Porandubas Políticas

Porandubas nº 304

O colunista dirige conselhos aos partidos e seus líderes : o momento é de muita tensão e Dilma não admite questionamentos em matéria de trocas ministeriais.

1/2/2012

Abro a coluna com uma historinha engraçada da semana. A realidade é, frequentemente, mais interessante/impactante que a ficção.

Cadê meu dente ?

Cena hilária : faxineiros pacientes fazendo uma varredura no campo de futebol para ver se encontram... um dente. Um dente ? Pois é : foi o que aconteceu. Marcelinho Paraíba perdeu um dente no clássico em que o Sport venceu o Náutico por 4 a 3. Marcelinho prometeu R$ 1 mil a quem achasse seu dente. Piada ? Não. Ocorre que o jogador investiu R$ 4 mil naquele dente implantado. Perderia R$ 1 mil, mas livraria R$ 3 mil. Detalhe : Marcelinho deixou de sorrir. O dente, um centroavante, jogava bem na frente da boca do atleta. "Contundido", escondeu-se no gramado após trombada com Siloé, do Náutico. A jogada violenta ocorreu aos 29 minutos do segundo tempo. O goleador ainda não foi encontrado !

Plasmando a criatura

A presidente Dilma Rousseff – é visível – começa a plasmar um governo com a sua cara. Forma "um governo pra chamar de seu". Cumpriu o compromisso com Lula, de segurar alguns perfis durante um ano, e substitui peças no tabuleiro. A decisão mais difícil foi a de tirar o petista Sérgio Gabrielli do comando da Petrobras. A presidente nunca aceitou o flagrante de Gabrielli naquele hotel de Brasília, sendo recebido por José Dirceu. O governador da Bahia, Jaques Wagner, abriu uma vaga no secretariado para abrigar o ex-presidente da Companhia, que começa a vestir o figurino de candidato a governador em 2014. As mudanças na Petrobras, dizem, irão além da ascensão de Maria das Graças Foster à presidência. Deverão abrir arestas em alguns partidos, principalmente o PMDB e o próprio PT.

Outras áreas

Mudanças ocorrerão nos escalões inferiores de toda a estrutura. Além do DNOCS, mudanças ocorrem na Casa da Moeda, no Banco do Brasil (alterações em 13 Diretorias), e em alguns Ministérios. No Ministério das Minas e Energia, as tensões começam a energizar os espíritos.

A nova identidade

A identidade do governo tem como vértice a gestão eficaz. Técnica, focada em resultados, a presidente quer ver uma estrutura mais ágil e comprometida com os parâmetros da gestão moderna. Conta, para essa missão, com a valiosa colaboração de um Grupo de Gestão, coordenado pelo megaempresário Jorge Gerdau, um ícone da revolução de métodos e sistemas administrativos. Dilma parte de uma correta visão : a nova classe média (classe média C) – cerca de 30 milhões de brasileiros – não dispõe de recursos para implantar todos os padrões usados por estratos médios superiores (B e A), devendo, assim, continuar a usar os serviços essenciais do Estado, particularmente nas áreas da Educação e da Saúde. Portanto, exigirá serviços cada vez mais qualificados.

Leitura geral

Atenção para estas questões, hipóteses e inferências. Pela ordem : a) perfil técnico da presidente pode acirrar tensões com o Congresso; b) insatisfação de aliados, nesse momento de alto prestígio da presidente, não gera efeitos de impacto; c) PMDB e PT enfrentam dilema de não terem perfis novos em suas cúpulas; d) Dilma tem forças, hoje, para promover o choque de gestão que a inspira; quanto mais demorar, mais difícil será implantar seu modelo; e) o partido que fizer a maior bancada de prefeitos e vereadores terá melhores condições para eleger o maior número de deputados estaduais e federais em 2014, consequentemente, será parceiro preferencial; f) a campanha paulistana será questão de honra de Lula. Se Haddad ganhar, PT terá condições de esticar projeto de poder. A recíproca é verdadeira.

Negromonte

Quem ficará no lugar do ministro Mário Negromonte (PP) ? A presidente enfrenta o desafio de achar um perfil com traços mais técnicos. Não quer fazer apenas a troca de 6 por meia dúzia. Questão é : onde estão os políticos com formação técnica ?

PSD E PT juntos ?

No final de semana, em conversa com o prefeito Gilberto Kassab, a moldura da política paulistana ficou mais nítida : 1) O PSDB não aceita a indicação do nome do vice-governador Guilherme Afif (PSD) como cabeça de chapa para a prefeitura em eventual aliança com os tucanos. 2) O PT dá demonstrações de topar a indicação do PSD para vice na chapa encabeçada por Fernando Haddad. No caso, o atual secretário de Educação da prefeitura, Alexandre Schneider. 3) Lula é o grande articulador da aliança com o PSD de Kassab, por parte do PT. 4) O PT tem históricos 30% de votos na capital paulista. Somada aos votos do prefeito Kassab, hoje em torno de 15% a 20%, essa votação confere ao candidato Haddad ótimo posicionamento. 5) Kassab espera, mais adiante, ter o apoio do PT para seu projeto político. Esse é o busílis.

Chances de Chalita

O projeto do PMDB para o Estado de São Paulo será ambicioso. O partido quer eleger uns 200 prefeitos. E espera boa performance de Gabriel Chalita, na capital. Chalita tem boa penetração em alguns núcleos, terá bom tempo de rádio e TV, e poderá crescer bem. Na capital, se a campanha for para o 2º turno, descortina-se um cenário entre Haddad, sob o escudo de Lula/PT, e Chalita, sob o abrigo do PMDB e a maioria de outras legendas, que poderão se unir contra o PT. Seria um embate histórico.

O trunfo do PTB

Já o PTB confia na expressão fácil e fluente de seu candidato, Luiz Flávio Borges D'Urso. Que é bastante convincente em debates.

Russomanno cairá

É pouco provável que Celso Russomanno (PRB), hoje com 19% das intenções de voto, segure sua atual posição. Terá mínimo tempo de TV. Será inevitável sua queda.

Netinho de Paula, idem

O mesmo pode ser dito sobre o cantor e vereador Netinho de Paula (PC do B). Ganha a segunda maior rejeição. Tende a cair na campanha.

Que tucano ?

Só com muita boa vontade e fechando os olhos, dá para acreditar no triunfo do candidato tucano. Serra desistiu. Aliás, quem será vitorioso nas prévias ? Não dá para fazer previsões. Vou ter de consultar o amigo José Henrique Lobo, que sabe das coisas.

Aécio, ganhando força

Aécio Neves, senador tucano das Minas Gerais, ganha força nas hostes tucanas. Já se ouve abertamente na cúpula do PSDB que será ele o candidato à presidente da República pelo partido em 2014. Há tempos, essa era mera especulação. Hoje, Fernando Henrique, o cacique maior, diz que Aécio será o nome. O presidente da sigla, deputado Sérgio Guerra, também vai nessa linha. Alckmin, apesar de calado, não teria dúvidas.

Tempo de falar e de calar

"Há tempo de falar e tempo de calar, e quem mede este tempo é a prudência, que é regra prática do nosso obrar". Padre Manuel Bernardes.

Ciro, senador ?

Ciro Gomes planeja reingressar na política pela porta mais generosa do Senado. O irmão governador, Cid, quer vê-lo senador no final de 2014.

INA cai

O INA - Indicador de Nível de Atividade da indústria paulista divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) registrou queda de 0,4% em dezembro ante novembro, descontados os efeitos sazonais. Em novembro, o indicador havia caído 0,6% (dado também divulgado ontem pela instituição), após queda de 0,9% em outubro. Na comparação interanual, o INA caiu 5% em dezembro, fechando 2011 com crescimento de 0,6% em relação a 2010. Já o NUCI - Nível de Utilização da Capacidade Instalada em dezembro caiu para 80,9% (ajustando a sazonalidade), ante 81,5% em novembro e 83,4% em dezembro de 2010.

Segurança em jogo

A bola começa a rolar no campo da segurança da Copa 2014. É que ontem, (31/1), representantes de entidades de classe e de sindicatos de empresas de segurança privada, de 12 cidades sedes, fizeram a 1ª reunião com a Gerência Geral de Segurança do Comitê Organizador da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, no Rio de Janeiro/RJ. "Foi um primeiro encontro nacional com o segmento para discutir o modelo de segurança a ser implantado na Copa das Confederações 2013 e na Copa 2014, alinhar as exigências com os interesses do setor e esclarecer como se dará a contratação das empresas", explica o presidente do Sesvesp - Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo, José Adir Loiola. A intenção é que as empresas privadas atuem na parte interna dos estádios, com vigilantes desarmados.

Beleza em apuros

Explodem bueiros. Um atrás do outro. Caem prédios. Um ao lado do outro. Mortos e feridos. Despencam-se mecanismos de teatro, vitimando atores, atrizes e pessoas da plateia. Buracos por todos os lados. Ruas sem vagas para deficientes e idosos. Rio de Janeiro é uma Beleza em Apuros. Que desolação !

A forca mais alta

"Canuto, Rei dos Vândalos, mandando justiçar uma quadrilha, e pondo um deles embargos de que era parente del-Rei, respondeu : Pois se provar ser nosso parente razão é que lhe façam a forca mais alta." Padre Manuel Bernardes

Pinheirinho e Cracolândia

Comentários a boca pequena : o episódio do Pinheirinho será usado na campanha eleitoral. Contra os tucanos. Que poderão fazer o contraponto : operação na Cracolândia é aprovada por mais de 80% dos paulistanos. A percepção social sobre operações violentas é relativa. Essa é, infelizmente, a constatação. A violência é inadmissível.

Direção das casas

Por acordo com PT, PMDB deverá presidir a Câmara dos Deputados em 2013/2014. Se o PT não cumprir acordo, a parceria se desfaz e o trunfo será paus. No Senado, a tradição é a de que a maior bancada tenha o comando da Casa. Portanto, o PMDB deverá comandar as duas cúpulas. Para a Câmara, o nome do PMDB é o do deputado Henrique Eduardo Alves. Para o Senado, o nome é o do senador Renan Calheiros.

Coisas de Jânio

Historinhas selecionadas pelo jornalista e escritor Nelson Valente. Primeira : o Prefeito Jânio Quadros, em 1987, dava entrevistas para os jornalistas sobre a sua administração (sobre a polêmica dos homossexuais do Teatro Municipal), quando uma jovem jornalista o interrompeu :

- Você é contra os homossexuais ? Você vai exonerá-los ?

O ex-presidente não gostou de ser tratado de "você" e deu o troco :

- Intimidade gera aborrecimentos e filhos. Com a senhora não quero ter aborrecimentos e, muito menos filhos. Portanto, exijo que me respeite.

Adão

O agricultor Antenor Vieira Borges, residente em Santa Catarina e que mandou ao presidente Jânio Quadros uma maçã de 850 gramas, colhida em sua plantação, recebeu o seguinte bilhete do presidente da República :

"Prezado Antenor :

Abraços. Recebi a maçã de 850 gramas, que você enviou, produto da técnica e das terras catarinenses. Um colosso ! Não há Adão que resista a essa fruta".

Colega

O próprio presidente Jânio Quadros, às vezes transmitia seus bilhetinhos para os ministros por meio do aparelho de Telex que mandou instalar em seu gabinete, ligado diretamente com os Ministérios em Brasília e no Rio de Janeiro. Ele mesmo datilografava os "memorandos". Transmitiu ele um bilhete para um ministro e na mesma hora recebeu a seguinte resposta, pelo telex :

"Prezado colega. Não há mais ninguém aqui".

Ao que o presidente respondeu :

"Obrigado, colega. Jânio Quadros".

Do outro lado do fio, porém, o outro não se perturbou :

"De nada. Ás ordens, John Kennedy...".

(Nelson Valente, jornalista e escritor, em seu livro "Jânio Quadros – O Estadista")

Conselho aos líderes e partidos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministros do STF. Hoje, sua atenção se volta aos partidos e seus líderes :

1. O momento é de muita tensão. A presidente Dilma Rousseff não admite questionamentos em matéria de trocas ministeriais. Por isso, todo cuidado deve ser tomado para evitar querelas e polêmica.

2. Como ensina o Padre Manuel Bernardes, um clássico da literatura portuguesa, há tempo de falar e há tempo de calar. Passarinho na muda não pia. Fechem o bico nesse momento, senhores líderes e dirigentes partidários.

3. Não adianta insistir com pressões ou contrapressões. Cautela e caldo de galinha, ensinam os mineiros, não fazem mal a ninguém. Se a presidente pedir um nome para algum Ministério ou cargos de segundo escalão, ofereçam três ou mais nomes. Para que não tenham decepção com a rejeição do perfil indicado. E Boa Sorte !

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.