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Conspiração: conspiration ou conspiracy?

Luciana Carvalho
14/4/2008


O leitor Elias Felcman, envia-nos a seguinte mensagem:

 

"Dra. Luciana Carvalho. Gostaria que me esclarecesse se a palavra 'conspiration' em inglês correspondente a 'conspiração' em português conforme vejo comumente traduzido. Atenciosamente". Elias Felcman - escritório Corrêa Meyer e Felcman Advogados Associados


Conspiração: conspiration ou conspiracy?

When the Night doth meet the Noon
In a dark conspiracy
John Keats

1) Conspiração é, dentre as acepções do Aurélio "1.Ato ou efeito de conspirar; maquinação, trama. 2.Conluio secreto". No vocabulário De Plácido e Silva, é "[...] o concerto em preparo por vários indivíduos, na intenção de executar um plano subversivo contra os poderes constitutivos, mais propriamente para atentar contra os governantes" e "quando a conspiração se promove para atentar contra o regime, mais propriamente é uma conjuração".

2) Conspiration é, para o American Heritage:

a) o ato de conspirar; e,

b) o esforço conjunto para atingir determinado objetivo.

3) Em inglês, há, ainda, conspiracy que, segundo o mesmo léxico, é:

a) um acordo para executar, conjuntamente, uma ação ilegal, ilícita ou subversiva;

b) um grupo de conspiradores;

c) (Jur.) um acordo entre duas ou mais pessoas para cometer um crime ou atingir um objetivo por meio de uma ação ilegal; e,

d) a união de forças por desígnio sinistro: a conspiracy of wind and tide that devastated coastal areas.

4) Conspiration x Conspiracy – Apesar de ambos os lexemas estarem dicionarizados é interessante notar que:

a) A partir das definições acima, nota-se que conspiracy é, tal como conspiração, carregada de sentido negativo1, enquanto conspiration parece possuir sentido mais neutro.

b) Na linguagem jurídica em inglês, encontramos conspiracy nas acepções de conspiração e formação de quadrilha (Black’s, Garner, Burton). Não foram encontrados registros de conspiration.

c) Tampouco foram encontradas ocorrências de conspiration em um corpus2 – representativo da língua inglesa contemporânea – de 56 milhões de palavras3. Assim, podemos afirmar que se trata de uma palavra em desuso.

5) Campo semântico de conspiracy: abetment, agreement to accomplish an unlawful end, agreement to commit a crime, coalescence, coalitions, collusion, combination, combined operation, compact, compliance, complicity, composition, concert, confederacy, connivance, contrivance, agreement, intrigue, intriguery, joint effort, joint planning, maneuvering, plan, plot, proposal, scheme, treasonable alliance, underplot, unlawful combination, unlawful contrivance, unlawful plan, unlawful scheme (Burton’s Legal Thesaurus).

6) Termos relacionados:

a) conjuration: conjuração

b) conspiracist, conspiratorialist: aquele que possui uma teoria de conspiração

c) conspiracy theory: teoria da conspiração

d) conspiracy to monopolize: formação de monopólio

e) conspirator: conspirador

f) conspiratorial: conspirador

g) conspire: conspirar, formar quadrilha

h) coup, coup d’etat: golpe, golpe de estado

7) Referências:

Burton, William C.. Burton's Legal Thesaurus, 3rd Edition. New York: McGraw-Hill, 1998.

De Plácido E Silva,. Vocabulário Jurídico . Rio de Janeiro: Forense, 2005.

Garner, Bryan A.. A Dictionary of Modern Legal Usage (Oxford Dictionary of Modern Legal Usage). New York: Oxford University Press, USA, 2001.

Black's Law Dictionary, Eighth Edition (Black's Law Dictionary (Standard Edition)). Mason, Ohio: Thomson West, 2004.

The American Heritage College Dictionary, Fourth Edition with CD-ROM (American Heritage College Dictionary). Boston: Houghton Mifflin, 2004.

__________

1Fato comprovado pelas palavras que mais ocorrem com conspiracy: murder, theories, charges, defraud, charged, theory, trial, cause, theorists, fraud, guilty (Fonte: Clique aqui)

2Conjunto de textos criteriosamente selecionados e em formato eletrônico, representativo de uma língua ou parte dela.

3Collins (clique aqui)

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Colunista

Luciana Carvalho Fonseca é professora doutora do Departamento de Letras Modernas (DLM) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e da pós-graduação em Tradução (TRADUSP). Fundadora da TradJuris - Law, Language and Culture e autora dos livros "Inglês Jurídico: Tradução e Terminologia" (2014) e "Eu não quero outra cesárea" (2016).