Francisco Petros*
Acontecimentos inesperados?
“Há muitas coisas que gostaríamos de jogar fora se não tivéssemos medo que os outros fossem apanhá-las” (Oscar Wilde)
Do meu ponto de vista, a brutalidade do assassinato da Irmã Dorothy Stang, a eleição de Severino Cavalcanti e a vitória do Volta Redonda na disputa da Taça Guanabara, podem ser fatos inesperados, mas absolutamente pressentidos. Há nestes fatos casualidade em sintonia quase que perfeita com os seus efeitos. Nada de novo no front.
Cito fatos recentes apenas para sublinhar que esses indicavam que algo ruim podia acontecer imediatamente, por aqueles dias. Não precisamos relembrar Chico Mendes para retratar a fatalidade, não é mesmo?
Da mesma forma, o que poderíamos esperar da eleição da Câmara dos Deputados? Nas semanas anteriores ao pleito, viu-se um show de promessas irresponsáveis, a pregação de programas de gestão absolutamente descomprometidos com os maiores interesses do país, a interferência aberta do Poder Executivo com o objetivo de eleger o seu candidato, a tentativa de acordos políticos recheada de arranjos regionais e interesses específicos, um espetáculo gritante de infidelidade partidária e o jogo de forças com vistas às eleições presidenciais do ano que vem. Havia tentativas de toda ordem para obter o poder sem qualquer compromisso maior com os interesses maiores da sociedade brasileira. Ora, neste contexto, nada mais fiel a natureza do processo eleitoral que o Deputado Cavalcanti. Se ele é tosco como informam quase todas as fontes da mídia, o que dizer do processo que o elegeu? O que dizer do sistema político-partidário do Brasil? O que dizer da responsabilidade das lideranças governistas e oposicionistas que possibilitaram e viabilizaram a sua eleição?
Acho que não deveríamos chegar ao extremo cinismo de concluir que se chegou à eleição de Cavalcanti sem causa. Tudo foi absolutamente conseqüente. Não foi um milagre – fato que ocorre sem causa aparente. A eleição da terceira autoridade da República foi erigida por uma construção voluntária dentro do processo político que vigora no Brasil. Não há ambigüidade, nem fatalidade em tudo isso. Ou será que aqueles que o elegeram estavam guiados por um sentido de Justiça e acabaram construindo uma grande “injustiça” com o povo brasileiro? Viu-se uma disputa entre girondinos e jacobinos? Ora, ora...
Severino Cavalcanti pode gerar inquietações. O assassinato de Irmã Dorothy pode nos deixar boquiabertos pela sua brutalidade. Todavia, ambos os fatos percorreram os caminhos dos vácuos que impõem velocidade crescente as desesperanças do país. Pelo menos aos que se ressentem com estes acontecimentos.
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* Economista e pós-graduado em Finanças. Foi Vice-Presidente e Presidente (1999-2002) da APIMEC – Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais (São Paulo).
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