Francisco Petros*
A Palavra dos “Gringos”
“O ministro da Fazenda está vivendo seu melhor momento em virtude de um evento raro na Presidência de Lula, a produção de resultados positivos ao mesmo tempo para o governo e para o país”. (Revista Veja, 9/6/04)
O Nobel de economia de 2001, Joseph Stiglitz, ex-economista-chefe do Banco Mundial e atual professor da Universidade de Columbia, um “neo- Keynesiano”, afirmou que "depois de apresentar altas taxas de crescimento durante várias décadas, o Brasil deverá crescer algo mais que 2% neste ano. O pior é que esse crescimento é motivo de comemoração. Parece que o nível de aspiração da população está mudando, o que é ruim". Foi mais longe quando afirmou que “se o governo Lula não mudar de estratégia logo, corre o risco de terminar seu mandato sem ter o que mostrar".
Robert Rubin, atual presidente do Comitê Executivo do Citigroup e ex-secretário do Tesouro dos EUA do Governo Clinton foi mais diplomático, mas sentenciou categoricamente: "Se você olhar para o Brasil e o México, que são as duas maiores economias da região (latino-americana), muito foi atingido, o que é muito impressionante. Mas, as taxas de crescimento têm sido decepcionantes. Por outro lado, se você olhar o que ocorreu na Ásia, onde também ocorreram reformas, e depois olhar para o Brasil e o México, há, obviamente, uma diferença enorme em termos de taxas de crescimento”.
Outro professor da Universidade de Columbia Jeffrey Sachs também não mostrou grande entusiasmo com a política econômica brasileira e defendeu um Estado mais intervencionista para que haja desenvolvimento sustentado. “Há uma sensação de que o governo Lula não possui uma estratégia de longo prazo. Espero que essa sensação seja falsa, mas a verdade é que as perspectivas pioraram bastante nos últimos dois meses", afirmou o economista.
Por fim, Stanley Fisher, ex-diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atual Presidente do Citigroup International, afirmou que “Lula teve de caminhar rumo a uma posição mais conservadora para sua própria sobrevivência. Apesar disso, diz que o governo não está desenvolvendo medidas estruturais necessárias, o que limita as chances de crescimento sustentado”.
Os leitores podem constatar que não há dentre os acima citados nenhum economista que possa ser acusado de “conspirar” contra a política econômica brasileira ou de estar propondo um “Plano B” para que o Brasil possa crescer e se desenvolver. Também acredito que estes economistas não serão tratados na imprensa local e pelos analistas do “mercado” como “pessimistas”, “derrotistas”, “alternativos” e outros adjetivos mais agressivos com os quais costumeiramente os defensores do status quo da política econômica atual descrevem os economistas que têm espírito crítico diante da realidade deste país. Nas linhas acima há apenas uma objetiva constatação de que as coisas não estão funcionando no Brasil. Possivelmente as avaliações dos economistas norte-americanos também pudessem servir para avaliar a política econômica do Governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de vez que a política atual é a exata cópia daquela que foi implementada sob a liderança do ex-ministro Pedro Malan.
Será lamentável se o Presidente Lula, na solidão do Palácio da Alvorada, não refletir sobre os depoimentos relatados pela Folha neste domingo passado. Sua Excelência tem sido fiel às idéias e às práticas adotadas pela atual equipe econômica. Talvez ele possa questionar neste momento se os resultados da atual política econômica serão fiéis às promessas que lhes fazem e que são pregadas no país e no exterior. Vale relembrar ao Presidente que a autoridade para a gestão da política econômica pode ser transferida aos Ministros da área, mas a responsabilidade pelos seus efeitos e o alcance de suas metas é exclusiva de Sua Excelência. O país como um todo saberá se teremos o prometido crescimento sustentado, especialmente as camadas mais pobres e sofridas da sociedade.
Talvez seja um ótimo momento para o Presidente também escutar o conteúdo de “políticas alternativas” sem se sentir ameaçado pelos preconceitos que normalmente cercam as “novas idéias”. Numa situação difícil como a que o Brasil está, as políticas têm de ser responsáveis, mas ao mesmo tempo ousadas, ambiciosas e verdadeiramente reformistas. Palavra dos “gringos”, sempre tão escutados no Planalto Central.
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petros@migalhas.com.br
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