Porandubas Políticas

Porandubas nº 229

14/4/2010

Historinha de Goiás

Edmundo Galdino, deputado estadual de Goiás, de Araguaína, recebeu um tiro na região lombar, na década de 80. Quase morreu. Sobreviveu graças à intervenção feita por outro político. Paraplégico, por conta do atentado cometido por pistoleiros, o ex-líder camponês, que militou no PC do B e, depois no PSDB, continuou a luta política com força e dinamismo. Um dia, na tribuna, usou o verbo para perorar contra o adversário, o deputado estadual e médico que o operou, Ronaldo Caiado. "Deputado Caiado, suas mãos estão cobertas de sangue...". Caiado, calmo e elegante, dirigiu-se à tribuna. E não deixou por menos : "Deputado Galdino, uso a palavra para afirmar e corroborar sua assertiva. Sim, é verdade que minhas mãos estão cobertas de sangue. Mas, Vossa Excelência bem o sabe. Este sangue é seu, nobre deputado. Salvei sua vida e salvarei tantas outras quantas vezes forem necessárias". Galdino se esquecera da boa fama de cirurgião. Com o instrumental cirúrgico e com a palavra. Nunca mais usou a palavra para atacar o parlamentar.

Tucanos, alto astral

O tucanato vibra com o lançamento da candidatura de José Serra à presidência. De fato, o evento foi um sucesso. Serra pegou bem o eixo do diálogo nacional. Candidato da harmonia, da unidade, do pacto. Deixou Dilma e o petismo na condição de atores da desunião, da querela entre classes e Estados, pobres contra ricos, o nordeste contra o sul. Passará a usar o bordão "Brasil pode mais", na verdade uma fisgada no slogan de Obama, "Nós podemos". Mas Aécio Neves foi o mais aplaudido. Arrebatou a plateia de 4 mil pessoas com as estocadas no PT e no governo Lula. Chamou os adversários para a briga. FHC, mais moderado, fez contundente defesa de seu governo. Mereceu também aplausos.

Cobertura

A cobertura do evento ganhou bom espaço da mídia. Vai durar, ainda, uns três dias com as repercussões do entusiasmo dos líderes da oposição. O lançamento de Dilma também obteve cinco dias de cobertura. O Jornal Nacional, da TV Globo, no sábado, não deu uma nesga de espaço para o evento petista no ABC, quando Lula lembrou que ele era "o cara", criticando o slogan apropriado por Serra. A arena começa a esquentar.

Dilma agressiva

Dilma começa a campanha de modo contundente. Atira forte nos adversários, a partir da acusação de que os tucanos "são lobo em pele de cordeiro". Atacar, optar por armas de destruição, apelar para uma agenda negativa não fazem bem a nenhum candidato. Este consultor prefere seguir a linha das coisas positivas e do realce a programas de envergadura. Quem ataca perde. Campanha negativa fere os brios do eleitor. Não entendo como uma pessoa que tem tanta coisa a mostrar pode optar por tiros no adversário. Que podem sair pela culatra.

Dilmasia/Anastadilma

Seja qual for o trocadilho que se queira dar ao voto em Dilma e Anastasia – candidato de Aécio Neves ao governo mineiro – a candidata do presidente Lula não poderia, ela mesma, se referir a este fato. Deveria deixar correr naturalmente o trocadilho pela boca dos mineiros. E mesmo usar o corpo parlamentar de MG para expandir a ideia. Ela cometeu a gafe de fazer uma defesa muito pessoal. Que lembra o ditado : "elogio em boca própria é vitupério". Agora, este consultor se arrisca a dizer : vai haver, sim, o Dilmasia. Explico abaixo.

As razões do voto misto

MG é um Estado bairrista (o sentido, aqui, é positivo). Os mineiros são orgulhosos de sua importância na vida política do país. Carregam, ainda, o sentimento de perda de Tancredo Neves. Por outro lado, o neto dele, Aécio, é muito bem avaliado. Eles gostariam de ver Aécio e não Serra como candidato a presidente da República. Ficaram frustrados. Por isso, votarão maciçamente em Neves para o Senado, é bem provável que elejam Anastasia para o governo e, pasmem, grande parte do voto poderá migrar para Dilma. Não se deve esquecer que ela é mineira. E os mineiros prezarão esse fato. Apesar da ministra ter passado quase toda sua vida no Rio Grande do Sul.

Pesquisa em SP

Pesquisa fresquinha, feita pelo Instituto Opinião, e que esta coluna registra em primeira mão. A pesquisa foi feita apenas no Estado de São Paulo, que abriga o maior eleitorado do país, cerca de 30 milhões de eleitores : Serra = 48,46%; Dilma = 21,23%; Ciro = 7,08%; Marina = 6,33%; nenhum = 9,99% e não sabe = 6,91%. Para o governo do Estado : Alckmin = 61,12%; Mercadante = 12,49%; Russomano = 7,08%, Paulo Skaf = 2,08; Fábio Feldman = 1,08% e Plínio Arruda = 0.83%; nenhum = 9,58% e não sabe = 5,75%. Por esses números de hoje, considerando uma soma em torno de 22 milhões de votos válidos, Serra teria em torno de 6 milhões de maioria em SP. Que é o número planejado pelos tucanos. Cifra para enfrentar a maré enchente de Dilma no nordeste.

Alckmin nas alturas

Pela mesma tabela, Alckmin faria uma maioria de mais de 10 milhões de votos sobre Mercadante. Claro, a posição do petista deverá melhorar. Sob pena de uma derrota escorchante.

Senado em SP

A moldura para o Senado mostra Marta em primeiro lugar, com 36,47%; Romeu Tuma em segundo, com 23,23% e Quércia em terceiro, com 21,07. Netinho de Paula ocuparia a quarta posição, com 15,57% e José Aníbal viria, a seguir, com 12,49%. Estas posições apontam para a retração de candidatos com baixa visibilidade. Neste caso, o mais prejudicado seria Netinho de Paula, com mídia muito curta. Noutros desenhos, aparecem Gabriel Chalita, com 6,16% e Soninha, com 11,07%. Outro nome do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, tem pouca expressão, apenas 6,83%. Ou seja, o candidato mais viável dos tucanos é Zé Aníbal. Que poderá crescer muito na onda surfada por Geraldo Alckmin. Quércia enfrenta um desgaste histórico. Tende a cair. E Tuma vai precisar muito de um bom espaço na mídia.

Mais pesquisa

Agora é a vez da rodada Sensus. Pesquisa encomendada pelo Sintrapav - Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada de São Paulo, divulgada ontem, aponta empate técnico na corrida presidencial entre Serra (32,7%) e Dilma (32,4%). Pau a pau. Tirem suas conclusões. Ciro Gomes teve 10,1%, e Marina Silva, 8,1%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Feldman na contramão ?

O deputado Walter Feldman quis arrematar o desfecho Serra/Aécio com uma declaração que irritou os mineiros : José Serra "era imbatível na disputa interna". Ou seja, quis dizer que Aécio não tinha ficha para ganhar o jogo. Ora, o mineiro fez um entusiasmado discurso de apoio ao paulista, no sábado. Foi o mais duro orador contra o PT. O deputado Rodrigo de Castro condenou Feldman. Para ele, o comentário vai na contramão do que o partido está construindo. Passarinho na muda não pia, Walter.

Congresso do aço

O mais importante evento do aço no Brasil ocorrerá, a partir de hoje, quarta, até sexta-feira. A agenda abriga debates com palestrantes nacionais e internacionais. A China merecerá um capítulo especial. A indústria do aço no mundo será vista e revista. Em paralelo, a ExpoAço, feira de negócios com a presença de 50 empresas brasileiras e estrangeiras. Os organizadores construíram uma Vila do Aço para mostrar todas as possibilidades de utilização do aço. Entre os nomes famosos, o de Lakshmi Mittal, CEO da ArcelorMittal. Tomará posse na presidência do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, André B. Gerdau Johannpeter. Na vice, Albano Chagas Vieira. E na presidência executiva do Instituto, Marco Polo de Mello Lopes.

Fogueiras

O PT corre para apagar fogueiras no CE, MG e PR. No Ceará, Cid, o governador e irmão de Ciro Gomes, quer apoiar Tasso Jereissati para o Senado. O PT quer sair com a candidatura de José Pimentel, ex-ministro da Previdência. Dilma, em mais um momento desastrado, foi ao Ceará receber uma homenagem. Cid não compareceu. Em Minas, Fernando Pimentel e Patrus Ananias não desistiram das candidaturas ao governo. Vão se enfrentar em prévias. Lula vai ter de botar ordem na casa. E Hélio Costa, paciente, espera a decisão. Olhando para um tal de Serrélio. No Paraná, Osmar Dias gostaria que Gleisi Hoffmann fosse sua vice. Mas o PT quer vê-la como candidata ao Senado. Osmar quer a vaga de senador para atrair o PR. Caso não consiga, dirige o olhar para José Serra. Será preciso muita água para apagar as fogueiras.

Marina sorridente

Registrei para o Correio Braziliense e O Estado de Minas, os dois principais jornais da cadeia dos Diários Associados, o fato de Marina Silva ter operado boa mudança na apresentação pessoal. É toda sorrisos. E dei as razões. O discurso político abriga duas vertentes : a estética e a semântica. O prisma estético é o primeiro que entra no sistema cognitivo do eleitor. Quem inicialmente, capta a maneira como o candidato se veste, usa o cabelo e fala. O discurso semântico, das palavras e ideias, vem depois. Marina compõe-se melhor, está mais sorridente.

Wallace, um impostor

E opino : "os eleitores de baixa escolaridade e renda, principalmente, se impactam ante o visual dos candidatos. Os de renda média e superior racionalizam mais, apesar de também serem influenciados pelo que vêem". Contei um episódio da década de 1960, durante a campanha de George Wallace, governador do Alabama, à presidência dos Estados Unidos, em que o candidato subiu ao palanque para discursar usando uma armação de óculos sem lentes, com a intenção de passar a ideia de intelectual. Ao falar aos eleitores, algo lhe caiu nos olhos e ele os tocou entre os aros da armação, denunciando a ausência das lentes. O gesto fez de Wallace um impostor. Dia seguinte, os jornais e TVs exibiram o engodo. Perdeu a chance de ser candidato pelo Partido Democrata nos idos de 60. Era um falcão. Direitista. Segregacionista. Dele era o slogan : "segregação agora e segregação sempre".

Ciro defenestrado

Gabriel Chalita, potencial candidato do PSB ao governo paulista. O jovem político se esforça para que o PSB faça coligação com o PT. Em sua opinião, Ciro Gomes não será candidato a nada : nem a presidente da República, nem a governador de SP e muito menos a deputado em SP, para onde mudou o título de eleitor. Eduardo Campos quebra a cabeça para armar a estratégia de desmanche da candidatura de Ciro à presidência.

Conselho à candidata Dilma

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à pré-candidata à presidência Marina Silva. Hoje, volta sua atenção à outra pré-candidata à presidência da República Dilma Rousseff :

1. Pense antes de agir e/ou expressar ideias. Doravante, suas atitudes, atos, decisões e palavras serão registradas e examinadas pela lupa de julgamento da mídia.

2. Campanhas negativas – ataques contundentes, violência expressiva – desajudam uma candidatura. O eleitor aprecia uma agenda positiva.

3. Não se deixe envolver por grupos radicais, alas ortodoxas, grupos que ainda imaginam uma volta à mofada luta de classes.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.