I.N.R.I. - Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum
O mestre Leonardo Mota conta que outro mestre, Henrique, era afamado marceneiro nos sertões de SE. Sua especialidade estava nas camas francesas à moda Luís Quinze. Quando o freguês achava que o leito era baixo, recebia a explicação de que a cama era francesa, mas era à Luís Quatorze; se havia queixa da excessiva altura, ficava sabendo que aquilo era cama francesa à moda Luís Dezesseis. O mestre Henrique pôs toda a sua ciência no Cruzeiro do patamar da igreja de Aquidabã. No topo do sagrado madeiro, o vigário da freguesia fizera o mestre Henrique colocar uma tabuinha com as letras I.N.R.I., iniciais de Jesus Nazareno Rei dos Judeus, a irônica inscrição latina de que a ruindade de Pilatos se lembrara na ignominiosa sentença de morte do filho de Deus. Decorrido algum tempo, um sertanejo sergipano, intrigado com a significação daquelas quatro letras, perguntou a um seu conhecido :
- Que é que quererá dizer aquele negócio de INRI, que tem escrito em riba do Cruzeiro ?
- Você num sabe não ? Ali falta o Q-U-E. Esse QUE não cabeu na tabuinha : aquilo é a assinatura de quem fez, que foi o mestre INRIque.
Pesquisas eleitorais
As pesquisas eleitorais, muito distantes dos pleitos, costumam servir para abrir portas de candidatos nos meios empresariais. Na verdade, são retratos desfocados da realidade eleitoral. O retrato do momento flagra atores em movimento, pré-candidatos fazendo alianças barulhentas, discursos proferidos para atacar adversários e vice-versa, e tendo como pano de fundo o cobertor social e a malha política. Por tudo isso, devemos considerar as pesquisas como passaportes de viajantes que se preparam para fazer o percurso eleitoral.
Transferência
Essa coluna já bateu muito no tema : o voto no Brasil é fundamentalmente na pessoa física, não na pessoa jurídica. Apenas partidos que funcionam como igrejas, pequenas ou grandes, ainda conseguem capturar um voto por sua identidade. Os grandes partidos são geleia partidária. Mistura de quase tudo. Por isso, não se espere grande transferência de votos de Marina para Eduardo Campos. Aliás, a aliança entre os dois foi feita sob as bênçãos da velha política, que ambos execram. O governador de PE faz política, em sua terrinha, à base do cabresto ou do açoite. Aos amigos, pão; aos adversários, pau.
Fora de moda : polarização PT x PSDB
Eis alguns produtos, símbolos, sinais e coisas que começam a sair de moda. Polarização entre PT e PSDB. Há duas décadas e meia, tucanos e petistas se enfrentam. O lengalenga entre os dois entes partidários ainda é forte em alguns espaços, como o paulista. Mas tende a cair em desuso. Tucanos se acham auto-suficientes; petistas se consideram parentes diretos do senhor dos céus. A corrosão de material é visível.
Fora de moda : marketing da glorificação
As campanhas eleitorais adensam, a cada ciclo, os feitos e glórias dos candidatos. Que são apresentados como cidadãos sem nenhum defeito, passado limpo, vida decente, fazedor de coisas, pessoa de ideias, o melhor de todos. Esse marketing da glorificação, que é centrífugo (do candidato para os eleitores), deverá ceder lugar ao marketing das demandas sociais, que é centrípeto, ou seja, dos eleitores para os candidatos. A falação do candidato deverá ser alternada com a forte expressão popular.
Fora de moda : caras e bocas
Na verdade, continuaremos a ver um desfile de caras e boca nos programas eleitorais. Um desfile de extravagâncias e frases decoradas. Que terão impacto perto de zero. Essa massa amorfa será substituída por perfis ligados a setores, categorias e núcleos organizados da sociedade. Teremos, em 2014, a mais orgânica e racional campanha dos últimos tempos. O voto será mais seletivo, menos descompromissado.
Fora de moda : invencionices
Muitos candidatos, no passado, foram eleitos por conta de um marketing mentiroso, cheio de invencionices. Furas filas, centros hospitalares do primeiro mundo, obreirismo faraônico, que mais pareciam integrar os jardins suspensos da Babilônia. O marketing do pleito de 2014 deverá demonstrar a relação causa-efeito. A ideia deverá ser demonstrada em termos de viabilidade técnica, operacional, financeira. As elucubrações serão anotadas pelo sistema cognitivo do eleitor.
Eleitor mais racional
A cada eleição, é perceptível a expansão do voto racional no país : o voto mais consciente, o mais exigente, o voto em candidatos mais próximos, o voto em candidato conhecido, o voto em ideias, o voto em compromissos. Donde se pinça a moldura de uma organicidade social mais forte. Os tempos do eleitor "Maria vai com as outras" (apenas para lembrar o ditado popular, sem nenhum ranço discriminatório) estão dando vez aos tempos da autogestão técnica : o eleitor assume sua cidadania; sabe o que quer e ainda é capaz de selecionar os meios para alcançar seus fins.
Bolsões tradicionais
É evidente que o país não é, em sua totalidade, o território da racionalidade. Ainda se contabiliza, nos fundões e grotões, um voto de amizade, um voto de cabresto, um voto ao candidato mais jovem e garboso, um voto manobrado pelo "coronel", um voto de agradecimento pela dentadura recebida, pelo emprego ganho. Mesmo em regiões politicamente ainda defasadas, como o Norte, o Nordeste, o Centro Oeste, bolsões racionais de multiplicam. A racionalidade se expande dos centros para as margens, conduzida por círculos concêntricos, que realizam o movimento da pedra jogada no meio do lago.
O processo racional
A racionalidade é resultante de um conjunto de fatores, a saber : a elevação dos níveis educacionais, a melhoria do status social e econômico; a indignação gerada pela ineficiência dos serviços públicos; a ausência de respostas e feitos dos representantes em relação às regiões que os elegeram; a vontade de votar em um perfil diferente; a influência dos movimentos sociais; a elevação dos padrões éticos, a partir da bateria de denúncias intensificada pelos meios de comunicação de massa, etc.
Emoção x razão
Se o voto emocional, no passado, chegava a somar algo em torno de 60% a 70% por cento, hoje, baixou para algo em torno de 40%.
Articulação
O marketing político tem cinco eixos : a pesquisa, o discurso (propostas), a comunicação, a articulação e a mobilização. Em função dos aspectos descritos acima, a campanha de 2014 deverá dar muito valor ao fator articulação. Articulação com os núcleos sociais, entidades de todos os gêneros; articulação com os diversos atores políticos. E a mobilização deverá privilegiar os pequenos e médios encontros em vez dos grandes eventos de massa. O país mudou. Não há mais clima para grandes comícios.
O eleitor é uma caixa-preta
O conceito é velho. Ninguém sabe o que se passa na cabeça do eleitor. Há induções e deduções. Mas ele certamente é influenciado por um conjunto de fatores, a saber : o candidato, o cenário (o espaço onde está), a comunicação, custos e recursos da campanha, concorrentes, influências de amigos e comunidades e circunstâncias.
O voto em São Paulo
O Brasil teve, em 2012, mais de 140 milhões de eleitores, cerca de 67 milhões de homens e 73 milhões de mulheres. SP é o maior colégio eleitoral do país. Hoje, abarca cerca de 33 milhões de votos, mais de um quinto de todos os eleitores. Como pode se dividir esse contingente ? Há um pouco de tudo : as maiores categorias trabalhistas; as maiores densas classes médias; os maiores núcleos de profissionais liberais; os mais cheios colégios eleitorais de cunho religioso; as mais fortes entidades de organização social; os maiores sindicatos e assim por diante. O que isso quer significar ? Um voto mais orgânico, menos amorfo, mais seletivo, mais focado no perfil compromissado com a sociedade organizada.
O voto nordestino em SP
Eduardo Campos sonha em fincar pé no território paulista e paulistano, por saber que aqui, nessas plagas, concentra-se a maior capital nordestina do país. O fato, amplamente medido pelo IBGE, não faz, porém, SP uma capital nordestina. O nordestino que aqui aportou é um saudosista, sim, ama o torrão, visitas cidades de origem, canta as toadas da terra, mas SP é seu país. Vive os dramas, sente as angústias dos munícipes, faz cobranças aos governantes, etc. Ou seja, não vota em um candidato nordestino apenas pela identificação regional. Se Dudu Beleza espera ter imensa votação na maior capital nordestina do país, é bom, logo, logo, começar a administrar a reversão de expectativas que o tomará.
Padilha com 30%
Alexandre Padilha espera contar com 30% de intenção de voto um mês após ser consagrado pela convenção do PT em junho de 2014. Será ? Como será avaliado o "Mais Médicos", hein ? O PT é uma religião que soma, a cada pleito, cerca de 30% dos votos em SP. Conseguirá desta feita ?
Alckmin com 35%
Geraldo Alckmin espera iniciar a jornada com 35% de intenção de votos. E chegar aos 40% em julho/agosto. Pode ser. Terá de lubrificar muito a máquina tucana. Que, em SP, sofre de fadiga de material.
Skaf
Pois é, esse candidato poderá surpreender. Atualmente, está na faixa dos 20%. Incorpora o perfil do novo. Figura dinâmica, passa imagem de inovação e se encaixa no figurino de uma alavanca para a área educacional. Ao fundo, suas realizações no SESI e SENAI, sob o manto da FIESP.
Marina no lugar de Dudu
Este consultor não crê na hipótese. Eduardo Campos, mesmo abaixo de Marina em matéria de intenção de voto, não deverá ceder a ela a cabeça de chapa.
Este não serve
Em Antenor Navarro/PB, o júri ia começar. O juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa :
- O senhor não tem advogado ?
- Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus.
- Esse não serve. Não é inscrito na Ordem.
Conselho aos pré-candidatos
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de PE, Eduardo Campos. Hoje, volta sua atenção aos pré-candidatos nas eleições majoritárias :
1. Procurem, desde já, formar suas equipes, não deixando para a última hora a organização da estrutura de campanha.
2. Como o pleito de 2014 deverá privilegiar o conteúdo, ênfase deve ser dada à equipe encarregada de propor um programa de governo.
3. É conveniente, nesse momento, planejar e executar uma bateria de pesquisas para aferir demandas sociais, por classes sociais e categorias profissionais, mas para procurar interpretar o animus animandi (a forma de pensar, o sistema cognitivo) do eleitor.