Porandubas Políticas

Porandubas nº 404

A indagação central é: como deve ser a campanha eleitoral sob o prisma do marketing político?

2/7/2014

Seu Lunga

Pois é, abro a coluna com o impagável Seu Lunga, o desbocado cearense.

Chegou a ele um amigo de quem tomou emprestado um dinheiro :

- Seu Lunga, a promissória venceu.

Resposta mais que rápida :

- Meu amigo, para mim tanto faz como tanto fez. Podia ter perdido, ganho ou empatado. Não torço por nenhuma Promissória.

E despachou ligeirinho o amigo.

Pequenas lições

A indagação central ao consultor é : como deve ser a campanha eleitoral deste ano sob o prisma do marketing político ? Não há uma resposta fechada. Toda campanha deve ser plasmada, planejada, focada com base nas realidades regionais, locais, onde os climas e as circunstâncias determinam maior ou menor ênfase aos chamados elementos do marketing. O que se pode indicar como vetores que devem balizar o planejamento é um conjunto de abordagens pinçadas a partir do ciclo político-eleitoral-lúdico que estamos vivenciando no Brasil. Sob este entendimento, uso a coluna de hoje para sugerir as ênfases abaixo nos chamados cinco eixos do marketing político : a pesquisa, o discurso, a comunicação, a articulação e a mobilização.

1. Descobrir o que se passa na cachola

Neste ano, mais importante que pesquisa quantitativa, voltada para aferir as intenções de voto em candidatos, é pesquisa qualitativa com o objetivo de mapear o sistema cognitivo do eleitor. Como é sabido, o processo de tomada de decisão por parte do eleitor - a preferência por um candidato e a rejeição a outros - leva em conta um conjunto de situações : proximidade, conhecimento, circunstâncias, qualidades do candidato, passado do candidato, experiência, compromissos, ações já realizadas, maneira de expressar, capacidade de argumentação, ligações partidárias, grupos envolvidos na eleição, etc. O importante é descobrir as razões íntimas de aprovação e rejeição a candidatos. O eleitor pode mudar de posição se o discurso de um candidato preencher plenamente suas expectativas e demandas.

2. Arrumar o discurso adequado e crível

A pesquisa oferecerá muitos subsídios para a formação de um discurso ajustado à cachola dos eleitores. O eleitor de 2014 está desconfiado da lenga-lenga. Nesse sentido, vale a pena conferir as seguintes abordagens para o estabelecimento das linhas do discurso : a) questões da proximidade e do cotidiano do eleitor - nesse caso, o discurso agregará os pontos e as demandas imediatas do eleitor, todas as reivindicações e desejos que moldam seu processo decisório ; b) questões intermediárias, de impacto mais geral, que possam expressar o conceito do candidato no ranking dos avanços, mudanças, modernidade, atraso, retrocesso, representação do passado e projeção do futuro ; c) atenção às demandas mais da própria comunidade local, regional e aos movimentos organizados por setores e categorias profissionais.

3. Internalizar o discurso : comunicação eficaz

O terceiro desafio é o de procurar fazer com que o discurso entre na cachola do eleitor. Não apenas que chegue a ele, mas que possa ser entendido, assimilado, avaliado e consumido. Ou penetre fundo nos espaços sensoriais e gere empatia, aceitação. Para isso, a comunicação acertada é fundamental. Buscar uma interlocução direta, olho no olho, mão na mão. A par dos veículos de comunicação disponíveis. Os candidatos majoritários terão maior tempo e condições para desenvolver uma comunicação mais eficiente e eficaz. Já os candidatos proporcionais - deputados - terão que usar mais suas capacidades expressivas, a par de um arrojado grupo de cabos eleitorais capazes de verbalizar suas propostas.

4. Criar redes de apoio

Mais que outros anos, a articulação com os eleitores agrupados em redes ou nas entidades organizadas é um dos principais desafios desta campanha. A sociedade afasta-se da política. Indigna-se contra a corrupção que campeia por todos os lados. Esse fenômeno tem propiciado a organização de grupos, setores, núcleos que passam a formar novos polos de poder. Que agem sobre os poderes centrais - Congresso, Executivo, Judiciário, etc. Pois bem, os candidatos devem auscultar as vozes das ruas e dos movimentos sociais. Todo esforço deve ser empreendido para se estreitar relacionamentos com as redes organizadas, interpretando seus anseios e assumindo o compromisso de defender suas causas. A articulação com a sociedade e com a própria teia de partidos é um dos eixos mais importantes da campanha deste ano.

5. Pequenos e rápidos encontros

O último eixo é o da mobilização. Este é o vetor voltado para a energia da campanha, a movimentação, a circulação do candidato no meio do povo, os eventos, as caravanas, as passeatas e carreatas, etc. Pois bem, em vez de grandes comícios e encontros - que faziam os espetáculos do passado - devem ser organizados pequenos e rápidos encontros : cafés da manhã, pequenas palestras, reuniões com grupos de 100, 200, 300 pessoas, na esteira de uma agenda que possa contemplar 10 a 15 cidades por dia. Difícil, claro, principalmente em Estados de grande superfície. A lógica nesse caso se ancora na onipresença - ou seja, o candidato se fará presente em diversas cidades em um só dia, abrindo vasto campo de visibilidade, estreitando contatos, falando diretamente com lideranças e eleitores. Uma agenda bem planejada é capaz de fazer milagres.

A campanha em SP

SP sediará a mais emblemática campanha nacional. Pelas seguintes razões : tem o maior eleitorado brasileiro - quase 33 milhões de votos ; os maiores conjuntos de classes médias ; os maiores contingentes de eleitores das margens sociais ; os maiores conglomerados trabalhistas ; enfim, a maior organicidade social do Brasil. SP é a representação maior do país, com suas divisões de classes e os novos polos de poder. E também será a maior tuba de ressonância.

Posições em SP

O PT mostra-se sem força nesse momento para enfrentar o governador Geraldo Alckmin. Por isso, as atenções se concentram, hoje, em Paulo Skaf, que terá o maior espaço de TV e rádio na programação eleitoral. Skaf deve ir ao segundo turno pelas projeções que se fazem hoje. Muito difícil será Alckmin ganhar esta eleição no primeiro turno, eis que é visível a corrosão nos canos do tucanato depois de 20 anos governando o Estado. No segundo turno, se Skaf confirmar presença, certamente o eleitorado petista concentrará nele seus votos. Daí a previsão que aponta um segundo turno dramático e muito disputado em SP.

Kassab, Serra e Suplicy

Kassab e o seu time do PSD formam aliança com Paulo Skaf. E Kassab decidiu aceitar o convite para ser o candidato ao Senado. Pelo PT, Eduardo Suplicy. Depois de idas e vindas, José Serra decidiu também ser candidato. Mas Kassab só aceitou a candidatura por saber que Serra disputaria um mandato de deputado e não de senador. Ambos conservam uma amizade alicerçada nos tempos da prefeitura. Pois bem, e agora ? Serra havia desistido do Senado. Recuou e agora diz que aceita. Vamos acompanhar o imbróglio. A situação de Suplicy não é boa.

Café com leite ?

A escolha do senador Aloysio Nunes Ferreira, PSDB/SP, como candidato a vice na chapa de Aécio objetiva fechar o pacto MG/SP, os dois maiores colégios eleitorais do país. O senador teve 11 milhões de votos. E pode ser uma ponte importante para interiorizar o nome de Aécio Neves junto ao vasto eleitorado das grandes cidades de SP. No Nordeste, hoje, Dilma leva uma maioria de 12 milhões de votos sobre Neves.

Tarso no RS

Muito difícil a reeleição de Tarso Genro ao governo do RS. A senadora Ana Amélia está com boa dianteira.

Armando em PE

Interessante a situação de PE. O senador Armando Monteiro, do PTB, apoiado pelo PT, está a quilômetros do candidato do PSB, Paulo Câmara, escolhido por Eduardo Campos. Tem cerca de 30 pontos de vantagem. E este tem a obrigação moral de ganhar no Estado onde, dizem, faz barba, cabelo e bigode. A conferir.

Novo comando na Clia Brasil

Desde ontem, Roberto Fusaro é o comandante da CLIA ABREMAR BRASIL (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos). Após 90 dias de transição, o executivo assumiu o lugar que foi de Ricardo Amaral por cinco anos. Fusaro, que também é diretor-Geral da MSC Cruzeiros para a América do Sul desde 2006, trabalha no setor há 20 anos. Graduado em Economia e Ciências Contábeis em Buenos Aires e com MBA em Gestão de Negócios pela Universidade de Chicago, já teve experiências em companhias de cruzeiros nos Estados Unidos, Europa e acumula cargos no Brasil desde 2001. Experiente profissional no segmento, Ricardo Amaral seguirá no Conselho da CLIA ABREMAR BRASIL.

Despedida de Barbosa

Joaquim Barbosa em seu discurso de despedida do STF : "Saio absolutamente tranquilo, como eu disse, com a alma leve, aquilo que é fundamental para mim, o cumprimento do dever. É exatamente aquilo que eu disse hoje na sessão : é importante que o brasileiro se conscientize da importância, da fundamentalidade, da centralidade da obrigação de todos cumprirem as normas, ouvirem a lei, cumprirem a Constituição. Esse é o norte principal da minha atuação. Pouca condescendência com desvios, com essa inclinação natural a contornar os ditames da lei, da Constituição". Joaquim cumpriu a missão. Deixa a Suprema Corte pela porta da frente.

Conselho aos jogadores brasileiros

Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos estrategistas do PT. Hoje, dedica sua atenção aos jogadores da Seleção brasileira.

1. Mais raça, porque ração ($) vocês têm muita.

2. Mais garra e menos medo. Menos choro, menos tensão e mais alegria.

3. Mais chutes ao gol, mais rapidez, mais meio do campo, mais gols. Em suma, mais futebol.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.