Além da festa de posse
Obama arrecadou US$ 27,3 milhões para financiar a festa pública de sua posse. Cerca de US$ 5,7 milhões foram doados por executivos de Wall Street. O custo total da inauguração do 44º Presidente dos EUA chegará a algo como US$ 50 milhões, sendo que US$ 10 milhões serão provenientes do Tesouro americano. Nada mais significativo que os maiores doadores sejam os homens de colarinho branco da capital financeira mundial. Os bancos norte-americanos estão em frangalhos, mas a maioria de seus executivos está com os bolsos lotados, fruto de seus (imerecidos) bônus e salários. O Citibank tem um valor de mercado de US$ 25 bilhões, menor que os dois maiores bancos privados brasileiros. A crise que vivemos nasceu ali, em Wall Street, e se espalhou pelo mundo. Não há razão para festa, esta é a simples e dolorosa verdade. Obama está a liderar um Império doente e que perdeu muito de sua credibilidade. O idealismo Wilsoniano, há muito morto, e Franklin D. Roosevelt é hoje mais uma referência histórica. Mesmo que muitos ideólogos desejem resgatá-lo das cinzas do tempo. Os EUA hoje têm como maior país financiador de sua dívida a China Comunista. Sua dependência do mundo é constrangedora para uma nação que deveria liderá-lo. Obama representa um novo momento. Resta saber se ele estará à altura de sua própria imagem. Chega como herói, mas ainda não fez nada de heróico, embora a sua campanha presidencial seja revestida de grande valor em termos de crença, persistência e percepção. Vale a pena ligar a TV e assistir à posse do novo presidente. De ícones também se vive. Todavia, não levemos muito a sério as aparências. O teste de Obama será no campo de ação. O resto é festa (financiada pelos wall streeters).
Do not tell me just show me
Não é possível e nem é importante que tenhamos uma opinião sobre Barack Obama. Como escrevemos na semana passada, a hora é política e na política as expectativas se formam após os fatos. Não há fatos nascidos de Obama, mas estes existirão em breve. Observe-os e analise-os com enorme atenção. O destino do mundo depende muito deles.
Juros : BC está atrasado
No mercado financeiro internacional, diz-se que o Banco Central está behind the curve quando erra na projeção da atividade econômica e inflação. Ou seja, quando a taxa de juros está desequilibrada para baixo ou para cima em relação a tais projeções. Pois bem : podemos ser categóricos e afirmar que o BC brasileiro está behind the curve neste momento. E não é apenas em função da deflação mostrada pelo IGP-10 na semana passada (-0,85%). Há sinais muito evidentes de desaceleração econômica em todos os setores relevantes da economia brasileira. Nada justifica o atual patamar da taxa de juros e os seus respectivos gastos fiscais com o pagamento da dívida pública. Portanto, do ponto de vista conjuntural, haveremos de ver uma redução da taxa básica na reunião desta semana do COPOM. O mercado aposta numa redução de 0,75%. É possível (mesmo que não seja provável) que esta redução possa ser até de 1%. Já do ponto de vista estrutural seria extremamente interessante que tivéssemos uma análise do Congresso sobre a política monetária. Há tempos há razões justificadas para se crer que a taxa de juros básica no Brasil tem um "viés de alta". O COPOM é um órgão de decisões unânimes e os seus modelos analíticos deveriam ser mais conhecidos pelos políticos que o fiscalizam. É improvável que o Congresso se ocupe disto neste momento, mas seria essencial que ocorresse.
México: o exemplo a ser seguido
A importância relativa da economia norte-americana para o México é muito superior ao que acontece no caso do Brasil. Todavia, os fatos são os mesmos. Vamos ver o que foi publicado pelo BC Mexicano sobre a redução da taxa de juros básica de 9,25% para 8,75% ao ano : "a queda forte na demanda agregada e do emprego nos EUA está tendo um impacto muito negativo na atividade econômica no México". Não vale para o Brasil ?
Bombardeio amigo
Voltou a ferver na Esplanada dos Ministérios o óleo aquecido pelo mundo político do governo para fritar o presidente do BC, Henrique Meirelles. Veja-se a ampla reportagem de capa da revista "Carta Capital" anunciando a saída de Meirelles até abril, para disputar um cargo político em Goiás. Ninguém desconhece que Meirelles tem ambições políticas em seu Estado natal – e até mais altas, se o mundo girar a seu favor -, porém não deve sair agora. Apenas em fins de setembro, início de outubro, quando deverá se filiar a algum partido para poder concorrer em 2010. Lula também não deixaria seu auxiliar ir embora agora, por causa dos riscos de uma reação negativa do mercado financeiro. O que não significa que Lula esteja muito feliz com o BC de Meirelles. Ele pode vir a ser o bode expiatório da vez, se a situação interna se deteriorar ainda mais.
A hora e a vez de Mantega
O pêndulo da Esplanada dos Ministérios voltou a se inclinar para os lados do Ministério da Fazenda em sua eterna disputa com o BC pela direção da política econômica. Lula deposita agora sua confiança em Mantega no que diz respeito às propostas para conter os efeitos da crise. E o ministro da Fazenda está tão tranqüilo, tão seguro, que até tirou um período de férias para descansar em Fernando de Noronha, longe das atribulações da economia real. Exatamente numa semana em que, entre outras coisas, tivemos um aumento das demissões nas empresas e o anúncio do cancelamento de um investimento de US$ 5,5 bilhões no ES, em parceria com a chinesa Baosteel. Nada como viver num país blindado !
O desemprego e as reações do governo
Não é ilegítimo que o governo use mecanismos para reduzir os impactos da diminuição acentuada da atividade econômica sobre o emprego. Ao contrário, é dever do governante se ocupar desta tarefa. De outro lado, é lamentável que isto seja feito de modo tão populista (via ministro do Trabalho). Chega a ser até ingênuo (na falta de outra palavra) que se possa acreditar que por meio de ameaças de corte nos programas de suprimento de recursos públicos para o setor privado se aliviará o ciclo econômico. Ao contrário : estas ameaças podem estimular a que, no curto prazo, o setor privado se antecipe às possíveis medidas de retaliação governamental e desempregue ainda mais. O que falta mesmo ao país é um plano abrangente e "amarrado" para conter a crise. Na linha do que está sendo feito na Europa e nos EUA. Até agora as medidas são pontuais e o seu custo é, ademais, desconhecido.
Estilo Lula
O ministro Carlos Lupi comporta-se como um dirigente partidário ; parece mais um líder sindical do que um ministro da Estado quando faz advertências desse tipo às empresas. Lula sabe como as coisas funcionam no setor, mas parece se divertir por detrás das paredes ao ver seu ministro espargindo ameaças. Este é o estilo de Lula : usar auxiliares para dizerem coisas, mandarem recados que não podem sair da boca de um presidente da República. Para ficarmos apenas em dois exemplos. É difícil acreditar que Lupi diga as asneiras que anda dizendo, sem repreensões, por livre e espontânea vontade. Ou que Marco Aurélio Garcia expila as opiniões diplomáticas que vem expelindo de moto próprio. O poder tem sempre os seus bonecos de ventríloquos. Lula aperfeiçoou os métodos.
Sindicatos : a hora do teste
Figurinhas carimbadas do sindicalismo brasileiro, tais como o presidente da Força Sindical Paulo Pereira da Silva, estão voltando a freqüentar os gabinetes governamentais e empresariais. Muito falatório e algumas propostas, em grande parte, inexeqüíveis. Resta saber se o aumento do desemprego e a redução veloz da atividade econômica revitalizarão o setor sindical. Com novas lideranças e propostas. Assim como aconteceu no início da década dos 80 quando Lula começou a dar os primeiros passos na grande arena da política.
Pelo crescimento, vale quase tudo
Os movimentos sindicais e sociais, de um modo geral, foram amortecidos, de um lado, pelos bons ventos que sopraram na área de emprego e renda, De outro, pela garantia de mais recursos públicos (imposto sindical para as centrais) e pelos programas sociais (bolsa-família e cesta básica para o MST). O Planalto teme a reversão desse quadro como conseqüência direta da crise e do aumento do desemprego. Poderia ter efeitos negativos sobre a popularidade do presidente e para os planos presidenciais de Dilma. Por isso a ordem é fazer tudo – e um pouco mais – para não deixar a economia cair.
Os donos do dinheiro
Está nas mãos do BNDES, da Petrobrás (principalmente destes dois), das outras estatais, do BB e da CEF a aposta do Planalto para manter a economia nacional crescendo num ritmo próximo dos 4% desejados pelo presidente Lula para este ano. O BNDES está amealhando recursos para abrir os cofres, em todas as direções. A Petrobrás refaz as contas e corre atrás de financiamentos para manter os investimentos anteriormente previstos – e se possível aumentá-los. O plano de investimentos para 2009-13, prometido para vir à luz até o fim do mês, deverá trazer, inclusive, recursos substanciais para o “pré-sal". Não há muita expectativa quando aos investimentos privados. Reportagem de "O Globo" de domingo dá conta de que empresas já cancelaram ou adiaram 46 grandes projetos no país, orçados em R$ 65 bilhões.
Quem tem mãe não morre pagão
Oura aposta do governo é o PAC, cuja genitora, Dilma Roussef, entre uma plástica e seus afazeres de ministra, está em fase de aceleração do fortalecimento de sua candidatura à presidência da República. Pelos planos, 257 obras deverão ser inauguradas este ano, média de quase uma a cada 1,5 dia útil. Destas, 153 são do PAC. Dilma será figurinha carimbada nelas.
Ao modo do Chacrinha
As chamadas fontes bem informadas de Brasília anunciam que Lula desistiu de patrocinar a proposta do fim da reeleição com a ampliação do mandato presidencial para cinco anos. A oposição via nesta jogo um subterfúgio para aprovar o terceiro mandato consecutivo para Lula. O governo teria desistido para (i) mostrar que não há tal "má" intenção e (ii) por ver na proposta algo de interesse da oposição, pois ajudaria a acomodar as disputas tucanas ente Serra e Aécio. Ao mesmo tempo, Lula elogiou a proposta, a ser levada a referendo, das re-eleições infinitas para Hugo Chávez na Venezuela. E disse mais : quem sabe um dia nossa democracia estará preparada para isso. Como dizia o Velho Guerreiro, Abelardo "Chacrinha" Barbosa, "eu não vim para explicar, vim para confundir".
Pergunta inocente
O que pensa a oposição da crise e seus reflexos no Brasil e que idéias e propostas ela apresenta para ajudar a conter os malefícios ? O candidato José Serra tem dados algumas opiniões, mas sempre alfinetando o governo, com o qual ele vai competir em 2010. Outros, nem isso. É constrangedor o silêncio...
Mercado financeiro: resultados e bancos frágeis
Estamos em meio à temporada de resultados anuais das principais empresas mundiais. Seja em períodos de bonança, seja em períodos duros como o atual, esta é uma ocasião de aumento da volatilidade. Especulam-se muito sobre os resultados do último trimestre do ano e se analisam as perspectivas. Considerando que a recessão dá sinais de agravamento nas principais economias mundiais, as perspectivas estão ainda mais obscurecidas pelo cenário incerto. Assim, os segmentos de maior risco - dentre os quais o mercado acionário - têm reagido negativamente e de forma acentuada. Não é o que ocorre, porém, com o segmento de renda fixa, no qual a volatilidade das taxas de juros tem caído sistematicamente. O mesmo ocorre no mercado de câmbio.
Bancos ainda mais frágeis
Há ainda outro componente: importantes bancos estão mostrando mais problemas. O HSBC pode vir a captar US$ 30 bilhões em ações e cortar o dividendo. O Deutsche Bank apresentou um prejuízo superior ao esperado (o mais de sua história), o Barclays terá de fazer enormes cortes de custos para se ajustar, O RBS da Inglaterra terá o maior prejuízo de uma corporação na história do país e o Citibank poderá reduzir o tamanho de seus negócios a 1/3 do atual porte. Como se vê, uma situação dramática e que pode demandar a percepção de que muitos destes bancos podem necessitar de injeções de capital de seus acionistas a valores muito baixos. O risco de mega diluição de capital está afastando os investidores do mercado financeiro.
No Brasil é diferente
Fragilidade do sistema financeiro internacional é uma oportunidade de ouro para os investidores no Brasil. No curto prazo, as cotações dos bancos locais caíram muito em função da aversão ao risco setorial no mundo. Todavia, nossos bancos estão capitalizados e não carecem dos ajustes que ocorrerão lá fora. Oportunidade rara para comprar ações de bancos a excelentes preços.
Nossa visão
Em colunas anteriores registramos nossa opinião de que o mercado financeiro em geral poderia apresentar um desempenho mais favorável no curto prazo (um mês). Os últimos dias nos trouxeram notícias piores, mesmo que não totalmente inesperadas – referimo-nos aos indicadores de atividade aqui e lá fora, bem como aos riscos do sistema financeiro. Assim sendo, aumentaram as chances de erro, no caso desta coluna, em relação a nossa avaliação sobre o mercado. Todavia, não queremos mudar de opinião sem analisar os primeiros passos do novo Presidente dos EUA que toma posse nesta data. Afinal, foi este fato o principal para que estivéssemos mais otimistas em relação ao mercado.
Sobre bancos de investimentos
Um empresário importante do setor de alimentos sentou-se à mesa num restaurante paulistano, colocou o guardanapo sobe o colo, pegou o cardápio e sem que se interessasse em escolher o prato pronunciou as palavras que brotavam de seus aflitos pensamentos : "onde estão aqueles canalhas de Wall Street ? Prometeram mundos e fundos para mim há seis meses e agora eu fiquei sem condições de financiar um projeto importante. Sempre tive crédito farto, não sou endividado e vou crescer muito nos próximos anos. Aqueles *%$@## sequer atendem o telefone." Sinal dos tempos.
Ninguém precisa de inimigos
Sarney está dando um suadouro em Lula no caso da eleição para a presidência do Senado. E criando dificuldades para Michel Temer na Câmara. E olha que eles se dizem parceiros e correligionários. Já pensou se fossem adversários ?
Sereníssima
Há uma excelente história a ser investigada e contada em detalhes : a recente venda da Refinaria de Manguinhos, no RJ. É um dos alvos do Grupo Técnico do Combate à Sonegação criado semana passada pelo governador fluminense Sérgio Cabral. Acompanhe e aguarde. Os amigos não ficam no sereno.
Ao ritmo que se diz baiano
Não há muito interesse, de todos os lados, de apressar a apreciação, pelo Cade da compra da Brasil Telecom pela Telemar. Quanto mais o tempo passar, mais o fato será consumado, tornando impossível qualquer alteração no acordo, a não ser uma ou outra exigência cosmética. A Ambev manda lembranças.