Política, Direito & Economia NA REAL

Política e Economia NA REAL n° 260

O crescimento do PIB do terceiro trimestre surpreendeu. Veja as análises.

3/9/2013

PIB e pibinho - 1

Não deixa de ser significativo o que é comemorado no Brasil nestes estranhos tempos. Começou-se o ano se especulando que o crescimento do PIB gravitaria ao redor de 4%. Já em meados do ano, o próprio governo admitia que este crescimento não seria maior que 2,5%. Agora o PIB do terceiro trimestre, cujas previsões giravam entre 0,8% e 1,3% no segundo trimestre, "surpreendeu" (+1,5%). Os setores que surpreenderam foram a agricultura (+3,9% registrado contra 1,5% esperado) e a construção civil (+3,8%). Os outros indicadores foram razoavelmente dentro das expectativas o que pode ser considerado como bom no atual contexto de desânimo. A questão é sabermos se houve uma mudança estrutural que justificasse tal desempenho superior. A resposta é não. A economia brasileira deve cair um pouco em relação ao segundo trimestre e, ao final do ano, subir um pouco. Na contabilidade do ano vamos crescer algo como 2,3%-2,4%, o patamar que os EUA apresentam e que é insatisfatório. Mas, por aqui, a surpresa faz com que o ministro da Fazenda saia de sua rotina e manifeste a glória de sua política econômica. O Brasil continua um país de crescimento medíocre e não há nenhum vetor estrutural sendo alterado para que este 'voo de galinha' se afaste de nós.

PIB e pibinho - 2

O principal item que acalenta a tendência medíocre do crescimento brasileiro é a ausência de uma visão estratégica para as políticas econômicas. A combinação confiável entre o capital privado e o estatal persiste opaca pelo arranjo entre uma visão ideológica vencida da presidente-ministra da Fazenda Dilma Rousseff. Além disso, o governo flerta com a falta de disciplina fiscal e com a inflação mais alta, controlada, em parte, pela compressão de preços públicos e pela alta (hesitante) da taxa de juros básica. Não há nenhuma relação de causa e efeito que indique que o crescimento no Brasil será mais robusto nos próximos dois anos. É essencial que se supere (i) a inoperância/ineficiência governamental em relação às reformas e ao investimento, (ii) a política cambial desindustrializante, (iii) o custo elevado do crédito local e (iv) a baixa produtividade do setor público. Isso requererá reformas estruturais que vão da educação à tributação e que o governo e a sociedade gostam de jogar para debaixo do tapete. Resultado : PIB que cresce 2,5% é razão de euforia.

Sucesso eleitoral ? - 1

Há dúvidas - ver notas acima - a respeito da continuidade da recuperação da economia brasileira no ritmo flagrado pelo IBGE no segundo trimestre. O próprio ministro Guido Mantega, o "dr. Pangloss" nacional de plantão, preferiu ser comedido e ficar com sua previsão anterior, de crescimento de 2,5% até dezembro, melhor que no ano passado, mas inferior da 2011. A presidente Dilma, sempre, agora com a direta orientação de seus marqueteiros, sempre disposta a trombetear qualquer sucesso de seu governo, mesmo quando é apenas uma pedra fundamental, preferiu também ser comedida nas suas comemorações. As razões nos parecem mais políticas que econômicas. Um dado do PIB do primeiro trimestre não é para comemorar, pelo menos sob a ótica político-eleitoral mais imediata do Palácio do Planalto. Enquanto economistas apontavam como um dos sinais o fato de a economia nacional estar invertendo sua lógica de crescimento dos últimos anos, saindo da força no consumo e recuperando ainda que em bases baixas, o investimento, o mundo do marketing político vê essa inversão como um ponto negativo.

Sucesso eleitoral ? - 2 

Afinal, a popularidade da presidente até a eclosão das ruas juninas, assim com a de Lula antes e sempre, se sustentou exatamente neste ponto : a satisfação da sociedade, especialmente a impropriamente chamada classe C, por estar consumindo mais. O sinal de que o consumo está estagnado - cresceu apenas 0,3% no trimestre abril/maio/junho, depois de ter caído 0,8% no período anterior - foi um soco na boca do estômago dos marqueteiros. Ainda mais se somarmos a isto os dados de que o crescimento da oferta de empregos com carteira assinada está desacelerado, que a renda média do trabalhador cai desde o início do ano, que o crédito ao consumo está mais seletivo. As manifestações juninas tiveram como estopim o aumento nos transportes coletivos em SP, RJ e em algumas outras cidades, porém só tiveram o alcance de público e de crítica que tiveram porque havia um caldo de cultura para o movimento prosperar.

Sucesso eleitoral ? - 3

Centenas e milhares de pessoas foram se manifestar e mais de 80% dos brasileiros (dados de mais de uma pesquisa) aplaudiram as ruas em movimento não apenas pela insatisfação com a qualidade dos serviços públicos em geral e com a capacidade dos políticos fazerem as coisas certas, mas também por uma difusa sensação de insegurança, medo de perder o que foi conquistado nos últimos anos. Enquanto os economistas de Dilma não encontram uma fórmula para recuperar o poder de consumo da população e afastar o temor do desemprego, o desafio de Dilma e seus marqueteiros será encontrar outro mote para manter o discurso de gosto popular que a presidente abraçou nos últimos meses. Daí a ênfase no programa "Mais Médicos", um ideia positiva, porém cheia de aventuras e improvisações que tanto pode ser bem sucedida como virar um fracasso do qual Dilma e menos ainda o ministro Alexandre Padilha dificilmente se recuperarão.

Mais médicos

A reação inconsequente por parte de alguns profissionais brasileiros de medicina, como os que vaiaram indecentemente médicos cubanos em Recife, ou do CRM de MG, estão ajudando Dilma e Padilha a empurrar o programa "Mais Médicos" porque desviam a discussão de questões gravíssimas da saúde brasileira. Parece que tudo se resume a ter ou não ter mais médicos formados em Cuba no Brasil. Ajuda também a presidente o fato de seus oposicionistas não saberem o que dizer sobre o assunto. Bom ou mal para ajudar a minorar os problemas do atendimento às populações mais carentes do país em matéria de saúde, não há dúvidas de que o projeto tem claramente um cunho eleitoreiro. Basta ver que o acerto com os cubanos já estava feito há mais de seis meses, inclusive com instrutores brasileiros tendo ido a Cuba treinar seus profissionais, muito antes de a presidente Dilma, com uma espécie de resposta ao clamor das ruas, ter anunciado o "Mais Médicos".

Perca-se a ilusão. Ou : uma homenagem a Tiririca

Quase tudo o que se escreveu e o que ainda se escreverá sobre o escárnio, a cusparada na cara dos brasileiros como pode ser denominada a recusa da Câmara em cassar o mandato do deputado Natan Donadon, terá sido pouco para espelhar a indignação nacional contra a indignidade cometida pelos parlamentares e seus partidos. A imagem já está ficando batida, mas vale dizer mais uma que o deputado (e palhaço, no bom sentido) estava errado ao dizer que 'pior que está não fica'. Fica sim. Perca-se a ilusão de que alguma coisa possa mudar por lá : a verdadeira reforma política não sai. Um dia, se sair, sai apenas na parte que interessa políticos e partidos. Nem o fim do voto secreto no Parlamento, apontado como principal responsável pela manutenção do mandato do deputado Donadon, será aprovado com rapidez, embora o presidente da Câmara, Eduardo Alves, tenha prometido botar o projeto imediatamente em votação. Pode até passar na Câmara, mas para "inglês ver" : será modificado, como quer o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), uma espécie de quase dono da casa dos deputados, sem o qual nada de bom ou de mau por lá acontece. Ademais, terá então de voltar ao Senado. Também é coisa para algum tempo longínquo a aprovação no Senado da PEC, que torna automática a perda de mandato dos parlamentares condenados por corrupção ao crime comum. Tiririca vai ter de mudar seu slogan se quiser se reeleger.

Contas a pagar

1. Estão sendo crucificados os deputados que assinaram a folha de presença na sessão de cassação do mandato do deputado Donadon e não votaram. Mesmo com o voto secreto eles foram identificados. São identificados e execrados também os que se ausentaram totalmente da Câmara naquela hora. Porém, os 513 deputados, exceção para aqueles (por doença ou viagem oficial) com justificativas plenas, são responsáveis por aquelas cenas de desrespeito aos brasileiros. O voto secreto também tem isto : todos são suspeitos igualmente, porque não dá para saber quem votou de tal ou qual forma.

2. Com O episódio, ficou ainda mais difícil de entender a mudança de entendimento do STF em casos de condenados como o de Donadon e do mensalão. No caso dos mensaleiros, os ministros entenderam que a cassação do mandato dos que são ainda parlamentares é automática. O que até ameaçou abrir uma crise entre o Judiciário e o Legislativo. No do deputado presidiário, já com o voto dos novos ministros Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso, entendeu-se que a questão do mandato era privativa da Câmara. O STF também precisa se explicar.

3. Se alguns dos ausentes na fatídica sessão de terça-feira na Câmara e os que, beneficiados pelo covarde manto secreto contribuíram com a "absolvição" de Donadon, acreditavam estar abrindo caminho para dar boa vida aos mensaleiros-parlamentares, estão enganados. Como se diz popularmente, o tiro saiu pela culatra. Um dos temas que as manifestações programadas para este sábado, 7/9, em todo o país, vão levar para as ruas é exatamente o da impunidade política de parlamentares e dos mensaleiros.

Veio a calhar

O vexame da Câmara veio em boa hora para o Palácio do Planalto. Não que a presidente Dilma esteja comemorando qualquer coisa do caso Donadon. É inegável, porém, que este assunto deve desviar um pouco a atenção de outras palavras de ordem popular das manifestações de sábado. De todo modo, a segurança oficial está tomando todas as precauções possíveis - e muito mais - para proteger a presidente de cenas desagradáveis no palanque do desfile militar em Brasília. No ano passado, com um clima bem melhor, a presidente já foi alvo de vaias.

Cadê ?

Nada mais se fala sobre o plebiscito, sobre referendo, sobre nenhum plano arquitetado por Aloizio Mercadante?

Trinta dias decisivos

Em pouco mais de um mês (exatamente no dia 5/10) parte do jogo eleitoral de 2014 estará definido : é quando termina o prazo para inscrições partidárias. Daí para frente ninguém mais muda de partido ou poderá se inscrever numa legenda para disputar as eleições ano que vem. Apenas a presidente Dilma Rousseff, do grid de sucessão presidencial, passará o mês sem muitas tensões nesta área. Aécio Neves vai ficar na expectativa do que vai fazer José Serra. Para o senador mineiro o ideal é que o ex-governador paulista ficasse no PSDB e se engajasse de fato em sua campanha. Isto, porém, parece impossível - e, aconteça o que acontecer, terá um custo para os tucanos. Eduardo Campos vê algumas reações às suas pretensões presidenciais, cada vez mais evidentes, contestadas por alguns governadores e prefeitos que não querem se indispor com os cofres do governo Federal. E pode perder aliados. O governador do CE, Cid Gomes, um empedernido governista Federal, anda caçando um novo partido abertamente. Seu mais recente sinal foi para o Solidariedade, partido que o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, promete colocar de pé no tempo devido. Marina Silva está às voltas com a criação de um partido para chamar de seu ou na busca de uma legenda que aceite abrigá-la e tenha uma imagem mais aceitável para a população. Enquanto isso Dilma terá tempo de cuidar dos seus renitentes parceiros que prometem para ela grandes emoções quando de fato os palanques regionais começaram a se formar.

Não preocupa agora

A presidente Dilma e sua turma da política não deram sinais de ter sentido o golpe do acordo de cooperação e não beligerância celebrado entre dois de seus prováveis adversários ano que vem : Aécio Neves e Eduardo Cunha. Pelo menos aparentemente. No momento, embora não confesse, a preocupação do staff reeleitoral é cortar as asas de Marina Silva. Uma leitura atenta das diversas pesquisas de opinião pública mostra que a ex-ministra é a que tem o maior potencial de surrupiar votos de Dilma. Com Marina está a chave do segundo turno, mesmo que ela não seja a escolhida para disputar o turno derradeiro.

É tudo ou nada nas concessões - 1

Exatamente em 15 dias, com o leilão de dois trechos de rodovias, o governo terá exatamente os sinais definitivos se o seu PIL (Programa de Investimentos Logísticos), lançado há mais de um ano e andando até agora a passos de cágado, vai deslanchar ou não. Para exorcizar o risco de um fracasso - em janeiro falho o primeiro leilão rodoviário -, que poderia contaminar em seguida as concessões também previstas para este ano de ferrovias, portos e aeroportos, além da primeira venda do pré-sal, o governo abriu o cofre de concessões.

É tudo ou nada nas concessões - 2

Colocado diante da ameaça de possíveis concorrentes de ficar em casa, o governo alterou várias regras inicialmente previstas. Poderá alterar outras até o dia 18/9. Semana passada, por exemplo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou dirigentes de bancos a Brasília para induzi-los a criar consórcios para financiar empresas interessadas em participar dos leilões. E ofereceu a eles risco zero nessas operações. O sucesso dos leilões é essencial por pelo menos quatro razões para Dilma :

1. A óbvia : sem a participação do capital privado nacional e estrangeiro será impossível melhorar, em prazo razoável, as condições da economia nacional para que ela possa crescer sem constrangimentos. Certamente o início efetivo de obras, no ano que vem, ajuda a turbinar o PIB de 2014.

2. Acertar bons negócios, ainda com a boa notícia relativa do PIB do segundo trimestre, pode quebrar a desconfiança e a resistência dos investidores na economia brasileira.

3. Vai melhorar também o astral da população e, naturalmente, dar a Dilma mais um bom argumento de palanque.

4. O dinheiro que deve entrar ainda este ano, com a assinatura dos contratos, o bônus de concessão, é essencial para fechar as contas públicas de 2013, especialmente os R$ 15 bilhões esperados para a primeira concessão do pré-sal.

Por isso, depois de muitas resistências e incensos de todos os lados ao estatismo velho de guerra, o Palácio do Planalto agora está erguendo todas as velas à Santa Concessão.

Espia que eu gosto

Usualmente quando a área de inteligência de um governo proporciona inquietações ao governo, os assessores se mexem muito antes dos atores principais para "mapear o problema". Em matéria tão sensível, não deve um presidente se expor primevamente antes de um tratamento inicial da questão pelas instâncias menores. Até o mundo mineral sabe que os EUA espionam mundo afora numa velocidade e quantidade jamais vistas. O Brasil não é exceção, muito embora esteja distante daquilo que seria o interesse central dos americanos. Ora, a presidente Dilma tem especial predileção em fazer do tema "espionagem" matéria de ampla divulgação social. Não faltam expressões de indignação patriótica na boca dos ministros do governo. Enquanto isso, as relações Brasil/EUA vão se deteriorando no momento em que a ocupante do Planalto prepara-se para tomar seu avião e ir tratar com o chefe do Império, Mr. Obama. Se a espionagem é tão certa, esta indignação pública ainda precisa ser explicada. Será que a presidente quer ganhar pontos junto à opinião pública às custas de um assunto tão obscuro?

O sonho de Obama

Se os EUA irão ou não atacar a debilitada Síria não é possível saber. São muitos os fatores a serem analisados em torno deste sensível assunto. Uma coisa é certa : sabia-se que Obama não passa de um conservador suficientemente provido de atributos de produto de marketing; o que não se sabia é que Obama era quase igual a Bush Jr. Se Barack fizesse o discurso I have a dream de Martin Luther King talvez ele dissesse que o sonho se realizou : Obama é igual a Bush, the little one.

Radar NA REAL

30/8/13   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta estável/alta
- Pós-Fixados NA alta estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,3189 estável baixa
- REAL 2,3628 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 50.008,38 estável/baixa baixa
- S&P 500 1.632,97 estável/alta alta
- NASDAQ 3.589,87 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

Francisco Petros Advogado, especializado em direito societário, compliance e governança corporativa. Também é economista e MBA. No mercado de capitais brasileiro dirigiu instituições financeiras e de administração de recursos. Foi vice-presidente e presidente da seção paulista da ABAMEC – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais e Presidente do Comitê de Supervisão dos Analistas de Investimento. É membro do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo e do Corpo de Árbitros da B3, a Bolsa Brasileira, Membro Consultor para a Comissão Especial de Mercado de Capitais da OAB – Nacional. Atua como conselheiro de administração de empresas de capital aberto e fechado.