O título desta coluna foi extraído de uma fascinante narrativa, contada por Bryan Burrough e John Helyar. Trata-se, aliás, de uma espécie de literatura, realmente farta em países anglo-saxões, sobretudo nos Estados Unidos, mas que, no Brasil, ainda não despertou a devida atenção de jornalistas, editores e leitores.
O livro, cujo título completo é Barbarians at the gate – the fall of RJR Nabisco, relata uma sucessão de histórias que se passam no ambiente das grandes companhias americanas.
O pano de fundo é a RJR Nabisco, uma companhia com atuação nos setores de fumo e alimentos; nos planos frontais, narram-se as tramas envolvendo seus administradores e acionistas e seus planos de dominação empresarial.
O clímax da narrativa envolve a decisão do CEO da companhia, com apoio de um consórcio de financiadores, de realizar uma oferta para aquisição das ações da própria companhia e, assim, tornar-se, em conjunto com outros agentes, o seu controlador.
O negócio, à época – anos 80 -, representava a maior transação da história corporativa. Mas não decolou da forma planejada e os bárbaros, que abalaram as estruturas de uma companhia com ampla penetração, deixaram de ocupar lugares de destaque na sociedade corporativa.
Evidentemente que os arquitetos desse take over, de bárbaros, não tinham nada. Eram profissionais extremamente talentosos, sofisticados e ambiciosos.
Mesmas características de outros bárbaros que, apesar de não terem batido às portas do futebol brasileiro, já se lançaram em aventuras nos países vizinhos.
Os bárbaros, no caso, são mexicanos. Especificamente um grupo empresarial, chamado Pachuca, que se lançou em terras portenhas para adquirir o Club Atlético Talleres, da cidade de Córdoba. E há mais: em 2016, adquiriu 80% da equipe chilena Corporación Deportiva Everton de Viña del Mar, da cidade de Viña del Mar.
Não são times expressivos, é verdade; mas as iniciativas têm como propósitos transformá-los em máquinas de formação de jogadores e verdadeiros aspirantes ao sucesso.
Essa afirmação se sustenta na própria história do Grupo que, em 1995, adquiriu o Pachuca Club de Fútbol, pertencente ao Estado de Hidalgo. Em 1998, o time subiu para primeira divisão, colecionando, desde então, 6 títulos da Liga, 4 títulos da Liga de Campeões da Concacaf e 1 da Copa Sul Americana.
Em 2010, o Grupo adquiriu outro time mexicano, o Club León. Em 2012, após passar 10 anos na segunda divisão, subiu à primeira. Em 2013, conquistou o título Apertura e, em 2014, o Clausura.
Outro time, o Tecos Fútbol Club, foi adquirido em 2014. Seu nome passou para Mineros de Zacatecas e sua base transferida para Zacatecas. Em sua primeira temporada na Liga de Acesso, alcançou o segundo lugar.
A proposta dos dirigentes do Grupo é levar o modelo de negócios para os demais times investidos, a começar pelo chileno e o argentino, e, em três ou quatro anos, fornecer muitos de seus jogadores às seleções dos respectivos países.
O próximo passo do Grupo, seria, conforme rumores de mercado, a aquisição da Corporación Deportiva Once Caldas, da Colômbia.
Respaldo para isso o Grupo aparentemente tem: em 2012, Carlos Slim, o homem mais rico do México e o 4º do planeta, associou-se ao projeto.
Pois bem, quando chegará a vez do Brasil? Qual será o alvo da invasão bárbara?
Intuitivamente, caso o Grupo realmente se dirija para cá, o alvo inicial deverá ser um time menor, com alguma organização interna e poucos conflitos políticos. E que, com capital e uma sólida governança, seja capaz de trilhar uma história de ascensão e conquistas.
Para concluir, talvez seja mais um alerta para os times tradicionais. Se não acordarem para nova ordem mundial, poderão, a médio ou longo prazo, se tornar parte de livros de história.