Francisco Petros*
O nosso “Príncipe”
Há a possibilidade desta disputa intestina no petismo estar relacionada à condução da política econômica e aos efeitos que esta proporcionará nas eleições municipais deste ano e nas eleições de 2006, nas quais serão eleitos o Presidente da República, os Governadores de Estado e a maioria do Congresso Nacional. Esta possibilidade, a nosso ver muito mais provável e racional, claramente mostra que o Ministro da Fazenda está muito à frente de seu “rival” José Dirceu. Conforme foi estampado na capa da revista Veja, “Palocci ganha todas”. Já o Ministro José Dirceu atolou-se no caso Waldomiro Diniz e na perda de suas atribuições de articulador político do Governo, entregue a Aldo Rebelo, comunista do PC do B e ex-líder de uma bancada de nove deputados.
Esta pergunta é importantíssima de vez que há um enorme temor no “mercado” de que o Governo Lula retorne as suas origens e pratique as políticas que preconizou por mais de vinte anos. Neste caso, seria José Dirceu o articulador deste “retorno”? (Note-se que pode ser apenas um “retorno parcial”, mas seriam mudanças fundamentais da política econômica palocciana).
Palocci ganhou fôlego com divulgação da variação do Produto Interno Bruto (PIB) do 1º trimestre de 2004. O índice mostrou um crescimento de 1,6% em relação ao último trimestre do ano passado e 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos últimos 12 meses o crescimento foi zero. Tais números foram recebidos com euforia pelo “mercado”. Para nós, a surpresa foi a “surpresa”. O número foi absolutamente dentro das expectativas e torna possível, mesmo que não tão provável, uma taxa de crescimento de 3,5% em 2004. O PIB do primeiro trimestre cresceu porque as exportações cresceram (mais de 40% em relação ao 1º trimestre de 2003 e 20% em relação ao 4º trimestre de 2004), bem como puxaram o crescimento industrial. Além disso, o setor mais moderno da economia nacional, a agropecuária, cresceu 6,4% em relação ao ano passado. Se dependêssemos do consumo interno o crescimento do PIB seria próximo de 0,5%. Portanto, a euforia instalada do mercado não tem razão de ser, mesmo que tenha servido ao fortalecimento de Palocci perante seus críticos, dentro e fora do Governo e junto ao Presidente Lula.
Infelizmente, esta euforia obscurece por mais algum tempo a discussão sobre a viabilidade de um crescimento sustentado no médio prazo. Observada a perspectiva de crescimento do Brasil em 2004 (3,5%) e comparada com a média dos países desenvolvidos (4,2%, segundo o FMI) e outros países emergentes (China 9,8%, Malásia 7,6%; Singapura 7,5%; Hong Kong 6,8%; Taiwan 6,3%; Chile 5,2%), veremos o quão medíocre é o crescimento brasileiro. Fato.
Também nos parece incrível que, em meio a embriaguez da euforia com a divulgação do PIB, o Ministro Palocci possa ter sentenciado que “a taxa de juros já fez o seu papel”. É inacreditável que um gestor de política econômica, mesmo em se tratando de um sanitarista, possa acreditar que uma taxa de juros real (descontada a inflação projetada) entre 8% a 12% ao ano possa ser a “taxa de equilíbrio” de uma economia que necessita crescer acima de 5%, somente para absorver a mão de obra que ingressa no mercado de trabalho. Não é à toa que a relação investimento/PIB (especialmente em infra-estrutura) não passa de 18% quando precisava ser de 22%-23% para que o crescimento fosse sustentado. Além disso, como é possível alguém que executa políticas públicas afirmar que a dívida pública é sustentável a partir deste pressuposto?
Também beira ao mau gosto promover-se às expensas da divulgação de um crescimento medíocre quando o desemprego bate recorde (13,1% em abril, segundo o IBGE). Finalmente, o Ministro decretou que como está tudo bem com a macroeconomia - seria o “estado da arte”? - de agora em diante, é preciso resolver os problemas microeconômicos (a Lei de Falências, a Lei de Biossegurança, as Parcerias-Público-Privadas, etc.).
A hegemonia de Palocci certamente não será como a do Congresso de Viena – foi apenas uma ironia textual, é claro! O Ministro da Fazenda não é o “Metternich” da economia brasileira. É apenas o equilibrista a fazer alegorias entre taxas de juros altas e crescimentos esporádicos para a manutenção de um status quo que mantenha a solvência do país. E só.
Se há uma disputa entre o Ministro da Fazenda e o da Casa Civil, pouco se sabe sobre os seus fundamentos. Sequer sabemos se há algo de consistente em matéria de uma política econômica alternativa que possa ser gerada no seio deste governo.
De qualquer maneira, ao que parece, este processo de “enganação nacional” persistirá por mais algum tempo. A divulgação dos próximos
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petros@migalhas.com.br
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