Porandubas Políticas

Porandubas nº 22

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21/9/2005

 

LULA NÃO QUIS VOTAR

 

O presidente Lula é o maior emblema do PT, partido que fundou. Quando o emblema deixa de aparecer na bandeira partidária, algo está muito errado. É o que acontece. Lula não votou nas eleições do último domingo. Deixou de dar um voto a Ricardo Berzoini, candidato que lançou pelo Campo Majoritário. Quis assinalar que não concorda com o racha partidário. Mais ainda: teve medo de ser atacado pelas bandas esquerdistas-radicais do partido. Acabou sendo criticado por todas as alas. A única defesa: Tarso Genro.

 

COMO O PT VAI PARA AS ELEIÇÕES?

 

Se Ricardo Berzoini vencer, no segundo turno, dia 9 de outubro, governará um partido mais que rachado. As bandas da esquerda usarão o gogó para rechaçar a política econômica de Lula-Palocci, massacrar o neoliberalismo, exigir mudanças substantivas na condução da economia e da área social. Essa ala apoiará Lula em 2006? Ou Lula acabará cedendo às pressões desses grupos? Ora, Lula está encantado com a estabilidade e a queda, quase semanal, do risco-Brasil. Perspectivas a partir dessas hipóteses: grande parte dos atuais integrantes do PT migrará para outras siglas. Plínio de Arruda Sampaio já disse que será difícil permanecer.

 

MARTA SOBE, MERCADANTE DESCE

 

A vitória de Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, dentro do maior conjunto eleitoral petista – São Paulo – terá repercussão na candidatura petista ao governo do Estado de São Paulo. Pomar ganhou os votos de Marta, que sobe no ranking dos pré-candidatos ao governo. Nesse caso, Mercadante, do Campo Majoritário, desce degraus na escada da candidatura.

 

SEVERINO CANTA DE GALO....

 

24 de março, Severino abre a locução: “Não é Lula quem vai dirigir os meus destinos”. Do alto da glória de vitorioso na presidência da Câmara, Severino Cavalcanti proclamava-se independente. Jamais iria seguir orientações do Planalto. Nesta semana, o ilustre cidadão de João Alfredo (PE), encontrou-se com Lula, depois de insistir para ser recebido. O humilhado Severino queria capim....

 

SEVERINO PEDE CAPIM.....

 

Severino Cavalcanti é mesmo exemplar de um dinossauro político. Mesmo caindo, quase morto, ainda teve fôlego para balbuciar nos ouvidos do dono das campinas e florestas que alimentam a manada: dê capim aos meus filhotes. Não os deixe ao relento. E Lula decidiu abrigar os apadrinhados de Severino, dando-lhes um bom capim.

 

JOBIM VAI SE QUEIMANDO

 

Comenta-se muito sobre o perfil político e atitudes nem sempre imparciais do juiz Nelson Jobim. Foi um bom deputado. Dos melhores da Constituinte. Ainda é considerado um quadro do PMDB. Ao acolher liminar dos deputados petistas, que se consideraram injustiçados pela Corregedoria da Câmara dos Deputados, Nelson Jobim teria mais acertado que errado. Mas o julgamento que se processa no espaço parlamentar tem fundo político. Por isso, mesmo acertando em matéria jurídica, Jobim tropeça no meio fio político. Será muito difícil viabilizar a candidatura pelo PMDB à presidência da República. Sua última decisão caiu como água fria na pequena fogueira que acendia o seu nome.

 

O MÉRITO DE MICHEL

 

O deputado Michel Temer está ganhando as apostas no ranking dos candidatos à presidência da Câmara por conta do perfil: advogado, professor de Direito Constitucional, formal, grande articulador, ex-secretário de Estado em São Paulo (Segurança Pública e Casa Civil), ex-presidente da Câmara (por duas vezes), ex-líder do PMDB, e com diálogo com todos os partidos e áreas. Tem conseguido o “milagre” de juntar as duas alas – governista e oposicionista – do PMDB. Não seria um feroz adversário do presidente Lula nem engajado oposicionista. Uma espécie de algodão entre cristais.

 

COMO FICA A AGENDA ELEITORAL?

 

O imbróglio está montado. Até dia 30 de setembro, as regras do jogo eleitoral de 2006 devem ser estabelecidas. O projeto Caiado (Ronaldo Caiado, PFL/GO, é relator) não deverá ser votado. Não haverá tempo, até porque há algumas MPs travando a pauta. O projeto do deputado Ney Lopes (PFL/RN) adia as decisões sobre o jogo eleitoral para 31 de dezembro deste ano. É objeto de emenda constitucional. Há consenso nas lideranças que desejam aprová-lo. Tudo vai depender da habilidade do próximo presidente da Câmara.

 

O PROJETO BORNHAUSEN

 

Nesse caso, haveria mais tempo para uma reflexão sobre migração partidária e decisões sobre as regras da campanha : proibição de showmícios, camisetas promocionais, diminuição do tempo de campanha (de rua e de mídia eletrônica) etc. É o que trata o projeto do senador Bornhausen (PFL/SC). Parcela substantiva dos parlamentares não quer mudanças. Há medo dos efeitos colaterais. Por exemplo: candidatos novos (jejunos em política) seriam prejudicados no item visibilidade, pois a proibição na área dos brindes favoreceria os mais conhecidos, candidatos antigos. Teríamos eleições mais limpas e éticas, pelo atual sistema – regido pela lei 9.504/97 – caso os Tribunais Eleitorais fossem mais atentos e rígidos no controle.

 

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.