Porandubas Políticas

Porandubas nº 372

Resta apenas um, o Rede Sustentabilidade, de Marina Silva.

25/9/2013

Zé Quebra Panela

Abro a coluna com um matutinho matreiro.

Zé Quebra Panela era um sujeito comprido, zarolho e desdentado, mas portador de uma sagacidade e de incrível capacidade de enganar o semelhante. Andava bem vestido e calçava sapatos de duas cores. Vendia e comprava tudo, mas gostava mesmo era de negociar com fumo de rolo nas feiras. Zé achava que Deus vivia lhe chamando pra outra missão mais nobre do que envenenar os pulmões dos desgraçados que lhe compravam fumo. Meteu-se a fazer imagem de santo. Passou a viver nas caatingas, juntando troncos secos de imburana, com os quais fazia as imagens de feições grotescas. Um dia, na feira, comercializava os produtos, o fumo e as imagens de santos. Chegou uma velhinha com cara de rezadeira e perguntou :

- Meu senhor, eu conheço um magote de santo, já "frequentei" muita novena, igreja, o diabo a quatro - Já paguei muita promessa, mas estou aqui "mei atrapaiada"; isto aqui é São José ou Santo Antônio ?

Zé explicou :

- Olhe, o santo se tiver com o menino no braço direito, é São José, se tiver no braço esquerdo, é Santo Antônio; agora se o bicho tiver um par de chifres, um rabo e um espeto comprido na mão, não chegue nem perto que isso aí é o satanás !

A velhinha se escafedeu. Outra vez, em uma de suas transações, um cabra mais sabido "empurrou-lhe" dois rolos de um fumo muito ruim que ele não conseguia vender de jeito nenhum. Um dia, botou tudo num saco e danou-se para a feira de Sertânia. Usou o marketing pessoal.

- Óia, pessoá, quem comprar desse meu fumo agora, vai tudim pro Juazeiro comigo, eu levo tudim pra o Juazeiro do meu Padim Ciço !

Não demorou muito e lá se foram os dois rolos de fumo. Um pedaço aqui, outro ali, e vendeu aquela mercadoria de péssima qualidade. Até que chegou uma velhinha apressada :

- Ô, meu senhor, adonde tá o caminhão mode nóis ir botando os troços em riba ?

Zé, na bucha :

- Que caminhão que nada, dona Maria, aonde foi que a senhora já viu pagar promessa de caminhão ? O meu "Padim" não gosta de caminhão chegando lá não ! Nóis vamo tudo é a pé. Promessa é promessa !

(Historinha de Zelito Nunes)

Folhas soltas ao vento

A imagem é esta : depois do terremoto, que abalou o edifício, destruindo paredes, despedaçando os andares, fazendo jorrar cimento e pedra por todos os lados, a paisagem deixa ver milhares de folhas saindo de gavetas escancaradas, dançando ao vento poluído de poeira e pousando lentamente sobre os entulhos das ruas. É o cenário nacional depois do tsunami de junho, que inundou as ruas das grandes e médias cidades com milhares de pessoas. Onde estão as massas ? Observando uns poucos que ainda ousam fazer ecoar seu grito. E por que não se motivam a voltar às ruas se os pleitos e demandas de junho continuam no ar ? Porque temem ser rechaçados por grupos radicais, cujos braços se voltam para a quebra de lojas e destruição de ambientes públicos. Os black blocs são a água que apaga as chamas da fogueira social. Portanto, propiciam o bumerangue. O Brasil se encolhe em silêncios. Infelizmente.

Paisagens do amanhã

Não é de todo improvável que as coisas voltem a acontecer na onda de manifestações calorosas e massivas. É possível que o animus animandi da população resgate a participação cívica, cuja inspiração maior era (e é) a de melhorar os padrões éticos, morais e elevados da política e exigir melhoria da qualidade dos serviços públicos, a partir dos sistemas de mobilidade urbana. Nas proximidades eleitorais, as chances de mobilizações pontuais ou mesmo abrangentes são maiores, em função da motivação para puxões de orelha e recados que o povo quer dar aos seus representantes. A conferir.

O juiz de Bacon

"O juiz deve preparar o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir o seu caminho elevando vales e abaixando montanhas; de maneira que, se aparecer, de um lado uma das partes, um braço poderoso, uma pressão violenta, astuciosas vantagens, combinações, poderes, grandes conselhos, nesse caso a virtude do juiz consiste em nivelar as desigualdades, para poder fundar a sua sentença num terreno plano". Francis Bacon, filósofo inglês, 1561/1626.

Alguns juízes do Brasil

19 altos ministros do TST assinaram uma carta contra um PL, o 4.330, relativo à Terceirização. Sabíamos, até então, que o ofício do juiz é jus dicere e não jus dare, interpretar leis e não fazer leis nem dar leis. Juízes fazendo prejulgamento ? Meu Deus, que país é este ?

As bases governista e oposicionista

A base governista, formada pela pletora de partidos (cerca de 15), que dá apoio à administração comandada pela presidente Dilma, tende a ser menor. Calcula-se que partidos insatisfeitos com o acolhimento dado pelo governo deixarão a base situacionista para se integrar às bandas das oposições. Duas bandas. Teremos a banda das oposições tradicionais, formadas principalmente pelo PSDB e pelo DEM, e nova banda, esta a ser constituída pelos partidos que deixarão o situacionismo, a começar pelo PSB, com eventual participação de outras siglas. A incógnita fica por conta da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. Não se sabe se conseguirá formalização até 5/10. A aprovação do Solidariedade, do Paulinho da Força, e do PROS, Partido Republicano da Ordem Social, ontem pelo TSE, abre maiores chances para o partido de Marina.

O affaire Campos

Demorou, demorou, demorou, mas o governador pernambucano, Eduardo Campos, tomou a decisão : deixar a base governista. Entregou os cargos do PSB na administração. Lula ainda tentará um último esforço para segurar o ímpeto de Dudu Beleza. Vai ter mais uma conversa com ele. Por enquanto, pede que os petistas não entreguem os cargos nos governos comandados pelo PSB. Tentativa de por panos quentes. Mas o governador está sendo levado pela onda mais forte do seu partido para o lado da candidatura própria. E é evidente que, nesse caso, assumirá postura de oposição. Não se cogitaria de um candidato frapé, café com leite, nem lá, nem cá. Disputa eleitoral é guerra. A favor e contra.

Estradas de PE

Eis o que pincei de um vídeo que vi na internet sobre as estradas de PE : "A repórter Roberta Soares e o fotógrafo Guga Matos, guiados pelo motorista Reginaldo Araújo, pegaram a estrada durante 22 dias de viagem para constatar essa verdade e mostrá-la no especial multimídia Descaminhos. Rodaram 10 mil quilômetros, dos 12,5 mil que compõem a malha rodoviária pernambucana, a quarta maior do Nordeste. Pelas estradas, descobriu que são muitos os descaminhos de PE. Encontraram um Estado de rodovias ruins, as Federais e principalmente as estaduais. Um PE ainda sem inúmeras ligações, que em pleno século 21 deixa parte do seu povo isolado de tudo, dependendo exclusivamente da fé do nordestino, tão presente e conformadora no interior mais distante. No percurso, o JC passou por 100 das 142 rodovias estaduais e 11 das 13 estradas Federais existentes no Estado". Com a palavra, o governador Eduardo Campos.

A resposta do Sindeepres

O Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestadoras de Serviços (Sindeepres), a maior entidade de trabalhadores terceirizados do país, em carta aos deputados, contesta pontos expressos por ministros do TST no PL 4.330. "São graves e infundadas, ainda que pareçam coerentes, as acusações dos ministros do TST que prevêem um quadro sombrio para os trabalhadores após a aprovação do PL 4.330, conhecido como lei de Proteção ao Trabalhador Terceirizado. São argumentos de quem fez uma leitura incompleta, apressada ou equivocada do PL. Eles partem de premissas erradas para construir um quadro dramático. Infelizmente não levam em conta a realidade atual do trabalhador terceirizado. E o péssimo ambiente econômico, de insegurança jurídica para empresas e trabalhadores, criado pelo atual conjunto de leis e regras, incluindo a súmula 331 do próprio TST". E passa a contestar ponto por ponto.

Aécio em SP

Geraldo Alckmin tentará puxar a caravana de Aécio Neves em SP. Assim como Beto Richa tentará fazer a mesma coisa no PR. O mais certo, porém, é apostar que MG dará a maior vantagem ao mineiro. Massa de votos nada desprezível. MG tem o segundo maior colégio eleitoral do país, cerca de 15 milhões de votos. Em SP, a campanha ainda terá certa polarização entre o PSDB e o PT, fenômeno antigo e em final de ciclo. 20 anos de tucanato é muita coisa. E o PT, por sua vez, contará com a rejeição da classe média paulista, a maior do país. Nessa classe, o PT nunca entrou de sola, principalmente nos densos colégios eleitorais do interior.

Solas gastas

A polarização entre tucanos e petistas não se guiará mais pelos caminhos do passado. Tende a ser atenuada face aos novos tempos. O eleitor parece trilhar a vereda aberta por Nietzsche : "novos caminhos sigo; uma nova fala me empolga. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas".

Empresários em dúvidas

Na Era Lula, o carismático líder era um imã. Atraía tudo e todos. Das massas periféricas à elite empresarial. Hoje, a elite empresarial é simpática a Eduardo Campos. Vê a presidente Dilma com certa desconfiança. E parece distante de Aécio Neves. Acham Marina uma flor no pântano.

Cronograma pré-eleitoral

Outubro - mês das novidades, migrações partidárias (caso se confirmem os novos partidos), camadas políticas revoltas; novembro - conversas para fechamento de alianças, combinações e primeiras apostas no amanhã; dezembro - recesso, férias, prospecção das bases, Brasil político se encontra com o Brasil real; janeiro - cura da ressaca do final de ano, reinício das negociações, pesquisas indicativas para mapeamento do quadro decisório; fevereiro - reinício das atividades congressuais, fechamento de acordos, primeiras grandes definições; março/abril - dois meses de preparação para a maior competição eleitoral da contemporaneidade. Maio/junho - convenções, acertos finais.

As melhores leis ?

Perguntaram a Sólon, um dos sete sábios da Grécia antiga, se havia produzido boas leis para os atenienses. Respondeu : "dei-lhes as melhores leis que podiam suportar". Perguntaram ao barão de Montesquieu, o grande formulador da teoria da separação dos poderes : que boas leis um país deve ter ? Respondeu : "quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se são executadas as que existem, pois há boas leis por toda a parte".

Mensalão e eleição

Não serão desastrosos os efeitos do mensalão sobre a eleição. Até lá, estarão metabolizados condimentos, temperos e produtos que, por anos e meses, frequentaram a mesa das conversas e debates. Cada ano com suas motivações. Operação BO+BA+CO+CA, essa, sim, continuará a ditar os rumos da política. Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Economia indo bem, estômago estará satisfeito; coração ficará agradecido e pede para a cabeça votar nos patrocinadores do bolso cheio.

Dilma na ONU

Como se esperava, Dilma fez duro discurso na ONU contra a espionagem. Um atentado à soberania. Um recado para Barack Obama no palco mais visível do mundo. Recado dado, recado ouvido.

Bismarck

Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria".

Conselho aos empresários

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção aos empresários :

1. É muito comum ouvir o refrão de que o Brasil está em crise, os horizontes são sombrios e teremos um amanhã pior que o hoje. Tendência nacional a cantar hinos catastróficos.

2. Urge ter esperança e acreditar que o nosso país, com sua dimensão continental e berço de riquezas naturais, está circunscrita no mapa das potências do amanhã. Isso requer confiança em nossos potenciais.

3. Se mudanças se fazem necessárias - principalmente na frente política - ao empresariado cabe a missão de se posicionar na vanguarda desse processo, fazendo pressão, abrindo canais de articulação e participação. O papel cívico do empresário deve se somar ao papel do empreendedor.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.