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Gratidão ao pai

Gratidão ao pai.

8/8/2021

É certo que cada pai é diferente do outro, como cada filho também é. A diferença, necessária para a firmação dos opostos, é considerada a viga mestra de sustentação da própria humanidade, embora o homem eleja a igualdade como garantia do direito individual. Mas, no dia dos pais, porém, tudo é diferente. O filho se aproxima mais do pai, sem qualquer laço de subordinação, mas com todos do afeto, e se dispõe a falar ou escrever algo a ele. Assuntos relacionados com coisas belas e que possam traduzir a gratidão da vida e compartilhamento, principalmente durante a infância e adolescência, períodos de construção da identidade e ampliação do conceito de pertencimento.

É neste momento que, cada um encruado dentro de seu labirinto, começa a espremer o idioma ou até mesmo a imaginação para buscar as palavras que ficam ziguezagueando à sua frente, sem rumo, mas com certeza que tenham condições de traduzir uma linguagem de agradecimento. Mas nem sempre afloram com a espontaneidade desejada. Muitas vezes o silêncio, ou até mesmo o olhar fala mais alto e consegue expressar os melhores bocados de uma infância já distante, sem se preocupar com expressões complicadas.

É certo que o dia dos pais não é propriamente uma data para o filho arranhar o enredo da vida e nem mesmo praticar a nostalgia de um passado distante. É dia de comemoração, com o pai presente ou não. É o dia em que o filho vai buscar no fundo aquela frase ou aquele pensamento que deixou suspenso durante muito tempo aguardando o momento encantatório de falar com eloquência e entusiasmo.

E é lógico que o filho vai querer falar muita coisa a respeito do pai e é bem capaz que com a chegada das memórias, que são muitas e incontáveis, a um só fôlego, irá atropelar as letras do teclado ou até mesmo sua fala, tamanha sua pressa em expressar seu sentimento, num verdadeiro ordenamento desordenado, em uma silenciosa leitura compartilhada do passado. Nada de temas espinhosos, nada de pensamentos nostálgicos e sim fincar nas evidências toldadas pelo tempo e que se tornaram o canal para resgatar a felicidade.

O filho pode até ter a mais singela formação, desde aquela que provoca os calos duramente marcados em seu corpo, como a melhor experiência de vida, a sabedoria como estandarte, a poesia como tesouro para expressar o afeto que guarda consigo. Não é somente um afeto ligado à derivação genética. Vai muito além. É aquele que representa a pessoa amiga, o melhor parceiro, aquele que divide corpo e alma por inteiro, aquele que agarra pelas mãos com toda segurança para vencer o pantanoso e movediço solo. É a hora do filho não pensar mais com os olhos e sim com o espírito amadurecido pela vida, erguer a cortina e visualizar a figura paterna na tentativa de explicar as coisas do seu jeito, demonstrando com sua sabedoria que sabe onde fincar as estacas para construir um futuro homem. 

O filho irá se lembrar do olhar meio esgazeado do pai, da voz mansa ou altiva, dos gestos nem sempre bem distribuídos, dos passos quase sempre apressados, do silêncio que substituía as respostas, dos sábios conselhos que na época não ligava tanto, mas hoje sabe que para subir a montanha a estrada é uma só e o atalho, que é mais convidativo, pode levar ao abismo.

O filho executa, desta forma, o papel que lhe cabe no palco da vida: um ato de gratidão pelos sentimentos, habilidades e competências herdadas do pai. É realmente um amor humano sem medidas, com vocação de eternidade.

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Coordenação

Eudes Quintino de Oliveira Júnior promotor de Justiça aposentado, mestre em Direito Público, pós-doutorado em Ciências da Saúde e advogado.