A batalha de Brasília
No RJ, a guerra contra o tráfico já deixou, em menos de 10 dias, um saldo de cerca de 30 mortos e um número incerto de feridos, sem contar a principal vítima, a pacata e alegre população. A batalha que se iniciou ontem, em Brasília, com a presidente eleita Dilma negociando diretamente com os presidentes dos partidos aliados a partilha dos ministérios e de cargos mais vistosos no governo promete deixar muito mais mortos e feridos no caminho. Pelo nosso "ministeriômetro", somados os atuais ministros, todos re-candidatos, vê-se que há mais de cem candidatos, declarados e auto-declarados a pouco mais de 40 lugares de peso. O grande desafio de Dilma vai ser conciliar os interesses pelos ministérios e cargos eleitoralmente atraentes como os ministérios da Comunicação, dos Transportes, das Cidades, da Integração Nacional, do Turismo, dos Esportes e órgãos como a CEF, a Funasa e o BB. Vamos ver como funciona o estômago político da futura presidente.
Azeda
Outro desafio da presidente será ajustar os interesses do PMDB e do PT pelo comando da Câmara e do Senado. Debaixo de boas aparências, o ambiente está azedando.
De olho no velho Brasil
Pelas caras já anunciadas e muitas prometidas, a face mais poderosa do governo Dilma terá muito das barbas de Lula.
Tensão para Marta
O grupo de Marta Suplicy em SP está certo de que a futura senadora será bem aquinhoada no ministério de Dilma. O nome dela é soprado para diversas áreas, do Turismo à Educação e ao das Cidades, este último o preferido. Porém, os espaços para a ex-prefeita parecem se estreitar. Dos nomes confirmados, ou quase confirmados, a maioria quase absoluta é de paulistas petistas : Palocci, Padilha, Gilberto, Mantega, Miriam, Cardozo, Garcia. Há a dívida com Mercadante e a intenção de dar lugar na Câmara para Genoíno, o que levaria um deputado do PT para um Ministério. Seria gente demais do PT paulista para o gosto dos PTs de outros Estados. Sem contar que são de SP os candidatos à presidência da Câmara e à liderança do governo na casa dos deputados.
Aumento dos juros
Crescem, no mercado, as apostas no aumento dos juros mais cedo do se esperava. Já há analistas pensando que pode vir até na reunião do Copom na próxima semana. Seria um "favor" de Lula e Meirelles a Dilma. Mas há quem aposte que ficará para janeiro, para dar a oportunidade de Tombini mostrar serviço.
Inflação
Há duas semanas já escrevemos nesta coluna que a inflação voltou e não é um fenômeno de choque de oferta, no caso do setor de alimentos. O que está a ocorrer é que a demanda aquecida tem sancionado aumentos generalizados de preços o que é chamado de inflação. Para controlar a inflação, portanto, será necessário diminuir o ritmo de crescimento via aumento dos juros. A maior probabilidade é que a queda da demanda no setor privado seja maior que no setor público de vez que dificilmente haverá contenção dos gastos correntes do governo. Os setores que mais pagarão a conta serão os relacionados com a renda líquida dos trabalhadores, tais como os de bens de consumo duráveis e de produtos com maior valor agregado do setor de não-duráveis.
Empréstimos
Também teremos a contenção do aumento de crédito no sistema financeiro, além do aumento da inadimplência. Ademais, não podemos esquecer que no primeiro trimestre do ano, os gastos com educação e impostos (IRPF, IPTU, IPVA, por exemplo) reduzem a capacidade de consumo das classes média e baixa. Tudo isto causa efeito sobre a popularidade presidencial.
Conclusão
O cenário econômico estará piorado, não necessariamente negativo. Uma pausa relevante na trajetória positiva dos últimos anos.
Brigas na oposição
A oposição está como sempre esteve : com Minas e São Paulo em contraposição, apenas com Serra se expondo diretamente e Aécio na muda, falando por parceiros. Figuras do tucanato começam a acalentar a ideia de oferecer a presidência do partido a FHC, o único tido como capaz de apaziguar o azedume. No DEM, dois movimentos : o do prefeito Kassab para aderir ao governo e, por consequência, ao governismo ; e o das lideranças mais tradicionais para retomar o comando da legenda, hoje com Rodrigo Maia. Neste caso, o nome preferido é o de Marco Maciel, não reeleito ao Senado. Desta oposição, por enquanto, Dilma não precisará se defender.
Falta programa
Não foi somente a derrota que deixou um gosto ruim no ar oposicionista. De fato, não existe dentre os partidos derrotados um programa ou uma ideologia que reúna os ingredientes necessários para que possa ser praticada a saudável atividade de fiscalizar e criticar o governo. Nem Serra, nem Aécio e muito menos FHC tem algo a oferecer neste sentido, que seja aceitável pela maioria da oposição.
Lula na história
Ainda com Lula na presidência, teremos em breve o lançamento de um livro sobre a trajetória do presidente que deve colocá-lo numa perspectiva menos mitológica. O livro descarta a imagem criada nas telas como "o filho do Brasil". A relação do presidente com seus companheiros e o seu papel na construção do PT mostrará uma alma demasiadamente humana, com qualidades e defeitos que alguns preferem esconder diante de sua popularidade.
Descarrilou ?
Pelo menos por enquanto os brasileiros ficaram livres de serem brindados pelo governo com uma nova "Ferrovia do Aço" - o trem bala. A Ferrovia do Aço, para quem não se lembra, foi um projeto imaginado pelos governos militares ligando a região produtora de Minas a São Paulo e Volta Redonda. Foi iniciada sem que os projetos estivessem elaborados e hoje é um dos monumentos à incúria oficial.
Infraestrutura
Basta pegar um avião SP/RJ para verificar que o caos aéreo já está nos ares brasileiros. O aeroportos brasileiros evidenciam que, até a próxima Copa do Mundo e Olimpíadas, os riscos em relação à infraestrutura brasileira são gigantescos.
Radar NA REAL
28/11/10 |
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- S&P 500 |
1.189,40 |
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alta |
- NASDAQ |
2.534,56 |
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alta |
(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Ministeriômetro - Notas técnicas
Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos :
- Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.
- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.
- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.
- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.
- Note-se que há um bom número de polivalentes, como Paulo Bernardo e Aloizio Mercadante, candidatos a vários postos.
Ministeriômetro - Capítulo VIII
A lista mais recente :
Confirmados
Ministério da Fazenda - Guido Mantega
Ministério do Planejamento - Miriam Belchior
Assessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio Garcia
Banco Central - Alexandre Tombini
Quase confirmados
Casa Civil - Antonio Palocci
Secretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho
Relações Institucionais - Alexandre Padilha
Defesa - Nelson Jobim
Justiça - José Eduardo Cardozo
BNDES - Luciano Coutinho
Genéricos
Paulo Bernardo
Fernando Pimentel
Candidatos, indicados
Assessoria Especial da Presidência - Nelson Barbosa
Ministério dos Portos e Aeroportos - PMDB, PT e PSB, Henrique Meirelles
Direitos Humanos - Gabriel Chalita
Secretaria de Política das Mulheres - Maria do Rosário, Ideli Salvati
Ciência e Tecnologia - Aloizio Mercadante
Educação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante, Newton Lima, Pedro Wilson, Marta Suplicy
Esportes - Manuela D'Avila
Secretaria da Igualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto
Petrobras - Maria das Graças Foster
Saúde - Jorge Sola, Aloizio Mercadante, Sergio Cortes, Paulo Bernardo, Drauzio Varela
Integração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Eunicio Oliveira, José Sergio Gabrielli, Fernando Bezerra Coelho
Minas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison Lobão
Cidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario Negromonte
Itamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, uma mulher
Transportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo Nascimento
Cultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando Morais
Portos - PSB, Fernando Schimidt
Porto de Santos - PSB
Caixa Econômica Federal - Moreira Franco
Agricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes Ribeiro
Vale - Luciano Coutinho, José Sergio Gabrielli
Comunicações - Hélio Costa, Moreira Franco, Paulo Bernardo
Previdência - Luis Sérgio, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo
Turismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy, Antonio Carlos Valadares
Pequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo Okamoto
Desenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano
Desenvolvimento Social - Patrus Ananias
Meio Ambiente - Carlos Minc
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio Mercadante, Fernando Pimentel
Funasa - PMDB
STF - PMDB
Avulsos
Abrir vaga para José Genoino na Câmara
Abrir vaga para José Eduardo Dutra no Senado
Eva Chiavon
Beto Albuquerque
Marcelo Crivella
Olívio Dutra
Empresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)
Sindicalista
Clara Ant (no Palácio do Planalto)
Alexandre Teixeira (Apex)
Credores
Virgilio Guimarães
Ciro Gomes
Henrique Meirelles (em baixa)
Aloizio Mercadante
Patrus Ananias
Ideli Salvatti
Fernando Pimentel
Osmar Dias
No Rio, só o começo
O processo de limpeza do Rio de Janeiro, aplaudido pela população está apenas no início. Para se ter uma ideia das forças que estão sendo enfrentadas, vejam alguns dados de um estudo de dois funcionários da Secretaria Estadual da Fazenda, Sergio Guimarães Ferreira e Luciana, em abril de 2009, citado pelo ex-prefeito César Maia em seu ex-blog. É a economia da droga, com dados certamente subavaliados pelas dificuldades em compilá-los. Mesmo assim é impressionante :
1. Estimativa de consumo anual : Maconha - 90 toneladas. Cocaína - 8,8 toneladas. Crack - 4,3 toneladas.
2. Faturamento anual do tráfico (ajustando a subestimativa das pesquisas diretas) : Maconha - R$ 108,1 milhões. Cocaína - R$ 423,2 milhões. Crack - R$ 102,1 milhões. Total : R$ 633,4 milhões.
3. Custo anual estimado : Pessoal - R$ 158,7 milhões. Compra das drogas - R$ 193,9 milhões. Armas - R$ 24,8 milhões. Perdas por apreensões - R$ 19,4 milhões. Total : R$ 396,8 milhões. Lucro operacional : R$ 236,6 milhões.
4. Quantidade de delinquentes envolvidos no tráfico : 16.387 pessoas (estimativa da Polícia Civil).