Migalhas para Estudantes

Prática ainda na faculdade: conheça as empresas juniores de Direito

Estar em contato com o mundo profissional ainda durante a graduação é frequentemente citado como uma das formas mais inteligentes de se destacar no mercado de trabalho.

22/8/2022

Estar em contato com o mundo profissional ainda durante a graduação é frequentemente citado como uma das formas mais inteligentes de se destacar no mercado de trabalho. É justamente dessa busca por um lugar ao sol que cresceram as empresas juniores. Lideradas por graduandos, as famosas EJs atingem resultados financeiros verdadeiramente impressionantes e permitem que seus membros sintam na pele a aplicação prática dos conteúdos que estudam em sala.

Nessa perspectiva, era óbvio que não demoraria para que estas iniciativas chegassem à realidade do Direito, levando em consideração o surrealmente competitivo mercado jurídico brasileiro. Assim, já são muitos os cursos jurídicos no Brasil afora que contam com Empresas Juniores bem estruturadas, sérias, competitivas e, principalmente, lucrativas. Apesar de não poderem atuar como verdadeiros escritórios de advocacia – tendo em visto os requerimentos da OAB –, essas empresas oferecem diferentes serviços e têm alcançado números expressivos.

Mas, parando para pensar... Como elas funcionam? O que fazem? É um diferencial no currículo? A coluna Migalhas Para Estudantes desta semana almeja responder justamente estas perguntas!

Dessa forma, não há jeito melhor de descobrir mais sobre o assunto do que falando com quem vive esta realidade todos os dias. Sendo assim, a reportagem conversou com membros da diretoria da AdvocattA – a empresa júnior da Faculdade de Direito da UnB – para entender a atuação e as funções de uma EJ que faturou quase 300.000 reais no último ano. Coube, então, à presidente Yara Oliveira e ao assessor Felipe Lima explicar detalhadamente as características da AdvocattA, o seu processo seletivo, sua ampla gama de serviços realizados e todos os desafios de manejar – ainda na graduação – uma empresa com dezenas de alunos membros. 

Como funciona a AdvocattA?

Fundada inicialmente em 2004, a AdvocattA tem como principais missões estimular a atuação jurídica e proporcionar maior conhecimento prático sobre o mercado de serviços ainda durante a faculdade.

"Nossa maior motivação é exatamente incentivar a prática jurídica o quanto antes for possível", declara Felipe. Esse interesse profissional precoce é diretamente demonstrado pelo moderno e inclusivo processo seletivo da companhia: qualquer estudante de qualquer período do curso pode se inscrever e passar por imersivas experiências de estudo de cases e debates em equipe. Por conseguinte, caso enquadre-se no perfil de colaborador buscado para aquele semestre, o aluno – até se for um calouro – é logo aprovado, contratado e começará em breve a conhecer a fundo sua futura área profissional.

Ademais, abordando os impressionantes números de faturamento da empresa, os diretores explicam que os atuais patamares de receita não vieram de um dia para o outro e exigiram que a empresa diversificasse gradualmente seu leque de serviços. Sendo assim, apesar de já ter engendrado até projetos envolvendo criptomoedas e tokens digitais, a AdvocattA dedica-se, principalmente, aos serviços de assessoria, pesquisa e redação jurídicas, registro de patentes e consultoria jurídico-financeira a microempreendedores. Por outro lado, por estar sujeita ao Estatuto da OAB como qualquer outro empreendimento jurídico, a Advocatta não pode atuar na advocacia contenciosa, tendo em vista os requerimentos burocráticos e profissionais se para explorar este campo.

E, bom, para onde vai todo esse capital? Yara explicou, já em nossa primeira reunião para falar das EJs, que ele é integralmente reinvestido na empresa de diferentes formas e, por isso, permite que seus membros possam participar ao máximo possível do universo das EJs e do empreendedorismo universitário. Um exemplo recente foi o Encontro Nacional de Empresas Juniores, o qual ocorreu em Maceió durante o último final de semana e contou, óbvio, com representantes da AdvocattA. Outro ponto interessantíssimo diz respeito às divertidas premiações internas: enquanto a meta é certamente ser nomeado o "Melhor Vendedor", há sempre a possibilidade de receber a honrosa estatueta endereçada ao "Melhor Fofoqueiro" ou algo do tipo.

Tendo detalhado toda a história, os objetivos e as capacidades de uma empresa júnior de tanto renome quanto a AdvocattA, os relatos de Felipe e Yara ajudam a entender o quão engrandecedor é participar de uma Empresa Júnior de Direito e todas as habilidades adquiridas ou aprofundadas nessa esfera. Dessa maneira, é importante separar os principais benefícios de explorar essa opção de extensão universitária em três grandes guarda-chuvas: empreendedorismo, networking e currículo.

Formação atual da AdvocattA

AdvocattA no ENEJ 2019

Premiação AdvocattA 2019

Yara Oliveira e Felipe Lima com o advogado Ronald Barbosa Filho

Empreendedorismo

Não é difícil imaginar que participar de um empreendimento com dezenas de colaboradores ainda durante a faculdade é um natural incentivo a habilidades fundamentais para o empreendedorismo. A completa imersão na esfera comercial e a possibilidade de assumir cargos de liderança podem ser um grande diferencial para aqueles que buscam criar seus próprios negócios mais a frente.

"Lidar com impactos positivos e negativos ainda muito antes de fundarem seus próprios negócios é muito interessante para alunos que muito provavelmente não terão a oportunidade de empreender durante ou logo após a faculdade", explica Yara. Ela destaca, também, que os membros da AdvocattA muito se orgulham do fato de diversos membros-fundadores da empresa terem aberto seus próprios escritórios de advocacia após concluírem o bacharelado.

Assim, por "colocarem estratégia, poder de decisão, autonomia e liderança nas mãos dos estudantes", como disse Felipe, as Empresas Juniores dão aos seus membros muitas chances de assumir o protagonismo e, por isso, lidar com o peso da responsabilidade de atuar como líderes de uma empresa de faturamento altíssimo. "É importante para percebermos que as coisas simplesmente não acontecem se ninguém se dispuser a fazê-las", completa Yara.

Resumindo: a atuação dentro de uma EJ de Direito envolve constantemente gerir pessoas, captar clientes e trabalhar em equipe e, por isso, permite ao estudante que desenvolva muitas das tão faladas soft skills consideradas fundamentais para o sucesso no mundo empresarial.

Networking

Tal qual já foi detalhado repetidamente aqui nesta coluna anteriormente,  o networking é indiscutivelmente fundamental para o estudante de Direito atual. A capacidade de criar, expandir e consolidar uma rede de contatos com pessoas de interesses similares e/ou de destaque em suas respectivas áreas é importantíssima no mercado profissional e acadêmico.

Nesse contexto, é fácil constatar que o contato constante com clientes, consultores, professores conselheiros e colegas de empresa inerente à participação em uma Empresa Júnior de Direito é um claro empurrãozinho à arte do networking. Assim, a oportunidade de conhecer empresários, advogados e professores de renome por meio de parcerias institucionais permite ao colaborador vivenciar ambientes e experiências interessantíssimos. Eventos, palestras, lançamentos de livros e visitas a escritórios de advocacia podem ajudar consideravelmente o estudante a se situar melhor no mundo jurídico.

Além disso, o contato com especialistas de diferentes áreas de atuação permite que o estudante descubra mais sobre a aplicação profissional de determinados campos antes mesmo de explorá-los em sala de aula. Ter essa noção prática tão cedo pode, então, estimular o aprendizado tradicional em sala e, simultaneamente, ajudar o graduando a transcender o mero estudo da doutrina jurídica. "Tem gente da AdvocattA que ainda nem chegou a estudar Tributário, mas já tem certeza que não gosta", comenta Yara, entre risos.

Fechando a questão do networking, Felipe ressaltou que a necessidade de se adequar desde cedo à "comunicação do Direito com todos os seus formalismos" é sempre um desafio inicial àqueles cursando os primeiros semestres da graduação. Por outro lado, ele destaca que esse aprendizado prático proporciona que o membro de uma EJ de Direito saiba sempre se portar em ambientes jurídicos profissionais, sejam eles físicos ou digitais.

Dos posts bem feitos e organizados do LinkedIn ao acesso exclusivo a profissionais especialistas, pode-se dizer que a experiência do networking é diretamente aumentada pela participação em uma Empresa Júnior de Direito.

Currículo

Se o contato direto com o universo empreendedor e a possibilidade de expandir sua rede de contatos são benefícios abstratos de fazer parte de uma Empresa Júnior, não há vantagem mais concreta do que poder adicionar uma dessas associações a seu currículo desde os princípios da graduação. Sendo assim, é indispensável afirmar que a possibilidade de listar projetos e atuação como membro de uma EJ é um grande diferencial e, por isso, pode ser determinante em um mercado de trabalho tão concorrido quanto o jurídico.

Além de demonstrar um diferenciado e precoce entendimento do mercado antes mesmo do primeiro estágio em escritório de advocacia, registrar no currículo – e no LinkedIn – sua experiência em uma EJ indica diversas características de personalidade e atuação que são amplamente buscadas por muitos processos seletivos. Explico: se é tão comum na atualidade a valorização de termos como "trabalho em equipe", "criatividade" e "liderança", é fácil entender porque o analisador do R.H logo enxergaria a participação em uma Empresa Júnior como um diferencial grande no currículo.

Se a comprovação de vivência em equipe e de espírito empreendedor representados pela listagem de uma Empresa Júnior no currículo já não bastasse, é ainda bem comum que essas empresas contribuam com a apresentação e qualificação profissional de seus membros. Fotos profissionais, conselhos para a formatação adequada do LinkedIn e a oferta esporádica de cursos de especialização externos à faculdade também são benefícios ao currículo do estudante proporcionados pelas empresas juniores.

Não há prova maior do impacto positivo das EJs à construção de um currículo competitivo do que a própria experiência pessoal da Yara. Ela conta, orgulhosa, que conseguiu seu estágio atual após o recrutador ler em seu perfil do LinkedIn o título de “Presidente da Advocatta” e, não muito tempo depois, entrar em contato com ela oferecendo a possibilidade de uma entrevista pessoalmente.

Conclusão e agradecimentos

Tendo em vista todos os pontos destacados durante a coluna desta semana, não há como negar que participar de uma Empresa Júnior de Direito pode trazer consideráveis benefícios aos estudantes de Direito e serve como um grande diferencial na esfera jurídica profissional. Se a sua faculdade conta com uma dessas associações, não deixe de pesquisar sobre e conhecer mais!

É imprescindível, também, agradecer à Yara e ao Felipe pelas contribuições diretas a esta coluna semanal do Migalhas Para Estudantes. Desejamos todo o sucesso do mundo a eles e à AdvocattA e esperamos que ela continue – por muito tempo – sendo referência em seu setor de atuação. Agradecemos, por último, ao querido colega de UnB Eduardo Araújo, o qual possibilitou a realização desta matéria ao criar a ponte entre o Migalhas e a diretoria da AdvocattA.

Para mais informações sobre a empresa júnior, não deixem de acompanhar a AdvocattA no Instagram (@advocatta) e em seu belíssimo site institucional. Aos estudantes de Direito da UnB fica um aviso extra: o processo seletivo deles para novos membros está aberto!

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Colunista

Gabriel Rodrigues Teixeira É estudante de Direito na Universidade de Brasília (UnB) e foi Visiting Student na UC Berkeley. Coordena a coluna semanal e as redes sociais do Migalhas Para Estudantes. Siga no Instagram: @migalhaestudantes"