Começo com a graça do grande José Américo de Almeida, um dos maiores tribunos brasileiros.
Margarida Vasconcelos, eleita Miss Paraíba, foi visitar o velho José Américo, joalheiro de palavra e autor de A Bagaceira, no casarão avarandado da praia de Tambaú, em João Pessoa. Chegou falando muito, falando demais, maltratando o português e as ideias. Queria conselhos :
- Doutor José Américo, o que o senhor me recomenda para eu representar bem o Estado no concurso de Miss Brasil, lá no Rio ?
- Minha filha, você quer mesmo um conselho ? Então fale o menos possível. E, se puder, não abra a boca.
Era uma vez... mil vezes
Amanhã, quinta-feira, 28, lançarei meu livro "Era uma vez mil vezes – O Brasil de todos os vícios" na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Publicado pela editora Topbooks, é uma leitura vertical, dividida em cinco capítulos, da política brasileira. Na capa, apresentações escritas pelos admiráveis amigos Jorge Gerdau, Delfim Netto, Dora Kramer, Ricardo Noblat, Maria Adelaide Amaral e Carlos Eduardo Lins da Silva. "Era uma vez mil vezes..." expõe uma reflexão sobre o país com base nos costumes da sociedade e nos padrões da política nacional. Todas as amigas e amigos leitores dessa coluna estão convidados.
Lançamento do livro "Era uma vez mil vezes - O Brasil de todos os vícios"
28 de junho de 2012, 19h
Conjunto Nacional – Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, SP)
Informações: (11) 3170-4033 (Livraria Cultura) ou (11) 5053-6100 (GT Marketing)
Malulismo
Paulo Maluf chega ao paraíso. Nunca foi tão autossuficiente como nesses dias de confraternização com o PT e Lula. Acaba de dizer : "Eu, perto do PT, sou comunista". O comunista Maluf é apenas uma firula que quer dizer : vocês acreditam sinceramente que o PT ainda é um partido ideológico? Há muito que o PT jogou sua ideologia pelos desvãos da velha cultura política brasileira. Todos os partidos se juntam no caldeirão do cozido doutrinário. O malulismo – mescla do malufismo com o lulismo – constitui a manifestação mais avançada da pasteurização que invade a esfera partidária. Maluf é o profeta desses tempos cada vez mais inacreditáveis.
Mil caminhos existem
Mil caminhos existem, que ainda não foram palmilhados, mil saúdes e ocultas ilhas da vida. Ainda não esgotados nem descobertos continuam o homem e a terra dos homens. (Assim falou Zaratustra – Friedrich Nietzsche)
Pressões e contrapressões
O ministro Ricardo Lewandowski se queixa de pressões que estaria recebendo por parte da mídia e da própria presidência do STF. Diz que não se rege por pressões. Que cumpre a agenda de sua consciência. Compreende-se. Mas a agenda formada pelo ministro Ayres Britto, presidente da Corte, foi aprovada por maioria dos membros. Afinal, o processo do mensalão está quase caindo de maduro da árvore da lerdeza. São sete anos de espera. Lewandowski entregou ontem a sua revisão, que é uma leitura atenta do voto do ministro Joaquim Barbosa, sujeito a ajustes e abordagens diferenciadas. Pelo andar da carruagem, o julgamento entrará no mês de setembro. Lembre-se que 3 de setembro é a reta final do ministro Peluso no Supremo. Aposentadoria compulsória.
A favor de um e contra outro
Um príncipe também é estimado quando é um verdadeiro amigo ou um verdadeiro inimigo, isto é, quando, sem temor algum, declara-se a favor de um e contra outro. Esse partido é sempre melhor do que se manter neutro, porque, se dois poderosos vizinhos a ti entrarem em guerra, e um deles vencer, das duas uma : ou tens o que temer do vencedor, ou não. (O Príncipe – Nicolau Maquiavel)
PSB e PT tomam distância
O PSB e o PT começam a tomar distância no espaço político-partidário. A partir deste último. Os partidos se afastam em pleitos, onde, até então, caminhavam juntos : Fortaleza, João Pessoa e Recife. O caso mais impactante é o do Recife, onde o PSB garantira o apoio ao PT, caso o candidato fosse o ex-deputado Maurício Rands. João da Costa ganhou as prévias. O PT acabou pedindo aos dois que se retirassem do pleito. Rands aceitou, o prefeito João disse não. O PT, então, decidiu afastá-lo na marra, escolhendo o senador Humberto Costa como candidato do partido. Ante a confusão formada, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos tira do bolso do colete o nome de Geraldo Júlio, o golden-boy da administração pessebista, e o lança como candidato do PSB. Atrai para a aliança o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos.
Visão de futuro
Em Fortaleza e em João Pessoa, o PSB também sairá com candidatos próprios. O partido demonstra não querer ser apertado em abraço de afogados, como lembra seu vice-presidente, Roberto Amaral. Aplaina caminhos do presente com vistas ao futuro. Eduardo Campos é ambicioso e gostaria de juntar em torno dele o que chama de "geração pós-64".
PMDB, o coringa
Qualquer cenário que se projete para o amanhã deve levar em consideração o papel do PMDB. Trata-se do maior partido nacional, com alta taxa de união interna graças à articulação realizada pelo presidente licenciado do partido, o vice-presidente da República Michel Temer. Todos os sinais apontam para uma performance altamente positiva do partido, o que o conduzirá novamente ao pódio municipal. Ou seja, deverá continuar com o maior número de prefeitos. Com a planilha nas mãos, o partido deverá ser um coringa. Se pender para um lado, este lado ganha o jogo. Se o PT, por exemplo, der uma guinada e quiser caminhar em faixa própria – posicionando-se como poder hegemônico – arrisca-se a entrar em parafuso. PT diz que fará 1.000 prefeitos. PMDB deverá ultrapassar esse número.
Atenção, na cidade inteira
Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se você atrair à sua amizade seus líderes, facilmente vai ter nas mãos, graças a eles, a multidão restante. (Cícero – Manual do candidato às eleições, 34 A.C.)
Serra no teto ?
Serra não expandiu sua taxa de intenção de voto mesmo com a intensa exposição a que teve direito nos spots publicitários. Há quem diga que bateu no teto dos 30%. O que impressiona é a altíssima taxa de rejeição do candidato, 32%. Que não cede. Essa é a montanha perigosa que poderá obstruir o desempenho do tucano.
Spots publicitários
Serra dentro de um estúdio dando aulas de administração. Haddad, circundado por Lula e Dilma. Em um cenário branco e frio. Chalita falando nos bairros, identificando as questões das regiões e discorrendo sobre as demandas das comunidades. Não é preciso entender de propaganda para se chegar à óbvia conclusão : a maior identificação com São Paulo é, sob o aspecto dos spots publicitários dos partidos, a do deputado Gabriel Chalita. Aliás, a convenção realizada na Praça da Sé revestiu-se de simbolismos. Praça central do civismo. Portanto, o candidato está bem calçado. Começo a considerar a hipótese de crescimento de Chalita. E repito o que tenho dito : furando o bloqueio e chegando ao segundo turno, será prefeito de São Paulo.
Vá ao encalço dos eleitores
Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que em suas respectivas localidades eles cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os candidatos. (Cícero – Manual do candidato às eleições)
Perfis à mostra
Tenho sido indagado, quase diariamente, por jornais e revistas sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Há, porém, alguns traços sobre os quais parece haver consenso :
- passado limpo, vida decente – candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida;
- identificação com a cidade – candidatos que busquem vestir o manto da cidade, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos bairros;
- despojamento, simplicidade – candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao 'dandismo' – mania de querer aparecer de maneira diferente.
- respeito, decência, dignidade pessoal – candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna;
- transparência, verdade – candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram;
- objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão – candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos.
Fatores de influência
Outra questão recorrente nos questionamentos midiáticos é a respeito dos fatores que influenciam uma campanha. Eis alguns :
- maneira de apresentação dos candidatos – estética – alta prioridade. O primeiro sinal percebido pela cognição é a imagem que o candidato transmite. Sério, alegre, improvisado, informal, formal, artificial, desleixado, mal vestido, empetecado, verdadeiro, mentiroso, falso, atraente, simpático, nervoso, calmo, etc.
- programas de governo – propostas viáveis/inviáveis, impactantes ou óbvias – alta prioridade;
- patrocinadores/lideranças políticas – dependendo da região, a influência poderá ser muito alta ou tênue;
- casos escabrosos descobertos no meio da campanha – desastrosos, podem queimar as possibilidades de um candidato;
- organizações da sociedade civil – importantes para agregar grupos, mobilizar as comunidades;
- identificação com esportes/futebol – influência relativa; torcidas a favor podem receber o contraponto de torcidas contrárias;
- apoio de artistas – depende do artista e da região.
Vai ter lugar para todo mundo ?
O afã mundial pelos jogos da Copa costuma provocar dúvidas sobre questões de infraestutura nos países que acolhem a nata do esporte bretão. Um dos pontos focais de preocupação é a oferta de leitos para hospedar a massa mundial (e local) de torcedores. Fazendo coro com esta preocupação, as comissões de Viação e Transportes e de Turismo e Desporto promovem, hoje, às 10h uma audiência pública com representantes do setor hoteleiro e dos navios de cruzeiro para debater a questão. A hotelaria se mostra bem preparada, mas a opção pelos navios como reforço na brigada hospedeira poderia ser uma ajuda interessante. A conferir.
Não é flor que se cheire
Cândido Norberto, jornalista, deputado do MTR (cassado), na tribuna da assembleia do RS, criticava o governador Ildo Meneghetti. Janela aberta, via-se ao lado o Palácio Piratini. Irritado com os ataques, o deputado Hed Borges, da bancada do governo, grita lá de trás :
- V. Exa., senhor deputado, já foi do PL, do PSD, do PTB, agora é do MTR. Como um beija-flor, vive pulando de flor em flor.
Cândido Norberto apontou para o palácio :
- É por isso mesmo que eu lhe digo, senhor deputado, que esse governador não é flor que se cheire. (Nery em seu Folclore Político)
Conselho aos marqueteiros
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos assessores políticos. Hoje, sua atenção se volta aos marqueteiros :
1. Tentem desenvolver uma identidade para seus candidatos, consoante com a história, os valores, os princípios e as condutas dos perfis. Identidade montada sobre uma base artificial desmorona.
2. Procurem auscultar não apenas a intenção de voto dos eleitores, mas as razões que fundamentam/orientam suas decisões. Ou seja, tentem entender o sistema cognitivo e a cultura política do eleitorado.
3. Façam ajustes periódicos, usem abordagens diferenciadas, façam comparações entre estilos, analisem as forças e fraquezas, as oportunidades e ameaças de seus candidatos.
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