Lula "nomeou" Meirelles para o PMDB
Foi o presidente da República quem "indicou" Henrique Meirelles, um político em busca de legenda e votos, para o PMDB de Goiás. Meirelles estava quase acertado com o PP do governador goiano quando Lula interferiu para levar Meirelles a trocar de camisa antes mesmo de vesti-la. O PP também é da aliança governista. Portanto, do ponto de vista formal tanto fazia uma ou outra opção. Mas Lula tem outros objetivos :
1. Precisa reforçar a ala lulista do PMDB, uma vez que a ala serrista está mostrando muita desenvoltura e entre os aliados presidenciais começam a aparecer algumas vacilações depois que Dilma passou a derrapar nas pesquisas.
2. Uma de suas obsessões em 2010 é derrotar o senador tucano Marcone Perillo na disputa pelo governo de Goiás. Perillo, por ocasião do episódio do mensalão, quando Lula já havia abraçado a teoria jurídica (depois bordão oficial) do ministro Marcio Tomaz Bastos do "eu não sabia", disse mais de uma vez que o presidente "não sabia o que estava ocorrendo em seu quintal". Acredita-se que uma chapa com Íris Rezende (ex-governador, atual prefeito de Goiânia) para governador e Meirelles para o Senado, com apoio do PT, seria imbatível.
3. Lula precisa de mais opções de prestígio no PMDB para escolher o vice de Dilma no partido. Meirelles pode ser especialmente útil no caso de um algum sacolejo na economia ou no caso de os pequenos temores hoje já existentes no mercado a respeito das posições econômicas menos ortodoxas de sua preferida cresçam e comece a surgir no cenário um "risco Dilma". Meirelles seria o aval de que nada na economia mudará. Pelo menos "visualmente".
Pergunta inocente
Meirelles se filia ao PMDB, entra em campanha, e continua comandando a política monetária num momento em que o governo puxa por mais gastos e os fundamentos aconselham um pouco mais de austeridade e menos gastos com a máquina administrativa e com a folha de pagamentos ?
Noivado antecipado
Lula dará ao PMDB o acordo pré-nupcial que seus aliados no partido estão pedindo, entre as cláusulas a declaração formal de que o vice será da legenda aliada. Não indicará o nome agora, porém, se reserva para indicá-lo em outra ocasião e de acordo com as injunções do momento. Por isso, a inscrição de Meirelles no PMDB de Goiás, por decisão de Lula está causando tantos ciúmes no partido. A realização do matrimônio, no entanto, vai depender do comportamento dos irmãos da noiva e do noivo nos Estados. Se alguns insistirem em tomar conta da festa, vai dar briga. E quem vai ter de ceder mais é o PT. Em Minas, por exemplo, a ruptura pode ocorrer a qualquer momento. O ministro Hélio Costa, líder nas pesquisas, parece que se cansou de esperar gestos de boa vontade dos petistas. Costa anda entusiasmado com os afagos de Aécio.
Tudo por um vice
Agora que começou a ficar mais bem situado nas pesquisas, o deputado Ciro Gomes voltou a ficar saidinho. Foi nesse estado de espírito, quando começa a se considerar superior a tudo e a todos, que Ciro "escorregou" duas vezes em outras corridas presidenciais. Pelas últimas entrevistas, parece que não aprendeu muita coisa. Ciro já está à procura de parceiros, para aumentar seu tempo de propaganda no rádio e na televisão. Seus operadores admitem até oferecer a candidatura a vice ao presidente licenciado do PDT e ministro do trabalho, Carlos Lupi. Estranha esta postura de Ciro o qual fala em "hegemonia ética" e critica o tipo de relação que Lula e o PMDB estão estabelecendo.
Ela já está incomodando
O PT e seus aliados e a oposição já começaram a perder a "ternura" com que inicialmente receberam na corrida eleitoral a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Conversa fiada
Não paguem pelo valor de face afirmações como princípios programáticos, identidade de objetivos, co-gestão estatal e outras balelas sacadas pelos líderes partidários para edulcorar as alianças que estão sendo montadas, tanto no nível federal quanto no nível estadual com vistas às eleições de 2010. A verdadeira moeda de troca é uma só : o tempo eleitoral no rádio e na televisão a ser compensado com cargos na máquina pública. O resto é paisagem.
E a fidelidade partidária ?
A intensa a troca de partidos nessas últimas semanas. O movimento é em todas as legendas, por isso mesmo ninguém quer recorrer à Justiça Eleitoral para reaver eventuais mantas dos trânsfugas. E depois querem ser levados a sério.
Nada de novo no front
Houve uma pequena "realização de lucros" nas cotações dos ativos de renda fixa e variável no mercado internacional. Nada que possa alterar a visão positiva em relação ao cenário de recuperação que está se desfraldando em todas as principais economias, bem como na maioria dos setores e segmentos. A demanda agregada mundial está se expandindo da excepcional crise que vivemos desde meados do ano passado. Obviamente, processos de recuperação são cheios de altos e baixos, bem como o fato da elevação da atividade econômica normalmente ser muito mais lenta que a sua queda, sobretudo nas crises. Portanto, a recuperação demorará anos e não meses. Todavia, não se pode negar que o atual momento é benigno e a melhora dos mercados é justificada, a despeito dos riscos consideráveis presentes no cenário. Em relação às últimas semanas não há novidades relevantes capazes de influenciar os investidores. Uma pausa bem vinda no processo de alta.
BC manda seu recado
A divulgação do Relatório de Inflação do terceiro trimestre do ano por parte do Banco Central do Brasil não trouxe novidades no que tange às informações, mas de certa forma surpreendeu no que se refere ao tom. Ficou evidente a preocupação da autoridade monetária com a combinação dos elevados gastos do governo e a expansão da demanda. Basicamente, o que o BC está prognosticando é que quando a demanda privada crescer mais esta se somará a demanda pública (que já é elevada) e, assim, os riscos para a inflação crescerão. O BC não antecipa, mas o que está a dizer é que o freio para inflação é a elevação da taxa básica de juros. Não devemos esquecer que no início de 2010, o presidente do BC Henrique Meirelles deverá sair da presidência e iniciar a sua carreira política. A expectativa de elevação da inflação e as modificações esperadas no BC são problemas significativos para a política econômica no ano eleitoral. O sinal está amarelo. Bem amarelo.
Eleição em primeiro lugar
Saem esta semana os resultados das contas do governo federal no mês de agosto, despesas e receitas e despesas do mês passado mais os resultados do BC. Alguns artifícios contábeis deverão ser usados para pintar as coisas menos difíceis do que estão. Não há risco de ampliação – nem de manutenção – da antiga austeridade fiscal em conturbados tempos de urna. Pelo contrário: quem gritar "quero mais !", leva.
Teste de prestígio
Tomou posse o novo ministro das Relações Institucionais, uma burocrata de segundo escalão escolhido para substituir José Múcio, brindado com uma vaga no TCU por serviços prestados. A opção de Lula foi uma solução para não reabrir uma briga entre o PT e o PMDB pelo cargo no momento em que os dois partidos tentam uma aliança pré-nupcial em torno de Dilma. O teste do novo ministro virá esta semana : liberar pelos menos R$ 1 bilhão das verbas das emendas dos parlamentares, já prometida há um mês pelo ministro Paulo Bernardo e que Múcio não conseguiu assegurar. Tanto na agenda da Câmara quanto na do Senado há projetos previstos para serem votados bem ao gosto daqueles que gostam de dar o troco e mandar recados para o Planalto. Se falhar, o burocrata perderá de cara qualquer condição de comandar a base aliada no Congresso.
G-20 : o papo continua
Foram três os principais assuntos discutidos pelo G-20 em Pittsburgh nos EUA: 1 - coordenação das políticas econômicas para manter a demanda mundial em um tom crescente; 2 - a regulação mais efetiva e restritiva do sistema financeiro e 3 - a redução dos subsídios governamentais, sobretudo dos países europeus para o setor agrícola. Vejamos os resultados (além da maquiagem das declarações oficiais) : 1 - há certamente certa coordenação das políticas econômicas dentre os países do G-20. Todavia, na ausência de sanções (enforcement) para quem não cumprir a sua parte é difícil acreditarmos que esta coordenação será crível ao longo do tempo. E credibilidade é fator essencial para os agentes econômicos; 2 - a regulação do sistema financeiro depende em larga medida de medidas domésticas para funcionar. Nenhum país está disposto a submeter os seus sistemas financeiros às regras internacionais, sobretudo quando se referem às regras para concessão de crédito, contabilização de ativos e passivos e regras para premiação de executivos (bônus). Portanto, há pouca esperança de que esta regulação funcione e 3 - nenhum país rico abdica do direito (e do interesse) em proteger o seu setor agrícola. Os países mais pobres ficam sem acesso aos mercados para vender suas commodities. Como se vê estes encontros de cúpula são importantes para sentir a temperatura da crise, mas nos parecem pouco efetivas para resolver problemas.
Questão de timing
Escreveu o "Estadão" :
"Só no fim de 2012 a nova ordem deverá vigorar de forma completa. Além disso, ficou para o fim do próximo ano o acordo sobre as novas normas de segurança dos bancos – regras de capitalização, limites de operação e critérios de gestão de riscos. Também levará três anos a reforma do perigoso mercado de derivativos, onde indivíduos, empresas e instituições financeiras arriscaram e perderam bilhões num jogo obscuro e sem lei."
Será que, até tudo sugerido pelo G-20 entrar em vigor, dará tempo para evitar a construção de um novo desastre, de vez que a euforia já está a toda velocidade nos lugares de sempre e a "criatividade" dos financistas está novamente em plena efervescência ?
Questão de vontade
A entrada em vigor das "recomendações" do G-20 vai depender das decisões individuais e soberanas de cada governo. A valer a amostra do nível de obediência geral à orientação do Grupo na primeira reunião do G-8 "ampliado" a respeito do protecionismo nada importante do encontro nos Estados Unidos vai prevalecer de fato.
E o FMI ?
Há um detalhe incrível a ser observado nos encontros do G-20. O FMI, desmoralizado nos últimos anos em função de seus diagnósticos irrelevantes e suas recomendações equivocadas, vai ganhando força de novo. Além de receber recursos dos países do G-20 para voltar a atuar, O FMI é o organismo responsável pela análise da "coordenação" das políticas econômicas. Uma espécie de "supervisor" sem poder de coerção. Nada se fala das reformas recomendadas para os organismos internacionais. Tudo continua na mesma.
Radar "NA REAL"
Assim como nas últimas semanas, não estamos procedendo nenhuma alteração no que se refere às recomendações contidas no nosso radar. Continuamos acreditando na estabilidade dos diversos segmentos do mercado financeiro mundial. Eventuais quedas das cotações dos ativos de renda fixa, das ações e das commodities devem ser entendidas como "normais". O cenário é benigno e para que haja alteração da tendência positiva, somente novos (e relevantes) fatos têm de surgir. Por fim, no Brasil continuamos recomendando distância da compra dos títulos prefixados (e do mercado futuro de juros) com prazo além de doze meses. A inflação é risco relevante conforme comentamos em nota acima.
25/9/9 |
(1) – Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) – Em relação ao dólar norte-americano
NA – Não aplicável
Honduras é detalhe
De fato, o papel do Brasil nesta crise com Honduras necessita ser esclarecida. Embora o governo esteja com a premissa política absolutamente correta no caso (defesa da legitimidade do governo deposto de Manuel Zelaya), o aparecimento inesperado do presidente deposto entre os muros da embaixada em Tegucigalpa é um mistério. O apoio brasileiro ao presidente deposto merece reparos sob todos os aspectos. Este aguça divisões entre os países do continente e deixa evidentes as contradições da diplomacia brasileira, sobretudo no que se refere à ditadura cubana e ao regime bolivariano de Hugo Chávez. Muito barulho por nada. Ou por Honduras...
Enquanto isto, o Irã
No momento em que gastamos tempo político com Honduras, as novas revelações relacionadas ao desenvolvimento do potencial bélico atômico do Irã mostram que o posicionamento diplomático do Brasil no caso é muito mais problemático e merece mais atenção da mídia e dos analistas. Alguém tem dúvida de que o Irã é uma ameaça à estabilidade do Oriente Médio e do Mundo ? Alguém de bom senso pode apoiar as declarações de Mahmoud Ahmadinejad ? A aproximação do Brasil com o Irã é uma questão muito relevante na política externa brasileira, não apenas em função dos riscos à imagem do país, mas também devido à aproximação da vizinha Venezuela com o Irã. Pois é : Chávez é apoio certo aos discursos de Mahmoud Ahmadinejad.
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