Conversa de jardim
Manuel Ribas, interventor no Paraná (1932/35), depois governador (1935/37), despachava no palácio, mas gostava de morar em sua casa. Bem cedinho, chega um rapaz e encontra o jardineiro regando o jardim :
- Seu Ribas está ? Sou filho de um grande amigo dele. Meu pai me mandou pedir um emprego a ele. Eu podia falar com ele ?
- Poder, pode. Mas, e se ele não lhe arrumar o emprego ?
- Bem, meu pai me disse que, se ele não arranjasse o emprego, eu mandasse ele à merda.
- Olhe, rapaz, passe às 4 da tarde lá no palácio, que é a hora das audiências, e você fala com ele.
Às 4 horas, o rapaz estava lá. Deu o nome, esperou, esperou. No salão comprido, sentado atrás da mesa, o jardineiro. Ou seja, o governador. O rapaz ficou branco de surpresa.
- O que é que você quer mesmo ?
Repetiu a história. "Meu pai me mandou pedir um emprego ao senhor".
- E se eu não arranjar o emprego ?
- Então, seu Ribas, fica valendo aquela nossa conversa de hoje de manhã, lá no jardim.
Corrida ao Planalto - Cenário Barriga Cheia
Este consultor se permite produzir ligeiros cenários na direção do Planalto. O primeiro aponta para a Barriga Cheia. Neste cenário, massas confortáveis. Gente satisfeita. Grupos numerosos comemorando avanços do bolso. Sem grandes novidades, mas ambiente denotando segurança e tranquilidade. Neste cenário, o cavalo de Dilma Rousseff corre na frente. O animal, sem aperto na barriga, dispara deixando outros contendores atrás. Dá uma parada aqui e ali para tomar fôlego, beber água no poço, respirar o ar fresco e comer um capinzinho. Lula fica à espera na cocheira de chegada. Ele mesmo é o dono de estupendos estoques de água e capim.
Corrida ao Planalto - Cenário Cuca Quente
O cenário Cuca Quente flagra massas insatisfeitas, intranquilas, inseguras e com o estômago apertado. Pode ser que alguns estratos estampem amplos sorrisos e tranquilidade. Mas a maioria denota inquietude. Não se conforma com o estado geral das coisas : carestia, violência, muita chuva aqui e falta de água acolá, greves, cidades sem controles. Esta ambientação social impulsiona candidatos da oposição. Que simbolizam a mudança de um status quo negativo, feio, ruim, perverso. José Serra levaria vantagem sob esse desenho. A contrariedade social tende a favorecer perfis que simbolizem esperança de melhoria, bem-estar. Ou seja, quando o Produto Nacional Bruto da Felicidade é baixo, expande-se a viabilidade de quem tem condições de soerguê-lo.
Corrida ao Planalto - Cenário Mosaicos Coloridos
No cenário Mosaicos Coloridos, há grupos de todos os calibres e gostos. Há turmas que estão muito satisfeitas com a situação; há núcleos muito revoltados contra o desgoverno, a insegurança, a corrupção; há contingentes que não se conectam à política; há eleitores que agem no calor da hora, sob impulso do momento; há um eleitorado tradicional, fiel, que vota sempre nos nomes apoiados pelas lideranças locais; há uma esfera moderna, antenada nas questões mais filosóficas (portanto, muito racional); e há grupos que mudam de esfera e referências ao sabor das circunstâncias. Nesse cenário, leva a melhor quem tem o maior pincel e a maior carga de tinta para pintar a parede de mosaicos. Geralmente, o tom predominante na parede é de quem domina as maiores estruturas do poder. Tirem suas conclusões.
As chances de Dilma
As chances de Dilma dependerão muito do estado geral de satisfação social. É claro que, em determinado momento, se desenvolverá um processo de distinção entre a cria e o criador. O eleitor vai concluir : Dilma não é Lula. Nesse momento, poderá ocorrer uma ruptura com tendência a certo desligamento. Mas o processo estará também atrelado às atitudes, comportamentos, gestos, palavras da candidata. Qualquer tropeço no meio do caminho arrefecerá suas forças. Contra ela, somam-se fatores como inexperiência, falta de tato político, desenvoltura comunicativa, carência de visão global do país. Se lógica, porém, fosse fator decisivo de campanha, ela teria grandes chances.
As chances de Serra
As chances de José Serra dependerão de sua capacidade de mostrar que os avanços, sob sua presidência, serão mais consistentes e duradouros. Ele tem mais experiência que Dilma. Mas a experiência só funciona como laço eleitoral caso passe pelo efeito demonstração. Ou seja, não adianta apenas ser apresentado como experiente, testado. No caso do pleito federal, urge mostrar e comprovar que as coisas poderão ser melhores. Serra é um perfil que mergulha no poço da racionalidade. Sua peroração é uma aula. Didática, mas monótona. Tem contra ele, portanto, uma pequena vela emotiva. Cuja chama só se acende depois de muitas tentativas.
As chances de Marina
Marina será uma folha verde entre as paisagens vermelha, dos petistas, e azul/amarelo, dos tucanos. Será um símbolo. E pode captar a simpatia de um grupo que certamente ostentará a folha verde na lapela.
As chances de Ciro
Ciro Gomes é a boca que jorra chumbo e fogo. Por isso, terá sempre alguém para ouvir seus tiros. Mas quem atira muito passa a ser temido. Não respeitado. Ciro é um arremedo de Lampião político. Enfeite-se o pindacearense (fusão de Pindamonhangaba e Ceará) com um chapéu de cangaceiro e uma cartucheira cheia de balas para se chegar ao Lampião contemporâneo. Como tal, faz muito barulho no palco.
Aliás...
Aliás, Ciro anda trombeteando : "serei o próximo presidente do Brasil". Meu Deus do céu... quanta lorota ! A não ser que Brasil seja um novo time do Ceará.
Lula na ONU ?
Essa notícia saiu na mídia internacional. Lula estaria com um olho na Secretaria Geral da ONU. Depois de seu périplo no Oriente Médio, onde deitou e rolou nas sugestões e orientações, passei a acreditar que o cara efetivamente poderia se encantar com o cargo. Mas o desmentido veio logo. Lula não quer a coisa. Fiquei imaginando : por quê, por quê? A proposta foi de Sarkozy. Caiu a ficha. O marido de Carla Bruni quer vender os caças franceses ao Brasil. Encheu o peito de Lula de bajulação. Passei a acreditar no desmentido após ler nas entrelinhas : um secretário-geral da ONU sem saber expressar uma frase em inglês ?
Instituto Lula
Por isso, acho mais viável e útil a ideia de Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente : o Instituto Lula. Onde o mandatário de grande popularidade poderá abrigar a agenda, as interlocuções, os eventos etc. E se preparar para as próximas jornadas. Lula está longe de uma aposentadoria. O cara gostou do néctar do poder. Que desceu da garganta para o coração, depois de invadir os neurônios.
"Há só duas coisas que me incutem respeito: o céu estrelado sobre mim e a consciência moral dentro de mim." (Kant)
Gilmar fala duro
Esse presidente do STF fala duro. Não teme expressar opiniões. Inclusive as mais contundentes. Atira para todos os lados. Diz com ênfase : "Constituição não comporta controle de mídia". Depois dessa, aquele grupo que deseja manietar os meios de comunicação só tem uma alternativa : enfiar a viola no saco.
PMDB prepara ideário
O PMDB vai apresentar seu Ideário ao país nas próximas semanas. Trata-se de um Documento onde estarão descritas as Diretrizes para um programa de governo. Na primeira reunião do Grupo, comandada pelo presidente do partido e da Câmara, Michel Temer, as coordenadas foram postas à mesa. Nelson Jobim fez interessante pontuação. Segundo ele, o PMDB tem ministros no governo, mas não está no governo. Relação de Lula com ministros do PMDB : próxima de 10. Relação do PMDB com outros ministros ou com gestão : próxima de zero. Mangabeira Unger apimentou a reunião, dizendo que o Documento não poderia ser uma "coleção de platitudes". Cada membro do Grupo fará suas sugestões e até dia 15 de abril deverá ser produzido um Documento com a consolidação das contribuições.
"Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos porque eram mais folgados para os seus pés". (John Selden, jurista inglês)
Senado peemedebista
As previsões apontam para um PMDB com uma grande bancada de senadores. Das 54 vagas em jogo, este ano, o partido deverá eleger cerca de 20, dos quais 14 a 15 serão senadores reeleitos. O PSDB e o DEM deverão ter bancadas menores, 10 e 8, respectivamente. O PT deverá fazer a segunda maior bancada.
Cabral, o redentor do Rio
Sérgio Cabral foi salvo pelo maremoto do pré-sal. O governador estava sem discurso. Não sabia o que dizer. Fernando Gabeira se preparava para dar um bote na vaga de governador do Rio de Janeiro. E aí apareceu o maremoto, que foi a emenda Ibsen Pinheiro, tirando a grana – R$ 8 bilhões – do Rio. Cabral verteu lágrimas. O público viu. E muitos aplaudiram. "Querem roubar o Rio, querem roubar o Rio". Comandou uma passeata de 80 mil pessoas. Para resgatar a grana do pré-sal e salvar o Rio de Janeiro. Mas essa grana só virá daqui a 5, 6, 7 anos. Pois é. Tudo ficará como dantes no quartel d’Abrantes. Mas Cabral, a esta altura, posa de Redentor do Rio, ao lado de outro Redentor, o Cristo do Corcovado.
"O gênio sem caráter nada vale". (Anatole France)
Arruda joga a toalha ?
José Roberto Arruda jogou a toalha. Sai da vida pública. Deixa o cargo de governador, claro, depois de ser jogado na lama do lago Paranoá. Arruda imagina que seu gesto poderá aliviar a mão da Justiça. Amanhã ou depois de amanhã, quem sabe, ele poderia contornar as curvas da decisão. Pois o Brasil é um país da provisoriedade. Nada, por aqui, é definitivo.
Pegando fogo
A relação entre PMDB e DEM em Santa Catarina está pegando fogo. O DEM deixou o governo comandado por Luiz Henrique.
PACPEL
Mídia alerta : 54% do PAC ainda não saiu do papel. Mais vale a versão do que o fato ?
Segurança privada
Entre 25 e 27 de março, o setor da segurança privada se reunirá no VI FESP – Fórum Empresarial de Segurança Privada do Estado de São Paulo, que será realizado em Itapeva, Minas Gerais. O objetivo do SESVESP (Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo), ao promover este evento, é reunir os empresários do setor para discutir as tendências do mercado de segurança e gestão de empresas. Entre os temas, o cenário político-econômico dos próximos anos e os entraves que afetam o setor. "Precisamos traçar estratégias para combater o crime e nos antecipar ao cenário econômico para manter a nossa atividade, principalmente neste momento em que a clandestinidade mais afeta nosso segmento", enfatiza José Adir Loiola, presidente do Sindicato.
Pacotão de Obama
Obama conseguiu, ufa, a aprovação do pacotão da saúde. Todos os americanos terão, doravante, um programa público de saúde. Sob outro olhar : o Estado americano entra mais forte na vida das pessoas. Conclusão : ocorre, sim, grande mudança de paradigma.
"Quando eu disse ao coração da laranja que dentro dela dormia um laranjal, ele me olhou estupidamente incrédulo". (Hermógenes)
Revisão da agenda tributária
Os constantes problemas operacionais no sistema da Receita Federal levaram o Sescon de São Paulo a solicitar ao órgão a revisão da agenda tributária, a redução das multas aplicadas e a melhor equalização dos prazos. A multa por obrigação que não for entregue no prazo é de R$ 5 mil. "Os atrasos são motivados principalmente por problemas com o sistema da Receita, que muitas vezes se apresenta instável, inoperante ou fora do ar. Devido ao volume de acessos, o site não suporta a demanda e o contribuinte é quem paga pela falha, pois o governo não prorroga prazos e tampouco o isenta das multas", diz José Chapina Alcazar, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo.
Conselho aos tucanos
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos pré-candidatos aos governos dos Estados. Hoje, volta sua atenção aos tucanos:
1. Arrumem, logo, logo, um discurso denso para que Serra tenha o que dizer nas próximas semanas, quando deverá iniciar o longo percurso.
2. Procurem evitar platitudes, generalidades e abstrações. Sob a indagação central: qual o programa para o país? Como e onde avançar?
3. Procurem mobilizar a sociedade organizada na busca dos focos de ação e atuação. Muito cuidado com as ideias de gaveta.
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