Política, Direito & Economia NA REAL

Política e Economia NA REAL n° 254

Muitos são os pedidos e insinuações para que Dilma faça trocas em seu ministério.

23/7/2013

Só se Dilma demitir Dilma - I

São cada vez maiores os pedidos indiretos e insinuações para que Dilma faça trocas em seu ministério. O próprio PT é um dos mais queixosos e, segundo informações correntes em Brasília, até Lula teria "aconselhado" Dilma a fazer as alterações. Os alvos seriam a equipe econômica, com foco no ministro da Fazenda, Guido Mantega, a turma da coordenação política - leia-se Ideli Salvatti e Gleisi Hoffman - e a área de comunicação (lembrar que Franklin Martins, que foi o grande nome de Lula neste segmento, está agora muito presente no Palácio do Planalto).

Só se Dilma demitir Dilma - II

Dilma, porém, na mais que otimista peroração para os empresários e sindicalistas reunidos no Conselhão - Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - deu a indicação das razões que justificam sua insistência em ficar com esta equipe que não agrada nem a gregos nem a cearenses. Foi quando ela disse (a citação não é literal) que quem comanda a economia brasileira não mora na Esplanada dos Ministérios, tem residência no terceiro andar do Palácio do Planalto. A afirmação vale para toda a equipe governamental, do primeiro escalão ao contínuo do gabinete mais distante do mais obscuro ministério. É conhecido - e até pouco tempo louvado por muitos aliados - o estilo centralizador e autoritário da presidente. Com certa dose de humor se diz que nem um clips se compra em Brasília sem que ela saiba. Ora, sendo assim, só se Dilma demitir esta Dilma que governou até agora para que haja realmente alterações no modo de ser e de trabalhar de sua gestão.

Depende de quem fala

Na sua posse no Ministério da Educação, o hoje onipresente Aloizio Mercadante, louvou publicamente o estilo Dilma de "espancar projetos", ou seja, de descer aos menores detalhes de tudo, de não deixar passar nada. Para alguns, isto é virtude. Para outros, pelo excesso, paralisa o governo.

Alguém está destoando - I

Nesse mundo oficial do "sim senhora" quem está destoando é o BC. A ata da última reunião do Copom está na direção contrária ao otimismo presidencial, divulgada no mesmo dia em que a presidente garantia à turma do "Conselhão" que nem a inflação nem as contas públicas estão desajustadas. No seu linguajar um tanto peculiar - "bancocentralês" - a autoridade monetária diz com todas as letras que a inflação ainda está assanhada e que a política fiscal é expansionista, eufemismo para dizer que o governo está gastando mais do que devia. Posições que foram confirmadas, também com todos os "esses", "erres" e "ipsolenes" em entrevista esclarecedora do presidente da instituição, Alexandre Tombini, ao jornal "O Estado de S. Paulo" de domingo.

Alguém está destoando - II

Tombini repete o principal recado da ata : se não recuperar a confiança da população e das empresas na condução da economia, o risco de a economia brasileira continuar crescendo vegetativamente ainda por um bom tempo é elevado. O BC dá indicações de que ele está visivelmente se esforçando para recuperar a sua própria imagem no mercado financeiro, depois de um bom tempo visto como excessivamente submisso aos desejos do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda.

A "escolha de Sofia" do BC

As contradições da política econômica, sobretudo as engendradas no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda, este último que não tem a menor visão estratégica, tornaram o BC refém de uma escolha que não precisava ser feita. A alta dos juros apenas ocorre em função da política fiscal excessivamente expansionista quando a política monetária também o era. Fosse diferente, o BC poderia ter ficado quieto, pois que a fraqueza econômica não recomenda elevação dos juros. A inapetência de Guido Mantega e seus asseclas, todos comandados pelo Planalto, para fazer verdadeira política econômica, fez com que a escolha do BC, no que tange à política monetária, recaísse sobre o combate à inflação. Ainda o BC terá de cuidar de uma demanda crescente por dólares norte-americanos, por aqui e lá fora, a qual elevará ainda mais a inflação. Assim sendo, a aposta de que o PIB possa crescer ao redor de 1% passou de possibilidade remota para algo bastante factível.

Recomendações da hora

Permanecemos com a nossa recomendação de venda de ações (Índice Bovespa) e compra de moedas estrangeiras. O investidor não deve sossegar enquanto mantiver posições indesejáveis no mercado acionário. Melhor um prejuízo agora que um maior mais à frente.

"Política de campeões" e o "X" da questão

Daria uma tese de pós-doutorado a descrição e compreensão da política do BNDES, relativamente às suas escolhas de campeões da área industrial. Num mundo que se mexe com base nos chips e na alta tecnologia, a alta cúpula do BNDES se esforça para financiar frigoríficos de carne bovina e de aves, a "velha" indústria automobilística (e de auto-peças) e outros setores básicos desde os anos 70 do século passado. O país não tem escolas, professores, hospitais e médicos, mas pode se gabar dos frigoríficos cujos acionistas gostam de transitar pelos céus com seus jatos lotados de políticos. Não bastassem as tantas dúvidas em relação ao tema, há, ainda, o caso Eike Batista a ser clarificado. Como pode um empresário, de quem até os analistas de investimento novatos já tinham desconfiança em seus projetos, receber dinheiro público ? Chega a ser imoral, do ponto de vista do interesse público, que o BNDES seja vítima de ideias duvidosas de seu presidente Luciano Coutinho e demais diretores. Enquanto isso o Congresso repousa em berço esplêndido.

Perguntinhas incômodas

E a CPI da Petrobras, temida por poucos dias, onde foi parar ? Na gaveta de quem ? Ou será que os negócios internacionais da empresa não mais incomodam ?

Confronto e conciliação - I

Em pouco mais de um mês, coincidindo com as manifestações da rua que deixaram atarantados o Palácio do Planalto e o mundo político de um modo geral, Dilma conseguiu criar uma série de atritos políticos que em nada vão contribuir para tirá-la da situação de quase isolamento em que se encontra. Pode ser que ela até tenha razão em algumas das decisões que tomou e acabaram irritando este ou aquele segmento político, econômico e social. Porém, fiel a seu estilo de não ouvir mesmo quando parece estar ouvindo, acabou comprando brigas perigosas :

1. Com o Congresso Nacional quando, com pouca sutileza, quis jogar nas costas do parlamento a responsabilidade maior pela insatisfação nas ruas.

2. Com o PMDB, pelas mesmas razões, pois é dele o comando das duas casas legislativas Federais.

Confronto e conciliação - II

Nos dois casos, o troco já está aparecendo e a situação pode piorar quando o Congresso voltar do "recesso branco".

1. Com o seu próprio partido, o PT. A ausência da presidente na reunião da executiva nacional sábado foi engolida a seco, não foi digerida. Os dirigentes petistas tiveram de fazer extraordinários malabarismos para o caldo não entornar, mas a panela está cheia.

2. Com os médicos ao não consultá-los de fato para as mudanças substanciais de que está propondo na política nacional de saúde. É uma classe unida e muito afeita à política no dia a dia. Mais de 50 deputados Federais são médicos de origem. O preço político que ela vai pagar vai ser alto.

3. Com os governadores e suas bancadas, ao vetar, também sem consultas e afagos, o artigo da nova lei do Fundo de Participação dos Estados que determinava que o governo Federal ressarcisse aos Estados toda vez que fizesse uma desoneração tributária com base no IPI. Por tabela, os municípios também sairiam ganhando com isso.

Confronto e conciliação - III

Estas são apenas algumas amostras dos contenciosos políticos mais recentes que Dilma construiu para ela por livre e espontânea vontade. A realidade é que Dilma, ao contrário de seu habilidoso antecessor e protetor, o ex-presidente Lula, é mais do confronto que da conciliação. É mais da imposição que da consulta e da conversa. E, com exceções, está cercada de conselheiros da mesma estirpe e sem a correspondente competência. Dilma, seguindo, segundo fontes brasilienses, conselhos de Lula, tem feito esforços para mudar. Os exemplos desses esforços seriam a série de reuniões que ela tem feito. Mas nelas, ainda mais fala do que ouve. Com os governadores e prefeitos para lançar o pacto foi assim, no Conselhão também. Não é de estranhar, portanto, que cada vez mais tantos estejam com tantas saudades de Lula.

Com amigos assim...

PT e PMDB parecem estar numa acirrada disputa - na surdina, evidentemente - para ver quem tem mais queixas da presidente Dilma. O que eles - e todos os partidos aliados - precisam perceber é que o isolamento da presidente não faz bem a nenhum deles. E muito menos ao país. Pressionar para que haja mudanças de rumo no governo é legítimo - e dado o que está aí, correto. Esticar a corda demais é loucura.

Brincadeira de mau gosto

Não é para levar a sério a sugestão do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, de reduzir o número de ministérios de Dilma de 39 para 25. Menos ainda a PEC do líder do PMDB na Câmara, de estabelecer em 20 o número máximo de ministérios permitidos a um governo. São apenas lances do peemedebismo para deixar a presidente contra a parede.

Recado internacional

A leitura, com atenção, do segundo comentário de Lula para o site do "The New York Times" aponta para recados nada sutis para Dilma. Sem dizer, Lula dá ecos às insatisfações do PT e de aliados com o governo.

Lições das últimas pesquisas

Após três sondagens de opinião, por três institutos diferentes, com metodologias distintas, em períodos alternados (logo após os movimentos de junho) e cerca de 30 dias depois, já dá para consolidar algumas tendências na corrida eleitoral :

1. A perda de substância reeleitoral da presidente Dilma é mais profunda do que gostariam seus aliados e sua recuperação, a ponto de torná-la, como antes, uma candidata quase imbatível, embora não impossível, ficou mais complicada e demorada.

2. A melhor leitura das sondagens aponta para uma confirmação do que a "voz rouca das ruas" já apontava : uma forte rejeição de "tudo que está aí", seja do modo de governar, seja do parlamento, seja dos partidos, seja da política tradicional.

Em tradução : a sucessão presidencial é agora uma obra em aberto.

Lições para a oposição

O crescimento de Marina Silva, que não é identificada pela população como uma política tradicional, enquanto Aécio Neves patina e Eduardo Campos mantém índices de intenção de votos pouco competitivos, é um recado claro para a oposição, assim como está sendo para Dilma e os seus : os oposicionistas também não têm o discurso - as propostas de soluções para os problemas nacionais - que a sociedade espera.


Uma lição para todos

Do líder comunista italiano Enrico Berlinguer, um dos "pais" do eurocomunismo, citado pelo jornalista Sandro Vaia em sua excelente biografia do líder comunista brasileiro "Armênio Guedes" : "Sereno Guerreiro da Liberdade" :

"Os partidos de hoje são, sobretudo, máquinas de poder e clientela : pequena ou mistificada consciência da vida e dos problemas da sociedade, das pessoas; poucas ou vagas idéias, programas; sentimentos ou paixão civil, zero. Os partidos ocuparam o Estado e todas as suas instituições, a partir do governo. Ocuparam as instituições locais, os institutos de previdência, os bancos, as empresas públicas, os institutos culturais, os hospitais, as universidades".

Qualquer semelhança com o Brasil de agora não é mera coincidência.

Radar NA REAL

19/7/13   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta estável/alta
- Pós-Fixados NA alta estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,3193 estável baixa
- REAL 2,2354 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 47.400,23 baixa baixa
- S&P 500 1.6892,09 estável/alta alta
- NASDAQ 3.587,40 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

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Colunista

Francisco Petros Advogado, especializado em direito societário, compliance e governança corporativa. Também é economista e MBA. No mercado de capitais brasileiro dirigiu instituições financeiras e de administração de recursos. Foi vice-presidente e presidente da seção paulista da ABAMEC – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais e Presidente do Comitê de Supervisão dos Analistas de Investimento. É membro do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo e do Corpo de Árbitros da B3, a Bolsa Brasileira, Membro Consultor para a Comissão Especial de Mercado de Capitais da OAB – Nacional. Atua como conselheiro de administração de empresas de capital aberto e fechado.