Porandubas Políticas

Porandubas nº 256

15/12/2010

O nome do médico

Dois desembargadores aposentados, do alto de uma juventude acumulada durante oito décadas e meia, encontram-se no aniversário do neto de um deles. Os desembargadores Amaro Quintal da Rocha e Antônio Vidal de Queiroz, como sói acontecer com amigos que se conheceram no início da idade da razão, foram direto ao assunto que mais os motivava :

- Até que enfim, encontrei o médico que curou a minha amnésia, disse Amaro.

- Como é mesmo o nome dele ? Perguntou Vidal.

- É, é, é, deixe-me ver, é... é... Como é mesmo o nome dele ? Espere aí... é, é... é.

O nome, escondido num cantinho do cérebro, relutava em aparecer. Começou a se perturbar. Mas não deixou a onda abatê-lo.

- É, é, como se chama... é... é... como se chama mesmo aquela coisa vermelha, amarela, branca, que nasce em um galho cheio de espinhos, aquele assim ? (e foi mostrando o tamanho do galho e o formato da coisa).

Vidal matou a charada :

- Rosa, o nome é Rosa.

Amaro, radiante, grita para a mulher que estava sentada logo adiante :

- Rosa, oh, Rosa, como é mesmo o nome daquele médico que curou a minha amnésia ?

(Os personagens são fictícios. Mas a historinha, da verve expressiva do presidente do Conselho de Administração do CIEE, o amigo Ruy Altenfelder, merece abrir estas Porandubas)

Disputas internas

Não apenas os partidos disputam posições e espaços no governo Dilma. Alas partidárias também fazem uma guerrinha. No PT, por exemplo, Cândido Vaccarezza é o favorito para comandar a Câmara dos Deputados. Teria o apoio da tendência 'Construindo um Novo Brasil', ex-Campo Majoritário, que teve origem na antiga Articulação. É a maior tendência do partido. Mas a ala de Marco Maia, 'Ação Democrática', de Tarso Genro e José Eduardo Cardozo, se alia com Arlindo Chinaglia, que pertence à ala 'Movimento PT', para derrotar Vaccarezza, que teria a simpatia de Dilma. Contra Chinaglia, resgata-se sua gestão no comando da Câmara, considerada muito dura. Marco Maia, atual primeiro vice-presidente, conta com a força que adquiriu ao substituir Michel Temer na condução dos trabalhos da Câmara baixa nos últimos meses, ganhou a parada.

Vaccarezza

Vaccarezza, apesar de favorito, perdeu o jogo. Primeiro, por ver seu companheiro Arlindo Chinaglia, desistindo da candidatura para apoiar Marco Maia. Segundo, pela revolta de grande parte da bancada petista, insatisfeita com as indicações para o Ministério Dilma. De certa forma, Lula e Dilma perderam também este round na Câmara.

PMDB na observação

Michel Temer, o vice-presidente eleito da República, exerceu com muita habilidade o papel de lã entre cristais. Esforçou-se por evitar atritos entre grupos do PMDB, que se vêem alijados ou com menor força no ministério Dilma. O partido perdeu ministérios importantes. Mas conservou, graças a Michel, o mesmo número. Não se podia dizer, aliás, que o ministro Temporão, da Saúde, pertencia à cota do PMDB. Muito menos Nelson Jobim. Por isso, no frigir dos ovos, a contagem entre ontem e hoje fica praticamente na mesma pontuação. Talvez com um pouco mais de força no governo Lula. Por isso, o PMDB observa com atenção os movimentos e espaços cedidos a outros partidos.

PSB revigorado

Se ganhar o Ministério da Integração Nacional, oferecido a Ciro Gomes, e mais a Secretaria dos Portos (pode ser integrada a ela a área da Aviação Civil), o PSB, liderado pelo governador Eduardo Campos, tem condições de subir ao ranking do primeiro time de partidos no governo Dilma. Fez 6 governadores (PE, CE, PI, AP, PB e ES) e pulou de 27 para 34 deputados federais. Tinha 66 deputados estaduais e agora tem 73.

Ciro topa ?

Ciro Gomes deu um prazo até hoje para responder se aceita ou não o Ministério da Integração. Ciro é imprevisível. Deverá exigir condições. Pode ser que não aceite quando souber que alguns espaços da pasta já estão comprometidos com alguns aliados.

Campos e Neves

Este consultor começa a enxergar um princípio de paquera entre PSB e PSDB. Eduardo Campos, o presidente do PSB, é amigo de Aécio Neves, a estrela ascendente do PSDB. Um dia, ouvi de Eduardo Campos que sua geração - ele, Ciro Gomes, Aécio e por aí vai - almejaria um sonho : chegar ao poder. Seu esforço seria no sentido de dar vigor a esta projeção. O senador Neves e o revigorado governador Campos jogam muito bem sinuca. E, ao que parece, se saem bem ante sinuosa sinuca de bico.

Aprender a suportar

"É preciso aprender a suportar o que não é possível evitar. Assim como a harmonia do mundo, nossa vida é composta de coisas contrárias, e de diversos tons, doces e ásperos, pontudas e chatas, moles e duras. Que poderia exprimir o músico que só gostasse de um tom ? É necessário que saiba utilizar a todos e misturá-los; do mesmo modo nos cabe fazer com os bens e os males que são inerentes à nossa vida. Nosso ser não subsiste sem essa mistura, em que cada parte é tão imprescindível quanto a outra..." (Montaigne)

UPPs nas favelas

A conta foi feita : UPPs em todas as favelas do Rio custariam R$ 321 milhões por ano. Seriam necessárias 107 unidades e 10.685 policiais. Seria viável. Porque o custo do tráfico da droga e suas consequências é inimaginável.

Sílvio Torres

Geraldo Alckmin dispõe de um grande quadro para comandar a área de esportes : o deputado Silvio Torres. Trata-se de um dos maiores conhecedores da área esportiva. Silvio destaca-se pela intensa participação em todos os foros dedicados às questões dos esportes e do turismo. Poderá dar efetiva contribuição ao setor, principalmente neste momento em que o país se prepara para sediar uma Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada de 2016.

José Aníbal

Outra boa cabeça tucana é o deputado José Aníbal, já testado na experiência da liderança dos tucanos na Câmara dos Deputados e na administração pública em São Paulo. Zé foi líder do PSDB na Câmara por quatro vezes. E Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo no governo Mário Covas, sendo responsável pela criação de várias FATECs. Coordenou o programa de governo do candidato Geraldo Alckmin neste último pleito. É um dos melhores pensadores do tucanato.

Calabi dentro, MR fora

Geraldo Alckmin, ufa, nomeou Andrea Calabi como secretário da Fazenda. Mauro Ricardo cai fora. Alckmin deixa os setores produtivos aliviados. MR tinha uma fome pantagruélica. Era muito duro. Gostava de onerar a produção. Aliás, Serra perdeu a embocadura que tinha junto ao empresariado por conta do aperto dado por seu secretário da Fazenda. Com a nomeação de Calabi, o novo governador põe um ponto final no mando serrista.

Rio sem força ?

O Rio de Janeiro chora a perda de força. Já contava, até, com o ministro da Saúde, Sérgio Cortês, secretário do governador Sérgio Cabral. Mas este se precipitou no anúncio. Voltou a subir a votação do ministro Padilha, que faz hoje a Articulação Institucional. Mas se o Rio jorrar muitas lágrimas, pode-se voltar a apostar no tal Cortês. Agora, com a cortesia da presidente Dilma em agradecimento à descortesia do governador Cabral.

Maluf ganha

Paulo Maluf ganhou. Vai ser diplomado deputado dia 17. Este é o resultado da decisão do TRE/SP que revogou o enquadramento de Maluf na lei da Ficha Limpa. Essa decisão deverá influenciar o voto no TSE, onde o deputado entrou com recurso. O affaire Maluf vem de longe. Ele foi acusado pelo MP por superfaturamento na compra de 1,4 tonelada de frango em 1996. A ação já havia sido julgada improcedente na primeira instância.

Ozires e o prêmio

O grande brasileiro Ozires Silva, a quem a aviação civil muito deve, propõe a criação de um Prêmio de Eficiência e Produtividade a repartições públicas que se esmeram no quesito qualidade. Se o governo tem vários prêmios para a sociedade, argumenta Ozires para esta coluna, por que não fazemos algo em sentido contrário ? Tem lógica a proposição. E merece nossos aplausos !

Mais mulheres

Iriny Lopes, deputada do PT do ES, e Lúcia Falcón, secretária de Planejamento de Sergipe são mais duas mulheres no Ministério. A primeira para a Secretaria das Mulheres e a segunda para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A primeira sob o endosso do PT capixaba e a segunda, sob o referendo dos governadores Marcelo Deda e Jaques Wagner.

Paulistério petista

O PT de Minas Gerais reage com raiva à expansão do paulistério petista. Alegam os mineiros que há muitos paulistas no Ministério e, por enquanto, apenas um mineiro, o amigo de Dilma, Fernando Pimentel. A bancada mineira do PT na Câmara está furiosa.

O Madoff brasileiro

A justiça mineira decretou, em agosto passado, a prisão temporária do empresário Thales Emanuelle Maioline, de 34 anos, um dos donos da empresa Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros. Investigado por estelionato, falsificação de documentos e falsidade ideológica. Acusado de ter dado golpe no valor de R$ 50 milhões em cerca de 2 mil pessoas que vivem em Belo Horizonte e mais 13 cidades do interior de Minas Gerais. Domingo, ele se apresentou.

A tartaruga e a lebre

"Uma tartaruga e uma lebre discutiam acerca da sua ligeireza. Por fim, tendo combinado um dia e um lugar, separam-se. Ora, a lebre, negligenciando a corrida em virtude da sua velocidade natural, deitou-se à beira do caminho e adormeceu. Porém a tartaruga, cônscia da sua própria lentidão, não parou de correr e, dessa maneira, tendo ultrapassado a lebre adormecida, alcançou o prêmio da vitória. Esta fábula mostra que, frequentemente, o esforço vence a natureza negligente." (As fábulas de Esopo)

Conselho aos membros do Ministério Público

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às companhias de aviação. Hoje, volta sua atenção aos membros do Ministério Público :

1. Procurem ver o filme argentino Abutres (Carancho), com a grande interpretação de Ricardo Darín ("O segredo dos seus olhos") e Martina Gusman. Esse thriller de relevância social mostra os golpes dados por "abutres" argentinos em seguradoras.

2. Tentem verificar se existe alguma correspondência entre a situação na Argentina e no Brasil.

3. Continuem a arrombar os ralos e as redes de corrupção que se infiltram nas malhas das administrações pública e privada.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.