Porandubas Políticas

Porandubas nº 305

A Bahia de Todos os Santos virou terra da barbárie. Para o colunista a crise baiana poderá servir de impulso à candidatura de ACM Neto, que tem condições de alçar voo para ser o próximo alcaide soteropolitano.

8/2/2012

Malícias de Tancredo

Abro a Coluna com historinhas de Tancredo Neves, o avô do senador Aécio, contadas pelo amigo Sebastião Nery. Tancredo dava uma entrevista e o jornalista anotava tudo. Quando acabou, Tancredo Neves leu. Estava escrito :

- Não pretendo ser governador de Minas.

Tancredo pediu licença, emendou com a própria caneta : "Não pretendo ser candidato a governador de Minas". E outra. Geraldo Rezende, editor político de O Diário, sábio e santo, conversava com Tancredo no final da campanha para o governo de Minas, em 1960, contra Magalhães Pinto :

- Tancredo, você precisa ter fé. Dê uma passada no Santuário de São Geraldo, em Curvelo, que São Geraldo não esquece seus devotos.

Tancredo foi lá. Perdeu as eleições para Magalhães. Telegrafou a Geraldo :

- Geraldo, São Geraldo esquece seus devotos.

Meses depois, Jânio renuncia, assume Jango. Tancredo é primeiro-ministro. Geraldo telegrafa a Tancredo :

- Tancredo. São Geraldo não esquece seus devotos.

Bahia violenta

A Bahia de Todos os Santos virou terra da barbárie. 54 mortos, até o momento, vítimas da violência que assola Salvador, desde o início da greve dos policiais militares. Surpreendente é que a greve assumiu proporções inusitadas, deixando as autoridades governativas sem rumo. O governador Jaques Wagner, sempre cioso de seus deveres, diz que não cederá. O aumento de 6,5% que deu ao funcionalismo será o mesmo para a PM. O mais incrível é ver a situação de caos nas terras santificadas da Bahia, nas proximidades do carnaval, um dos maiores e mais animados eventos do país. O affaire poderá sujar a imagem do governo e servir de discurso aos opositores na campanha eleitoral deste ano.

Salário vergonhoso

Um policial militar, em início de carreira, ganha na Bahia R$ 1.550,00. Será que este salário sustenta uma família com 3 filhos ? No Rio de Janeiro, o salário é menor ainda, de R$ 1.137,49. Abaixo, só os salários dos policiais no Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, de R$ 1.111,00 e R$ 996,00, respectivamente. Já no Distrito Federal, os policiais ganham R$ 4.129.73.

Neto sobe

A crise baiana poderá servir de impulso à candidatura de ACM Neto. Que tem condições de alçar voo. Para ser o próximo prefeito de Salvador.

A privatização de Dilma

Pois é, os aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília foram a leilão e passarão a ser concessões privadas. O vencedor do leilão de Guarulhos (R$ 16,213 bilhões, ágio de 373,5%) foi a Invepar, empresa de investimentos criada pela OAS, que tem como acionistas os fundos de pensão Funcef (Caixa Econômica), Previ (BB) e Petros (Petrobras). A empresa ganhou em acordo com a ACSA, da África do Sul, que opera principais aeroportos africanos. O de Campinas (R$ 3,821 bilhões e ágio de 159,8%) vai para as mãos de Triunfo Participações, consórcio formado pela Constran, que pertence à UTC Engenharia ; Aeroservice, empresa de projetos de aeroportos ; e Egis Airport Operation (França), operadora de aeroportos. E o de Brasília (R$ 4,5 bilhões e ágio de 673,4%) ficará sob o controle da Engevix, em sociedade com a Corporación America (Argentina).

Participações

No aeroporto de Guarulhos, a Invepar tem 90% e a ACSA, 10% ; no de Campinas, Triunfo fica com 45%, Constran com 45% e Egisavia fica com 10% ; o aeroporto de Brasília foi repartido entre 50% para a Engevix e 50% para a Corporación Argentina. Atenção : a Infraero terá participação de 49% nos consórcios. E mais um dado para entender a moldura : o BNDES financiará 80% dos investimentos. Claro, com a Infraero pagando parte da conta.

Privatização sob vigilância

O dado acima permite inferir : a privatização ficará sob o olhar do governo. Ou seja, a Infraero terá uma lupa para enxergar as situações de cada consórcio.

Ágio médio

O ágio médio no leilão de privatização dos aeroportos foi de 348%. Total arrecadado : R$ 24,5 bilhões. Empreiteiras fortes como Odebrecht e CCR ficaram de fora. Grandes operadores de aeroportos, como os que operam em Cingapura, Zurique e Houston perderam seus lances.

O caráter e o silêncio

Há dois grandes traços que pintam o caráter : a atividade em prestar serviços, o que prova generosidade, e o silêncio sobre os serviços prestados. PELISSON (Paul, escritor francês, historiógrafo de Luís XIV. Pinçado por José da Silva Martins em sua Coletânea de Pensamentos)

Mais recorde

Brasil dos bilhões. R$ 14,6 bilhões de lucro líquido. O maior lucro líquido já alcançado por um grupo na história do Brasil. Foi o que conseguiu o grupo financeiro Itaú/Unibanco em 2011. Esse é o Brasil da dinheirama.

Pão e circo

"Os povos gostam do espetáculo; através dele, dominamos seu espírito e seu coração". Luís XIV.

Maquiavel já aconselhava ao Príncipe "divertir e reter o povo em festas e jogos". Os tiranos que surgiam nas cidades gregas entre os séculos VII e VI A.C. já utilizavam intensamente as festas populares em benefício de sua propaganda.

Dilma cautelosa

A presidente Dilma, após a recomposição do Ministério, deverá recolher o excesso verbal em matéria de política. Tende a ser mais cautelosa. O Congresso retoma a agenda e há projetos importantes, como o Fundo Complementar do Servidor Público, a ser votado nas próximas semanas.

Partidos e silentes

Os partidos também entenderam que a presidente Dilma não aprecia muito os salamaleques, pressões e contrapressões. E também recolhem o lixo verborrágico. Procurarão usar sua força expressiva (e eleitoral) em tempo e condições mais convenientes. Agora, não é hora. Passarinho na muda não pia.

Quem não crê em nada

"Quando um homem vem me dizer que não crê em nada e que a religião é uma quimera, faz com isso uma confidência muito ruim, pois devo ter, sem dúvida, ciúme de uma terrível vantagem que ele tem sobre mim. Como ? Ele pode corromper minha mulher e minha filha sem remorsos, enquanto eu seria impedido de fazer o mesmo por medo do inferno ! A disputa é desigual. Que ele não creia em nada, com isso posso consentir, mas que vá viver em outro país, com aqueles que se lhe parecem, ou, pelo menos, que se esconda, e que não venha insultar minha credulidade". Montesquieu em seus Escritos.

Cenário paulistano

Esta coluna não abre mão de fazer um recorrente cenário eleitoral para a capital paulista. Pede desculpas aos leitores pela retomada da paisagem paulistana. Afinal, trata-se do pleito mais importante do país, eis que abrigará o maior eleitorado e as maiores lideranças políticas nacionais, a partir de Lula, careca e santificado, que faz articulação em prol de seu candidato, Fernando Haddad, até em quarto do hospital Sírio-Libanês. Então, vamos lá.

Desenho I

Fernando Haddad, pelo PT, com o apoio do PSD, de Kassab, disputa com Gabriel Chalita no segundo turno. Vale lembrar que o PT tem históricos 30% dos votos na capital paulista. Gabriel Chalita, do PMDB, terá um bom tempo de TV e rádio. Alguém poderá objetar : e o candidato tucano ? Esse é o busílis. Se for um dos japoneses – muito parecidos – será pouco provável. Japoneses : Zé Aníbal, Ricardo Trípoli, Bruno Covas e Andrea Matarazzo. Bruno Covas poderia tirar Geraldo Alckmin da retaguarda e deixá-lo na vanguarda. Mas o neto de Mário Covas não conta com número suficiente de adesões para ganhar as prévias. Andrea conhece bem a cidade, até mais que os outros. Também não contaria com votos suficientes.

Desenho II

A questão de sempre : e Serra ? Cercado de pressões por todos os lados, tem jurado que não topa. Mas há uma esperança entre os tucanos. A de que ele poderia aceitar e salvar a Pátria. Receberia o apoio irrestrito do PSD de Kassab e, assim, desfazer a aliança que ele tende a estabelecer com o PT. Serra candidato poderia entrar no segundo turno. Ganharia a campanha ? Dependerá do seu índice de rejeição, hoje muito alto. O ambiente social e econômico do 2º semestre influirá na diminuição/manutenção do índice de rejeição. Nesse caso, poderíamos ver o restabelecimento da velha polarização PT x PSDB. Pano de fundo : santo Lula protegendo Haddad.

Mais paisagens

Alckmin protegeria Serra ? Há quem duvide. E se o vice-governador Guilherme Afif fosse o candidato ? Teria chances caso dispusesse de tempo eleitoral (rádio e TV) suficiente. Outra perguntinha recorrente : Serra tem futuro ? Sem dúvida. Mesmo se não for candidato a prefeito, Serra terá um horizonte de média distância para contemplar. Se não for o candidato tucano em 2014, perdendo para Aécio a vaga, teria de fazer opções antes daquele ano decisivo. Poderia disputar o Senado. Ou, mesmo, a presidência da República por outro partido, o que o levaria a sair do PSDB até outubro de 2013.

Vitória ou derrota de Lula

E se Fernando Haddad for derrotado ? Seria uma derrota de Lula. E se ganhar ? Mais uma vitória de Lula. Que parece vitaminado. O ex-presidente está muito ativo. Parece somar forças em momentos críticos.

Mantega capengou

O affaire em torno da Casa da Moeda pegou de leve no ministro Guido Mantega. Foi ele quem escolheu o presidente que saiu. Sob grande suspeita. Quis atribuir a escolha ao PTB. Que negou. Ao tentar argumentar, Mantega escreveu torto por linhas tortas.

Que ganho real é esse ?

Há pouco tempo, nesta coluna, fizemos reflexões sobre os critérios estabelecidos pelo Decreto Estadual 48.326/2003 para conceder reajustes ao setor prestador de serviços. Ocorre que o Estado impõe fórmulas que levam em consideração apenas a variação do IPC. Ou seja, no acordo da categoria dá-se um reajuste de 15%, mas o governo repassa ao setor menos que 7% (IPC apurado). Como isto vem ocorrendo há alguns anos, a perda, nos últimos 3 anos, já chega a mais de 25%. Sem condições de honrar dissídios trabalhistas, o setor obreiro começa a mobilizar suas bases em torno de uma greve geral. Seria prudente que governo e empresários procurem os meios e as condições para uma abordagem que possa equacionar a pendenga. O setor privado é o maior gerador de empregos do Estado. Merece um pouquinho mais de atenção. A não ser que o governo queria estrangular a galinha de ovos de ouro.

Governantes

Quando Confúcio visitou a montanha sagrada de Taishan, encontrou uma mulher cujos parentes haviam sido mortos por tigres.

- Por que não se muda daqui, perguntou Confúcio.

- Porque os governantes são mais ferozes que os tigres.

Descontroles

No Rio, três prédios desabam deixando um rastro de mortes. Descalabro. Falta de fiscalização. Rio de Janeiro mais parece uma Beleza em Apuros. Agora, é em São Bernardo que um prédio despenca. Descontroles por todos os espaços. Esse é o Brasil do jeitão que é, da incúria, do desleixo, da falta de planejamento, da ausência de critérios racionais, da folgança de todas as horas.

Notas dos partidos

Pesquisa informal da coluna. Notas dos partidos aliados ao governo Dilma. De 1 a 10. PT avaliando o governo Dilma : 9. PMDB : 7,5. PP : 6. PTB : 6. PRB : 7. PDT : 6. PSB : 8. PC do B : 8. Aferição dos três principais partidos da oposição : PSDB : 5. DEM : 5. PPS : 5.

Andréa

Andréa Neves da Cunha, irmã de Aécio, bem articulada, começa a surgir na paisagem mineira. Sucessora de Anastasia no governo ?

O exemplo de Maomé

Maomé levou o povo a acreditar que poderia atrair uma montanha. E que, do cume, faria preces a favor dos observantes da sua lei. O povo reuniu-se; Maomé chamou pela montanha, várias vezes; e como a montanha ficasse quieta, não se deu por vencido, mas disse : "Se a montanha não quer vir ter com Maomé, Maomé irá ter com a montanha". Dessa forma, os homens que prometeram grandes prodígios e falharam sem vergonha (porque nisso está a perfeição da audácia), passam por cima de tudo, dão meia-volta e realizam o seu feito. (Francis Bacon em seus Ensaios)

Conselho aos membros do Judiciário

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos e seus líderes. Hoje, sua atenção se volta aos membros do Judiciário :

1. Após a decisão do STF convalidando as funções do CNJ, resta ao corpo do Judiciário fazer intensa reflexão, mapeando seus altos e baixos, pontos fortes e fracos. O momento é de recolhimento.

2. Urge recompor a força moral do Judiciário, o que implica posturas mais sóbrias e circunspectas. Os Tribunais de Justiça dos Estados devem fazer o exercício da limpeza em suas fichas. Joio, mesmo isolado, não pode contaminar o trigo.

3. Conceitos para cobrir o manto sagrado da Justiça : transparência, dignidade, zelo, organização, agilidade, sabedoria, ética, vigor cívico e isenção.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.