Uma questão de confiança ?
A semana passada chegou ao fim com um clima ainda menos otimista entre os chamados agentes econômicos depois de mais alguns índices desfavoráveis relativos ao desempenho da economia brasileira. Entre outros, mais um "vexame" da indústria em que pesem os seguidos incentivos que o governo vem distribuindo. Agora não são apenas aqueles tidos como pessimistas profissionais ou os "jogadores do mercado" que já não acreditam que a economia nacional vá crescer mesmo modestamente como as autoridades constituídas acreditam – ou torcem para tal.
Uma questão de confiança - I
As contas oficiais vão dos 3,5% do ministro da Fazenda Guido Mantega, o mesmo índice adotado na primeira revisão orçamentária do ano, até 3,1% do mais comedido BC de Alexandre Tombini. No mundo fora do oficialismo, porém, as previsões já estão se fixando em 2,5% ou até menos. É o número predominante nas empresas, entre os "mercadistas" a aposta é menor. Há alguns, ainda com algum exagero, que já falam em menos de 2%. A única certeza – e algum consolo – é que, a não ser que sobrevenha um desastre, o PIB deste ano, ainda um PIBinho, será melhor que o PIBzinnho de 0,9% de 2012.
Uma questão de confiança - II
O que impressiona nesses sinais de descrédito do setor produtivo da economia nacional é que estes ocorrem mesmo diante do ativismo retórico do governo Federal, da presidente Dilma, do ministro Mantega e de outros menos votados, que dia sim, outro também, juram de mãos erguidas que o PIB vai se recuperar ali na esquina. Já foi em janeiro, já foi em fevereiro, já foi em março, pode ter sido em abril, vai ser certamente em maio... Além disso, impressiona também a atividade econômica não ter dado sinal de sua graça apesar de todos os pacotes com que tem sido agraciada. Todo esse ambiente indica, na realidade, que o sistema produtivo nacional – e mesmo os agentes privados, o cidadão comum consumidor – está perdendo a confiança na capacidade do governo de mudar para muito melhor os rumos da economia. E já não dá nota 10 para o que o governo diz e promete.
Há algo de novo no arUm dos maiores desafios teóricos e práticos da atual conjuntura é a conjunção de fatores "híbridos" que se somam para formar um cenário obscuro. Vejamos : temos emprego elevado, fraqueza de demanda, estabilidade do custo de crédito, inflação em alta, câmbio muito valorizado, injeção de recursos fiscais na economia e indústria cambaleante. Além disso, os investimentos externos estão vindo, mas pouco contribuem para o PIB crescer. O interessante é que o governo, detentor do maior número de informações sobre todos estes temas, não é capaz de organizá-los e torná-los matéria-prima para uma política econômica digna deste nome. Em meio a tudo isso há mudanças na Fazenda e no Desenvolvimento.
Semana cheiaA agenda desta semana está repleta de eventos no exterior. China, EUA, Japão e Zona do Euro divulgam dados relevantes sobre suas atividades econômicas e níveis de inflação, desemprego e indústria. O Brasil ocupa pouco espaço na agenda dos investidores, mas há um dado relevante para a economia nacional. Na próxima quarta-feira, o IBGE divulga o desempenho do varejo em março. A expectativa é de queda de cerca de 0,50%. O BC vai divulgar esta semana também sua prévia do PIB de março, o IBC BR. Uma coisa é certa : o mercado financeiro e de capital lá fora está eufórico. Parecem empolgados com qualquer indicador minimamente favorável. Os mecanismos que criaram a "bolha" de 2008 estão intactos e operando em larga escala...
A revolta do "subs"Pode ser apenas uma coincidência, ou questões de relações pessoais, profissionais e funcionais, mas o fato real é que dois principais funcionários da área econômica do governo estão insatisfeitos e podem pular fora do barco. Segundo informações brasilienses, o secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alexandre Teixeira, e o secretário Executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, pediram demissão. Coincidentemente, ambos são de extrema confiança da presidente Dilma e ambos também têm dificuldades de convivência com seus chefes diretos, o ministro Fernando Pimentel e o ministro Guido Mantega. Mas como o céu em Brasília, por causa do ambiente econômico, não está para voos de brigadeiro, não é improvável que os dois – ou um deles – e quem sabe outros mais percam a cabeça para justificar o que já está acontecendo. Quando as coisas vão mal, a tese do bode expiatório sempre entra em ação. Afinal, no mundo da burocracia tem de haver sempre um responsável por erros ou equívocos. E ele não pode ser o chefão ou chefona.
O poderoso – não é formalmente ministro, mas manda formalmente muito mais que a maioria deles – Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento Logístico, anunciou em evento organizado pela FIESP que o pacote de concessões de rodovias está finalmente pronto e os leilões deverão começar a ocorrer a partir de setembro. O pacotão logístico – inclui, além de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos – foi lançado pela presidente Dilma Rousseff, em um evento com toda a pompa e circunstância marqueteira oficial em agosto passado. Portanto, os leilões vão abrir-se quase um ano depois, após a primeira tentativa de conceder lotes da BR-040 e da BR-116 ter fracassado em janeiro por falta de interessados. É tempo demais para um país que já tem quase 20 anos de experiência em concessões de rodovias. O próprio governo petista já fez as suas.
Faltou dizer a razão - II
Figueiredo não explicou os motivos de tanta demora nem foi perguntado sobre isso. Não precisava, porém. A razão é simples e clara : a forma envergonhada com que o governo Dilma avança nas privatizações (prefere o apelido de "concessões"), a tentativa de manter tudo sobre controle oficial e a visão de que os concorrentes privados só querem ter lucros abusivos e precisam ser vigiados. Um dos exemplos desse ativismo estatal é a tentativa de tabelar o lucro do negócio. O governo foi avisado várias vezes de que isto afugentaria concorrentes. Deu de ombros. Só na semana passada, depois de anunciar várias vezes que o faria e recuado, admitiu que a Taxa Interna de Retorno das rodovias passasse de 5,5% para 7,5%. Também para tornar o negócio mais atraente, está facilitando investimentos com dinheiro público, principalmente com o generoso coração do BNDES. Talvez tenha de ceder mais porque está colhendo a desconfiança que plantou a seus reais propósitos de fazer de fato parceria com o setor privado.
A abertura dos portos
Conceitualmente o governo tem toda a razão de querer pressionar o Congresso para não sucumbir aos lobbies que estão a operar na votação da MP dos portos. Tentam os atuais operadores evitar a concorrência e, assim, operar com os atuais altos custos (e lucros). Neste sentido, a ministra Gleise Hoffman tem toda razão ao afirmar que as negociações não podem descaracterizar os objetivos da MP. O conceito está correto. Todavia, do ponto de vista de gestão governamental há questões inquietantes : (i) por que o governo demorou tanto tempo para implementar estas mudanças ? (ii) por que o governo mantém uma base tão elástica se quando requer apoio tem de negociar quase tudo que quer implementar ? Há ainda uma questão estranhíssima : a ministra Ideli Salvatti, recém-adepta da "privatização" dos portos, pregava no parlamento, quando lá estava, contra aquilo que o governo quer fazer. Haja contorcionismo...
Momento decisivo
O PSDB escolhe esta semana seu novo diretório nacional. O candidato único – por enquanto – é o senador Aécio Neves, também favorito para ser o candidato do partido ao lugar da presidente Dilma Rousseff. O mineiro tem o apoio de alguns dos principais líderes do partido, entre eles sua figura maior, o ex-presidente FHC. É o preferido também da maior parte dos diretórios estaduais e dos parlamentares da legenda. Tem, porém, pedras no caminho. O principal, que não esconde de ninguém suas birras, é o ex-governador e ex-ministro José Serra. Com ele, o dito "serrismo", cuja verdadeira dimensão no tucanato ninguém conhece em profundidade. Outra incógnita é o governador Geraldo Alckmin, cujos sinais são contraditórios – ora num sentido, ora no outro, como quem às vezes pensa no lugar de candidato presidencial, numa composição (pouco provável) com Serra candidato a governador. A força de Aécio no partido hoje é inegável, mas se ele não conseguir desde a eleição para o diretório uma união para valer das forças tucanas, começa sua trajetória presidencial muito fragilizado. Além de um "discursinho" equivalente ao "PIBinho".
A crença de Lula e Dilma - I
Mais da fragilidade dos possíveis concorrentes do que em tudo está hoje concentrada a principal estratégia reeleitoral de Dilma. As análises oficiais, para consumo interno, indicam crescimentos mais generosos da economia. PIBãos apenas num possível segundo mandato. Uma situação dessas, de economia rateando, influi no espírito das camadas mais informadas da população e é um fator eleitoral negativo para Dilma. Ela vinha colhendo alguns frutos nesta seara, mas é um território no qual o PT nunca foi benquisto. Portanto, incomoda menos.
A crença de Lula e Dilma - II
A atenção toda está voltada para evitar que os tropeços da economia atinjam o eleitorado preferencial de Lula-Dilma, o que ocorreria se eles atingissem o emprego e o poder de compra dos assalariados. A economia deve ser embicada nesta direção. Foi o que ensinou o secretário do Tesouro, Arno Agustín, em entrevista há dez dias ao "Valor Econômico". A chance de se segurar esta situação, sem solavancos, até outubro do ano que vem, é grande. Depois, bem... depois a eleição terá passado. Por via das dúvidas, porém, é de bom tamanho esvaziar a oposição. A divisão do PSDB, incentivada por alguns elogios antes negados a José Serra, e a divulgação de pesquisas informais dando o ex-governador com um bom cabedal de votos (o que é fato nas circunstâncias atuais) é um deles.
A crença de Lula e Dilma - III
É esta também a motivação dos movimentos para garrotear as candidaturas de Marina Silva e Eduardo Campos, não só com as mudanças ensaiadas na legislação eleitoral como com a conquista, a troco de benesses, de possíveis aliados dos dois. O cerco sobre a ex-ministra do Meio Ambiente e o governador de PE deve se fechar cada vez mais até, se possível, deixá-los respirando politicamente por aparelhos. Aécio também não será poupado, na hora certa. A estratégia é ter o mineiro como adversário único da Dilma, totalmente enfraquecido e com a imagem desgastada.
A crença de Lula e Dilma - IV
É por essas e muitas outras que o ex-presidente Lula está cada vez mais ativo e todos os pudores que procuravam manter certa distância entre ele e a presidente Dilma Rousseff foram inteiramente abandonados. Eles estarão cada vez mais próximos, discutindo cada passo político e administrativo a ser dado, na aliança governista e no governo, sem se importarem com as fofocas de que o Brasil vive um copresidencialismo.
A crença de Lula e Dilma - V
Em poucas palavras, o governo tem o arrojo eleitoral que não tem na gestão governamental...
É a festaQuem está gostando de tudo isso são os partidos da base aliada, exceção talvez do PT, a quem está reservado o papel de ceder para não desagradar os parceiros. Os outros aliados nunca estiveram tão valorizados. E estão sabendo cobrar a sua parte.
Radar NA REAL
13/5/13 | TENDÊNCIA | ||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ | |||
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Câmbio ² | |||
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Mercado Acionário | |||
- Ibovespa | 54.447,77 | estável/queda | estável |
- S&P 500 | 1.633,77 | estável/alta | estável/alta |
- NASDAQ | 3.438,79 | estável/alta | estável/alta |
(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA – Não aplicável