Francisco Petros*
Previsões para 2005
No início deste ano, os principais economistas do mercado financeiro, participantes da Pesquisa Focus do Banco Central do Brasil (BC) previam que a inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo) iria ser da ordem de 6% em 2004. Na realidade este indicador deve ser entre 7,4% e 7,6%. A taxa de câmbio (real versus dólar dos EUA) esperada para o final de ano era de R$ 3,10. Deve fechar o ano ao redor de R$ 2,80. Um erro de previsão cerca de 10%. A taxa de juros básica (Selic) estava prevista para fechar ao ano ao redor de 13,5% e com tendência de declínio. Nesta semana o BC deve elevar esta taxa para 17,75% ao ano e deve continuar subindo no início de 2005. A previsão neste caso estava completamente equivocada, seja numericamente seja qualitativamente. A previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) era de 3,6% em 2004. O crescimento deve ser de pouco mais de 5,0%. No que se refere ao indicador da relação de dívida líquida do setor público / PIB a previsão era de 56% ao final de 2004. Deve ser de 53%. A previsão para a balança comercial deste ano era de um resultado de US$ 20 bilhões. Deve ser de US$ 33 bilhões, 65% superior ao estimado pelos economistas do “mercado”. O mesmo ocorreu na previsão do saldo de transações correntes (que também decorre do resultado da balança comercial): a previsão era de um déficit de US$ 2,6 bilhões. Devemos fechar o ano com um superávit de quase US$ 11 bilhões! Bem, houve um indicador cujas projeções foram quase certeiras: o superávit primário deve gravitar ao redor de 4,5% do PIB. Ufa! Que bom! Acertaram!
Se alguém pensa que a atividade de elaborar previsões é tão ingrata somente no Brasil pode retirar esta impressão da cabeça. Trata-se de uma atividade ingrata universalmente. Os wall streeters erram tanto ou mais que os economistas nativos. E os efeitos destas previsões são muito mais significativos em função da importância que estes têm na formação do sistema de preços da economia global.
A despeito desta constatação não devemos desprezar as previsões sobre as principais estatísticas. Ao contrário: é preciso levá-las com seriedade, mas agregar um ingrediente muito importante a estas: o “espírito crítico” que permite que ao lado de números objetivos seja acrescentado um rigoroso acompanhamento das tendências. Estas últimas permitem que se “normalize” a precisão dos números e indicadores. Por exemplo: é uma tarefa hercúlea se fazer previsão sobre o déficit fiscal dos EUA. Há vários fatores que podem determinar de forma exógena um maior ou menor déficit fiscal. O principal dentre estes fatores é o dispêndio com o aparato militar utilizado para a manutenção da segurança interna e externa do país. Ora, neste caso, a pergunta a se fazer é: há alguma evidência de que as tensões geopolíticas irão se reduzir em 2005? Acredito que a resposta correta seja “não”. Se os leitores tiverem a mesma opinião e considerando-se as variáveis “normais” do ciclo econômico mundial (em termos de crescimento, etc.) não há nenhuma evidência de que o déficit de aproximadamente 6% do PIB seja reduzido. De outro lado, este pode até crescer no ano que vem... Trata-se apenas de uma especulação provida de alguma racionalidade.
Observadas as principais variáveis que podem influenciar o andamento da economia mundial em 2005 (déficit fiscal e externo dos EUA, a cotação do petróleo, a relação entre as principais moedas internacionais, as tensões geopolíticas no Oriente Médio e na Coréia do Norte) verificamos que as “tendências” destas variáveis estão, no que tange a sua previsibilidade, muito opacas. Não é nem um pouco óbvio que o ano será necessariamente bom. Também não é possível ser categórico e dizer que ele será ruim. Há muito que se pesar na análise de cada um dos principais pontos que estão a influenciar o dia-a-dia das cotações dos ativos e dos contratos.
Se os leitores estiverem de acordo comigo – e é provável que muitos não estejam – a melhor postura em relação às estratégias de investimentos, seja nas carteiras de aplicações, seja nos investimentos corporativos, é a de ter cautela. Isso significa que os investidores têm de ser pacientes em relação ao timing de suas decisões, bem como prudentes em relação à magnitude dos esforços financeiro e humano que empenharão para a realização de seus objetivos.
É relativamente incomum que se recomende cautela quando se trata de estratégias financeiras e corporativas. Afinal de contas, é preciso reconhecer que em certas circunstâncias a capacidade de se elaborar previsões e estimativas é diminuta. Parece-me que seja o caso do ano de 2005. Não me arrisco ainda em tentar prevê-lo. Prefiro ler as previsões que estão à solta por aí.
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* Economista e pós-graduado em Finanças. Foi Vice-Presidente e Presidente (1999-2002) da APIMEC – Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais (São Paulo).
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