Tamanho da prole
José de Almeida, contador do BB em Barreiras/BA, realizava o cadastro da agência. Chega Heroíno Pita, fazendeiro na região. Passou a responder o longo formulário : nome, idade, propriedade, renda anual, dívidas, etc.
- Sr. Heroíno, quantos filhos o senhor tem ?
- 8 filhos.
- O senhor tem uma prole grande.
Heroíno sorriu, fez um gesto cúmplice (na verdade confundira o conceito) :
- Não, senhor. É normal.
"Quatro freis"
Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história. E lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na Paraíba. Dentro, dois frades : Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto ao "padim" Ciço (Padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro :
- Esse carro disimbestado não tem frei ?
Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo : disimbestado e frei (em vez de freio). Resposta lacônica na ponta da língua :
-Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro : frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião.
Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela.
Redes sociais na campanha
A campanha eleitoral deste ano será a mais avançada da história em matéria de tecnologia da comunicação. As redes sociais, abrigadas na Internet, funcionarão a todo vapor. Teremos sites, blogs e twitter trabalhando de maneira direta e indireta por candidatos. Para disfarçar a abordagem de propaganda, twitteiros usarão o recurso da rede para informar fatos, expor notas e destaques sobre perfis preferenciais. Os candidatos serão apresentados de maneira coloquial, de forma a gerar bolsões de simpatia nos segmentos laçados pelas redes.
Apóstolos da opinião
Há um grupo poderoso nas novas mídias. É composto por formadores de opinião : jornalistas, publicitários, animadores culturais, artistas, professores e núcleos de profissionais liberais. Os setores que integram esse contingente serão instados a apoiar os fulanos, sicranos e beltranos. Vai ser interessante. Teremos uma comunicação mais horizontal, menos vertical e mais democrática. O Brasil frequenta o ranking dos principais usuários da Internet mundial.
Lema
Chagas Freitas, político matreiro, ex-governador da Guanabara e, depois, do Rio de Janeiro, tinha um precioso mosaico português, com a frase que era seu lema : "Não peço a Deus que me dê mas que me ponha onde haja."
Pós-lulismo
Ganhe Dilma ou Serra (se este for o candidato), a verdade é que o país abrirá novos horizontes políticos após o ciclo Lula. Não teremos um lulismo sob Dilma, por exemplo. Porque Lula tem identidade sui generis. Populista, comunicador, de origem popular e inserção fortíssima na moldura dos governantes mundiais. Dilma é uma identidade técnica. Por mais que amenize a linguagem, a ficha técnica estará impressa na sua figura. Serra é também um governante de talhe técnico. Sabe usar a expressão política, mas é um quadro que exprime especialização. Os perfis apresentam certa semelhança. Deles se pode esperar distanciamento das massas, diferente de Lula.
Dilma crescerá ?
Sim. Dilma (que no nordeste, pela semelhança fonética já passa a ser chamada de "Dilma do Chefe") deverá chegar aos 30% em março/abril, portanto antes da campanha ser encetada. Ou seja, ela entrará na arena para disputar em iguais condições ao adversário. Não se pense que ela é um poste. Com essa margem, pisará forte no acelerador. A questão é saber se Serra segurará seu índice ou não. Vamos analisar as hipóteses.
O furacão do sudeste
O sudeste tem mais de 50% dos votos do país. Só São Paulo tem 30 milhões de eleitores. Minas soma quase 14 milhões. E o Rio, mais de 10 milhões. Pois bem, se o governador paulista conquistar nesses três Estados uma maioria de 5 a 6 milhões de votos, terá condições de diminuir a onda lulista no nordeste. O nordeste irá de Lula/Dilma. O governismo leva o voto da ampla maioria. Hoje, José Serra poderá, até, mostrar competitividade em alguns Estados. Na hora do palanque, o discurso do governismo será mais ouvido.
"As tempestades só aterram os fracos; os fortes enrijam-se contra elas e fitam o trovão." (Machado de Assis)
Quem ganha eleição
Quem ganha eleição é barriga cheia e bolso com grana. Não é voto de protesto ou de indignação. Esse voto está incrustado em segmentos isolados. Já o voto da satisfação – que está por trás da questão da sobrevivência do ser humano – é quem influencia o sistema cognitivo. Vamos às imagens. Os nossos ancestrais disputavam a presa. Cada um puxava um pedaço do bicho para devorar. Ora, se esses pedaços chegam de forma facilitada à boca, a tendência do animal (racional, irracional) é aceitar a situação e agradecer aos patrocinadores. Questão de sobrevivência da espécie. É a economia, estúpido, já dizia James Carville, marqueteiro de Clinton nos anos 90. Economia que bate, primeiro, no estômago.
Os pacotes do Serra
José Serra começa a agir como supridor de carências das massas. Depois de apertar os parafusos da máquina, tapar os buracos do saco sem fundo de impostos sonegados, elevar a carga tributária do Estado em setores como alimentos e bebidas, o governador dá ordem para a descontração do sistema. Fluxo e refluxo. Sístole e diástole. Descompressão depois de muita pressão. Serra era execrado por alguns setores produtivos. O cara tirava sangue das empresas. Nos últimos dias, aliviou a carga, diminuindo as alíquotas do ICMS para um conjunto de setores. Aprende com Lula.
Saco de bondades
O saco de bondades de Lula é o maior de todos os que os Papais Noéis já conseguiram carregar pelas estradas e ruas deste tropical país. O saco de bondades de Luiz Inácio, o providencial, será o maior eleitor do pleito de outubro. A conferir !
"Para parecer um homem honesto, é preciso sê-lo." (Nicolas Boileau)
O comando da ministra
A campanha de Dilma já tem comando : Gilberto Carvalho, Franklin Martins, João Santana, Fernando Pimentel e Ricardo Berzoini. Claro, sob as ordens gerais de Luiz Inácio, o todo poderoso. Gilberto ficará com a miudeza das coisas caseiras; Martins, com a orientação geral do discurso; Santana dará as dicas para abordagens de marketing, formas de apresentação na mídia e nos palanques; Pimentel, na área de programas e escudo social e Berzoini ficará com a missão de aplainar as arestas nas frentes partidárias. Por enquanto.
E Zé Dirceu, hein ?
Zé Dirceu continuará a fazer o que já faz há tempos : articulação. Espécie de embaixador sem pasta, mas com imenso poder de influenciar e arrumar parceiros. Não deverá aparecer muito para não sujar a imagem da ministra com o manto do mensalão. Age e agirá nos bastidores. Com grande poder.
Salve-se quem puder
Os comentários em círculos muito qualificados abrigam esta hipótese : seja quem for o vitorioso – Dilma ou Serra – em 2011 o Brasil começará a pagar contas do ciclo da gastança. Ninguém segurará a barra. As coisas explodirão. A imagem do próximo governante irá para o beleléu. Ficará refém de uma agenda negativa por longos quatro anos. E, aí, no cenário devastado, emergirá impávido e fagueiro, Ele, Luiz Inácio, o salvador da pátria. Para dizer ao povo : "estou aqui para dar continuidade aos dias de ontem".
Instituto Lula
Nesse ínterim, dom Luiz correrá o mundo – que já conhece – cumprimentando velhos amigos, tomando os melhores drinques, degustando os melhores acepipes e voando na maior das alturas. Sob as asas do Instituto Lula, que agenciará palestras e encontros. Esse filme é conhecido.
Caças Rafale
Lula já escolheu os caças Rafale, franceses, para compor a nossa frota aérea de defesa. Esses aviões custam o dobro dos caças Gripen, da Suécia. E ninguém os comprou até o momento, com exceção do governo francês. O Brasil teve da França a promessa de que, com sua ajuda, terá um assento no Conselho de Segurança da ONU. Mas esse assento não depende apenas da França. Quanto custa ? Ah, isso não é problema.
Terceirização
O ministro Carlos Lupi é um sujeito simpático e acolhedor. Não gosta de dizer não. Pode ser este o motivo pelo qual o ministro acolheu um draconiano projeto para regular a terceirização no país. Trata-se de um verdadeiro atentado ao bom senso. Mas o ministro acha que devia avançar o sinal, sob pena de a temática cair no esquecimento. Os setores terceirizados defendem o Projeto 4302/98, que está na pauta de votação, depois de ter passado por todas as comissões. Trata-se de um projeto que contempla trabalhadores e empresários. Por que, então, voltar à estaca zero e começar com um projeto esdrúxulo ?
Centrais mandam
Porque as Centrais Sindicais assim o exigem. As relações trabalhistas no Brasil estão engessadas, não se modernizam, porque as Centrais Sindicais – que vivem hoje de eventos – ameaçam invadir o Congresso com suas caravanas de propaganda. Se um parlamentar é contra qualquer projeto de interesse das Centrais é considerado um inimigo público. Os empresários – essa é a verdade – são divididos em compartimentos, não têm unidade e têm vergonha da mobilização das categorias. Levam goleada das Centrais.
Negociação
Mas o diálogo será sempre o caminho mais eficaz para se chegar a uma base mínima de consenso. Este consultor espera que exista bom senso por parte das Centrais Sindicais no momento de discussão do projeto da terceirização. O presidente da Câmara, Michel Temer, tem feito grande esforço para as partes chegarem a um razoável acordo.
Vander Morales
Tomou posse como presidente do Sindeprestem o empresário Vander Morales. Simboliza o espírito de união de sua categoria. Mostra-se disposto a levar adiante uma jornada em prol da terceirização, que o Sindeprestem lidera desde os idos de 1988, quando havia ameaça de se proibir a atividade no Brasil. Michel Temer, com um parecer do seu amigo e grande advogado, Geraldo Ataliba, fez a defesa do setor. De lá para cá, a economia passou a receber forte apoio dos nichos especializados da terceirização. Mas a falta de legislação deixa o setor nas mãos de uma interpretação enviesada e confusa por parte de juízes e do Ministério Público do Trabalho. Os obstáculos ao desenvolvimento do setor sinalizam a visão ultrapassada de áreas que não querem atrelar o Brasil ao futuro.
Conselho ao presidente Lula
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador Sérgio Cabral. Hoje, volta sua atenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva :
1. Procure administrar a polêmica em torno do famigerado projeto dos Direitos Humanos antes que as discussões contaminem a sociedade civil criando pontos de tensão e conflitos.
2. Nem lá nem cá. Esta deve ser a medida adequada para se chegar a bom termo. Ou seja, o projeto deve abrigar, sobretudo, bom senso.
3. Os principais setores envolvidos na polêmica devem ser ouvidos. Examinadas as visões e ponderações, é possível se chegar a um documento que contemple a todos, sem ranços de revanchismo.
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