Amizades são construídas em razão das afinidades existentes; da empatia ou, para usar uma expressão atual, da química surgida; dos objetivos que são perseguidos em comum; ou até das próprias divergências que incoerentemente ao invés de separar unem. Por vezes, dois seres se tornam amigos em razão de uma alegria ou de um sofrimento comum. Há, ainda, a solidão como fator de amizade. O estar só permite que sejamos menos exigentes na escolha dos amigos. Ademais, a necessidade de ser preenchido o vazio faz com que logo nos apeguemos a quem aparece. Triste daquele que só tem três amigos, como no poema de Cassiano Ricardo: "Só tenho três amigos!/meu eco, minha imagem,/minha sombra".
Existe ainda uma outra origem para as boas amizades. A admiração que alguém provoca em outrem, que daquele se aproxima e se tornam amigos. Conhece-se alguém sem que se tenha qualquer intimidade. Por vezes nem se foi a ele apresentado. Mas, alguma circunstância, alguma característica, alguma qualidade, algum comportamento específico, enfim algo nos chama a atenção e nos leva a querer conhecê-lo ou a estreitar um relacionamento ainda incipiente. Por vezes, a admiração é recíproca e aí a amizade rapidamente se solidifica.
Travei contacto pela primeira vez com José Carlos Magalhães Teixeira em 1978, quando meu inolvidável amigo Nilton Silva Júnior e eu fomos representar o recém-eleito presidente da OAB de São Paulo, Mário Sérgio Duarte Garcia, na posse do novo presidente da subseção de São João da Boa Vista, exatamente José Carlos. Éramos, Nilton e eu, os únicos apoiadores da vitoriosa "chapa azul" que elegera Mário Sérgio, presentes à posse. Os adversários da denominada "chapa marrom" haviam vencido as eleições em São João, mas haviam perdido no Estado. O candidato à presidência pela "chapa marrom" foi o advogado e político Rogê Ferreira, figura que marcou época como estudante do Largo de São Francisco, tendo sido presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto, e, posteriormente, político de destaque do Partido Socialista Brasileiro.
Pois bem, não obstante desconhecidos e adversários políticos, fomos magnificamente recebidos por advogados que no futuro se tornaram amigos fraternos e companheiros da política de Ordem.
Aliás, foi exatamente no sítio de um deles, Delcio Balestero Aleixo, que constituímos o grupo denominado "Tempos Novos" que concorreu e venceu as eleições de 1986, como "Chapa Cinza", ocasião em que fui eleito, pela primeira vez presidente da Ordem. Além de José Carlos e Delcio, em São João da Boa Vista, constitui preciosas amizades com Clóvis Laranjeira, Waldemar Martins do Vale, Jair Cano, Maria Inês, Joel "La Bamba" e tantos outros mais.
Eu falava de amizades que surgem mercê da admiração de alguém por outrem, ou da admiração recíproca. Um dos amigos especiais que possuí foi o já citado José Carlos Magalhães Teixeira. A admiração e a estima vieram juntas pouco tempo após conhecê-lo. Ambas aumentaram na medida que convivemos.
Procurei a razão dessa afeição. Depois de indagar mentalmente sobre o seu modo de ser e de pensar conclui que uma sua frase dita com frequência, na verdade uma máxima, refletia o seu interior e produzia efeitos no seu comportamento: "festa é coisa séria".
Não se trata de uma simples frase e nem ela se limita a mostrar ser o seu autor um festeiro militante, organizador e incentivador das melhores festas que fui em minha vida. E, quando falo em melhores festas não me refiro apenas à qualidade gastronômica e etílica, pois essas são excepcionais. Refiro-me ao clima, ao espírito que impera nessas festas e contamina todos que a elas comparecem. Espírito festivo é o da confraternização, da amizade, mesmo que se conheça o "amigo" naquele instante, da solidariedade, da alegria de estar junto e de poder compartilhar dessa alegria. O responsável por esse espírito foi o José Carlos, seu inspirador, sua fonte, seu paradigma.
Disse eu que a frase "festa é coisa séria" não era apenas uma frase e não refletia apenas uma característica do seu autor. O dito, na verdade, contém uma filosofia de vida. Organizar a vida, percorrê-la, transpor os obstáculos, superar os percalços, enfrentar as agruras com a disposição de quem vai ou está em uma festa. Especialmente, é viver sempre tendo compreensão, benquerença, disposição para a confraternização e para a troca de afeto.
José Carlos transforma a vida em festa e encara a vida com a seriedade que a vida impõe. Entenda-se por seriedade não a sisudez ou o excessivo rigor, mas o atributo das coisas realmente valiosas e indispensáveis.
Conviver com José Carlos Magalhães Teixeira foi, sem dúvida, festejar a vida.