Porandubas Políticas

Porandubas nº 26

19/10/2005

 

BUMERANGUE

 

O efeito bumerangue acaba de se instalar nas cercanias do Palácio do Planalto. A crise continuará acesa, porque os petistas colocaram mais lenha na fogueira. Ao não renunciarem, os cinco petistas e os seis parlamentares de outros partidos protelarão o affaire da cassação até março/abril do próximo ano. Conseqüências : Lula estará refém das circunstâncias. O campo político continuará tenso. O cofre de Palocci terá de ser aberto. A área social estará à espera de resultados mais palpáveis. A propaganda governamental será farta, mas não suficiente para convencer a sociedade de que as coisas caminham bem.

 

LULA ABRIU A CAMPANHA

 

Na Europa, Lula abriu a campanha da reeleição. Seu encontro com a esquerda italiana foi um pulo no palanque. Os italianos incentivaram e lançaram Lula. E o presidente pegou a bola, chutou com os dois pés e passou, mais uma vez, a cometer "luladas" : disse que não está mais preocupado com a febre aftosa e sim com a febre aviária, confundindo febre com a gripe dos galináceos. Mais ainda : disse que o foco da doença foi debelado no Mato Grosso do Sul, enquanto no mesmo instante, veio a notícia : mais três focos da doença apareceram.

 

HORA DO ATAQUE

 

A estratégia de Lula é essa : o melhor ataque é mesmo o ataque. Juntou os petistas e disse que eles não são corruptos. Quis repetir o mesmo argumento lançado em Paris na famosa entrevista em que achou perfeitamente normal o uso de recursos não contabilizados, o famoso Caixa 2. Se colocarmos a declaração de Lula diante da declaração do ministro da justiça, Márcio Thomaz Bastos - Caixa 2 é coisa de bandido - fica a dúvida : quem é o mocinho da história ?

 

Berzoini, o novo presidente do PT, adotou a mesma estratégia : atacar os tucanos. E os tucanos passaram para a defensiva. Ou seja, quem espera que a crise entre em recesso, vai ficar ao relento. A coisa tende a esquentar, contra todas as previsões.

 

DESARMAMENTO

 

A campanha do SIM cometeu erros crassos. Por exemplo, usou artistas de elite para vender a idéia de paz. Ocorre que os artistas de elite não são muito populares junto às classes C, D e E. Para estas, os grupos novos, - principalmente as duplas populares - que envergam a camisa das multidões nas praças públicas, possuem mais poder de convencimento. A campanha do NÃO teve maior sucesso porque utilizou uma linguagem racional, discurso que atinge os núcleos organizados da sociedade, a partir das classes médias. A campanha do SIM esteve voltada para o povão. O tom emotivo perdeu para o tom racional. No fundo, o que se passou de mais forte foi a idéia de perda de direitos.

 

OS CASSÁVEIS

 

Será interessante observar o comportamento dos relatores escolhidos por sorteio para opinar sobre os processos dos 11 parlamentares ameaçados de cassação. Um exemplo : como se comportará a deputada Ângela Guadagnin (PT/SP), que pediu vistas do relatório preparado pelo deputado Julio Delgado, que pede a condenação do deputado José Dirceu ? Ela é relatora do processo contra o deputado José Janene, líder do PP. Se ela quer livrar Dirceu, pela lógica, deve aliar-se à corrente que defende a absolvição de todos, alegando falta de provas sobre o mensalão. O caso da deputada poderá merecer um estudo sobre os paradoxos na política. PT e PP juntos, no poço do Caixa 2, "autojulgando-se" inocentes.

 

DECISÃO DE MAGISTRADO

 

A decisão do ministro Carlos Ayres Brito, do STF, a respeito de liminar que poderia suspender a instauração de processos de cassação de petistas, exibe a postura de juiz. Mesmo sendo ex-militante do PT, o ministro não foi contaminado pelo vírus da politiquice. Tem cabeça de juiz e alma de poeta. Um grande ministro. E um perfil de alta sensibilidade.

 

FLORES DE VERÃO

 

Quem estiver apostando no arrefecimento da crise nos meados do verão poderá perder. A oposição está afiando o facão. Vem aí o depoimento de Gilberto Carvalho. O filho de Lula poderá ser chamado para dar explicações sobre sua empresa e os R$ 5 milhões que recebeu de investimento da Telemar.

 

INGENIEROS

 

José Ingenieros, o excepcional autor de O Homem Medíocre, escreveu : "enquanto um país não é Pátria seus habitantes não constituem uma Nação".
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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.