Porandubas Políticas

Porandubas nº 230

28/4/2010


Mel de abelhas

Abro a coluna com uma historinha que Geraldo Alckmin me contou no 9º Fórum de Comandatuba. No jantar, eu falava sobre o texto de Dora Kramer. E lembrava que ela fora minha aluna na Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, nos idos de 70. Dora tinha o melhor texto da turma. Por isso, eu pedia que a classe formasse um círculo ao seu redor. Um dia, achei aquela formação muito parecida a de uma colmeia. E exclamei : "vamos, agora, ouvir a abelha rainha". Era a imagem que Dora transmitia. Com todas as abelhas trabalhadoras à sua volta. A historinha de Alckmin aparece porque eu lembrava que, naquela época, Doramaria tinha como sobrenome : Tavares de Lima. Era sobrinha do grande e saudoso Chopin Tavares de Lima. Eis o relato :

Chopin, como secretário do Interior do Governo Montoro, tinha a missão de fazer a articulação com os prefeitos. Um dos programas de Montoro contemplava a fabricação de mel. Mel caseiro. O prefeito de Silveiras, na microrregião de Bananal, de nome Miguel, no meio do caminho para a capital, aproveitando a parada para o almoço, comprou uma garrafa de mel, dessas comuns que se encontram em restaurantes de estrada. Tirou o rótulo, lavou a garrafa, embalou-a em celofane. Era um presente para Chopin. Planejava provocar um impacto.

- Secretário, aqui está o resultado do programa 'Colmeia' do governo Montoro. Mel de primeira qualidade. O melhor mel que São Paulo já produziu.

Surpresa geral. Agradecimentos do Chopin com o aviso de que levaria o presente para o governador Montoro. A seguir, o astuto prefeito emendou :

- Gostaria que o secretário providenciasse a liberação da verba para o asfalto. Que pedimos faz bom tempo.

Imediatamente, o secretário mandou localizar o pedido da Prefeitura de Silveiras. Ocorre que não havia nenhuma solicitação. O prefeito aproveitara a ocasião para jogar verde e colher maduro. Queria colher recompensa pela garrafa de mel que levara. Depois de algum tempo, a mensagem : a solicitação não foi encontrada. Mil pedidos de desculpas do Secretário Chopin. O prefeito prometeu encaminhar novo pedido, conformado com a burocracia do Palácio que havia perdido o ofício. Geraldo Alckmin, então deputado estadual, ouvira o relato e percebeu a artimanha do prefeito. Aos ouvidos dele, cochichou a frase bíblica :

- Miguel, Miguel, tu não tens abelha e trazes mel.

Miguel regressou a Silveiras. No dia seguinte, ao telefonar para o Secretário Chopin Tavares de Lima, comunicando que novo ofício estava seguindo pelo Correio, ouviu dele a confissão :

- Não precisa mandar, prefeito, encontramos o ofício. Vamos liberar a verba.

E assim Chopin Tavares de Lima, Miguel, Silveiras, Geraldo Alckmin, Dora Kramer e eu entramos juntos, pela primeira vez, numa mesma história. Pergunto perplexo : como Dora Kramer passou a ter ligação com mel e colmeia ? Mistérios que as antenas do circulo planetário nos proporcionam. Meu sistema cognitivo capturara a imagem da colmeia celebrada por Chopin, seu tio. Ela tinha de ser a abelha rainha. Lembrem-se do ditado : "As pedras tanto rolam que um dia ainda se encontram."

Ecos de Comandatuba

Durante quatro dias, cerca de 350 empresários, autoridades do Executivo e uma penca de políticos passaram a limpo as condições atuais do país e suas perspectivas. O clima de otimismo impregnou-se no grupo, a partir do desfile de números apresentado por Henrique Meirelles. Dados mostraram a situação confortável do Brasil. Que tem condições de dar um salto. Em cinco/seis anos, poderá pular para a 6ª ou a 5ª economia mundial. Entramos na crise mais tarde e saímos mais cedo. O país fez a lição de casa antes dos outros.

Sem retrocesso

O clima de otimismo saiu da esfera econômica para encher os balões de ensaio da política. Dilma ou Serra ? O grupo estava dividido. Um superempresário chegou a confessar a este consultor : o risco Serra é 10 vezes menor que o risco Dilma. Muitos, porém, demonstravam simpatia para com a ministra. E, no frigir das análises a favor e contra, uma visão consensual : seja quem for o vencedor, não há perigo de o Brasil retroceder. As condições macroeconômicas estão profundamente afixadas no solo pátrio. E os perfis de Serra e de Dilma se bifurcam na encruzilhada dos rumos a serem seguidos.

Melhor momento ?

A frase, pronunciada por um banqueiro jovem e agressivo, soou forte no meio da noite : "O Brasil vive seu melhor momento em 500 anos". O autor da façanha expressiva foi André Esteves, do Banco Pontual. Abílio Diniz, ao lado, assentia com a cabeça. Na manhã seguinte, tentei conferir a ideia com um maxiempresário. Que me confessou : "Não é bem assim. Devemos medir o momento por parâmetros como salário mínimo e crescimento do PIB". E arrematou : você sabia que, na época do Médici (tempos de chumbo), o salário mínimo tinha duas vezes e meia o poder de compra que tem hoje ? Fechou o pensamento com a nota do crescimento daqueles pesados tempos, e o PIB crescia a 12% ao ano.

O mundo mudou

Ouvi as ponderações. Mas fiquei pensando : o paradigma mudou. Os parâmetros são diferentes. O mundo era menor. E a crise não tinha proporções gigantescas. De qualquer maneira, deixo os registros no ar. Conclusão : há empresários fechados com Serra, outros com Dilma. Como convém a uma salutar democracia.

10 para Dória

Mais uma vez, João Dória deu um show de organização e competência. Liderou o 9º Fórum de Comandatuba com extrema eficiência. Ancorou falas, integrou eventos, animou os espíritos.

Alckmin e Mercadante

Geraldo Alckmin, ao lado da esposa Lu, era só sorrisos. Sob a estampa de 60% de intenção de voto, parecia um candidato embalado no celofane da felicidade. Na mesa ao lado, Aloizio Mercadante, cara fechada, mas confiante. Parecia convicto de que, na perda ou na vitória, crescerá com a campanha ao governo de SP.

Prefeitura ?

Os olhos de Mercadante contemplam o futuro. Se não alcançar o Palácio dos Bandeirantes, focará a visão sobre o Palácio da Prefeitura, que se debruça sobre o Anhangabaú. Assim são os caminhos da política : a derrota de hoje poderá ser o desvio para a vitória de amanhã. É a curva para a reta futura. Mercadante terá alta visibilidade. Mas a possibilidade de chegar ao Palácio dos Bandeirantes é muito restrita.

Zé Aníbal

O deputado José Aníbal trabalha com a perspectiva de levar para a Convenção tucana seu nome para a vaga ao Senado. Aloysio Nunes Ferreira é o nome in pectore de Serra. Mas Zé, ao contrário do perfil introspectivo de Ferreira, conversa, abre o debate, articula, se movimenta. Fará tudo para que o jogo não seja ganho no tapetão. Aníbal, convém lembrar, já teve quase 5 milhões de votos para o Senado em SP.

Vaccarezza, algodão entre cristais

Cândido Vaccarezza é um espírito conciliador. Ouve atento as observações mais críticas. Não se afoba. Veste a camisa do governo em qualquer circunstância. O líder do PT na Câmara é respeitado por colegas de todos os partidos. Tem sido um defensor intransigente da aliança entre PT e PMDB. Amigo de Michel Temer, desfila argumentos densos para demonstrar as possibilidades de Dilma.

"As almas são incombustíveis." (Machado de Assis)

De jacaré a lagartixa

Há 60 dias, víamos um formidável jacaré abrindo a boca na beira da lagoa política. Ao mostrar os dentes, o bicho impunha respeito. O tempo foi se passando. Há três dias, aquela fera desapareceu. Em seu lugar, surgiu uma lagartixa. O que teria acontecido ? Não, o jacaré não mergulhou na lagoa. Virou a própria lagartixa. Encolheu. Fenômeno da natureza ? Sim. Mutação gerada pela genética política. O jacaré Ciro virou a lagartixa Gomes. O tiro Gomes saiu pela culatra.

Gafe lá, gafe cá

Dilma comete gafes ? Sim. Não é bem treinada na arte de dizer de maneira concisa e precisa ? Sim. Ocorre que Serra também comete bobeiras. Em Natal, semana passada, carimbou a população trabalhadora do RN com o selo de 6% da mão de obra nacional. Ora, não chega a 1,7%. Serra teria falado de costas para empresários que lotavam o auditório. Chegou no meio da madrugada quando era esperado às 9h.

Lula crente

Luiz Inácio nunca esteve tão crente na vida. É o que confessam amigos que convivem com ele no dia a dia. Crente na vitória de Dilma. Crente de que o ambiente de otimismo que cerca o país conduzirá sua afilhada ao trono do Palácio do Planalto.

Chapa com Temer

A esta altura, está consolidada a chapa de Dilma com Michel Temer como vice. Em todo esse tempo, Michel trabalhou discretamente, como é de seu feitio, sem arroubos oratórios, sem destempero e sem fisgar a isca que pescadores de águas turvas sempre lhe jogam.

PMDB, o maior

Seja qual for o nome – Serra ou Dilma – o PMDB deverá continuar sendo o maior partido brasileiro. Espera eleger uma bancada de 100 deputados federais e cerca de 10 governadores. Afora as maiores bancadas estaduais em muitos Estados. O PT deverá secundá-lo, vindo a seguir, o PSDB. A partir do quarto lugar, o quadro é nebuloso.

Campos Sales

O paulista Campos Sales presidiu o Brasil de 1898 a 1902. Deixou a presidência sob vaias do povo por ter implementado uma política econômica das mais dolorosas. Saiu do catete debaixo de uma chuva de manifestações indignadas. Piada da época : "Qual é o seu método de vida ? Há muito tempo só como o pão que o diabo amassou, só passeio na rua da amargura e o tempo pra mim é sempre bicudo".

Mídia eleitoral

Dilma terá 48% de tempo a mais na programação eleitoral de TV e rádio. Ou seja, mais de 8 minutos. Serra terá um pouco mais de 5 minutos. Atenção, marqueteiros : nem sempre grande tempo significa grande programa. Se os espaços não são bem aproveitados, o programa pode ser uma chatice ou enchimento de linguiça.

Tempos ímprobos

Nesses tempos de muito dolo, eis uma leitura obrigatória : "Improbidade Administrativa – Dolo e Culpa", de Isabela Giglio Figueiredo. O livro foi lançado nesta segunda-feira. Trata-se da monografia com que obteve o título de especialista em Direito Administrativo.

Thomas Paine

"Quando alguém pode dizer em qualquer país do mundo : meus pobres são felizes, nem ignorância nem miséria se encontram entre eles; minhas cadeias estão vazias de prisioneiros, minhas ruas de mendigos; os idosos não passam necessidades, os impostos não são opressivos.. quando estas coisas podem ser ditas, então pode tal país se orgulhar de sua Constituição e de seu governo." (Thomas Paine, em Os Direitos do Homem)

Hiperte(n)são ?

O ministro Temporão receita sexo contra a hipertensão. E deu, até, a receita : cinco vezes por semana. Passou a adotar o inverso do slogan do cigarro : sexo faz bem à saúde. O Ministério da Saúde deverá massificar a distribuição do preservativo Temporão. Para cobrir a temporada sexual.

Besteirol

O besteirol em ano eleitoral se espalha. Um dos capítulos mais imbecis é o que anuncia a renúncia de Lula para se candidatar a vice na chapa de Dilma. Eleita, ela passaria pouco tempo. Renunciaria e cederia o trono a Lula. Que terminaria o mandato de Dilma, candidatando-se, ao final, à nova reeleição. E ainda há gente séria que me pergunta sobre essas bobagens.

Reajuste dos aposentados

Os aposentados deverão ter reajuste maior que os 6,14% desejados pelo governo. Podem ganhar 7,7%.

César, o maior ?

César é considerado o maior de todos os heróis de guerras. O motivo apontado pelos historiadores : ceifou a vida da maior quantidade de inimigos. Em menos de 10 anos, durante a guerra contra a Gália, tomou de assalto, mais de 800 cidades, submeteu 300 povos, combateu 3 milhões de homens, dos quais matou 1 milhão durante as batalhas e transformou outro milhão em prisioneiros. Que heroísmo é esse, hein ?

Soltura de presos ?

Soltar 20% dos presos do país é uma temeridade. Há assassinos e loucos que poderão voltar ao cenário de matança. Não era o caso do monstro de Luziânia, em GO, que matou 6 jovens ?

Conselho às assessorias de Dilma e Serra

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à pré-candidata à presidência Dilma. Hoje, volta sua atenção às assessorias de Dilma e Serra :

1. Procurem orientar, desde já, seus candidatos a trilhar o caminho das grandes ideias. Os candidatos devem abandonar as trilhas de coisas perfunctórias.

2. Produzam conteúdos transcendentais para a vida do país. Substituam as querelas adjetivadas por debates programáticos.

3. Mapeiem os espaços das grandes carências nacionais e regionais.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.