Falar sobre a importância do networking não é um tema novo. Além disso, não é – nem de longe – um tema exclusivamente relevante à realidade dos estudantes de Direito. Conhecer, se aproximar e ter a oportunidade de colaborar com pessoas qualificadas e de destaque é fundamental em toda e qualquer área profissional. Por outro lado, é bem deduzível que essa formação de conexões torna-se ainda mais importante em um mercado com tantos profissionais quanto o mercado jurídico: a concorrência é grande, óbvio, mas aquela famosa indicação de um colega pode ajudar demais como um diferencial.
Há quem fale sobre networking com tons e mais sobretons de palavras fortes como “influência”, “disciplina”, “liderança”, “lealdade” e “apresentação pessoal”. Isto nada mais é do que tornar complexo e rebuscado algo que, em sua essência, não poderia estar mais longe disso. Quanto mais forçado o primeiro contato com uma pessoa soar, menor é a chance de ali se formar uma conexão realmente interessante e com potencial de convergir em grandes colaborações futuras. A lógica é simples. Se você foca em conhecer alguém já mentalizando o objetivo de ela te recomendar para um escritório ou te ajudar a publicar um livro, não demora para que ela perceba o objetivismo inatural por trás da sua aproximação. A situação ainda piora muito se entrar um cadinho de bajulação na mistura.
Nessa perspectiva, o melhor caminho a ser trilhado é pautado pela naturalidade e, principalmente, pelos interesses, pessoas e histórias de vida em comum. Explico: é muito mais casual e eficiente começar a conhecer uma pessoa falando com ela sobre um livro recentemente publicado ou sobre o último jogo do Vasco e, tendo quebrado o gelo, desenvolver a conversa até chegar a assuntos profissionais – sem pretensões, finalidades prévias ou bajulação. Assim, o ponto não é que o networking pode ser um processo descomplicado, o networking deve ser um processo descomplicado.
É justamente este o grande assunto dessa coluna. Sendo a formação de contatos tão importante ao mercado jurídico de 2022, como encará-la com naturalidade e, por consequência, torná-la mais eficiente, interessante e menos árdua?
Faculdade de Direito
Não há ambiente mais propício ao networking do que a própria faculdade de Direito. Não poderia ser diferente. O contato diário com dezenas de estudantes antenados no mundo jurídico é, sem dúvidas, um grande catalisador para eventuais colaborações de grande relevância.
Nesse sentido, apesar de experiências como trabalhos em grupo ou discussões em sala de aula serem fundamentais para conhecer e se aproximar de colegas talentosos, considero que um networking simples, natural e eficiente não acontece necessariamente na sala de aula: é nos corredores, bibliotecas e pátios que a coisa realmente anda. Ter sempre a atmosfera acadêmica da faculdade e acontecimentos relevantes em comum proporciona, sem muitas dúvidas, inúmeras oportunidades de empreender ideias conjuntas.
Dessa forma, é de se imaginar que a melhor maneira de formar uma engajada e independente rede de conexões ainda durante a graduação é aproveitando as aberturas que ela em si oferece. Grupos de monitoria, entidades políticas como centros acadêmicos, associações atléticas desportivas e até mesmo trabalhos em grupo são, então, alguns dos melhores facilitadores para conhecer e se aproximar de outros estudantes qualificados e com interesses similares.
Atividades extracurriculares
Se, por um lado, as conexões são muito mais facilmente formadas dentro da faculdade de Direito, é fora dela que existe um maior potencial de se desenvolverem. Por serem muitas as pessoas conhecidas durante os anos da graduação, grande parte dessas conexões não avançará ao interessantíssimo compartilhamento de informações e colaboração em projetos que é característico do processo do networking. Isso se dá, principalmente, por causa da amplitude dos conteúdos e projetos característicos à faculdade: é bem compreensível que você, um interessado em Direito Penal, nunca venha a colaborar muito com uma colega cuja área é Direito Trabalhista, por exemplo.
Nesse sentido, as atividades extracurriculares podem ajudar a preencher justamente essa lacuna de especificidade que falta à amplitude da faculdade. Nas atividades de extensão abre-se a oportunidade de não só conhecer pessoas de considerável qualificação – tal qual a rotina de faculdade tradicional –, mas também de que tais pessoas estejam diretamente envolvidas em áreas de interesse mais específicas. Logo, essa convergência de curiosidades tende, invariavelmente, a uma maior chance de conexão e, por consequência, de colaborações, recomendações ou pesquisas.
Resumindo, engajar-se em atividades acadêmicas que transcendem os limites clássicos de uma faculdade de Direito é uma excelente forma de networking. Dessa forma, associações estudantis (a ABEDP, formada por estudantes de Direito Processual é um bom exemplo), grupos de pesquisa, congressos jurídicos e projetos voluntários são boas apostas para quem almeja formar uma ampla rede de conexões com outras pessoas qualificadas da sua área.
Redes Sociais (LinkedIn e Instagram)
Por último, não há como entrar no assunto networking sem mencionar as principais ferramentas contemporâneas especialmente modeladas para tal: as redes sociais!
Falando primeiro sobre o Instagram, engana-se fatalmente quem limita seu uso da rede social a assistir vídeos de animais fofos ou a curtir fotos antigas de uma colega da faculdade (outro tipo de networking).
Apesar de muito menos focado no aspecto profissional do que o LinkedIn – o qual irei detalhar a seguir –, o Instagram pode ser muito útil para o propósito de conhecer e interagir com pessoas extremamente qualificadas. Primeiro, é inegável que não são poucos os eventos que ocorrem remotamente pela rede (debates em forma de lives, por exemplo) ou cuja divulgação ocorre majoritariamente por lá. Segundo, é pelo Instagram que um estudante de Direito pode receber sucintamente grande parte das notícias relevantes ao mundo jurídico, o que ajuda diretamente a se manter antenado em oportunidades de networking. Terceiro, o Instagram facilita – e muito – uma aproximação pessoal com colegas com quem já existe uma ligação profissional (tal qual conhecidos da faculdade ou do trabalho), o que definitivamente colabora para recomendações.
Falando agora sobre o LinkedIn, é bem fácil imaginar que uma rede criada inteiramente com o propósito de estabelecer e organizar conexões profissionais é simplesmente indispensável para o networking. Sim, mesmo antes de entrar no mercado de trabalho. Apesar de talvez mais complicado de dominar completamente do que o Instagram, um uso básico do LinkedIn já pode se provar bem útil.
Comece cumprindo os seguintes passos: é primeiramente fundamental manter um perfil pessoal organizado e devidamente atualizado, sendo que aspectos como formação acadêmica, línguas estrangeiras e experiência profissional tem que ser bem explicados e verdadeiros. Segundo, é importante lembrar que cumprir as instruções de perfil recomendadas pela própria rede é necessário para que seu perfil apareça mais frequentemente nos feeds de recrutadores e colegas. Terceiro, faça upload da sua lista de contatos ao app do LinkedIn e, a partir desse primeiro nível de pessoas próximas, vá adicionando pessoas conhecidas à sua rede de conexões a partir das funções “conectar” ou “seguir” (mais comum para figuras de relevância pública). O quarto e último passo para tomar um já razoável proveito do LinkedIn é frequentemente postar sobre eventos que participou, textos que publicou ou simplesmente experiências curiosas que teve: esse tipo de post abre a chance de falar sobre assuntos do seu interesse e de destacar suas competências.
Concluindo o contexto do LinkedIn, considero que basta abri-lo pelo menos uma vez ao dia com o objetivo de se atualizar sobre as atividades profissionais das pessoas à sua volta e, por consequência, usar o app como uma eficiente ferramenta de networking. Assim, o serviço tem, entre seus principais pontos positivos visando o desenvolvimento de uma rede de contatos, a possibilidade de ficar sabendo sobre oportunidades em sua área, a organização de um “currículo” digital e facilmente acessível, o algoritmo que tende a sugerir publicações relevantes e/ou de pessoas relevantes e, por último, as funções de conexão e chat, as quais possibilitam um contato mais direto com pessoas cujas postagens lhe instigarem.
Use o constante e onipresente acesso à internet a seu favor! Faça web-conexões!
Conclusão
Sendo o networking tão fundamental ao progresso e à consolidação de uma carreira no absurdamente concorrido mercado jurídico, seguir algumas das dicas mencionadas acima não é uma má ideia. Pare tudo que está fazendo e vá criar um LinkedIn!
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