Política, Direito & Economia NA REAL

Política & Economia NA REAL n° 108

6/7/2010


Como explicar ?

Na média, umas pelas outras, as pesquisas de opinião pública dão a Lula uma popularidade superior a 80%. A aprovação de seu governo fica apenas uns números abaixo. Por onde passa, Lula encanta. A economia, vista no curto prazo, vai bem, obrigado. Há mais dinheiro no bolso da maioria dos brasileiros, principalmente nos de classe de renda mais baixa. Lula faz os diabos e um tanto mais para eleger o sucessor. Os eleitores brasileiros já estão informados que Dilma é o codinome de Lula na urna eletrônica. Nunca um candidato presidencial reuniu a seu lado tão amplo e heterogêneo arco de apoio partidário. Por que, com tantos e tão variados fatores positivos e com uma oposição tão sem rumo, Dilma até agora não se distanciou com grande vantagem de Serra ? É isto que intriga e planta caraminholas em muitas cabeças coroadas.

Contas tucanas

Com o segundo Ibope em menos de uma semana confirmando o DataFolha no empate técnico entre Serra e Dilma, contrariando prognóstico anterior do mesmo Ibope e do Vox Populi de que a petista tinha ultrapassado o tucano, além da margem de erro, o front oposicionista começou a trabalhar com a tese de que se esgotou a capacidade de transferência de grandes levas de voto de Lula para a pupila. Seria apenas marginal agora e a eleição seria olho no olho, onde Serra levaria vantagem.

Contas petistas

Naturalmente, não é o que se pensa nas hostes oficiais. Por lá fala-se em desvio estatístico – se não em juízos piores para os pesquisadores. No íntimo, o jogo é dado como liquidado no primeiro turno. Se alguém tem vocação para ser a seleção de Dunga, seria a oposição. Lula é craque, avalia-se (e não há dúvida de que o é na arte da política), e ainda não se expôs nem um décimo do arsenal de providências que tem para ajudar Dilma. O baú vai começar mesmo a ser aberto depois da viagem presidencial à África, esta semana. De todo modo, por precaução, Dilma vai continuar sendo preservada dos embates mais arriscados.

Estratégia agressiva

Se depender de alguns conselheiros, Serra será cada vez menos condescendente e cada vez mais contundente nas críticas às políticas do governo Lula. E não apenas Serra, todos os grandes nomes da aliança oposicionista seguirão na mesma linha. Veja-se o artigo do ex-presidente FHC no Globo e no Estadão deste domingo. O problema é como atingir um governo - e alguém - com os níveis de aceitação de Lula e de sua administração.

Discurso complexo

Para os trabalhadores, inclusos aí os da classe média, e substancial parte do empresariado a economia vai bem. Assim, é muito difícil articular a "política econômica" da candidatura presidencial da oposição. Ademais, faltam convicções da oposição em relação aos temas mais caros ao futuro do país, por exemplo, política industrial, gestão monetária e política fiscal. Há a dúvida de quanto isto rende votos. Ambos os candidatos estarão com um discurso favorável "a tudo que está aí", sendo que Serra venderá a imagem de melhor gestor do setor público quando comparado a Dilma. Se vai funcionar, é discussão para lá de longa.

Estratégia da provocação

Outro ponto da estratégia oposicionista é provocar o governo e a candidata Dilma a saírem do discurso e se manifestar na prática. Esta semana, por exemplo, a oposição poderá dizer-se em obstrução total no Congresso se não for colocada na pauta de votação da Câmara o projeto, já aprovado no Senado, de regulamentação da EC 29. A emenda estabelece o percentual mínimo que União, Estados e municípios devem aplicar na área de saúde. E fecha brechas para que despesas não tipicamente do setor, como pagamento de aposentadorias, por exemplo, sejam contabilizadas como tal, como fazem praticamente todos, a começar pelo maior. Calculam os especialistas que isto levaria mais cerca de R$ 10 bi por ano para os cofres do setor. O projeto não anda porque tem a forte resistência dos ministros econômicos. Para dar mais para a saúde é preciso cortar em outro lugar. A oposição quer provocar : quer mostrar se saúde é ou não é prioridade de Lula e Dilma. A área é uma das menos bem avaliadas do governo Lula. E Serra aposta na sua imagem de ministro da Saúde de FHC para alavancar votos.

Confusão eleitoral

O Congresso, em passado não muito distante, acabou com a verticalização eleitoral no país, a obrigatoriedade de se repetir no nível regional as alianças nacionais – um partido coligado com uma legenda nacionalmente não poderia ter parceiros diferentes nos Estados. Foi um "liberou geral". Quem vê as coligações estaduais hoje e olha as coligações nacionais vê a promiscuidade que se gerou. "Todo mundo é de todo mundo". De repente, já com o processo de formalização das coalizões eleitorais em fase decisiva este ano, o TSE estabeleceu uma nova verticalização : candidatos e apoiadores não poderão aparecer em programas de propaganda regionais se seus partidos não estiverem formalmente coligados. Assim, Dilma e Lula não podem surgir na propaganda de Geddel Vieira Lima, na Bahia, como quer o PMDB. Nem Serra pode ilustrar a publicidade de Fernando Gabeira no Rio, como desejam ele e o candidato verde. A confusão foi tanta, a reação irada dos partidos foi tamanha que o TSE decidiu suspender a validade da decisão tomada por ele mesmo até uma nova análise do assunto, em agosto. Até lá os partidos estão sem saber o que fazer. Analisa-se até a possibilidade de suspender formalmente algumas alianças, o que pode ocorrer até quarta-feira.

Desfecho provável

O mais provável é que as coalizões sejam mantidas, até porque as medidas de verticalização do TSE só terão efeitos quando o horário eleitoral começar. No início de agosto, o TSE falará de novo. Se não voltar atrás, a disposição dos líderes parlamentares é votar imediatamente no Congresso uma resolução anulando a determinação do TSE. Já há nos partidos e no Legislativo certa indisposição contra o excesso de interferência da Justiça nas regras eleitorais. A queixa é a de que ela não está interpretando a lei, está fazendo leis. As divergências no STF em relação à lei dos fichas-sujas – dois ministros deram liminares para registro da candidaturas suspeitas e um negou – reforça, segundo parlamentares, os argumentos deles. O presidente do Senado, José Sarney, político anguloso e que, por isso mesmo, contrariando o dito popular, não dá nó sem ponta, verbalizou esta insatisfação em seu artigo semanal na Folha de S.Paulo da última sexta-feira, cujo tema foi o da judicialização da política.

O juiz está comprado ?

Não se sabe por artes de quem, mas não é difícil desconfiar, surgiu, entre as normas da LDO de 2011, com votação prevista para esta semana, um mecanismo estabelecendo que, no caso das obras ligadas à Copa do Mundo - lembram-se há um PAC especial da Copa - a fiscalização do TCU não será necessária. No linguajar do futebol se dizia, quando um juiz - hoje árbitro - estava aliciado para patrocinar um determinado resultado para um jogo, que ele "estava na gaveta". Tivemos famosos "gaveteiros" em nossa história futebolística. Em outra dimensão – e que dimensão – parece que estão querendo reavivar a categoria no Brasil, na perigosa intersecção entre a política e o esporte. A propósito, não custa recordar a observação do jornalista inglês sobre o tema, publicada aqui neste espaço na coluna passada. Toda a atenção da sociedade será insuficiente.

Tudo na mesma

O mercado financeiro é conhecido pela sua capacidade de gerar fortes emoções. Neste momento em que os países do hemisfério norte estão iniciando o período de férias, há quase nenhuma emoção nos diversos segmentos do mercado. Algo sobre o qual já comentamos em diversas colunas anteriores. O cenário permanece pálido, com tendência negativa definida, valorização excessiva dos ativos comparativamente a um cenário externo fragilizado, sobretudo nos EUA e na Europa, e especulação acesa em relação ao futuro da inflação – o que mantém o segmento de metais preciosos com preços elevados.

Brasil, riscos minimizados, retornos incertos

Dez em cada dez economistas reconhece que os riscos de curto prazo - 12 meses a frente - da economia brasileira não são relevantes, sobretudo porque não há furos no financiamento externo. Todavia, as condições para um crescimento chinês sustentável no médio prazo ainda não são tão claras. Ora, como o cenário de curto prazo é bom e o de longo prazo é pouco visível, os investidores olham os preços dos ativos e concluem que a hora não é de comprar e também não é de vender. Resultado : o mercado flutua e "não sai do lugar".

Radar NA REAL

2/7/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,2534 baixa baixa
- REAL 1,7721 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 61.429,79 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.022,58 estável alta
- NASDAQ 2.091,79 estável alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA – Não aplicável

Regulamentação do sistema financeiro norte-americano

Esta coluna se aprofundou na análise das recentes medidas aprovadas pelo Congresso dos EUA em relação ao mercado financeiro do país. No fundo, trata-se de uma regulamentação de velha cepa e modernizada no que tange aos mecanismos de fiscalização e controle. Um passo relevante à frente com os olhos no passado. Todavia, os mecanismos de punição ainda são tênues frente ao potencial de "destruição" dos segmentos mais especulativos. Assim, a nova realidade do mercado é mais dura, mas dificilmente será suficiente para vedar os riscos de especulação.

Tesouro dos EUA vende

O governo norte-americano vendeu cerca de US$ 10 bi de ações do Citibank na semana passada ao mercado. Uma operação de sucesso, mas um aviso aos investidores : cada vez que os fundamentos dos bancos melhorarem haverá uma oferta governamental das ações que recebeu durante as operações de "salvação do sistema" entre o final de 2008 e meados do primeiro trimestre de 2009. O potencial de valorização das ações do setor financeiro está limitado pela farta oferta frente a demanda dos investidores.

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Colunista

Francisco Petros Advogado, especializado em direito societário, compliance e governança corporativa. Também é economista e MBA. No mercado de capitais brasileiro dirigiu instituições financeiras e de administração de recursos. Foi vice-presidente e presidente da seção paulista da ABAMEC – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais e Presidente do Comitê de Supervisão dos Analistas de Investimento. É membro do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo e do Corpo de Árbitros da B3, a Bolsa Brasileira, Membro Consultor para a Comissão Especial de Mercado de Capitais da OAB – Nacional. Atua como conselheiro de administração de empresas de capital aberto e fechado.