Porandubas Políticas

Porandubas nº 394

A estrela, símbolo do PT, sempre foi apreciada. Mas uma estrela do partido, antes em ascensão, está em queda: André Vargas.

16/4/2014

Quer ver ?

Abro a coluna com um "padrinho" cheio de graça.

Padre Aneiko, deputado estadual pelo PDC, vinha do Paraguai. Na fronteira de Foz do Iguaçu, encontrou-se com duas amigas, que lhe pediram para passar com uns perfumes de contrabando. Arrumou no cinturão, embaixo da batina. Na Alfândega, o fiscal pergunta :

- Alguma mercadoria, padre ?

- Claro que não.

- E o que senhor tem aí embaixo da batina ?

- O que tem aqui embaixo é dessas duas moças. Quer ver ?

O fiscal :

- De jeito nenhum.

Feliz

"Quando eu tinha cinco anos, a minha mãe dizia-me que a felicidade era a chave da vida. Quando fui para a escola perguntaram-me o que queria ser quando fosse grande. Escrevi : "feliz". Então eles me disseram que eu não tinha entendido o exercício e eu respondi que eles é quem não entendiam a vida". (John Lennon)

A queda de uma estrela

O PT sempre apreciou o simbolismo da estrela. Que conota beleza, luz, fé, esperança, o encontro do homem com os mistérios da natureza. Escolheu a estrela para acolher a estética do partido. Acolheu a cor vermelha para expressar a interação com a esquerda. Os partidos socialistas ancoram-se no vermelho. Até o jardim do Palácio da Alvorada ganhou uma estrela vermelha nos idos tempos do presidente Luiz Inácio. André Vargas era uma estrela em ascensão. O cargo parlamentar mais elevado do PT era por ele ocupado : vice-presidente da Câmara dos Deputados. Conservava o sonho de chegar à presidência da Câmara em 2014. De punho erguido, por ocasião da instalação dos trabalhos parlamentares, ao lado do presidente do STF, era a própria encarnação do poder petista. A estrela cai. Vargas desce do Olimpo para habitar a terra dos mortais. Pior : dos mortais pecadores.

Decisão e indecisão

A decisão para a renúncia do deputado foi decidida pela cúpula do PT. Na verdade, quanto mais protelasse a decisão, mais sangria do corpo petista Vargas proporcionaria. Ocorre que Vargas ainda tem dúvidas. A Comissão de Ética da Câmara pediu ao presidente Henrique Alves para não aceitar o pedido. Quer que a casa o julgue tendo em vista que já havia sido instaurado um processo contra ele.

O Brasil é surpreendente

Por nossas tropicais plagas, tudo pode acontecer. O pior virar melhor e vice-versa. Com a nuance de que essa extraordinária mutação pode ocorrer em questão de instantes. Um dia, uma hora, um flagrante bastam para o destronamento de imperadores ou para a queda de estrelas. O imponderável nos ronda. Está ali na esquina espreitando políticos de todas as estirpes. Não adianta querer esconder malfeitos. Um dia, uma hora, o véu cai e deixa ver os perfis desnudados. Sem as lantejoulas que, até então, douravam seus corpos. O Brasil dos Trópicos é um dos maiores laboratórios da ciência política contemporânea.

O imponderável - I

Sob o abrigo da nota acima, respondo como consultor político à insistente e recorrente pergunta : E Lula, volta ? Ele tomará o lugar de Dilma ? Tudo é possível, principalmente ante o desmoronamento da locomotiva que puxa o trem da inflação. O imponderável está na onda. O que é isso ? Explico. Eleições de 1986. Comício de encerramento de Freitas Neto, do antigo PFL. Praça do Marquês. Desde a manhã os carros de som convidavam o povo para o monumental show de Elba Ramalho. 18h, praça lotada. A massa urra : "queremos Elba, queremos Elba". Os caminhões com os equipamentos de som só chegaram em cima da hora do comício. Começa a cair um toró. Pipocos e faíscas. Os cabos, em curto circuito, queimaram. Comício sem som ?

O imponderável - II

Elba mostrou o contrato : "sem som, não canto". Sob insistente apelo do candidato, propôs a cantar uma música. Arrumaram um banjo para acompanhá-la. Nem mesmo começara a cantar, passou a vociferar : "imbecis, ignorantes, não façam isso". No meio da multidão, a cena constrangedora : a galera abria a boca de um jumento e derramava nela uma garrafa de cachaça. Sob apupos, acabava-se o comício. O candidato perdeu a campanha por menos de 2%. O caso foi contado de boca a boca. O imponderável : um jumento embriagado em Teresina.

Confiança cai

A confiança dos brasileiros nos governantes cai. Quem garante é o Datafolha, que acaba de criar um Índice de Confiança. Numa escala que vai do 0 a 200, acima de 100, o índice é positivo. Em março do ano passado, o índice apontava 148. Agora em abril, caiu para 109. Uma perda razoável de confiança no país.

Coração puro

"Um grande mago me ensinou uma vez que contra a maldade de um homem não era necessário tomar nenhuma medida. Basta ter um coração puro para que o tempo se encarregue de dar a resposta."

Inflação, o dragão

A inflação pode se transformar no dragão engolidor de votos. Hoje, o índice de 6,15% estaria dentro da meta, que vai de 4,5% a 6,5%. Ocorre que há uma inflação não controlada, essa de produtos hortifrutigranjeiros de feiras livres, por exemplo. O tomate, o chuchu, o abacaxi, o mamão papaia das feiras, quando sobem um real ou mais, pesam no bolso dos consumidores, principalmente dos contingentes que vivem da cesta básica. Há quem garanta que a inflação das ruas já está por volta de 8% a 9%. Não sei. Mas ouço um zum zum no ar.

Saber administrar o tempo

Sêneca, o grande sábio, escreveu sobre a brevidade da vida, quando diz : "Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido". Saber administrar o tempo é, hoje, um dos desafios instigantes do nosso cotidiano. O tempo não se mata. "Quem mata tempo é suicida", satiriza Millôr Fernandes. A reprimenda é do dramaturgo inglês H.D. Thoreau : "Como se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade".

A festa foi bonita, pá

O casório foi bonito, pá. Fiquei contente. Ainda guardo renitente um velho cravo para mim. Não foi bonita a festa de casamento de Eduardo Campos e Marina, em Brasília, esta semana ? Com direito a imagem gastronômica de Marina : a união da tapioca com o açaí, o que, convenhamos, produz fonética esquisita ou semântica exótica: tapiçaí, ou se preferirem, açapioca. Campos prometendo botar mais feijão no Bolsa Família e dizendo : "vamos mudar, vamos mudar". Meu Deus do céu : mudar é encher as panelas do Bolsa Família ? Pelo que se sabe, o desafio é exatamente o contrário : diminuir o Bolsa Família, o assistencialismo paternalista com programas estruturantes. Onde está a saída, Eduardo e Marina ? Há quem prefira o canto de Chico Buarque : "Sei que há léguas a nos separar, tanto mar, tanto mar ; sei, também, quanto é preciso, pá ; navegar, navegar ; canta primavera, pá ; cá estou carente, manda novamente algum cheirinho de alecrim".

A diretriz de Lula

Lula deu a diretriz : atacar quem ataca a Petrobras. Sair da passividade. Ir à luta. Foi o que a presidente fez em PE : atacou oposicionistas que querem usar a Petrobras como arma política. O imbróglio está no ar. Literalmente. A Rede Globo coloca todos os dias nas ondas sonoras, levando ao assunto do Caburaí ao Chuí (aliás, não é do Oiapoque ao Chuí, no AP, como se insiste. Do monte Caburaí, no município de Uiramutã, em RR, ao arroio Chuí são 85 km a mais do que a distância do Oiapoque ao Chuí, que é de 4.180 km). Mas a história é outra. Dilma e Graça Foster vão à luta. Vamos ver até onde vai dar essa brigalhada.

Viver o presente

Procurar viver intensamente o hoje. Também é de Sêneca o pensamento : "Dedica-se a esperar o futuro apenas quem não sabe viver o presente". Há pessoas que passam o tempo preparando o futuro, deixando de lado as grandes oportunidades de momento em que poderiam ser felizes. Ocupar o tempo é viver. Deixar de ocupá-lo é um descompromisso com o ideal da existência. Como musicou John Lennon : "Vida é o que acontece quando você está ocupado, fazendo outros planos".

São Geraldo pede ajuda a São Pedro

São "Geraldo Alckmin" todos os dias reza uma prece a São Pedro, o porteiro do céu. O primeiro papa da Igreja Católica Apostólica Romana não está muito de aceitar preces apenas em momentos críticos. Gostaria que os pecadores rezassem todos os dias. Sem invencionices nem carolices. O fato é que o santo "Alckmin" todos os dias, ao acordar, corre para ver os aparelhos que colecionam gotas de chuva para ver se os céus atenderam a suas rezas. A Cantareira está com 12% de sua capacidade. Cantareira seca é secura nas urnas do habitante do Palácio dos Bandeirantes. Que até garantiu ter enxugado o tempo de banho. Claro, a careca do governador é um adjutório nesses tempos de economia d'água. Perdão, bom governador e amigo, pela brincadeira.

Súmulas do TST

O ex-ministro Almir Pazzianotto esclareceu dúvidas de empresários sobre as súmulas 244 e 378 do TST, que tratam da garantia de estabilidade à gestante e em caso de acidente de trabalho. Foi ontem no Sindeprestem, entidade que reúne empresas de serviços terceirizados e temporários. Para ele, falta união dos empresários e de entidades patronais de representação nacional para lidar com a questão. "Iniciativas isoladas não impedirão que estas súmulas sejam aplicadas nem farão o TST rever o texto. Não é simplesmente uma decisão jurídica, mas política e deve ser tratada como tal. O enfrentamento jurídico é indispensável, mas não é suficiente".

Conselho a "São Geraldo"

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente da Petrobras, Graça Foster. Hoje, dedica sua atenção ao governador de SP, Geraldo Alckmin.

1. Use sua providencial franqueza para explicar tim tim por tim tim as contas da Sabesp, a distribuição de dividendos acima dos limites mínimos ; a conversa direta, sem pirrepes (nordestinês para significar firulas e dribles - sem talvez no inglês) poderá ser eficaz ;

2. Há momentos na vida de um governante que são centrais para defender sua identidade e preservar sua imagem. Vossa Excelência terá pela frente um imenso desafio a enfrentar.

3. Mostre alto conhecimento de causa sobre a questão hídrica em SP.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.