Quarta-feira, 11 de dezembro de 2013 - Migalhas nº 3.267.
Abro a coluna com um relato do impagável Zé Abelha, em seu A Mineirice :
A distribuidora de bebidas Minasgerais Ltda., de Governador Valadares, distribuiu na cidade um opúsculo sobre as maravilhas da Catuaba, eficiente no tratamento do sistema nervoso, falta de apetite e impotência. Adicionada à cachaça, a dose teria efeitos afrodisíacos, prometia o livreto :
- Tudo escurece
Nada amanhece
A barriga cresce
A junta endurece
A vista enfraquece
O cabelo embranquece
A mulher oferece
Ele agradece
E diz : ah ! Se eu pudesse !
- Mas com Catuaba Cristal
Isso não acontece.
O estoque acabou em menos de uma hora.
Bomba ? Quais os efeitos ?
Pois é, não se fabricam mais bombas como antigamente. Ou, se quiserem, outra hipótese : as bombas de hoje têm grande poder destrutivo, mas não causam tanto medo como antigamente. Querem outra ? De tantas bombas, explodindo de muitos lados, ninguém sabe qual a mais potente. E mais uma : a banalização das bombas acaba gerando insensibilidade social. Em tempos d'outrora, vandalismo, violência, destruição e morte causavam sensação. Comoção social. Hoje, virou algo comum. A morte está ali, na esquina, à espreita. O arrazoado é um narizão de cera para fechar a ideia : a bomba anunciada pela revista Veja, com a entrevista exclusiva do delegado Romeu Tuma Junior, sobre as peripécias do poder petista, não causou, por enquanto, os estragos que dela se esperavam.
A estratégia do PT
O PT expressou sua posição com um silêncio profundo. Tarso Genro, o governador gaúcho, foi um dos poucos a se manifestar. Disse que não tinha conhecimento detalhado dos fatos narrados pelo delegado e que teriam sido narrados a ele, quando era ministro da Justiça. O partido não deu bola à entrevista, onde se liam denúncias graves, algumas já conhecidas, outras apontando novidades. A produção de dossiês, a cargo de pessoas do partido, já era coisa conhecida. Mas dossiê, documento, vazamento, informações pela metade constituem o acervo cotidiano da política, ou, se quiserem, da politicagem. Por isso, nessa esfera, a coisa morrerá logo.
O Barba
Dizer que Lula, codinome Barba, foi informante do DOPS pode parecer um exagero. Preso, abriu conversa com o Tumão, o velho Romeu Tuma, que chefiava o DOPS, podendo, até, ter passado informações. Seria isso dedodurismo ? Cada qual tire suas conclusões. O clima pré-eleitoral esfumaça o ambiente. A história de que chegou a dormir em sofá da sala já era conhecida. Um dia, a verdade verdadeira aparecerá.
Igualdade entre presos
É evidente que houve, sim, espetacularização no episódio dos mensaleiros presos. De um lado, a intensa cobertura midiática expôs a situação dos prisioneiros do PT, com abordagens muito negativas. De outro, os posicionamentos de cada um deles exigindo tratamento diferenciado. Os doentes, como Genoino e Jefferson, devem passar, sim, pelo crivo de médicos. Só eles podem atestar o estado de saúde e as condições que devem cercá-los na prisão. Feitos os laudos, cumpra-se a lei. A reação de um ou outro, escancarando um processo de vitimização, acirrou os ânimos. Petistas tentaram formar um bastião de defesa. Sem olhar para outros prisioneiros, com penas até maiores. Por que alguns foram chamados de "prisioneiros políticos" e outros, de simples condenados ? Faltam isenção e bom senso na análise da situação.
Mentiras
Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria".
Barbosa, fora da comitiva
Comenta-se que a presidente Dilma teria cometido uma deselegância para com o presidente do STF, Joaquim Barbosa, pelo fato de não tê-lo convidado a integrar a comitiva de ex-presidentes da República que foi à África do Sul assistir ao funeral do ícone de grandeza e um dos maiores lides do século XX, Nelson Mandela. Ora, como se sabe, a comitiva foi integrada por ex-presidentes da República. Barbosa não se enquadra na situação. É chefe de um Poder ? Sim. Mas se fosse convidado, a presidente da República seria também obrigada, por um dever de Justiça, a convidar os presidentes de outros Poderes, Henrique Alves, presidente da Câmara Federal, e Renan Calheiros, presidente do Senado Federal. O fato de Joaquim ser negro não justificaria o convite.
Joaquim na política ?
Não acreditem nessa hipótese. O presidente do STF é assediado, admirado, convidado para frequentar os mais diferentes eventos em todas as regiões do país. Ganhou fama pela maneira corajosa de ter administrado o julgamento da AP 470. Isso é um fato. A mosca azul da política bateu asas em sua direção ? Apelos e pressões nessa direção não faltam para que se candidate à presidente da República. Ora, seria o maior erro de sua vida se decidisse entrar agora na seara política. O tempo não é esse. Cada qual com seu bornal. E no seu devido ciclo de vida. Antecipar a carreira no Judiciário seria ruim para ele. No campo das emboscadas políticas, ele seria triturado pela máquina de sujar perfis. O momento aconselha que permaneça onde se encontra.
E a Eliana Calmon ?
E por que a Eliana Calmon, ex-corregedora do STJ e dura no julgamento de juízes corruptos, está entrando na política ? Possivelmente, será candidata a senadora pelo PSB na BA. Bom, primeiro é oportuno dizer que não se deve comparar uma coisa com outra. Calmon se aposentou. Fez um percurso vitorioso no Judiciário, chegando ao fim da linha. Seu tempo de vida útil ali chegara ao fim. Joaquim tem um bom tempo ainda na carreira de ministro do STF. Eliana pensa em se candidatar ao Senado pela BA. O espaço que pleiteia combina com seu perfil. Ademais, ela já vive sua quarentena, um tempo afastado do caminho da Justiça.
Padilha com 30%
Petistas me dizem do mais alto patamar de sua convicção : Alexandre Padilha, em julho de 2014, deverá exibir 25% de intenção de voto, devendo chegar aos 30% em final de agosto. Não duvido. Seriam os 30% históricos do PT em SP. Mas a política é um rio sinuoso. Cheio de curvas. Tudo vai depender do clima e das circunstâncias.
Alckmin com 40%
Pois é, na mesma linha das certezas, tucanos do bico longo me dizem : Geraldo Alckmin, que hoje ostenta 43% de intenção de voto, deverá permanecer em torno de 40% em julho, podendo chegar aos 45% em final de agosto. Respondi com a mesma hipótese : tudo vai depender do cheiro do tempo.
A polarização será a mesma ?
Coloco outra hipótese no caldeirão eleitoral : o arrefecimento da polarização entre PSDB e PT. Ou seja, digamos que em julho de 2014, o embate histórico entre petistas e tucanos esteja frio. Aponto algumas razões : desgaste de material ; mesmice ; sensação de que não haverá substantiva mudança com o petismo no poder estadual ; sensação de que SP carece de novos rumos, um perfil empreendedor no poder ; tiroteio intenso entre os dois exércitos e destruição recíproca de seus arsenais. Esse é um cenário que não pode ser desprezado. Nessa hipótese, teria vez o candidato do PMDB, Paulo Skaf.
Sindetur/SP - 6,6 mil empresas
O Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur/SP) elegeu Eduardo Nascimento para a gestão 2014/2018. Composta por 10 vice-presidentes, a Chapatur foi escolhida por aclamação em Assembleia Geral Eleitoral ocorrida na sede da entidade no final de novembro. A posse será em janeiro. "A meta é ampliar o foro de discussões sobre as necessidades do setor de Turismo e promover ações conjuntas com as demais entidades representativas do agenciamento turístico, em defesa dos interesses da categoria", destaca o presidente reeleito. O Sindetur/SP representa cerca de 6,6 mil empresas de turismo em sua base territorial.
Aperto na segurança
As empresas de segurança, que enfrentam grandes dificuldades para honrar o 13º salário, foram pegas de surpresa pela Portaria 1.885/13 do Ministério do Trabalho. Como é sabido, negocia-se, há tempos, a concessão de 30% de adicional de periculosidade, em SP ; 18% já foram concedidos e os restantes 12% devem ser ajustados nos próximos acordos. Daí a surpresa : o Ministério "regulou" a matéria, definindo que o benefício deve ser pago de uma só vez a contar de 3 de dezembro. Mas em janeiro ocorrerá o "Acordo Coletivo" da categoria. Ora, as empresas não teriam fôlego para integralizar os 30% já agora em dezembro. Pergunta que o setor coloca : a clientela aceitará os repasses correspondentes ? Quantas empresas terão condições de sobreviver ? As portas do desemprego começam a se abrir. A insegurança jurídica é uma constante ameaça, afastando empreendedores e investimentos.
Haja sonegação !
A sonegação fiscal no Brasil chega à casa dos R$ 400 bilhões. Desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o "Sonegômetro" apresenta em tempo real o quanto o país deixa de arrecadar todos os dias, por meio do endereço eletrônico (clique aqui). Um painel móvel, com o placar da sonegação fiscal, circulará nas proximidades do Congresso Nacional, a partir de hoje, 11. "Sonegômetro". O Sindicato realizou um estudo que estabelece indicadores para a evasão fiscal. A ação faz parte da Campanha Nacional da Justiça Fiscal "Quanto custa o Brasil pra você ?".
Velha história, nova história
Carta de Vespasiano a seu filho Tito
23 de junho de 79 d.C.
"Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos. "De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho : não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória." "Alguns senadores o criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa : onde o povo prefere pousar seu clunis : numa privada, num banco de escola ou num estádio ? Num estádio, é claro." "Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma 'per omnia saecula saeculorum', e sempre que o olharem dirão : 'Estás vendo este colosso ? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou'." "Outra vantagem do Colosseum : ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão." "Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. 'Vel caeco appareat' (Até um cego vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma". Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase : 'Ad captandum vulgus, panem et circenses' (Para seduzir o povo, pão e circo)." "Esperarei por ti ao lado de Júpiter."
Nossos coliseus
Vespasiano morreu no dia seguinte à carta. Tito inaugurou o Coliseu com 100 dias de festa. Tanto o pai quanto o filho foram deificados pelo Senado. Cheguemos aos nossos dias. A pergunta de Vespasiano continua valendo : "Onde o povo prefere pousar seu clunis : nos monumentais estádios de Cuiabá, Brasília, Natal, Recife e Manaus ? Ou numa privada, num banco de escola ou num estádio ?" P. S. A Arena Pantanal, em Cuiabá, terá 43.600 lugares. No último campeonato de MT, a média foi inferior a 1.000 pessoas por partida. Em Manaus, a Arena terá 47 mil lugares. No último campeonato estadual, juntando os 80 jogos, o público total foi de 37.971. Vespasiano está vibrando. Em tempo: Em latim, clunis quer dizer nádega. (De um constante colaborador da coluna)
Comida de tubarão
Piada contada nas rodas do Teresina Shopping, pelo "historiador" Sena Rosa. Um piauiense chega a SP pedindo emprego e lhe é oferecida a oportunidade de entrar no mar dentro de uma jaula para enfrentar um tubarão preso em outra jaula. O empregador : "Lá no fundo do mar, você abre a sua jaula para o tubarão entrar e aguarde para pronunciar a palavra 'tuba'". O piauiense : "E porque não dizer a palavra 'tubarão' completa ?". O empregador : "Se der tempo".
Conselho aos membros do PT
Na última coluna, o espaço foi destinado aos eventuais candidatos aos governantes. Hoje, volta sua atenção aos membros do PT.
1. O PT realiza esta semana seu 5º Congresso Nacional com os olhos pregados no futuro. Certamente, temas sensíveis como a AP 470 deverão ser objeto de análise e debates. O PT não pode continuar argumentando que o mensalão não existiu, que o STF errou em seu julgamento, que o Partido é uma vestal da República.
2. O PT deve entender que faz parte do quadro partidário, moldando-se à cultura política e, dessa maneira, navega nas ondas dos costumes e padrões em curso, não sendo exceção à regra.
3. O PT não pode desejar ser referência de ética e moral, como alguns membros da cúpula partidária garantem. O PT precisa reconhecer seus erros.