Bucéfalo
Esta historinha chegou aos meus ouvidos pela narração de um observador atento da política potiguar. Luís Gomes/RN, cidade onde este escriba nasceu. Década de 70. Cenário : plenário da Câmara Municipal. Aécio Batista, conhecido por Barichon de Giron (na linguagem dos ciganos que viviam na região), dentista e vereador, dispara contra o adversário um verbete desconhecido no plenário :
- Vossa Excelência é um bucéfalo.
Pego de surpresa, o adversário, ressabiado, retrucou :
- O que vossa Excelência quer dizer com esse termo ? Se for adulativo, muito obrigado a vossa Excelência, com os meus cumprimentos à sua genitora e aos seus irmãos e irmãs; agora, se for atacativo, vá para a pqp, seu fdp.
O presidente da sessão mandou trazer um dicionário. Lá estava : "indivíduo ignorante, rude ou pouco inteligente". Era atacativo. Os dois se atracaram no plenário. Quase saiu tiro. A palavra bucéfalo foi abolida daquele Parlamento. Sob pena de risco de nova tragédia. Não consigo conter o riso.
Era uma vez...Mil vezes
Agradeço às amigas e amigos que compareceram ao evento de lançamento do meu livro "Era uma vez Mil Vezes...O Brasil de Todos os Vícios". A Livraria Cultura da av. Paulista estava cheia. Agradeço, igualmente, às autoridades que estiveram ali presentes, grandes amigos, a partir do vice-presidente da República, Michel Temer; governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; prefeito da capital paulistana, Gilberto Kassab; e José Police Neto, Netinho, presidente da Câmara Municipal. Registro a presença de amigos empresários, a partir do presidente da FIESP/CIESP, Paulo Skaf. E a muitos que vieram de longe. Agradeço, ainda, ao José Mário e a Topbooks a magnanimidade pelo acolhimento ao livro, tão bem editado.
História de ontem
A fumaça espessa começa a se diluir. Não ainda de modo a permitir distinguir com clareza a linha do horizonte. Refiro-me aos interesses do PSB e do PT. Faço esta reflexão. Historicamente, os dois partidos têm atuado juntos. Consideram-se unidos pelo cordão de esquerda. Logo, irmanam-se no ideal de manter a integração de suas bandeiras, até porque sentem que não chegou o momento de entregar a rapadura às oposições. Esse é o primeiro ditame. Vamos ao outro : Eduardo Campos, poderoso mandachuva do PSB, neto de Miguel Arraes, e Luiz Inácio Lula da Silva consideram-se irmãos. Nos ideais, lutas, anseios e expectativas. Terceiro argumento : ambos são nordestinos e pernambucanos. Lula despejou um caminhão de dinheiro em Pernambuco durante os 8 anos de seu mandato. Pernambuco perdia o lugar de líder do Nordeste para o Ceará. Com os altos investimentos, recuperou a liderança.
História de hoje
Portanto, Eduardo Campos é uma espécie de irmão mais novo de Lula. A cada momento crítico, corre para ouvir seu guru. E Lula vai administrando as querelas, dando conselhos, mostrando os caminhos. Mas a política tem curvas. Nem sempre as retas traçadas podem ser seguidas. O PSB, então, quer mudar o percurso. Sua meta é tomar o lugar do PMDB como parceiro preferencial do PT. Isto é, indicar o vice de Dilma em 2018. Que seria o próprio Eduardo Campos. A condição pode ser definida pelo ditado : cresça e apareça. Por conseguinte, o PSB quer fazer uma baciada enorme de prefeitos. Se fizer bonito no campo eleitoral, habilita-se a tomar o lugar do PMDB. É isso que explica o fato de o PSB ter candidatos em 11 capitais. Em 2008, tinha candidatos em apenas 7.
"Nenhum deles tem caráter : o que se podia fazer ? Tiveram de roubar um". (Friedrich Nietzsche)
Rompimento simbólico
É evidente que para ter performance mais competitiva adiante, o PSB precisa expandir seu cacife. Nesse momento, a interlocução de irmãos não funciona entre Campos e Lula. Importa, agora, é agir com pragmatismo. Em Belo Horizonte, por exemplo, rompe-se o acordo entre os dois partidos. Aécio Neves, que apoia a reeleição de Marcio Lacerda, não aceitou a coligação entre PT e PSB para o chapão de vereadores. PT caiu fora da aliança e quer, agora, indicar o vice-prefeito, Roberto Carvalho. Ou, em seu lugar, Patrus Ananias. Resumo : PT e PSB procuram fazer suas arrumações pensando, cada qual, em 2014. Lula gostaria que o vice da Dilma fosse Eduardo Campos. Que já internalizou a ideia : para isso, precisa ter cacife.
"Quem não tem nada para fazer, um nada já lhe dá o que fazer". (Friedrich Nietzsche)
PMDB olha de soslaio
O PMDB está atento aos movimentos do PSB. Sabe que se conseguir eleger a maior planilha de prefeitos, será, mais uma vez, a noiva cobiçada. Terá candidatos em 2.800 municípios. Se consolidar sua posição de maior partido, será difícil Eduardo Campos querer pleitear posição na chapa petista. Ademais, os acenos de Eduardo Campos na direção do tucano Aécio Neves começam a incomodar núcleos do petismo. Sabe-se que Campos e Neves mantêm uma sólida amizade, construída lá atrás quando os avôs de ambos, Miguel Arraes e Tancredo Neves, tricotavam o tecido político. Também se sabe que a relação entre Campos e Dilma é muito diferente - e distante - da relação que o governador de Pernambuco mantinha com o pernambucano Luiz Inácio.
"Quem sempre se cuidou muito acaba ficando doente de tanto cuidado". (Friedrich Nietzsche)
Bicos tucanos rachados
Está ficando muito difícil a convivência entre as alas de Geraldo Alckmin e José Serra, com prejuízo na linha de frente do engajamento na campanha para a prefeitura. Tudo porque Serra aceitou a indicação do PSD do prefeito Kassab : Alexandre Schneider como vice de Serra. A indicação tem lógica : o ex-secretário de Educação da prefeitura é um perfil que se contrapõe ao perfil jovial de Haddad, do PT. Entende do "riscado" da Educação, podendo, dessa forma, ser uma voz autorizada a falar sobre o tema. Ademais, o PSD, com a conquista do tempo eleitoral obtida no STF, cederá mais de 2 minutos de mídia eleitoral ao PSDB. Tem lógica a escolha de Serra.
Câmaras inchadas
Este ano, o país ganhará mais 5.070 vereadores, pulando de 51.748 para 56.818. O aumento do número de vereadores se deve à EC 58, aprovada em 2008, pela qual o número de cadeiras nas Câmaras em 2012 seria calculado com base na população aferida pelo IBGE em 2011.
Dilma no auge
Recorrente questão a que respondo em entrevistas sobre a crescente popularidade da presidente Dilma : 1º) o eleitor expressa opinião de acordo com a geografia do voto - bolso, estômago, coração, cabeça. Bolso com a grana do Bolsa-Família significa geladeira cheia, estômago saciado, coração agradecido e cabeça simpática ao patrocinador; 2º) Conceitos abstratos - que incluem ameaças de crise econômica - não batem no sistema cognitivo do eleitor. A não ser que esvaziem seu bolso; 3º) Eventuais efeitos de crise na frente econômica chegam ao bolso do eleitor muito tempo depois; 4º) Perfil técnico de Dilma passa ao cidadão a imagem de perfil asséptico, moral e ético.
A ovelha tosquiada
Uma ovelha que estava sendo tosquiada desastradamente disse ao tosquiador : "Se é a minha lã que tu queres, corta mais alto; porém se é a minha carne que tu desejas, então mata-me de uma vez, e para de me torturar aos poucos". Esta fábula é adequada àqueles que exercem desajeitadamente o seu ofício. (As fábulas de Esopo)
Aécio na moita
Quem deu uma encolhida na mídia foi o senador Aécio Neves. Mas os olheiros passam a informação : passou aqui, foi ali, esteve acolá. Sempre às escondidas. O fato é que está fazendo articulação. Procura reforçar laços com o PSB, de Eduardo Campos.
E o PSD, hein ?
Mais uma vez, o prefeito Gilberto Kassab deu ampla demonstração de competência. Criou, em tempo recorde, um partido com mais de 50 deputados. Diziam que esse ente não sobreviveria por não ter chances de ganhar mídia eleitoral e recursos. Ganhou uma coisa e outra. O partido, mesmo apoiando Serra em São Paulo, integrará a base de apoio do governo Dilma. O prefeito tem com ela uma boa relação de respeito e cordialidade. Lula também tem boa relação com Kassab. Qual o futuro desse partido ?
Fusão ou bloco ?
Fusão, nem pensar. O partido poderá, isso sim, pensar na formação de um bloco. Tudo vai depender dos resultados de outubro. Há quem fale bastante na formação de um bloco com o PSB, de Eduardo Campos. Difícil ocorrer. O prefeito Gilberto Kassab mantém intensa interlocução com o vice-presidente da República, Michel Temer. No futuro, se os projetos de Michel e Eduardo entrarem em choque, este analista não tem dúvidas : Kassab se inclinará pelo projeto do presidente licenciado do PMDB.
A vida é breve
"O fato é o seguinte : não recebemos uma vida breve, mas a fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Tal como abundantes e régios recursos, quando caem nas mãos de um mau senhor, dissipam-se num momento, enquanto que, por pequenos que sejam, se são confiados a um bom guarda, crescem pelo uso, assim também nossa vida se estende por muito tempo, para aquele que sabe dela bem dispor". (Sobre a Brevidade da Vida - Sêneca)
Grecca
Rafael Grecca, candidato do PMDB a prefeito de Curitiba, é um dos mais criativos perfis da administração pública brasileira.
D'Ávila
Manuela D'Ávila abre boas possibilidades em Porto Alegre. Perfil afável. E não tem medo de gastar sola de sapato.
Chalita
Desenvolto, gastando sola na periferia paulistana, o deputado Gabriel Chalita abre bons espaços em sua pré-campanha. Irradia simpatia.
Haddad
Fernando Haddad, por sua vez, continua apartando as querelas entre alas petistas. E a responder questões polêmicas ligadas à Educação. Agora, parte para a briga com o vice de Serra, Alexandre Schneider. Que jogou uma isca na direção dele. Fisgada.
Russomano
Se Celso Russomano/PRB conseguir segurar o índice de 20% até meados de setembro, será uma grande surpresa. Escolheu um vice denso, preparado e fluente : Luiz Flávio Borges D'Urso/PTB.
Dez truques
Dez truques dos hereges para responder sem confessar :
1) A primeira consiste em responder de maneira ambígua.
2) O segundo truque consiste em responder acrescentando uma condição.
3) O terceiro truque consiste em inverter a pergunta.
4) O quarto truque consiste em se fingir de surpreso.
5) O quinto truque consiste em mudar as palavras da pergunta.
6) O sexto truque consiste numa clara deturpação das palavras.
7) O sétimo truque consiste numa autojustificação.
8) O oitavo truque consiste em fingir uma súbita debilidade física.
9) O nono truque consiste em simular idiotice ou demência.
10) O décimo truque consiste em se dar ares de santidade.
(Manual dos Inquisidores - escrito por Nicolau Eymerich em 1376. Revisto e ampliado em 1578 por Francisco de La Peña)
PMDB e PT nas capitais
O PMDB terá candidatos em 12 capitais; em 2008, tinha candidatos em 13. PT terá candidaturas em 17; em 2008, disputava em 19.
No Rio
No Rio de Janeiro, uma parte do PT deverá apoiar o candidato do PSOL, deputado Marcelo Freixo. Também uma ala do PDT, ligada ao Movimento de Resistência Leonel Brizola, já anunciara apoio ao deputado estadual.
DER e os lotes
O DER de São Paulo vai contratar, selecionadas por técnica e preço, 14 empresas para fiscalizar 14 lotes de obras rodoviárias. As notas técnicas já foram publicadas. 14 empresas diferentes tiveram as maiores notas. As mesmas 14 tiveram notas menores nos outros 13 lotes em que não obtiveram a maior nota. Surpreende que a competência de cada empresa se manifeste apenas em 1 lote de 14 ! A velha competência - ou se tem ou não. É isso ?
Brizola Neto
Setores de serviços estão agradavelmente surpresos com o desempenho do deputado Brizola Neto no comando da Pasta do Trabalho. Têm sido bem acolhidos pelo ministro.
Como iria eu sabê-lo ?
Cassado pelos militares na primeira lista do golpe de 64, Jânio passou longas temporadas na Europa, sobretudo Londres. Um dia, ia pela Champs Elysées, em Paris, um grupo de turistas brasileiros o viu. Um deles perguntou :
- Presidente, o senhor sabe quem sou eu ?
Jânio ficou com ódio, arregalou os olhos :
- Ora, meu caro, se você, que é você, não sabe quem você é, como iria eu sabê-lo ?
E seguiu em frente. ( Da verve do Sebastião Nery)
Conselho ao governador Campos
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos marqueteiros. Hoje, sua atenção se volta ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos :
1. Quem tudo quer tudo perde. Não vá com muita sede ao pote. A impressão é de que você, no intuito de alargar a avenida de 2014, passa com a moto-niveladora por cima de tudo (acordos) e de todos (inclusive parceiros).
2. Cada coisa no seu tempo. A política obedece a um ciclo de cinco fases : lançamento de uma ideia (perfil), crescimento, consolidação/maturidade, clímax e declínio. Muitos declinam antes do clímax. Um perigo.
3. A coerência ainda é uma virtude da política. Procurar preservá-la continua a ser um bom conselho. Tenha mais cautela. Afinal, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
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