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A medicina de precisão

O texto aborda a evolução da medicina e como as inovações tecnológicas, especialmente no campo da genética e da medicina personalizada, têm transformado a maneira como os diagnósticos e tratamentos são conduzidos.

18/8/2024

A anamnese, procedimento de vital importância para formar decisões diagnósticas e terapêuticas, pois em razão de uma entrevista com o paciente avalia sua história médica, os sintomas e outros fatores, com o passar do tempo e a evolução da tecnologia, foi cedendo lugar para uma pesquisa mais avançada e sustentada por informações técnicas. Guardadas as proporções e o temas focado, seria a utilização de ferramentas como o ChatGPT para elaborar uma redação com suporte na inteligência artificial, abandonando a criatividade natural do escritor. 

A medicina, pela sua própria natureza e a constante necessidade de atrelar seu desenvolvimento às pesquisas animo nobile, vai buscando inovações nas mais alucinantes tecnologias, visando proporcionar ao homem uma salutar longevidade, acompanhada de uma qualidade de vida cada vez mais aperfeiçoada. Fixa o objetivo em preparar o homem nas diversas etapas da sua vida para chegar a uma velhice de exaurimento e atingir a finitude com a mais recomendável dignidade. 

Basta notar e não se vão longos anos para tanto. Inicialmente a medicina de massa cuidava de avaliar o paciente pelos exames disponíveis. Após elaborava um diagnóstico seguindo um protocolo de conduta para todos os pacientes que apresentassem sintomas semelhantes, conferindo a mesma resposta terapêutica da ars curandi

Mas é inquestionável que nem sempre a mesma prescrição médica iria atender e conseguir bons resultados com relação a todos os pacientes atendidos. Apesar das doenças apresentarem sintomas semelhantes, o organismo de cada um carrega mutações genéticas diferenciadas, fazendo ver que o tratamento, além de não ter a eficácia desejada, muitas vezes causava até danos ao doente, contrariando frontalmente o princípio bioético do primum non nocere. Quer dizer, o mesmo medicamento já não é mais apropriado para pacientes com semelhantes sintomas. 

A Medicina, então, percebendo que não atingia resultados satisfatórios com relação a um grande número de pacientes, avançou para uma medicina de precisão, na qual almejava atingir maior êxito em suas tentativas. A Medicina Personalizada ingressa neste vácuo e assume uma proposta mais condizente com a realidade científica após a decifração do DNA. O homem, primeiramente é avaliado de acordo com seu perfil genético, aquele que irá indicar as predisposições para as doenças, procurando, desta forma, o mais adequado medicamento de acordo com suas características genéticas. Tal resultado pode ser obtido em exames farmacogênicos. 

Basta ver, atualmente, que as máquinas proporcionam excelentes resultados, não somente para formatar um diagnóstico preciso, como, também, para ingressar nas veredas mais estreitas do corpo humano e realizar uma intervenção cirúrgica, apenas com pequenas incisões na pele, e com resultados altamente satisfatórios. E, ao que tudo indica, pelo sucesso do procedimento, a medicina vai se valer cada vez mais da tecnologia, sua acólita predileta. 

Trata-se, sem dúvidas de um grande avanço. É ajustar a pessoa nos limites e no âmbito do seu mundo genético. Pode-se até dizer que é a realização da profecia feita no Oráculo de Delphos: nosce te ipsum. Se cada um conhecer sua divisão genética fica mais fácil para aplacar seus males. Se a identidade externa é conhecida e reproduzida nos documentos pessoais, agora chegou a vez da identidade interna, muito mais complexa e com enormes dificuldades para o domínio completo. Tornou-se conhecida a célebre frase de Sir Willian Olser, tido por muitos como o pai da medicina moderna, no sentido de que “é mais importante conhecer o paciente acometido por uma doença do que a doença que acometeu o paciente.” 

Mas todo avanço científico relevante deve corresponder a um dividendo de ganho para a humanidade. A jovem ciência genética vem produzindo inúmeras linhas de pesquisa, principalmente as que envolvem as células-tronco e o homem passa a ser o destinatário de tamanho benefício. Se vingar qualquer estudo nesse sentido, todo esforço exitoso que for benéfico a uma pessoa deve, em razão da isonomia e da justiça distributiva, servir aos demais pacientes que se encontram em idêntica situação. 

O que se pode concluir com tantos novos caminhos diagnósticos é que, com a precisão cada vez mais exata da parafernália tecnológica, por paradoxal que possa parecer, deixará de existir o homem sadio. Isto porque, a mais tênue diferença constatada em um exame de rotina, fará com que o paciente, assim como será designado doravante, sinta-se um doente em potencial e daí por diante irá iniciar a peregrinação pelos consultórios de vários especialistas, além do excesso de medicalização, que pode acarretar danos à saúde pública.  Cabe aqui perfeitamente a constatação de Bobbio: “Tem-se a impressão de que a saúde pode ser conquistada somente por um estado de enfermidade perene. É melhor flagelar-se com medicamentos, dietas, controles, exercícios e renúncias na esperança de obter um benefício, mesmo sabendo que dificilmente nossos esforços reduzirão o risco de contrairmos uma doença e distanciarão o momento da morte?”

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Coordenação

Eudes Quintino de Oliveira Júnior promotor de Justiça aposentado, mestre em Direito Público, pós-doutorado em Ciências da Saúde e advogado.