Ô friagem !
Mais uma vez, abro a Coluna com Minas Gerais. Minas Gerais é, por excelência, o território dos "causos" da política. Em Rio Espera, na boca da Zona da Mata mineira, a 50km de Ouro Preto, um médico que se tornou prefeito fez o mais rápido discurso sem nexo que este consultor conhece. O locutor oficial, entusiasmado com um mundaréu de gente no povoado de Padilha, numa noite fria do mês de julho, conclamou o candidato a subir ao palanque.
- Minha gente, atenção, vamos agora aplaudir o nosso candidato, o doutor Antônio, um homem que tanto fez para nossa gente. O verdadeiro pai dos pobres.
O candidato subiu ao palco, pegou o microfone e tascou : Ô friagem ! Engasgou. Devolveu rapidamente o microfone ao locutor e pulou nos braços do povo. O dr. Guadalupe Antonio Cardoso foi eleito prefeito por duas vezes. (Historinha enviada por Fabrício Miranda)
Deus te ouça, Fernando
Dilma, a presidente, e Fernando Henrique, o ex-presidente, se encontraram segunda à noite, por ocasião da festa da Folha de S. Paulo para comemorar seus 90 anos. Fernando Henrique parecia dizer : "Desejo pleno sucesso à sua missão, presidente. Sei que a montanha é muito alta, mas a senhora tem plenas condições de escalá-la". Ao que a presidente retrucou, com meio sorriso : "Deus te ouça, Fernando, Deus te ouça." Deus, porém, não ouviu porque não se encontrava presente. Lula não compareceu à festa da Folha. Claro, foi convidado.
Fim de quarentena
Luiz Inácio aguarda com ansiedade o fim da quarentena a que se impôs. Garantiu fechar a boca até o fim da semana santa. Depois de Jesus morto, crucificado e ressuscitado ao terceiro dia, Lula vai reaparecer no cenário. Bom para ele ? Pode ser. Bom para ela ? Não. Lula com a boca aberta, e mais ainda com a língua afiada, ganhará todos os holofotes. E uma iluminação com foco em seu perfil ofuscará a nova administração. Ele, porém, será mais contido, garantem algumas línguas. Mas Lula será sempre Lula, dizem outras (más) línguas. Portanto, não falará com a língua presa. Mas Luiz Inácio no palanque é Brasil em plena campanha eleitoral. E esse clima é sempre muito ruim quando se inicia uma nova fase.
"Discute-se sobre o dogma e não se pratica a moral. É porque é difícil praticar a moral e muito cômodo discutir sobre o dogma" (Montesquieu)
Otimista I
Chegaram aos ouvidos desse consultor casos esquisitos relativos ao maior otimista da cena brasileira. Foi candidato em um Estado importante, gastou, segundo a fonte, uns R$ 25 milhões, perdeu o pleito, mas acha que o ganhou. Um chiclete para quem adivinhar o nome. Quando se argumenta que Tiririca teve a metade dos votos dele, o sujeito escancara a cara de pau : ganhei, sim; afinal 30 milhões de eleitores passaram a me conhecer. Exemplo acabado de otimista perseverante.
A promessa de Serra
José Serra é uma alma atormentada pelas dúvidas. O que farei amanhã ? O que tenho de fazer hoje : combater o governo Dilma, arrumar um discurso para o tucanato, reagrupar as oposições, ser candidato à presidência do PSDB ? Afinal de contas, qual seria o melhor caminho para o ex-governador e ex-candidato à presidente da República trilhar ? A política é uma estrada cheia de curvas. Um campo minado. Urge ter muito cuidado onde se pisa. Sob o prisma pragmático, a coisa maior para atrair Serra seria a volta à prefeitura paulistana. Mas ele foi prefeito e deixou o comando da capital no meio do mandato. Pior : ele assumiu compromisso público de que não seria candidato ao governo do Estado, ficando 4 anos na prefeitura. Registrou o compromisso em cartório. Não cumpriu.
A nova promessa
Agora, José Serra diz enfático : "Não serei candidato a prefeito de SP, em 2012, em hipótese alguma". Quem vai acreditar ? E se ele for um candidato com imensas chances ? Será que ficaria sem mandato até 2014 ? Geraldo Alckmin, claro, postulará a reeleição ao governo. Há uma saída : disputar com Eduardo Suplicy a única vaga para o Senado a ser disputada em 2014. Este consultor acredita que Serra poderia, até, suplantar o petista. Que começa a sofrer o irreversível efeito da corrosão de material.
O lulismo
"O lulismo é mais complexo do que o controle burocrático partidário, embora tenha ganho musculatura a partir deste jogo e inflexão internos do PT. Forjou-se a partir de três matrizes discursivas que sustentam um equilíbrio dinâmico, assumindo um movimento pendular que privilegia, circunstancialmente, uma ou outra concepção. Foram eles o pragmatismo sindical, o vanguardismo e burocratismo partidário e o discurso técnico de gerenciamento de mercado" (Rudá Ricci in "Lulismo: Da Era dos Movimentos Sociais à Ascensão da Nova Classe Média Brasileira"). Livro que recomendo. Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto.
Otimista II
O otimista contratou um maquiador pela entidade que dirige. Ainda hoje, qualquer foto que tira, mesmo que seja para o jornalzinho de Jararacuçu da Serra, tem a máscara do maquiador.
Reforma em círculos ?
A Comissão da Reforma Política foi composta no Senado. Será engordada com os membros da Câmara dos Deputados. A ser presidida pelo senador Dornelles, a Comissão debaterá os diversos projetos que tramitam sobre o tema no Congresso. Mas, como é previsível, a reforma andará a passos de tartaruga. E mais : será muito restrita. Alguns dispositivos poderão ser, até, consensuais, como o financiamento público de campanha. Ou mesmo o fim das coligações proporcionais. A ideia de votar em um candidato e eleger outros – por conta da somatória dos votos da coligação – tem dias marcados para ser arquivada. A reforma trabalhará com dois grandes eixos : o voto em lista com o sistema distrital misto e o distritão, o voto majoritário para deputado.
Distritão
Pelo distritão, os mais votados serão os eleitos dentro das cotas de cada Estado. Essa proposição, defendida pelo vice-presidente Michel Temer, ampara-se no princípio democrático : o poder emana do povo e em seu nome será exercido. O voto majoritário expressa, com muita intensidade, a vontade popular. Vem de encontro, porém, a uma de nossas mazelas : o individualismo. Os eleitores escolherão seus nomes em detrimento dos partidos. Para compensar esse aspecto, os defensores do distritão defendem que o candidato deva exercer todo seu mandato no partido. Com as exceções em casos de expulsão, mudança de doutrina pelo partido, criação de um novo partido ou fusão de uma sigla com outra. Trabalha-se, ainda, com a ideia de abrir uma pequena janela quatro meses antes do próximo pleito.
Povo de Bola
Gervásio Raimundo, fazendeiro, candidato a deputado estadual por Palmeira dos Índios/AL, foi fazer comício em Estrela, que antigamente se chamava Bola :
- Povo do Bola !
Atrás dele, Waldemar Sousa Lima, escritor, biógrafo de Graciliano Ramos, conserta ao ouvido :
- Gervásio, eles não gostam de ser chamados de povo do Bola.
- Meus queridos amigos bolivianos !
Waldemar ficou aflito :
- Gervásio, boliviano é quem nasce na Bolívia.
- Ó xente, e não é tudo Brasil ?
Acabou o comício. (Causo contado pelo amigo Sebastião Nery)
O mártir desejado
O ditador líbio, Muammar Gaddafi, garante que não deixará o comando da Líbia, "a nação de seus ancestrais". Morrerá no "honrado solo de seu país". Eis o tipo de mártir que a galera gostaria de ver.
Carnaval pobre
Salvador vai mal das pernas. O prefeito João Henrique (PMDB), que deve se filiar oficialmente ao PP em março, enfrenta uma das piores crises política e financeira de seu mandato. As contas municipais se aglutinam e os serviços públicos municipais e terceirizados afundam no poço da deterioração. Sem recursos, trens, postos de saúde, médicos e funcionários do SAMU (Serviço Médico de Urgência) e funcionários de empresas de vigilância privada estão paralisando as atividades gradativamente. O prefeito foi eleito pelo PDT em 2004 e pelo PMDB em 2008, fazendo aliança com o DEM/BA. Rompeu com o PT e o governador.
Otimista III
O otimista obriga diretores de Escola a colocar os alunos em uma fila sob o sol a pino do meio-dia para recebê-lo. O também narcisista pega a bandeira do Brasil com uma mão, coloca a outra no peito, e, impávido, desfila entre os alunos agrupados sob o sol ardente. Que gritam e cantam em sua saudação. Hitler, orgulhoso com seu rebento, abre longo sorriso. Descobriu o Brasil.
Voto em lista
O voto em lista, por sua vez, reforça a posição dos partidos. Que escolhem os nomes e dá posicionamento a cada um na lista. Os mais votados, de cima para baixo, serão os eleitos, dentro das cotas partidárias. A queixa é a de que os caciques partidários, que mandam nas siglas, organizem os nomes de acordo com critérios pessoais de preferência. Haverá sempre suspeitas e questionamentos. Outra ideia é a de combinar esse voto em lista com o voto no candidato do distrito. Nesse caso, o eleitor é motivado a votar no candidato mais próximo às suas demandas, por lógica, os representantes da região, de um bairro ou de um grupo de bairros. A dificuldade está na definição/estabelecimento do distrito.
Nova CPMF
Os governadores dos Estados passam o chapéu na feira permanente organizada pelo governo Federal. A questão é : as despesas com a folha, os encargos, os compromissos com precatórios, essas contas estouram os orçamentos estaduais, diminuindo, a cada ciclo administrativo, o montante de investimentos. E se os investimentos decrescem, os serviços públicos se tornam mais precários ante demandas crescentes. A equação torna-se insolúvel. Por conseguinte, os governadores querem encontrar novas maneiras de arrumar dinheiro. E uma nova CPMF é reivindicada. O nome tornou-se quase uma blasfêmia. Não seria aprovada. Um novo imposto sob um novo nome ? Isso será possível. A conferir !
Campos quer crescer
Eduardo Campos, o neto de Arraes que governa Pernambuco, quer mesmo desbancar o PMDB como parceiro do PT e do governo. Melhor dizendo : deseja tomar o lugar de Michel Temer na chapa de Dilma para 2014. É assim que começa a ser vista sua movimentação para atrair o prefeito Gilberto Kassab e torná-lo principal guardião dos interesses do PSB em São Paulo. Campos convidou-o para ingressar no partido, prometendo a ele o domínio da sigla em São Paulo. Kassab, que há tempos pensa em sair do DEM para o PMDB, está avaliando suas chances nos dois partidos. Já pendeu mais para o PMDB, hoje está mais propenso a ingressar no PSB. De 0 a 10, dou 7. Mas o vice-presidente Michel Temer não desistiu da empreitada.
A Revolução da Informação
O mundo árabe está em ebulição. O povo vai às ruas. Decide enfrentar os esquemas de repressão. A fileira de mortos se expande. Mas o oxigênio da liberdade invade os pulmões dos cidadãos. Cai um ditador, outro vive os estertores. Alguns prometem leis democráticas. Os regimes ditatoriais no mundo, enfim, começam a fechar as portas. Frestas se abrem sinalizando novos rumos, deixando passar os ventos da liberdade. E tudo isso acontece graças à Revolução da Informação. As redes sociais da Internet propiciam a mobilização, a formação de cadeias de união e solidariedade. O futuro chegou. Viva ! Viva !
O maior lucro
O Itaú Unibanco viu seu lucro crescer em 32,3% em 2010, chegando a R$ 13,3 bilhões. Ultrapassa o Banco do Brasil (R$ 11,7 bilhões). É o maior lucro da história do setor bancário no país. Em 2009, o lucro foi de R$ 10,1 bilhões. Pode-se, até, dizer que, sob a administração do petismo, os ricos nunca ganharam tanto dinheiro.
O cheiro de fertilidade
Eis uma informação curiosa. Psicólogos da Universidade Estadual da Flórida garantem que descobriram o cheiro da fertilidade. Como ? Pedindo que mulheres dormissem com a mesma camiseta por 3 dias, sem maquiagem e com o mínimo contato visual com jovens homens voluntários. Os níveis de testosterona dos rapazes ficaram mais altos com a exposição ao odor do sexo oposto em seu período de ovulação. Os homens apresentam alterações fisiológicas em resposta ao ciclo fértil das mulheres, aumentando as chances de reprodução e os tornando mais fiéis. Atenção, atenção, senhora e senhores ! Aprimorem o olfato.
Conselho aos congressistas
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos vereadores. Hoje, volta sua atenção aos congressistas :
1. Nunca o ambiente esteve tão favorável a uma reforma política como o que se vive neste momento. Aproveitem essa onda favorável para reformar costumes e práticas da política.
2. Tenham em mente as distorções, desvios e contrassenso que reinam na política. O sistema de representação precisa corresponder ao princípio básico da democracia : o poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido.
3. Procurem fazer o máximo em matéria de reforma. Nem que as novas ferramentas e dispositivos sejam implantados mais adiante, em 2014 ou mesmo 2018.
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