Marizalhas

Memória sem aviso prévio

A memória não nos dá aviso prévio. Ela surge e nos conduz a um fato, a uma pessoa, a uma saudade, a alegrias e a tristezas, enfim nos retira de onde estamos e nos transporta para outros tempos e para outras situações.

21/3/2023

A memória não nos dá aviso prévio. Ela surge e nos conduz a um fato, a uma pessoa, a uma saudade, a alegrias e a tristezas, enfim nos retira de onde estamos e nos transporta para outros tempos e para outras situações. Isso deve ter uma razão. Acho que as recordações não representam apenas uma volta ao passado, geradora de nostalgia e de tristeza. Não, ela nos mostra que a nossa vida é composta pelo que foi, pelo que é e pelo que será. Todas essas etapas estão entrelaçadas, se comunicam, por vezes se misturam, se repetem e se projetam para o futuro. São indissociáveis. É muito bom que assim seja, pois dessa forma não perdemos a nossa identidade. Conseguimos conservar o que fomos, o que somos e projetar o que seremos, sem que nos deixemos soterrar pela voragem do tempo.  

Tenho uma especial predileção pelos memorialistas que escrevem sobre si, sobre sua época e não só a respeito dos fatos que vivenciou, mas especialmente sobre o seu eu, a sua alma, suas paixões, suas idiossincrasias, realizações e frustações, enfim gosto de conhecer, através da leitura, as ações, o pensamento, os erros e os acertos daqueles que tem a coragem e a honestidade de se colocar integralmente, sem subterfúgios e maquiagens diante de seus semelhantes.

Desta forma peço licença aos milhares de migalheiros para pô-los, pelo menos aqueles que perderem o seu tempo lendo-me, em contacto com algumas das minhas recordações. São lembranças que assumem algum significado, não em razão de quem as narra, mas das pessoas citadas das situações e dos eventos que são descritos, sempre com realce a algum aspecto ligado aos sentimentos que movem o ser humano.    

Hoje veio-me à mente uma das grandes frustações de minha vida. Frustação amenizada pelos seus aspectos hilários. Sempre quis ser um craque de futebol. Nunca o fui, muito ao contrário. Quando permitiam que eu atuasse era, simplesmente, por que eu fornecia a bola. Caso houvesse outro amigo que a possuísse eu ficava fora do time.

Não indaguem qual a minha posição. Eclético, eu sempre estava pronto a atuar em qualquer delas. Aos meus companheiros pouco importava onde eu jogaria. Na verdade, desejavam que eu sempre estivesse onde era necessário, LONGE DA BOLA.

Mas, digo-lhes com orgulho jamais desisti. Joguei no time de futebol do 3° Tabelião de Notas, o meu primeiro emprego. Joguei uma única vez, mas joguei na lateral direita. Não conheciam as minhas aptidões. Escalaram-me, joguei por dez minutos. Também integrei o time do Centro Social dos Cabos e Soldados da Polícia Militar, do qual fui advogado. Meu consolo nesse time é que, um dos laços craque de fora, era Plínio Marcos, grande teatrólogo, mas sofrível jogador.

Para enriquecer o meu curriculum futebolístico duas derradeiras recordações. Primeira, nós da rua Stella fizemos uma união com outras turmas e criamos o Oásis Futebol Clube. Eu fui um dos artífices e como tal consegui o honroso cargos de MASSAGISTA. Um outro, refere-se ao glorioso "In Dúbio Pro Reo" fundado por jovens advogados, na década de setenta. Esses colegas fizeram-me justiça, pois no final da temporada entregaram-me um significativo troféu, merecida homenagem, o "Troféu Encrenca".

A minha trajetória futebolística nunca foi devidamente reconhecida. Paciência, me contento com o citado troféu.

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Colunista

Antonio Cláudio Mariz de Oliveira é advogado.