Einstein no Brasil
Abro a coluna contando uma historinha do amigo Sebastião Nery sobre a relatividade das coisas. Quando Einstein esteve no Brasil, foi ciceroneado por Austregésilo de Athayde. Saiu olhando as coisas, Austregésilo a tiracolo, explicando a relatividade do jeitinho brasileiro. A toda hora, Austregésilo tirava do bolso um caderninho e fazia anotações. Einstein ficou curioso :
- O que é que o senhor anda escrevendo aí ?
- Suas opiniões, Mr. Einstein, suas observações. Às vezes as minhas também. Tenho o hábito de anotar sempre as ideias que me ocorrem para aproveitá-las nos meus artigos. O senhor não anota suas ideias ?
- Não anoto, Dr. Austregésilo, porque até hoje só tive uma, a teoria da relatividade.
Tensão no Planalto
Parece pleonasmo falar em tensão no Planalto. Porque os ares de Brasília são permanentemente contaminados pela água em ebulição nos fornos do poder. A semana começou tensa com a substituição dos líderes do Governo no Senado e na Câmara. No Senado, Romero Jucá (PMDB/RR) cede lugar ao também senador da região amazônica, Eduardo Braga (PMDB/AM). Que já foi prefeito de Manaus, governador do Amazonas por duas vezes, depois de ter iniciado a carreira política como deputado Federal. Hoje, faz parte da ala que se diz independente do PMDB. Jucá vem lá de trás e já serviu o governo FHC. Passou pelo ciclo Lula e chegou até o governo Dilma. Cândido Vaccarezza (PT/SP) sai da liderança do Governo depois de um bom tempo. Trata-se de um perfil cordato, conciliador, um dos quadros do PT com melhor articulação junto aos partidos. Entra Arlindo Chinaglia (PT/SP), perfil também cordato. Foi presidente da Câmara e conhece bem os meandros das articulações.
O significado
A substituição dos dois líderes não se deu apenas por conta da insatisfação das bases governistas. Afinal, a não aprovação do nome de Bernardo Figueiredo para a ANTT não se deu por conta da inabilidade do senador Jucá. O nome não tinha bom conceito na casa. E passou a ser alvo do tiroteio do senador Roberto Requião. Já a indignação que se espraia nos corredores da Câmara também não pode ser contida por Vaccarezza. Afinal de contas, a rebeldia que ali se desenvolve é fruto de alguns fatores: 1º) represamento de verbas aprovadas no Orçamento para obras patrocinadas por deputados; 2º) a não contemplação dos pleitos partidários nos ministérios e o próprio fechamento de portas para as demandas parlamentares; 3º) a equação mal resolvida de preenchimento das vagas ministeriais a cargo da presidente Dilma.
Como será ?
Pode ser que as coisas melhorem nas frentes de articulação. Mas outros atores também deverão ser trocados. Por exemplo, a ministra Ideli Salvatti faz muita força para acertar. Mas não tem sido eficaz. A esfera política não a considera com estofo para fazer articulação política. Que depende, e muito, do perfil pessoal, do DNA de cada um. Ideli é amarga e zangada. Um ente fora do habitat natural.
PMDB, o maior polo
O maior polo de insatisfação se encontra no PMDB. Que vê seus ministros sem autonomia decisória; monitorados por secretários executivos nomeados pelo PT; com verbas de seus parlamentares represadas. O PMDB acredita que essas barreiras são todas planejadas : o PT quer bloquear o crescimento do partido, temendo que ele continue com o maior número de prefeituras e vereadores. O projeto petista tem como meta fazer do partido uma gigantesca estrutura a serviço da continuidade de mando do PT.
Temer, o conciliador
Michel Temer, o vice-presidente da República, tem sido muito importante nesse momento de foguetório desvairado. É cercado de pressão por todos os lados. Tem agido como algodão entre vidros. E até suportado fogo amigo. Não se sabe até quando. Pequeno conselho aos fogueteiros : quando a fumaça é constante, ela mesma avisa onde se localiza a fogueira.
Tudo valerá
Nem bem o processo eleitoral começou e as jogadas no tabuleiro mostram que a campanha deste ano será a mais contundente da contemporaneidade. Uns contra uns e outros contra outros; podendo ser também de ex-adversários contra ex-aliados. Tudo valerá.
O jeito Dilma de ser
A cada dia, a presidente Dilma mostra seu jeito de ser. E de fazer política. Ouve um pequeno grupo. E toma decisões. Ao que parece, não faz consultas à área política. Apenas comunica suas decisões aos líderes. Sua cartilha é a cartesiana. Os políticos, segundo ela, precisam andar na linha reta. Mas a política, como se sabe, é, frequentemente, uma curva. Os tropeços ocorrem a cada momento. Lula tem aconselhado a presidente a ouvir mais os políticos. Por mais que ela tenha conversado com alguns, a sensação é a de que falta lábia nas conversas.
Churchill 1
O General Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery :
'Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói'.
Churchill ouviu o discurso e com ciúme, retrucou :
'Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele'.
(As historinhas sobre Churchill, que continuam adiante, foram enviadas por Jorge Massad)
O Brasil vai bem
O Brasil vai muito bem. Essa é a versão que as autoridades fazem questão de expressar. Crise internacional ? Ah, o Brasil passa ao largo. Estamos indo bem na frente de comércio exterior. Nossas commodities têm ajudado a alcançarmos bons resultados comerciais. Nossas reservas estão aumentando. O que nos permite um bom lastro para eventuais problemas cambiais. Esse é o discurso do ministro Guido Mantega. E a indústria ? Ora, a indústria vive um momento difícil. Mas é um momento só, frisa o nosso ministro da Fazenda.
A indústria vai mal
A verdade é que a indústria vai mal. De cada quatro produtos adquiridos no mercado, um é importado. A indústria manufatureira registrava uma participação no PIB de 27,2% em 1985; esse índice despencou para 15,8% em 2010. A queda de emprego na indústria entre setembro de 1985 e setembro de 2010 foi de 28%; já a participação dos manufaturados na pauta de exportações baixou de 55% em 2005 para 39,4% em 2010. A pauta de importações engorda a olhos vistos. Em 2003, o coeficiente de importação era de 12,5%; no segundo trimestre do ano passado, 22,9%.
China ganha todas
E quem está devastando a indústria brasileira ? A China. Ganha concorrências a torto e a direito. E mais : vende gato por lebre. Não entrega as encomendas nos prazos. Não dá manutenção. Faz comparações absurdas. Compara o preço de um trem com 4 carros (o que fabrica) sendo apenas 50% motorizados, com um trem de 6 carros, todos motorizados. E há Estados que entram na "emboscada" chinesa, como o Rio de Janeiro, com a maior tranquilidade.
Churchill 2
Certa vez, Einstein recebeu uma carta da Miss New Orleans onde dizia a ele :
"Prof. Einstein, gostaria de ter um filho com o senhor. A minha justificativa se baseia no fato de que eu, como modelo de beleza, teria um filho com o senhor e, certamente, o garoto teria a minha beleza e a sua inteligência".
Einstein respondeu :
"Querida miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza".
Capital e trabalho juntos
A FIESP e as Centrais Sindicais estabeleceram um programa de ações e eventos em defesa da indústria nacional. O primeiro evento em prol da indústria nacional está previsto para o dia 27 de março, com o lançamento de uma frente parlamentar no Congresso Nacional. Outro, em 4 de abril, reunirá cerca de 100 mil pessoas em frente à Assembleia Legislativa de São Paulo. A mobilização de entidades empresariais e sindicais tem o objetivo de alertar o governo para a adoção de políticas que visem proteger a esfera industrial e, consequentemente, os empregos.
Desaceleração ?
E se a economia mundial desacelerar em 2012 ? O Brasil será afetado ? Não há razão para acreditar que o Brasil é uma ilha de segurança em um mar agitado. Todos os continentes sofrerão com as águas batendo em suas costas.
Passando a perna nos trabalhadores
Funcionários de empresas terceirizadas, a serviço do Governo, que quebram e não arcam com os passivos trabalhistas vão precisar de paciência. É que a Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho, decidiu, por unanimidade, suspender a tramitação dos processos que tratam da responsabilidade subsidiária dos órgãos públicos tomadores de serviços, no caso de não cumprimento de obrigações trabalhistas pela empresa prestadora. Algumas decisões monocráticas têm acolhido liminares em reclamações e cassado decisões tomadas pelo TST em que se aplicou a súmula 331, alterada em maio de 2011 para limitar a responsabilidade subsidiária aos casos de conduta culposa do ente público no cumprimento da Lei das Licitações.
Churchill 3
Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill : "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill : "Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver".
8 mil recursos no TST
Mais de oito mil recursos extraordinários sobre o assunto estão paralisados no TST. Com a decisão da SDI-1, uma quantidade ainda maior de processos deve permanecer à espera da definição do STF. O fato é que não haveria impasse, se a contratação tivesse como preceito a idoneidade financeira, operacional, fiscal e a qualidade da prestação de serviços da contratada. Algo que pode ser perfeitamente definido por uma legislação específica.
Jegue para o Japão
A China quer importar do Brasil 300 mil jumentos. Que sairão do Nordeste. O jegue já inspirou poetas e escritores. E agora mobiliza os nordestinos que querem evitar sua exportação para a China, onde seriam industrializados - carne e derivados. As campanhas pela "salvação do jegue" estão no ar. Uma dela, "Adote um Jumento. O menino Jesus lhe agradecerá".
Churchill 4
Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse :
- Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.
Resposta de Churchill :
- Por que não ? Você me parece bastante saudável.
Modernização no futebol ?
Ricardo Teixeira, ufa, deixou a CBF. Poucos acreditariam que um cartola tão cheio de poder pudesse, um dia, renunciar a um dos mais ambicionados cargos por estas plagas. Teixeira saiu não apenas por conta de sua saúde, que merece cuidados. Mas por desgaste de material. Muito tempo no mesmo canto desgasta as pessoas. Por mais força que pareçam ter. É de esperar que, doravante, o futebol seja vitaminado com novas ideias, ajustes de programas e projetos, reordenação estratégica. Mas, sabem quem assumiu ? Um cartola que vai completar em breve 80 anos. Nada contra ele. Felizmente, o próprio se comprometeu a implantar rodízio no comando da Confederação. A sociedade, hoje, tem o mando das coisas.
Lula puxará Haddad ?
Essa é a pergunta que este consultor tem tentado responder. O candidato do PT, Fernando Haddad, está com apenas 3%. Pois bem, respondo : Lula vai arrastar Haddad para o patamar histórico do PT, cerca de 30%. E mais : Haddad continua competitivo. Por isso, qualquer tentativa de resgatar o nome de Marta Suplicy é coisa de apressadinhos.
E Serra é o favorito ?
É. José Serra continua como favorito. Mas tem uma grande rejeição para administrar. É bem provável que seja um dos candidatos do segundo turno. Mas não se pode, a essa altura, apontar para nenhum vencedor ou perdedor.
Chalita entra no meio ?
Esta é também mais uma pergunta que me fazem. Gabriel Chalita, hoje com 7%, poderá quebrar a polarização entre PT e PSDB. Vai depender dos tempos nebulosos ou claros de outubro.
O caldeirão eleitoral
O sistema cognitivo do eleitor tende a conjugar aspectos múltiplos : condições folgadas ou apertadas do bolso; mais alimentos ou menos alimentos na geladeira; simpatia proporcionada pelo candidato; proximidade/distanciamento que o candidato represente para o eleitor; qualidade das propostas - credibilidade, factibilidade, utopia/factóides, condições de realização; apoiadores do candidato; bom programa de TV; presença nos bairros e regiões da cidade, etc.
Churchill 5
Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (Sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada. E ela disse em alto e bom tom :
- Sr. Ministro , se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá !
Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou :
- Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer !
Conselho aos novos líderes
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos novos líderes :
1. Cuidado. Examinem as demandas de grupos e regiões. Não prometam coisas que não poderão cumprir/realizar.
2. Procurem convencer a presidente Dilma que o governo de coalizão é uma via de duas mãos.
3. Tentem alcançar consenso junto às bancadas; a cartilha cartesiana da presidente Dilma há de conter sambas variados, não apenas um sambinha de uma nota só, ou seja, atendimento às demandas de um único partido.
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