Revisionismo em Dilma ?
Nos primeiros dois anos de mandato de Dilma dá para contar nos dedos das duas mãos a quantidade de empresários que passou pelo "confessionário" do Palácio do Planalto, ou seja, que teve a glória de ter uma audiência, pública ou privada, com a presidente. A exceção é Jorge Gerdau, da copa e cozinha presidencial, escolhido por Dilma para comandar um programa de busca de eficiência no governo Federal. De repente, em dois dias a presidente recebeu em seu gabinete seis potentados do que se costumava chamar antigamente de classe produtiva. O objetivo da mudança da postura da Dilma, confessado, é induzi-los a investir mais no Brasil para afastar o país da "armadilha do crescimento" (expressão cunhada pelo economista José Roberto Mendonça de Barros) em que se encontra. No fundo, trata-se de tentar recuperar a confiança desses agentes na atual política econômica, abalada por uma série de sinais contraditórios emitidos de Brasília nos últimos meses. A questão não é apenas ouvir. É também "escutar", procurar entender e, principalmente, fazer a máquina andar na direção e no ritmo certos. A realidade, até agora, é que certo autismo se apoderou de Brasília na gestão Dilma, com excesso de auto-suficiência.
Um pouco mais de realismoSegundo alguns analistas, para completar esse "revisionismo" o governo deveria também ater-se mais aos fatos como eles são, marcar mais encontros com a realidade. Entre outras coisas, ajustar suas previsões em matéria de economia, conter seu gosto por promessas e marketing em limites razoáveis, admitir falhas e fracassos, quando for o caso. O episódio da maquiagem do superávit primário, absolutamente desnecessário, é exemplo do que não se deve fazer. A insistência em dizer que o processo inflacionário está dentro dos limites da normalidade também não. O modo como está sendo tratada a questão elétrica, idem. Fontes oficiais chegaram a informar, anonimamente, que um surto de realismo bateria no governo Federal depois da volta da presidente a Brasília, antecipada em alguns dias por causa das conversas sobre uma possível falta de energia. Não foi o que se viu. O esforço brasiliense foi para dizer que tudo vai bem nas barragens das hidrelétricas. Melhor teria sido dizer que o risco de racionamento está muito distante, mas aconselhar à população moderação no uso de energia elétrica. Antes prevenir que remediar.
Alhos e bugalhosNa trilha sonora federal do "olha como estou contente", o presidente do BC, Alexandre Tombini, explicou que o resultado da inflação do ano passado não foi um desastre, porque, além de ter ficado abaixo do teto da meta (embora bem acima do centro) foi menor do que em 2011 – 5,84% contra 6,5%. A comparação, no entanto, não é totalmente pertinente. No início de 2012, por razões técnicas totalmente explicáveis e aceitas, o IBGE alterou a ponderação dos itens que compõem a cesta pesquisa para apurar o IPCA. Reduziu, por exemplo, o peso dos serviços, item que nos últimos anos andaram empurrando para cima o índice inflacionário. De acordo com um estudo do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, com a ponderação antiga o IPCA de 2012 teria batido em 6,54%. Logo, Tombini está comparando alhos com bugalhos.
Enganos e tramoias
De Adam Galinski, PhD em Psicologia Social pela Universidade de Princeton e professor da Columbia Business School, citado pelo editor do jornal argentino La Nación, cuja carapuça cabe em muitas outras cabeças coroadas da América Latina, além da destinatária em Buenos Aires : "Os poderosos são mais propensos a enganar e quebrar as regras, até mesmo as que eles mesmos estabeleceram. Quem detém o poder sente-se psicologicamente invisível. Assim, liberado do olhar dos outros, faz o que lhe dá na telha. Por isso, os poderosos se sentem com o direito de fazer tramoias e tomar o que querem. Esse sentimento de 'ter direito' os torna hipócritas : ao mesmo tempo em que agem imoralmente, sentem que podem exigir dos demais um padrão estrito de moralidade e autocontrole" (Traduzido pelo jornal "O Estado de S. Paulo").
O que o BC vai escrever ?
Há uma grande expectativa sobre o que o BC vai dizer na nota explicativa posterior à reunião do Copom de hoje e amanhã e, principalmente, no texto mais alentado da ata do encontro, só liberado uma semana depois. O grupo liderado por Alexandre Tombini vai se deparar com duas realidades econômicas que estavam apenas esboçadas em seus comunicados anteriores : a persistência da inflação em níveis elevados e bastante espalhada e as manobras contábeis do Tesouro Nacional para fingir que entregou o prometido superávit primário cheio (3,1%) em 2012. Quanto à questão fiscal, o BC já vinha fazendo sutis alertas para a política expansionista do governo Federal. Agora não há mais sutilezas. Como o BC vai se virar ? Sua comunicação com os agentes econômicos já anda um pouco cheia de ruídos. E o Palácio do Planalto insiste em equilibrar-se entre a agenda econômica e agenda político-eleitoral. Como o BC vai se virar nessa corda bamba ? Dançando de sombrinha, como na canção da anistia, "O Bêbado e o Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, imortalizada por Elis Regina ?
Dilemas monetáriosConceitualmente o Brasil vive um processo de inflação relativamente elevada comparativamente às principais economias e uma taxa de crescimento equivalente ou inferior a vários destes países. Mais que um processo de estagflação, trata-se de um processo estrutural de perda de competitividade na medida em que grande parte desta inflação não é "repassada" à taxa de câmbio ou, ainda, esta última se valoriza mais. A política fiscal expansionista ainda tem efeitos menores no curto prazo, mas pouco a pouco está destruindo a reputação ordeira de nossas contas públicas, apesar da relação dívida/PIB ser muito saudável (35%). Neste contexto, há de se reconhecer que o papel do BC brasileiro não é nada fácil. Subir a taxa de juros num contexto de estagnação seria inadequado. Deixar a inflação "correr solta" também não pode, mas o custo de elevação da taxa de juros seria um exagero frente aos benefícios em termos de inflação. Além dos efeitos de valorização cambial. Portanto, mais que o contorcionismo que o BC terá de fazer em seus documentos públicos será necessário que Tombini e seus diretores, no uso de sua autoridade sobre a moeda, diga como vê os dilemas perante os quais se defronta.
Vocação para o poder
Não dá para saber com certeza quem será o próximo presidente da República : se Dilma Rousseff, a favorita atual, se um oposicionista disfarçado como Eduardo Campos, um oposicionista moderado como Aécio Neves, uma oposicionista mais radical, como Marina Silva, ou alguém que venha a emergir de surpresa. Todavia, já se pode assegurar, desde hoje, sem nenhuma possibilidade de erro, que um dos principais partidos da aliança que sustentará o futuro governo no Congresso, qualquer que venha a ser o seu comandante, será o PMDB. Desde os tempos do velho PSD, nunca se viu um partido com tanta vocação para o poder como o dos peemedebistas.
O imortal SarneyEx-presidente da Arena, partido que sustentou a ditadura, do qual usou a catapulta do Colégio Eleitoral para virar um aliado do PMDB, o partido de oposição à ditadura, José Sarney continua aos 82 anos a sua trajetória vitoriosa. A exposição de fotos de suas quatro gestões como presidente do Senado Federal é digna das lembranças do "culto a personalidade" dos tempos do stalinismo. O vice-rei do Maranhão permanece na sua posição anfíbia. Quando submerso, age com absoluto silêncio para alcançar o que quer. Quando na superfície, empola a linguagem, suaviza as palavras e, assim, disfarça as grandes ambições que tem. Não à toa domina áreas inteiras do território do poder. Com a aquiescência do PT, o Partido dos Trabalhadores e da presidente que se esforçou para deixar o velho senador se sentar na cadeira da presidente quando de sua viagem ao exterior e na ausência do sempre alerta Temer. Quanta doçura a de Sarney. Tudo pela pátria.
Vocação para a derrota ?
Bem ou mal, tendo como maior amálgama a caneta e o "Diário Oficial" e a perspectiva de poder futuro, as forças governistas de hoje em Brasília vão se mantendo mais ou menos unidas – à parte os pontapés e golpes abaixo da cintura nos bastidores. Já a oposição formalmente representada no Congresso parece vocacionada para o ostracismo. Vira e mexe o DEM fala em desligar-se dos parceiros. O PPS anda a procura de um autor. E no PSDB o clima é quase de conflito. Fernando Henrique trabalha pela unidade, mas Aécio fica "se fingindo de morto" o que intimida certos parceiros, Serra emburra e fala em fundar um partido novo, Alckmin sai de seus pagos de governador paulista num momento delicado de sua gestão para tumultuar o ambiente pregando prévias para a escolha do candidato presidencial do partido. A seguir este caminho, a oposição estará entrando na antessala de mais uma derrota. Ou, caso Dilma se enrole nas questões econômicas, abrindo espaço para outros oposicionismos, como o de Marina Silva e outros, mais ou menos visíveis.
Será ?A depender de boa parte dos caciques tucanos, Aécio Neves assumirá a presidência nacional do partido como primeiro passo para consolidar sua candidatura presidencial. Pelo menos até pouco tempo atrás não era esta a estratégia do senador mineiro ? Terá mudado de posição ? É melhor esperar como São Tomé.
Óleo de perobaEm conversa informal com alguns jornalistas na semana passada, o ex-governador José Serra disse não saber a origem da informação, publicada em primeira mão pelo jornal Folha de S.Paulo de que ele cogita fundar um novo partido, diante das dificuldades de viabilizar mais uma candidatura presidencial no PSDB. Para ter uma dúvida dessas, Serra não deve estar se olhando no espelho nem conversando consigo próprio. Se estivesse, saberia perfeitamente quem está espalhando esses "balões" e outros como o de que ele poderia ainda se transferir para o PPS ou para o PSD de Gilberto Kassab.
Silêncio no mercado
O Brasil ainda é uma sociedade na qual as pessoas temem, de forma quase que absoluta, divergir publicamente da opinião oficial dos poderosos de plantão. É este também o comportamento dos banqueiros e investidores que resmungam palavras de horror contra as políticas governamentais nas reuniões privadas, mas que dão entrevistas de apoio ao governo diante dos jornalistas. Todavia, não deve se enganar o governo : a quebra de confiança dos "poderosos econômicos" é profunda e, talvez duradoura. No mercado de capitais, são os títulos de renda fixa das empresas que lideram as emissões externas. Além da estrutural liquidez internacional fruto da crise profunda em que se encontram as economias centrais, o aumento das emissões se deve a antecipação de operações que seriam feitas no futuro. A razão é simples : temem os empresários que ao final do ano as perspectivas do país esteja piores que as atuais.
Mensalão. Ainda.
Tudo que vemos na imprensa sobre os embargos a serem interpostos pelos causídicos que defenderam os mensaleiros não passam de especulações, "balões de ensaio", para testar certos ânimos dos ministros do STF. Nenhum sinal da parte dos ministros foi emitido nestes tempos de férias da Corte Maior.
Radar NA REAL
11/1/13 | TENDÊNCIA | ||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ | |||
- Pré-fixados | NA | estável | estável/alta |
- Pós-Fixados | NA | estável | estável/alta |
Câmbio ² | |||
- EURO | 1,3364 | baixa/estável | baixa |
- REAL | 2,0308 | estável | estável/baixa |
Mercado Acionário | |||
- Ibovespa | 61.490,68 | estável | estável |
- S&P 500 | 1.464,06 | estável | estável |
- NASDAQ | 3.110,46 | estável | estável |
(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA – Não aplicável
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