Inflação e crescimento : como acomodar
Dilma não poderia ter sido mais explícita nas conversas que teve com um grupo de jornalistas na sexta-feira : não haverá combate à inflação com sacrifício do PIB (ela chamou "crescimento zero"). Com isso, confirma-se o que escrevemos mais de uma vez neste espaço e muitos analistas já punham em suas contas : nem em 2012 o BC chegará à meta de inflação de 4,5%. Ficará para 2013. Isto explica também o comunicado lacônico do Copom. Após o último aumento da Selic, na semana passada, de 0,25%. E pode ser lido na entrevista concedida por Marcio Holland, secretário de Política Econômica ao "Estadão", ao defender que a inflação no Brasil tem ainda forte componente externo. Se tem, o que se pode fazer por aqui é pouco. Entre os especialistas não oficiai,s a dúvida é como acomodar o crescimento que a presidente quer – não menos de 4% - com inflação mais ou menos obediente. É desafio para mágico.
Um amparoPor isso, não devem os empresários esperar grande esforço do BC e da Fazenda para melhorar o câmbio. O dólar faz parte do arsenal de combate à elevação de preços. A aposta do governo para ajudar a indústria nacional, cada vez menos competitiva, é o plano de incentivos que Dilma promete anunciar hoje. Sem grandes ilusões : incentivos que signifiquem perdas pesadas de receita ficarão para outra ocasião.
A cota da PetrobrasA Petrobras, como se noticiou, foi obrigada a manter seu plano de investimentos 2011/15, depois de pesadas discussões com o ministério da Fazenda, praticamente no mesmo nível do programa 2010/14, com um aumento de menos de 0,5%. Esta foi a contribuição que a estatal terá de dar à política anti-inflacionária : para investir mais teria de reajustar os combustíveis, artificialmente controlados há algum tempo. Nesta área, para o governo basta a pressão do etanol, que nem na safra está se comportando.
Perda de confiança ?O envolvimento do BC e o da Petrobras (quem sabe, no futuro, de outras instituições) nesse tipo de política (ver nota abaixo) não pode abalar a confiança dos agentes econômicos e dos investidores na autonomia dos dois ? Eles passam a ser órgãos "de governo" e não de "Estado" e isso pode ser perigoso. O mercado, por meio da pesquisa Focus (consulta que o BC faz à 100 especialistas), já deu uma indicação esta semana : apesar do aumento da Selic, eles aumentaram a previsão para a inflação do ano que vem.
Brasil, em pauta
Na semana passada, a coluna esteve em contato com bem posicionados investidores. Destes que têm seus fundos estacionados em paraísos fiscais e contratam PhDs para formularem suas "teses de investimento". Pois bem : qual não foi a surpresa destes colunistas sobre os comentários destes investidores dando conta de uma crise imobiliária no Brasil. O mais interessante é que o rol de argumentos destes é insustentável, não apenas porque a inadimplência na área imobiliária não é tão elevada como também não há uma queda monumental do preço dos imóveis no país. Há algo de novo no front. É o que pudemos constatar. O Brasil nunca foi o paraíso pregado há pouco tempo por estes mesmos investidores. Todavia, não está na iminência de uma crise. De toda a forma, vale o alerta : o dinheiro não tem pátria. Sua pátria é o lucro.
É a política, sempre a política
Não custa repetir, para lembranças posteriores : as razões que estão levando a presidente Dilma a aceitar um pouco mais de inflação, por um tanto mais de crescimento, são de ordem meramente política. Ela precisa ainda firmar sua imagem e sua liderança, o que poderia (ou pode) ficar complicado se a economia cair muito e surgirem demissões e a renda do assalariado perder força. Os aliados começariam logo a chiar. Por isso, o salto de equilibrista (sem rede ?) que está sendo exigido do BC e do ministério da Fazenda.
E ainda tem o fantasmaEscutem três pessoas ligadas ao mundo oficial e vocês terão três informações sobre as relações de Dilma e Lula : (a) estão excelentes; (b) estão mais ou menos; (c) há queixas dos dois lados. A realidade é que, boas ou más, há ciúmes de um lado e apreensão de outro. Queira ou não, Lula é um fantasma que assombra Dilma. A questão da popularidade é uma. Se a economia, por exemplo, perder um pouco de rumo, as atenções vão ser voltar para o "oráculo" de São Bernardo : "com ele era diferente" e coisas assim. E Lula, mesmo querendo ajudar com sua movimentação, mais complica do que tudo. Está sempre lembrando que não se aposentou nem é de ficar no banco de reservas.
O efeito demonstração
O governo está sorrindo como nunca com as pesquisas reservadas (nem tão assim, na verdade) que indicam que a "faxina" que a presidente está fazendo no ministério dos Transportes está sendo muito bem vista entre os formadores de opinião, principalmente na classe média. Mesmo que seja uma limpeza incompleta, pois o problema lá não é apenas de nomes, dos valdemares, mas também e especialmente de procedimentos, de normas. E de controle e de fiscalização. Por onde andou por todo esse tempo a CGU ? E os fiscais do PAC, com seus pais e mães. Mas mesmo com esse sucesso de público, não se espere, a não ser que novas denúncias surjam, que a faxina vá extrapolar a área de rodovias e ferrovias e avançar em outras direções na Esplanada dos Ministérios. A presidente ainda não sabe o cacife que tem para enfrentar aliados mais fortes e mais sabidos. O PR pagará sozinho – e deverá ter uns afagos discretos. As decisões da presidente de fazer a limpeza, bem em cima das denúncias da imprensa, deixou ressabiados e assustados os parceiros do governo no Congresso. Por isso, arquivem-se informações de que, por incompetência, inapetência, inadaptação e outras razões o rolo da faxina poderia passar logo logo também pelo lados do Turismo e das Cidades. A ordem é deixar a poeira baixar.
Quando agosto chegarSomente depois das férias de meio de ano dos parlamentares será possível saber qual o efeito real das ações da "nova Dilma" sobre os aliados, se ela vai se impor e tomar de vez as rédeas do processo político. Qualquer que seja o sentimento dos parceiros presidenciais, a começar pelo "ofendido" PR, não se deve esperar nenhum rompimento espetacular com o governo, de alguém passando a oposição. De PT e PMDB ao menor dos aliados, nenhum tem fôlego para sobreviver ao sol. Se houver ressentimento, a reação será sem gestos tresloucados de atear fogo às vestes. O estilo está mais para aquele romance de Jorge Amado, "Tocaia Grande".
Liberou geral ?Um dos temores do mundo político é que a presteza com que agiu Dilma no caso dos Transportes, demitindo à primeira denúncia, incentive daqui para frente uma guerrilha de denúncias, uma guerra de dossiês. Não é por outra razão que Lula está pedindo juízo ao PT e parceiros.
Grécia não foi salva, mas a Europa
Não houve propriamente um "resgate" da Grécia por parte da União Europeia e, muito menos, uma "vitória" de Angela Merkel na satisfação de seu desejo de impor aos investidores uma parte das perdas que virão a ocorrer na troca dos títulos helênicos pelos novos títulos lastreados pela UE. De fato, não havia saída para a Grécia, endividada acima daquilo que podia pagar. Tardiamente, a UE reconhece este fato. Depois de enormes custos para todos os países. Ademais, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália terão maior tranquilidade para se equilibrarem no curto prazo. Afinal, a solução patrocinada pela Alemanha e França salvam não apenas a Grécia, mas toda a Europa meridional. De toda a forma, a situação continuará instável diante da impossibilidade de alavancar o consumo e o investimento destes países. Além do desemprego que continuará a trazer os conhecidos transtornos políticos.
E agora ? Cadê a solução políticaUm aspecto relevante a ser observado doravante é o quanto esta crise econômica criará novos mecanismos de aprofundamento da União Europeia. Ao escolher uma solução mais construtiva para o Velho Continente, os principais países da UE deveriam abandonar as suas políticas paroquiais e se voltar para uma relação mais completa na gestão econômica, sobremaneira no que tange à dívida pública e ao financiamento dos déficits públicos. A crise é de todos, como se provou, mas a solução dependerá da inteligência política da França e da Alemanha, países que sempre tiveram dificuldades em serem de facto europeus.
Agências de risco : para que servem ?Não é preciso ir longe para constatarmos que as agências de risco se tornaram um problema a mais na administração das crises e colapsos financeiros de países e empresas. Seus alertas são tardios e, no momento da crise, seus ratings, inúteis. Tudo muito estranho. Além disso, há muitas indicações de que sua forma de atuar colabora com a especulação. Fosse diferente, seus alertas quanto à crise imobiliária dos EUA teriam ocorrido anos antes da catástrofe de 2008, bem como a classificação dos bancos norte-americanos teria sido revista muito tempo antes de quase todo o sistema quebrar. Agora, depois da solução apresentada pela União Europeia para a dívida dos governos, as agências de classificação de riscos especulam sobre um default. De fato, este default existirá. Não há outra forma de não existir. Todavia, o default das agências de risco já ocorreu há muito tempo.
Copa/Olimpíada : quando teremos informações ?
Em matéria de falta de transparência, o governo pode levar a taça. A Copa do Mundo é dele. Cadê as informações sobre as obras da Copa e das Olimpíadas ? A razão para esta falta de transparência é a que todos podem estar imaginando : as obras estão atrasadas, os custos são cada vez mais elevados e falta um plano estratégico para sanar os problemas. Não à toda, Henrique Meirelles deixou para trás a ambição de ser o "gerente das olimpíadas".
Radar NA REAL
22/7/11 | TENDÊNCIA | ||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ | |||
- Pré-fixados | NA | estável | estável |
- Pós-Fixados | NA | estável | estável |
Câmbio ² | |||
- EURO | 1,4393 | estável | alta |
- REAL | 1,5560 | estável/queda | estável/queda |
Mercado Acionário | |||
- Ibovespa | 60.270,00 | baixa | estável |
- S&P 500 | 1.345,02 | estável/baixa | baixa |
- NASDAQ | 2.858,83 | estável/baixa | baixa |
(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA – Não aplicável
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