as demandas urgentes e prementes do cotidiano : alimento barato, transporte fácil, rápido e confortável, escola de qualidade próxima à casa, hospital capaz de prestar bom atendimento, segurança nas ruas, harmonia comunitária. Já na galeria da admiração, emerge, primeiro, o candidato com sua história e valores que modulam o perfil : experiência, mudança, avanço, domínio temático, capacidade expressiva, simplicidade, maneira de se apresentar. Geram simpatia, empatia ou antipatia, elementos que carregam o voto do coração para uns e rejeição para outros.

Os amigos

Os grupos de amigos, a vizinhança e a própria vida no bairro têm peso no processo decisório do eleitor, eis que funcionam como cola de pertinência social e do cotidiano comum, o que é importante para estabelecer as demandas comunitárias. Explica-se, assim, a proximidade como fator gerador da distritalização do voto, tendência crescente no país. As bases buscam cada vez mais candidatos que se identifiquem com as localidades, que são os centros da micro-política.

Partidos e pesquisa

Não é desprezível também o tempero dos partidos, principalmente nos fundões do território, onde ainda se vota de acordo com os costumes antigos e sob a égide de lideranças e famílias que repartem o espaço político e as estruturas de poder. Da mesma forma, é inegável a influência de pesquisas junto a alguns compartimentos, particularmente nas beiradas que agregam camadas incultas e embaladas pelo celofane de "vitórias" arrumadas por mapeamentos "fajutos" e de utilização eleitoreira. Em algumas regiões, pesquisa vira cabo eleitoral.

Emoção e razão

Questão instigante na propaganda política é a que procura distinguir a linguagem da emoção da linguagem da razão. "As pessoas que votam com o coração são mais numerosas que as que votam com a cabeça ; as eleições são ganhas e perdidas pela emoção, não pela lógica", proclama o famoso profissional de propaganda norte-americano, Joseph Napolitano. É verdade que a espetacularização da política, que se expande no bojo da sociedade de informação, procura maximizar as alavancas da adesão do eleitorado, o que implica adoção de signos que impactem o hemisfério emotivo do cérebro. Urge, porém, reconhecer a promoção educacional e social de grupos saídos das margens, que começam a fazer exame criterioso de candidaturas e escolha mais racional de perfis. Ou será que os 30 milhões de eleitores que ascenderam ao meio da pirâmide nos últimos 10 anos votam apenas com o coração ?

Conselho aos jogadores

Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jogadores da seleção brasileira. Hoje, mantém o foco na Copa e nos nossos jogadores :

1. A saída de Neymar da Copa pode significar mais garra, mais arrojo, mais união.

2. Trabalhem com a perspectiva de transformar as dificuldades em motivo para criar oportunidades.

3. O país espera que cada um cumpra seu dever. Com dignidade.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.