O Clube de Regatas Vasco da Gama é um GIGANTE. Como diz a letra do samba-enredo que celebrou seu centenário é "campeão de terra e mar".
Nas regatas teve sua origem e tantas conquistas do seu remo "imortal". No atletismo, o "braço", foi o Clube ao qual estava vinculado Adhemar Ferreira da Silva quando do seu segundo ouro olímpico, em Melbourne 1956.
Porém, foi com os inesquecíveis times de futebol que o Vasco arrebatou os corações de dezenas de milhões de torcedores "norte e sul, norte e sul desse país", mercê de suas inúmeras vitórias em competições nacionais e internacionais.
Atualmente, porém, a modalidade principal do Vasco não é mais o futebol, nem o remo, nem o atletismo ou o basquete. O "esporte" que mobiliza atenções e energias de associados e conselheiros é o "jogo da política".
Para quem dela se ocupa, a política do Vasco é entretenimento de primeira: tem lances de House of Cards, com pitadas de romances de tribunal de John Grisham e, às vezes, a ação descamba para o MMA ou para o Western, quando os casos são levados para o clima noir das delegacias dos livros do inesquecível Vascaíno Rubem Fonseca.
Porém, para as dezenas de milhões de torcedores absolutamente excluídos e alijados das tramas dos corredores de São Januário, a política transmite a clara mensagem de total descompromisso com a evolução e modernização da Instituição. Não é só no Vasco, é claro. Mas o tema aqui é o Gigante da Colina Histórica.
A estrutura associativa sequestrou o Vasco e nada indica que os "cartoligarcas abnegados" pretendam deixar suas épicas batalhas internas, para devolver o Almirante aos seus verdadeiros donos, os torcedores, que acompanham tudo de longe, com justificada aflição.
Na última eleição, votaram pouco mais de dois mil associados, em um processo recheado de voltas e reviravoltas, cassações e confirmações judiciais, enfim, na última eleição os políticos do Vasco se superaram no quesito insegurança e instabilidade institucional.
Como em vários outros clubes, o Vasco tem seus grupos políticos que nada propõem de diferente entre si e só existem para tornar as pelejas mais "sofisticadas". Gasta-se muito mais energia para elaborar acordos e coligações para a tomada do poder, do quem em planos de longo prazo, planejamentos estratégicos, ações de marketing e medidas econômicas para devolver o Gigante da Colina aos seus dias de glória nos campeonatos de futebol.
Quando o presidente vence a eleição, tem de "dividir" os cargos de direção com os representantes dos tais grupos políticos que o apoiaram, ou que pretenda cooptar. Desnecessário ter poderes sobrenaturais de adivinhação para constatar que tantos e quantos treinadores já perderam seus cargos por pressão de tais grupos, que ameaçam retirar seu apoio se não tiverem atendidas suas reinvindicações. Teria sido Ramon Menezes um desses que caíram por pressão dos “partidos políticos” de São Januário? Seja como for, deu no que deu, como já tinha dado outras vezes antes.
Muitos conselheiros de clube de futebol, em grande parte deles, ainda pensam que conhecem mais do jogo de bola do que os profissionais do esporte com formação e experiência específica para esse tipo de trabalho. Padece o futebol brasileiro, que um dia teve seus clubes disputando palmo a palmo com os europeus nas finais dos mundiais de clube. Ficamos no passado.
Eis que, resignados, assistimos ao quarto rebaixamento do Clube de Regatas Vasco da Gama para a Série B do Campeonato Brasileiro. Estou convencido de que a constante ebulição política na Rua General Almério de Moura, 131, contribuiu para esse final que, mais uma vez, machuca o coração do vascaíno.
É a nova queda de um Gigante. Porém, jamais terá sido a queda definitiva. O Vasco pode ser muito mais do que é hoje.
Para alguém que se dedica ao estudo da questão do futebol-empresa, parece bastante lógico sugerir ao Vasco da Gama a separação da gestão do futebol do clube social, de modo que o futebol profissional venha a ser administrado como uma sociedade anônima, o que poderá despertar interesse de investidores que venham a aportar, com segurança e sem decisões calcadas no "mecenato", dinheiro novo para reerguer o time.
Tais recursos dificilmente serão obtidos em ambiente político tão instável e conturbado como o que se vê hoje, no associativismo obsoleto da política dos poucos – se comparados com o número de torcedores - conselheiros e associados.
O Vasco da Gama seria um caso especial de clube-empresa, com grandes chances de êxito. Por uma razão específica: o time da virada tem uma torcida enorme e de abrangência nacional. Além de ter dado, nos últimos tempos, demonstração de um vínculo fortíssimo com o Clube, como no caso do sucesso arrebatador do plano de sócio torcedor e arrecadação para construção de um centro de treinamento.
O torcedor do Vasco da Gama já mostrou que está louco para contribuir para o reerguimento do time do seu coração. Basta que lhe seja apresentado um projeto viável e confiável e, principalmente, blindado contra a instabilidade da política interna. O amor da numerosa torcida é o maior indício de que, com o futebol bem gerido, de forma profissional e moderna, com bons planos de marketing, finanças saneadas e bom desempenho em campo, o clube-empresa para gerir o futebol pode devolver o Gigante aos seus dias de glória.
O time da virada pode sim dar a grande virada de sua História. O Clube que é símbolo da inclusão racial no esporte do Brasil e, só fosse só por isso, já mereceria de todos nós respeito e admiração, pode se afastar do modelo antigo e superado e ser vanguarda de novo. Basta que os poderes do Clube o queiram e tenham coragem, vontade política e desprendimento para fazer acontecer.
Para que sua imensa torcida volte a ser bem feliz.