Marizalhas

O tempo e as idades do homem

19/12/2011

Dizem que as várias idades do homem o encaminham para certos hábitos, comportamentos, modo de pensar e até para posicionamentos filosóficos e ideológicos.

Assim, é verdade que os mais idosos tendem a dormir menos e a cochilar mais; a sair menos de casa; a andar de forma mais arrastada; a escutar menos; enfim, ocorrem sensíveis mudanças em relação a épocas anteriores de sua vida. Hoje, no entanto, há uma tendência de se colocar o velho em contato com atividades das quais ele já havia se afastado. Mas, de qualquer forma, ainda persiste a ideia de que todo homem transforma-se em "outro homem", quando atinge idade provecta.

Ideológica e filosoficamente, também há mudanças acentuadas. O jovem idealista portador de ideias revolucionárias; sempre pronto a sacrificar-se para fazer operar a transformação do mundo e imbuído de invencível otimismo, com o passar dos anos se torna mais comedido, com acentuadas preocupações pragmáticas, voltadas para a família e para a profissão.

Com o passar dos anos é tomado por ceticismo, que beira um crônico pessimismo. A jornada já vivida, marcada por inevitáveis desencantos e desilusões, as restrições impostas pelo corpo, e as perdas acumuladas, que vão desfalcando o seu antes grande rol de amigos e de entes queridos, introduzem no seu íntimo uma dose de tristeza, que, por vezes, o envolve completamente.

Quero, no entanto, abrir um parêntesis para uma observação: os antigos de hoje são menos antigos do que os de outrora. Explico: certo dia abrindo velho álbum de fotografias, deparei-me com a foto de meus avós paternos, Zulmira (Zizi) e Waldemar Mariz de Oliveira. Quando foi tirada, ambos não tinham mais do que sessenta e poucos anos. Uma idade, para os padrões atuais, longe de ser marcada por abstinências, restrições e ranhetices, ainda plena de realizações, de sonhos, vigor físico e alegria de viver. Pelo menos, procura-se que assim seja. Meus avós, no entanto, davam a nítida impressão de missão cumprida; chinelos nos pés, à espera da "indesejada dos homens".

Conclui-se que o tempo deixava marcas mais acentuadas e visíveis de sua passagem, do que nos dias de hoje.

De qualquer forma, hoje ou ontem o que mais nos impressiona e assusta no passar do tempo é o seu descontrole. Verdadeiramente, gostaríamos que o tempo, de tempos em tempos, desse tempo para que pudéssemos parar e matar o tempo.

Quanto mais se avança em idade mais se tem a consciência de nossa impotência diante do tempo. Ele é mais forte do que o homem. Tal como a morte ele é inexorável. Falei o óbvio, claro que sim. No entanto, não é em todas as idades que isso nos parece verdade. Há períodos da vida em que acreditamos poder manipular, administrar e gerenciar o tempo. Assim, como há momentos da vida que pensamos ser imortais, ou ao menos não pensamos na morte e nem observamos o tempo passar.

Não sei se nós é que paramos e o tempo corre, ou se como disse alguém ele é como a margem e nós somos como o rio que corre. Nesse último sentido o tempo seria estático e nós passaríamos. Tenho a impressão de que a medida que vamos passando o nosso relacionamento com o tempo fica melhor. Incrível, mas é verdade. Encaramos o tempo sem angústias, com mais calma, sem grandes aflições. Vamos indo com ele para onde ele nos queira levar.

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Colunista

Antonio Cláudio Mariz de Oliveira é advogado.