Política, Direito & Economia NA REAL

Política e Economia NA REAL n° 274

A divulgação do PIB e a queda do desemprego nos EUA são duas notícias que ilustram como ficará a política econômica.

10/12/2013

Política econômica : cartas na mesa - 1

A divulgação do PIB do terceiro trimestre do Brasil (-0,5%) e a queda do desemprego nos EUA (de 7,3% para 7% no mês de novembro) são duas notícias que ilustram bem o tom que a política econômica terá daqui para frente. Nos EUA está evidente que as políticas keynesianas, adotadas agressivamente após o débâcle de 2008, estão a produzir os resultados esperados. Há um intenso debate entre os formuladores da política econômica norte-americana, bem como entre os economistas dos dois partidos representados no Congresso de como sair desta política. Afinal, a sustentação da imensa expansão monetária promovida pelo Federal Reserve não deve e não pode ser eterna. Será preciso reduzi-la. É como retirar um paciente que volta do coma do balão de oxigênio. Requererá sabedoria e tenacidade por parte do BC. De toda a forma, os EUA tem a moeda forte do mundo e este está disponível para financiar este processo, mesmo porque não há alternativas suficientemente atraentes. A retirada do estímulo econômico deve ocorrer ao longo do ano que vem e isso implicará na elevação do juros por lá e o dólar ficará mais forte. Os agentes econômicos podem puxar o juros de longo prazo em questão de minutos, bastará a sinalização do Fed.

Política econômica : cartas na mesa - 2

Por aqui espalha-se o sentimento de que perdemos a tração na atividade econômica. O Brasil não consegue aumentar os investimentos de forma consistente, bem como não tem como sustentar o consumo em patamares crescentes de vez que as famílias estão endividadas e a taxa de juros é escandalosa. Mas, o mais preocupante é que a presidente da República, que é quem comanda a economia juntamente com o seu assessor Guido Mantega, conseguiu criar, nos últimos três anos, uma somatória de problemas macroeconômicos que pareciam sob controle. Do lado fiscal, as contas públicas mostram-se abaladas pelo excesso de gastos os quais têm sido tentativamente escondidos por maquiagens nos números. Do lado monetário, os juros básicos vão subindo pois, sem o "apoio" da política fiscal, a demanda tem de ser controlada pelos juros. Mesmo assim, a inflação tem sido renitente. No setor externo, as exportações não são mais tão competitivas, sobretudo no setor de manufaturados, e as nossas commodities perderam a dinâmica dos "anos Lula" que favoreceram a formação de um montante de reservas que podem suportar os desarranjos domésticos atuais.

Política econômica : cartas na mesa - 3

O cenário acima descrito está consolidado entre os agentes econômicos. Não é novidade para ninguém. Mas, o que pode ser diferente, então ? Na nossa visão o maior risco é que o real venha a se desvalorizar para um patamar superior aos movimentos que serão provocados pela mudança da política monetária dos EUA. A subida dos juros de longo prazo nos EUA e a consequente valorização do dólar jogarão as moedas do mundo, sobretudo dos emergentes, para baixo. No caso do Brasil, com seus fundamentos mais deteriorados, o real pode ir além da paridade esperada. Neste caso, os efeitos cambiais terão de ser compensados pela elevação dos juros por parte do BC na tentativa de controlar a inflação que virá via câmbio. Neste caso, por que alguém imaginaria um desempenho da atividade econômica melhor ? A nosso ver, 2% é topo para a elevação do PIB em 2014. Não estamos tentando "adivinhar" o PIB, mas apenas fazendo uma leitura das tendências que se delineiam para o Brasil. Obviamente, alguém poderia evocar os efeitos afrodisíacos que a Copa do Mundo pode ter para o país. Neste caso, teremos de abandonar as tabelas de indicadores econômicos e nos debruçarmos nas tabelas dos jogos. Quando a coisa chega neste ponto é melhor ligar a TV e assistir a um filme.

E a oposição ?

O cenário econômico acima descrito pode ter sido provocado pelo atual governo, mas caberá ao próximo governo tê-lo por herança. Se for o atual governo, os eleitores saberão cobrar em face do que já foi feito. No caso da oposição parece claro que é necessário que o eleitor seja informado sobre o que ela fará, caso seja eleita. Aécio Neves lançará seu pré-programa esta semana (vide nota abaixo). Veremos. No caso de Campos-Marina, a questão da política econômica é mais complexa ainda pois a sua candidatura se reveste de um prometido caráter mudancista "estrutural". Terão de mostrar "profissionalismo" na tarefa de recuperar a economia, coisa que numa campanha eleitoral é relativamente difícil de fazê-lo. O programa econômico dos candidatos será importantíssimo para arrecadar recursos de campanha. Nessa hora não adiantará ser apenas pragmático (ou conservador) para agradar a plateia. O cenário das ruas pode exigir que a política seja mais arrojada para tirar o país da letargia e levá-lo para um patamar melhor.

Mercados

Desde a semana passada sinalizamos para os nossos leitores que, a despeito das boas-novas na economia mundial, grande parte dos ganhos registrados nos mercados acionários já foram incorporados nos preços. A hora, ao que nos parece, é de realização de lucros no mercado internacional e no local. As commodities também parecem que irão se acomodar em patamares mais baixos, incluso o ouro, metal que brilhou muito nos últimos anos, mas que está se acomodando em patamares bem baixos. Vale lembrar que os democratas e republicanos voltaram a negociar o teto de endividamento do Tesouro norte-americano. Este tema, tão caro ao mercado ao longo deste ano, persistirá sendo o contraponto ao sucesso da política de expansão monetária promovida pelos EUA e sobre a qual comentamos nas notas iniciais desta coluna. A maior volatilidade deve ser vivenciada nos mercados cambiais os quais viveram um ano tranquilo em 2013.

Imagina na Copa

As imagens de mais um dia de caos nos aeroportos brasileiros no sábado e a incrível briga entre torcedores do Vasco e do Atlético Paranaense foram destaques nos jornais em todo mundo, acendendo os temores de que muita confusão pode ocorrer no Brasil durante a Copa do Mundo. Voltou a correr aquele mantra : se é assim agora, imagina na Copa. Ainda mais que estão cada vez mais claras as indicações de que se preparam, à moda de junho, manifestações de rua nos dias de jogos em todas as sedes da Copa. As autoridades, a FIFA e a CBF deveriam cuidar menos de festas e discursos como os de sexta-feira na Costa do Sauípe e prestar mais atenção para evitar que o maior evento do futebol mundial arranhe a imagem do país. O risco não é pequeno.

O PMDB mostra suas cartas - 1

Como observamos na coluna da semana passada ("O PMDB e PT condenados a viver juntos"), no atacado das eleições de 2014, os dois partidos, salvo algo inusitado, marcharão unidos na campanha para a reeleição da presidente Dilma. No varejo, no entanto, as divergências não são pequenas, e não apenas em relação às composições para as eleições para os governos estaduais. Um teme a rasteira do outro, pois ambos têm outro objetivo : formar as maiores bancadas na Câmara e no Senado. Para o PMDB é essencial ter maioria, principalmente no Senado, para manter pelo menos a presidência de uma das duas casas legislativas e continuar com um "forte apelo" ao Palácio do Planalto em prol de seus interesses na máquina Federal. Para o PT, conquistar a hegemonia no legislativo Federal, principalmente no Senado, significa livrar-se do que o petismo qualifica como "poder de chantagem" do peemedebismo. Com a presidência da Câmara e do Senado, Dilma, caso reeleita, ficaria livre de muitos sustos que costuma passar no Congresso.

O PMDB mostra suas cartas - 2

A desconfiança do PMDB de que o PT está lhe preparando alguma armadilha não diminui depois do ágape partidário de sábado retrasado na Granja do Torto. Nenhum acerto em nenhum dos Estados onde o PT quer que o PMDB o apóie prioritariamente foi fechado de fato, nem no MA da família Sarney. Algumas insinuações em falas do ex-presidente Lula e do presidente reeleito do PT, Rui Falcão, deixaram os peemedebistas com um amontoado de pulgas atrás da orelha. Intrigou principalmente o dito meio solto de que o PT tem total fidelidade à permanência do vice Michel Temer na chapa da reeleição, mas que o PMDB parece às vezes não entender bem as coisas e pode complicar. Foi esta a razão para o PMDB não sair de sorrisos escancarados da reunião e para o silêncio de suas principais figuras sobre o que de fato acertou-se na Granja do Torto. Porém, bem ao seu estilo nada sutil, o peemedebismo deu o troco dias depois.

O PMDB mostra suas cartas - 3

Inusitadamente, quebrando todas normas e praxes partidários, a bancada do partido na Câmara antecipou a recondução do deputado Eduardo Cunha para a liderança do PMDB na Câmara, decisão que as legendas só tomam, normalmente, em fevereiro, no começo da sessão legislativa. E foi por aclamação. Eduardo Cunha é aquele que nas hostes governamentais é mais conhecido como "o coisa ruim" tal a capacidade de causar embaraços para o Palácio do Planalto quando não se sente bem atendido. Sua mais recente façanha foi levar para o ano que vem a votação do Marco Civil na internet, projeto eleito como prioritário pela presidente. O recado do PMDB foi cristalino : antes de chegar a 2015 é preciso passar por 2014 e se o partido não for bem tratado não vai deixar por isso mesmo. Ele mostrou suas unhas, bem afiadas.

O PT e sua natureza

Já está disponível na rede o documento preliminar preparado pela direção do PT para ser discutido no 5º Congresso Nacional do partido marcado para esta semana, de quinta-feira a sábado (clique aqui). O documento que o Congresso aprovar servirá de base para as ações do PT nos próximos anos e balizará a campanha de seus candidatos em 2014. Um dos pontos centrais é a defesa de busca do "socialismo do século 21", a fase do pós-capitalismo. Três curiosidades a anotar e para meditar :

1. A defesa dessas posições, embora teóricas e feitas em grande parte para motivar os militantes, surge no mesmo momento em que a presidente Dilma faz um extraordinário esforço para convencer investidores externos e internos que seu governo não tem nada contra o capital privado e o lucro.

2. Em 2001, também em dezembro, no Recife, também em um Congresso Nacional, o PT aprovou também uma polêmica declaração, na qual, entre outras coisas, dizia ser contra "tudo que está aí". No auge da campanha de 2002, quando eram grandes as desconfianças de como poderia ser um governo Lula-PT, com o dólar subindo, o risco Brasil crescendo, o PT providenciou a edição da famosa "Carta aos Brasileiros", na qual renegava boa parte do que aprovar meses antes em Recife.

3. Há um trecho altamente enigmático, mas que parece uma insinuação contra a autonomia de alguns governantes eleitos pelo partido : "Governantes e parlamentares do PT, pressionados por seus afazeres institucionais, ganharam exagerada autonomia em relação à atividade partidária".

É documento para causar muita polêmica, se Lula e seus pragmáticos não agirem para torná-lo mais light.

A ocupação do Poder

Sabe-se que o Poder não aceita "vácuos". Estes são ocupados por quem estiver a postos. José Dirceu está na prisão, Genoino também em prisão domiciliar e o mensalão ainda deixa rastros pelo PT, inclusive em função das novas denúncias publicadas pela revista Veja neste final de semana. Ao invés de se afastar destes tristes episódios, o PT fará em seu Congresso desagravos aos implicados nos fatos ilícitos. Todavia, a questão relevante é a seguinte : o PT nunca esteve sob o estrito controle de Lula da Silva. De agora em diante, a dinâmica petista dependerá, ao redor do seu maior líder, de novos atores a ensejar novas estratégias e políticas. Quem serão eles ? Não está claro por uma razão simples : dependerá do desempenho de "novos líderes" como Haddad, Padilha e Lindbergh Farias. Estes terão de se provar no governo e nas eleições antes de aparecerem perante Lula e a plateia petista.

O PSDB e suas armadilhas

Hoje à tarde em Brasília o senador Aécio Neves, com a presença anunciada de alguns dos grandes figurões tucanos e das bancadas da legenda na Câmara e no Senado, deverá anunciar o seu pré-programa de campanha, que está sendo classificado como uma carta de intenções, temas básicos para o debate eleitoral. O programa só será detalhado depois de abril. O evento de hoje traz dois desafios para o senador mineiro, o mais provável candidato do partido à sucessão em 2014 e para o próprio tucanato :

1. Mostrar que o partido vai unido para a briga sucessória, sem a fogueira de vaidades que o consumiu nas três últimas disputadas presidenciais.

2. Mostrar que o PSDB tem uma proposta de governo factível, clara, e que de fato é uma alternativa de poder e não apenas uma oposição fraca e em frangalhos.

A "rebelião" na Fazenda

Dez coordenadores do Tesouro Nacional, área vital do Ministério da Fazenda, se reuniram com o secretário do Tesouro Arno Augustin no dia 22/11. Ao que se sabe, foram se questionar os passos do secretário em relação a aportes e alocações de recursos a serem feitos e as necessidades de captação. Foi uma reunião tensa onde os técnicos foram incisivos a respeito de certas práticas de Augustin, economista responsável pelas manobras contábeis que tentam mascarar as contas públicas e com fortes laços com a presidente. Nada aconteceu em relação aos pontos discutidos. Na dúvida, os técnicos do Tesouro chamaram os jornalistas e, sem se identificarem, vazaram o conteúdo da reunião. Aí, ficou evidente de que se tratava de uma rebelião. A nota posterior, do dia 5/12, negou que houvesse rebelião mas, quem sabe das coisas de Brasília, o recado já estava dado. Do alto de sua posição quem saiu imediatamente em socorro do secretário não foi o seu chefe direto Mantega, mas a presidente Dilma a qual mandou que o ministro da Fazenda "controlasse" a turma do Tesouro. Mantega, suave pessoa que é, cumpriu a ordem. Ao final, o nosso leitor pode anotar : há inquietação dos técnicos do Tesouro com o custo da dívida interna por força das medidas adotadas por Arno, Mantega ficou, mais uma vez, desmoralizado pelas "ordens de cima" e Arno Augustin é forte no Planalto. Somente lá.

Não é fato isolado

Há pouco mais de um mês, esta coluna comentou que havia inquietação em algumas importantes áreas do governo, dentre membros do chamado "segundo escalão". Este é composto por técnicos concursados que ficam enquanto governos passam. Uma boa parte destes são "petistas de carteirinha", mas todos acabam se defrontando com a "realidade" que mora fora de Brasília. Assim sendo, quando não concordam com as políticas do governo acabam por registrar suas inquietações fora dos muros da capital Federal. É o caso da diplomacia, da Receita Federal, de técnicos do BNDES e do BC, etc. É certo que não somente em relação ao atual governo, mas em relação a qualquer outro, não é saudável que o segundo escalão se rebele contra aqueles que direta ou indiretamente tem um mandato originado pelo povo. A exceção é evidente : quando se praticam ilicitudes. Contudo, o fato é que esta camada do poder está se mexendo com riscos de tremores e erupções mais à frente.

Desafios da diplomacia brasileira - 1

Nos próximos poucos anos, entre dois e quatro, o Brasil vai se defrontar com uma avalanche de mudanças no cenário das transações comerciais. Na área do Pacífico-Índico o acordo iniciado em agosto passado entre o Japão e a Índia alavanca as trocas entre um país emergente ávido por incrementos tecnológicos e outro que tenta baratear seus produtos sem colocar azeitonas na torta chinesa. Por sua vez a China está fazendo acordos por todos os lados : na Bacia do Pacífico firma sua liderança com novos acordos com a Indonésia e Filipinas. Na África avança celeremente com acordos bilaterais que lhe garantam matéria-prima. Mesmo na América Latina, Chile, Peru e Colômbia viram seus olhos para os EUA. Na semana passada, o acordo de Bali, cria um cenário de flexibilização alfandegária que estimulará a rapidez em novos acordos comerciais.

Desafios da diplomacia brasileira - 2

Enquanto isso, está evidente que o Mercosul é um projeto incerto e, até agora, ineficaz para os interesses brasileiros. Argentina, Bolívia e Venezuela não são parceiros que nos levarão a novos patamares em matéria de comércio exterior. Não são apenas os aspectos políticos da questão que nos deixam vulneráveis perante estes países, mas a realidade objetiva : precisamos aumentar as trocas e, assim, facilitar a melhoria do conteúdo (tecnológico, por exemplo) de nossas exportações. O parágrafo único do artigo 4º da Constituição reza que o "Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações". A matéria constitucional não deixa dúvida sobre nossas prioridades formais. Contudo, à diplomacia brasileira caberá, à luz das restrições constitucionais, desembaraçar a questão e buscar saídas para o nosso cambaleante comércio exterior. Precisamos de saídas efetivas e não discursos ideológicos.

Frase da semana

Do deputado Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados e peemedebista de estirpe : "Feio é perder a eleição. Dentro dos critérios éticos básicos, devemos fazer tudo para ganhar."

Radar NA REAL

6/12/13   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta estável
- Pós-Fixados NA alta estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,3720 baixa baixa
- REAL 2,3320 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 50.944,27 estável/baixa baixa
- S&P 500 1.805,09 estável/baixa alta
- NASDAQ 4.062,52 estável/baixa alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

Francisco Petros Advogado, especializado em direito societário, compliance e governança corporativa. Também é economista e MBA. No mercado de capitais brasileiro dirigiu instituições financeiras e de administração de recursos. Foi vice-presidente e presidente da seção paulista da ABAMEC – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais e Presidente do Comitê de Supervisão dos Analistas de Investimento. É membro do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo e do Corpo de Árbitros da B3, a Bolsa Brasileira, Membro Consultor para a Comissão Especial de Mercado de Capitais da OAB – Nacional. Atua como conselheiro de administração de empresas de capital aberto e fechado.