Política, Direito & Economia NA REAL

Política & Economia NA REAL n° 195

Ao avaliar o mercado, do ponto de vista dos colunistas, o próximo trimestre será de alta volatilidade, muito embora sem os impactos devastadores do final de 2008 e início deste ano.

24/4/2012

O momento do mercado (I)

Não se pode afirmar que os diversos segmentos de mercados não tenham sido mais otimistas que os próprios indicadores de desempenho das economias. Isso se deve ao fato de que os investidores estão operando em duas vertentes principais : (i) a primeira em função da crença (parcialmente justificada) de que a economia mundial (especialmente os países centrais do capitalismo) irão se recuperar a partir do ano que vem; (ii) uma segunda corrente acredita que um cenário de estagflação é provável e, na sua ocorrência, deter ativos reais é uma alternativa à renda fixa que tem rendimentos negativos. Como se sabe, o tal do mercado costuma acertar na tendência, mas exagera quase sempre. Não fosse esta a sua característica a "eficiência" dos investidores teria evitado muito antes as "bolhas especulativas" que destruíram o crescimento global. Os bancos centrais e as autoridades econômicas estão buscando evitar de todas as formas que exista excessiva volatilidade, esta uma inimiga visível e atuante na deterioração das expectativas.

O momento do mercado (II)

Do nosso ponto de vista, o próximo trimestre será, ao contrário do desejo das autoridades, um trimestre de alta volatilidade, muito embora sem os impactos devastadores do final de 2008 e início deste ano. Os preços dos ativos no mercado financeiro melhoraram muito em relação aos seus patamares inferiores e nos parecem "justos" para o momento de indecisão que vivemos. Nesta categoria se enquadram o mercado de ações local e dos EUA. No caso da Europa, por conta de sua situação de crédito, as ações devem sofrer mais, em termos relativos. Para o Brasil, o maior perigo reside no fato de que as ações locais devem acompanhar os preços das commodities no mercado externo. Como mencionamos na semana passada, há fundadas razões para acreditarmos que os investidores estão "desmontando" posições em diversos segmentos do mercado de commodities e isso conspira contra o valorizado mercado acionário brasileiro. Além disso, o resultado das exportações será afetado por este processo. Não à toa, a mexida do dólar para cima tem menos relação com as atuações do governo nos juros e no mercado cambial. O momento é de cautela. Não estamos mais pessimistas, mas não encontramos razões para acreditarmos em altas de preços nos ativos brasileiros.

A dor de cabeça dos preços dos combustíveis

O dólar, empurrado pelo BC, caminha celeremente para chegar aos R$ 1,90 – ou até mais. O petróleo não dá sinais de que vai perder preço tão cedo. Isto coloca em xeque a política de preço dos derivados de petróleo imposta à Petrobras pelo governo. Até Graça Foster, tida e decantada como fiel escudeira da presidente Dilma, já começa a chiar. Vai ter de ficar quietinha mais um pouco. O governo não quer botar gasolina na inflação para não atrapalhar seus planos de juros baixos e empurrão no consumo.

Crescimento em foco

Acerta o governo em mirar sua estratégia econômica em ativar a atividade econômica. Além disso, a queda do spread bancário é desejável e, de fato, possível. O uso dos bancos oficiais neste processo também nos parece justificável, muito embora seja necessário que exista estrita observância governamental ao aumento da inadimplência. O ponto crítico e ainda pouco atendido pelas políticas do governo é a questão do investimento. Neste item, a desconfiança dos agentes em relação ao PAC e aos investimentos em infraestrutura é considerável. É preciso retirar das mentes destes agentes a sensação de que existe uma gestão deficiente da parte do governo. Além disso, é importante se identificar no ambiente regulatório onde estão os "gargalos" e trabalhá-los com a iniciativa privada, preservando o interesse público. Ações efetivas neste campo deveriam retirar os temores de que a infraestrutura não será capaz de atender o crescimento do consumo. O governo deve saber que aí reside o maior risco. Todavia, ainda não se identificou o que o governo fará a respeito. Tem de ser algo de impacto, sob pena de ficar obscurecido pelo ambiente político tumultuado. Em suma : Os investimentos estão em queda (ou, no mínimo, estagnado), o consumo deve subir e mais incentivado ainda - essas contas podem não fechar no longo prazo.

O filhote de Merkel

Jens Weidmann, o jovem presidente do Bundesbank (44 anos), o banco central alemão, está fazendo uma vigorosa e pública exortação pela "disciplina fiscal e monetária" dos governos europeus. Ademais, está se confrontando com a política de acomodação monetária adotada pelo Banco Central Europeu, sob a liderança do italiano Mario Draghi. Pouco parece incomodar o tecnocrata de Merkel, o recrudescimento dos temores em relação à divida soberana da Itália, Espanha e Portugal. Também pouco leva em consideração que estes países e outros tantos, como é o caso da Grécia, estejam com um desemprego gravitando entre 20% e 25% da força de trabalho. Além disso, o burocrata alemão não faz nenhuma reflexão crítica que aponte que a causa do desarranjo fiscal e monetário atual se deve a necessidade imperiosa que os governos tiveram para salvar os bancos privados que andavam metidos no imenso processo especulativo desde o início dos anos 2000. Ora, Weidmann não é apenas inconveniente. É o retrato fiel de um conservador descolado da realidade mais óbvia. Lord Keynes deixa saudades.

França : os extremos são fiéis da balança eleitoral

Nicolas Sarkozy e François Hollande conquistaram a vitória para a disputa do segundo turno. Agora não deverão apenas buscar apoio nos outros candidatos presidenciais. Terão de fazer uma ginástica olímpica, marcada por evidentes traços de contorcionismo para atrair os votos de quase 30% do eleitorado que votou na extrema direita transfigurada em Marine Le Pen (18% do total de votos) e outro tanto que votou em Jean-Luc Mélenchon (11%). Ao que parece, a ginástica maior ficará por conta do atual presidente que terá de atrair os votos da extrema direita. O maior efeito deste processo pode ser sobre o "pacto" de Merkel com Sarkozy no que tange a superação da crise europeia. Os compromissos de Hollande com o seu eleitorado sindical devem mitigar os planos alemães para que exista mais aperto fiscal na Eurolândia.

A CPI da vingança (ou do medo)

Para alguns petistas, incendiados por Lula, a CPI do Cachoeira, será a CPI da "vingança". Para a maioria do Congresso, será a CPI do "medo" – o número de assinaturas recorde na proposta de convocação não quer dizer nada – ninguém quer ficar mal com o eleitor sendo contra investigações de corrupção. O que não quer dizer que a Comissão, cuja instalação e primeira reunião estão previstas para quarta-feira, vá seguir em frente. Pode ser que sim, pode ser que não. E o mais provável é que não. "Malfeitorias" demais passaram por esta "Cachoeira" para que haja empenho de verdade nas apurações. Como diz o dito popular, "se arrependimento matasse" muito gente boa que incentivou a CPI estaria agora apagando fogo no inferno. Só Lula não dá sinais de arrefecimento de ânimo, para desalento de muitas pessoas ligadas à presidente Dilma.

Hora do PMDB

Um dos efeitos, da convocação da CPI foi que Dilma, depois de uma manobra arriscada para se livrar de certo peemedebismo, vai agora depender das mesmas figuras que queria jogar no ostracismo, para não deixar as investigações atropelarem o governo – José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá. Outra consequência : Dilma terá de fazer um esforço redobrado para que projetos de seu interesse andem na Câmara e no Senado e andem no rumo que ela quer. Alguns parceiros vão aproveitar a confusão para cobrar pedágio do Palácio do Planalto. A inflação na economia está acomodada, mas a política está inflacionada desde que Lula botou fogo na CPI.

Dilma e as perspectivas de poder

Não deixa de ter sido um pouco estranho o DataFolha haver incluído em sua última pesquisa sobre a popularidade da presidente Dilma e a aceitação de seu governo uma pergunta específica para saber quem deveria ser o candidato do PT ao Palácio do Planalto em 2014. Deu Lula com folga e não Dilma, apesar do prestígio da presidente estar nas alturas e em crescimento (66%) muito acima do que Lula e FHC alcançaram em períodos idênticos de governo. No entanto, mesmo a informação de que o PT prefere Lula a Dilma (também não é uma surpresa) é boa para ela. Por mais que sonhem os mais lulistas dos petistas, Lula, pelas peripécias que enfrentou – e ainda está enfrentando –, é peça fora do esquadro na sucessão presidencial de 2014. Vai colher votos, não para ele. Assim, Dilma aparece como única opção viável para o PT, só correndo riscos se a economia começar a fraquejar e os sonhos de consumo da chamada nova classe média sofrer um baque. O que explica a insistência dela em não deixar arrefecer o consumo, as pressões para a queda dos juros e o aumento da oferta de crédito bancário. E enquanto ela for a perspectiva de poder, os aliados, mesmo contrariados em alguns desejos, não abandonarão o iate presidencial.

Judiciário em chamas

As trocas de "amabilidades" entre os ministros Cezar Peluso e Joaquim Barbosa, trouxeram a nu o que já era bem evidente : a idiossincrasias e disputas de ego no Supremo Tribunal Federal. Quem leu reportagem do jornalista Luis Maklouff Carvalho em edição do ano passado de revista "Piauí" sobre o STF e os senhores magistrados percebeu o tamanho da confusão e o impasse a que está chegando a Suprema Corte. Fruto de escolhas de ministros nos últimos anos, que, mesmo com embasamento técnico, levaram em conta principalmente questões políticas. É consequência também da extraordinária "judicialização" das atividades sociais, políticas e econômicas no Brasil. Os ministros deixaram de ser apenas magistrados e agora são também partícipes do processo. O ministro Ayres Britto, no discurso de posse na presidência do STF deu sinais claros que está consciente do problema. Sua grande contribuição à Justiça brasileira nesses poucos meses (se aposenta em novembro) que ficará à frente do Supremo será colocar a instituição dos eixos, podando egos, idiossincrasias e veleidades de popularidade.

Ativismo midiático

De Joaquim Falcão, professor de Direito Constitucional da FGV DIREITO RIO, em entrevista ao jornal "Valor Econômico" : "O Supremo mudou de cultura. No passado tinha uma cultura mais interna, discreta, onde se sobressaia mais a Corte, o colegiado. De uns 15, 20 anos para cá essa cultura mudou e passou a ser mais individualizada, menos colegiada. Isso se reflete inclusive nas decisões do Supremo. Mais de 80% das decisões são hoje tomadas individualmente pelos ministros, e não tomadas pela Corte como órgão coletivo. Outro ponto que se fala é um certo ativismo político do Supremo, quando [o STF] tenta se expandir interferindo em matéria que seria do Legislativo, ou do Executivo ou ainda quando passa a intervir demais em assuntos de domínio privado. Esse ativismo não me preocupa nesse momento, porque não acredito que tenha passado de um ponto expressivo. O que me preocupa é o ativismo midiático, com excessiva exposição pública, individualizada dos ministros. O ativismo midiático cria mais insegurança do que o ativismo jurídico".

Obama : 10 a 1

O Partido Democrata, ao final de março último, tinha US$ 100 milhões para a campanha eleitoral de Barack Obama. Dez vezes mais que o provável candidato republicano Mitt Romney. Muitos analistas têm relevado que, mais do que nunca, a eleição norte-americana não é mais um "show da democracia", mas uma aberração da "plutocracia". Em meio à crise atual, o establishment da maior economia mundial dá sinais que Obama representa mais os seus interesses que o ideário "mercadista" e liberal dos republicanos. E isto se reflete nos números da conta bancária do primeiro presidente negro. Obama docemente se converte a um moderado discurso para a eleição. Romney não consegue radicalizar : falta-lhe consistência com o dramático cenário das classes mais pobres e médias da sociedade americana. A eleição de Obama em novembro parece certa até agora.

Radar NA REAL

20/4/12 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável estável/alta
- Pós-Fixados NA baixa baixa
Câmbio ²
- EURO 1,3134 estável baixa
- REAL 1,8838 estável/baixa estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 62.494,08 estável estável
- S&P 500 1.378,53 estável alta
- NASDAQ 3.000,45 estável alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA – Não aplicável

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Colunista

Francisco Petros Advogado, especializado em direito societário, compliance e governança corporativa. Também é economista e MBA. No mercado de capitais brasileiro dirigiu instituições financeiras e de administração de recursos. Foi vice-presidente e presidente da seção paulista da ABAMEC – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais e Presidente do Comitê de Supervisão dos Analistas de Investimento. É membro do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo e do Corpo de Árbitros da B3, a Bolsa Brasileira, Membro Consultor para a Comissão Especial de Mercado de Capitais da OAB – Nacional. Atua como conselheiro de administração de empresas de capital aberto e fechado.