2005 : O ANO POLÍTICO
Sob o prisma político, 2005 deixa a desejar. A entrevista-bomba de Roberto Jefferson sinalizava um ciclo de grandes eventos. No início da crise, há 7 meses, as perspectivas apontavam para a cassação de 30 parlamentares. A conta registra : 2 cassações, 2 absolvições e 4 renúncias. Muito pouco. O ano foi muito ruim na esfera dos projetos de lei. O pior dos últimos 10 anos. Aprovaram-se apenas 75 matérias. As CPIs até que trabalharam bem, mas não estão sabendo como chegar ao fim. Relatórios são questionados. Houvesse apenas uma CPI, com o objeto específico de investigar a corrupção e a malha de interesses entre Executivo e Legislativo, as coisas teriam funcionado melhor. Impressão geral : reversão de expectativas. De 0 a 10, a nota é 4.
2005 : O ANO EXECUTIVO
Na esfera do Poder Executivo Federal, 2005 também foi um ano de pequenos resultados. O país patinou. A administração foi caótica. Poucos ministros sobressaíram, particularmente Antonio Palocci, da Fazenda, Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Roberto Rodrigues, da Agricultura. Mas este, coitado, ficou refém da febre aftosa. Não houve tempo para Dilma Roussef mostrar serviço. Mais da metade do Ministério de Lula é um imenso espaço em branco. Estradas esburacadas, crescimento pequeno do PIB, saúde devastada e identidade social do governo completamente destroçada. O Fome Zero ganha zero de nota. O Bolsa Família ainda oxigena o pulmão social, na medida em que distribui bolsas para cerca de 8 milhões de famílias. O programa, porém, é assistencialismo puro. Dá o peixe, mas não ensina a pessoa a pescar. E Lula passou quase todo ano palanqueando, jogando palavras ao vento em eventos escassos de multidões. De 0 a 10, a nota é 3.
2005 : O ANO JUDICIÁRIO
O Poder Judiciário passa a idéia de ter sido mais ágil. A Justiça está querendo se aproximar da sociedade, abrindo suas portas, facilitando a chegada dos cidadãos a seu Templo. Ocorre que certos perfis do Judiciário acabam inoculando a imagem da instituição. Veja-se o caso do presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Ex-deputado federal pelo PMDB-RS foi levado para a mais alta Corte por Fernando Henrique. E como presidente do STF, politizou bastante a atuação da Corte, dando, até, a impressão de que queria orientar e induzir os votos de seus pares, por exemplo, no caso José Dirceu. Há grandes figuras, algumas de identidade humanista e alta sensibilidade, como o ministro Ayres Brito, poeta e escritor, e outras conhecidas pela sabedoria jurídica e rigorosa interpretação da CF, como Marco Aurélio de Melo. Entre altos e baixos, o STF ganha a nota 6. Mas a estrutura do Judiciário, como um todo, merece uma nota maior, algo como 7,5.
2005 : O ANO SOCIAL
Se há um fenômeno que merece elogios é a organicidade social brasileira. A sociedade está atenta. Temos cerca de 500 mil organizações não governamentais, entre as quais 300 mil catalogadas pelo IBGE. Essas entidades de intermediação social estão dando respostas mais satisfatórias às demandas dos grupamentos sociais que a representação popular no Parlamento. A crise da democracia representativa – tão analisada por Norberto Bobbio em seus clássicos ensaios – tem seu contraponto na emergência de uma ação social mais ativa, algo que se aproxima ao ideal da democracia participativa. Ou seja, o Brasil começa a abrir os horizontes da democracia participativa. A indignação social, a raiva, a angustia, as expectativas frustradas, as demandas, as críticas e exigências fazem parte do menu rotineiro das classes sociais e dos grupamentos organizados. E quem está dando vazão a esse acervo, que podemos designar como Produto Nacional Bruto da Infelicidade (PNBinf), são as entidades intermediárias, as ONGs. Por isso, a esfera social ganha a nota 10.
ELEIÇÕES 2006
Quem estiver pensando que a campanha eleitoral de 2006 será semelhante à de 2002 cairá do cavalo. É claro que muitos ingredientes terão a mesma composição. Veremos, evidentemente, todas as pernas do marketing político se movimentando : a pesquisa, o discurso (propostas), a comunicação, a articulação política e a articulação com a sociedade e a mobilização de massas. Ocorre que alguns desses eixos ganharão ênfase, ao contrário de campanhas anteriores. Por exemplo: o discurso será priorizado. A firulação, a publicização exagerada com a cosmética mercadológica, com a transformação de candidatos em sabonete, estarão em plano secundário. A sociedade está mais atenta às mentiras e às falsificações. Não mais aceita comprar gato por lebre. Por isso, as campanhas serão mais objetivas, mais enxutas, mais transparentes e com diferencial no discurso, na proposta. O candidato terá o desafio, ainda, de comprovar a viabilidade do que está prometendo.
PT : 20 MILHÕES DE VOTOS A MENOS
Na campanha de 2002, o PT fez a maior bancada federal, elegendo 91 parlamentares. E conseguiu maioria na Assembléia Legislativa de 6 Estados. A previsão para 2006 é ruim para o PT. Calcula-se que o partido perderá uns 20 milhões de votos. Calcula-se em 50 parlamentares a bancada do PT. A não ser que o Partido consiga passar uma cera brilhante na estrelinha, passar água benta na imagem destroçada e ressuscitar como Lázaro. Ou seja, o PT precisa operar um milagre para voltar, no curto prazo, a ter a mesma força de 2002.
AGRIPINO MAIA COMO VICE
Seja qual for o candidato tucano à presidência, José Serra ou Geraldo Alckmin, a vaga de vice fica cada vez mais próxima do ex-governador do Rio Grande do Norte e hoje líder do PFL no Senado, José Agripino Maia. Os grupos pefelistas – o grupo baiano de ACM, o grupo pernambucano de Marco Maciel e o grupo do presidente Jorge Borhnausen – estão chegando à conclusão de que a performance de Agripino está lhe garantindo a posição. A questão é saber se a Verticalização cairá ou não. Pela Verticalização, as alianças feitas no plano federal devem ser seguidas na esfera estadual. Se não cair, fica complicada a aliança de José Agripino com o senador Garibaldi Alves (PMDB), candidato mais que favorito ao governo do RN.
QUEBRA CABEÇA EM RORAIMA
Aliás, se a Verticalização não cair, a prefeita de Boa Vista, Roraima, Tereza Jucá, mulher do senador Romero Jucá, ficará numa sinuca de bico. Ela pertence ao PPS. Tudo indica que o PPS, se não sair com candidato próprio à presidência, o próprio presidente Roberto Freire, fará aliança com o PSDB. Em Roraima, Jucá, do PMDB, será candidato a governador e Tereza disputará a vaga de senadora. Ocorre que o candidato situacionista é o governador Ottomar Pinto, do PSDB, que vai para a reeleição. Tereza, nesse caso, não caindo a Verticalização e se o PPS fizer aliança com os tucanos, teria de coligar com o candidato adversário do marido. Uma coisa, convenhamos, mais que exótica.
CIRO NO CEARÁ
Juntam-se forças de espectros variados em torno da candidatura de Ciro Gomes ao governo do Ceará. Um único porém : Ciro tornou-se mais petista que muitos petistas. E essa marca dá medo.
PALAVRAS DE ZARATUSTRA
E que 2006 seja para todos um ano de novas descobertas. Sob a inspiração do profeta Zaratustra: "Mil caminhos existem, que ainda não foram palmilhados, mil saúdes e ocultas ilhas da vida. Ainda não esgotados nem descobertos continuam o homem e a terra dos homens".
FELICIDADES, PROPERIDADE E PAZ!